ㅡ Que engraçado… E estranho. Nós temos o mesmo nome.
ㅡ Huh, nome? Do que você está falando?
[...]
Namyangju, 17 de Outubro de 2016.
São exatas 6 horas da manhã. Você com certeza está fazendo alguma piada boba por eu estar acordado tão cedo num dia qualquer, não é?. Imagino que sim. Sabendo como eu sou faria a mesma coisa, confesso. Sabe, está fazendo frio em Namyangju, a minha cama soa tão confortável nesse momento. Juro que poderia ficar aqui o resto do dia, mas, eu realmente não posso. Hoje começa o primeiro passo para a maior mudança da minha existência.
Sim, trago novidades. Eu… É, finalmente estou indo morar em Seul. Parece louco e precipitado demais, reconheço. Minha família está toda por aqui, nossos amigos espalhados por cada canto desse mundo, mas, esse era o nosso sonho, não era? Você lembra disso, huh? Você prometeu como presente para o meu aniversário e também como nosso aniversário de namoro. Que infelizmente nunca chegou. Eu sei que você lembra bem. E também sei que você prometeu pois sempre soube que eu queria conhecer a tão falada e amada Seul ㅡ o que é bem estúpido se considerarmos que fica bem perto. Claro que como um ótimo ㅡ embora chato na maior parte do tempo ㅡ namorado te faria feliz me ver feliz. E eu sinceramente espero que isso ainda te faça sorrir ㅡ se você puder ㅡ, espero que de alguma forma apoie a minha decisão. Mas não se preocupe comigo, estarei indo fazer o que gosto.
E não, dessa vez não tem nada a ver com dança. Ou talvez sim, se eu precisar usar, quem sabe.
Sabe, eu queria te dizer que conheci uma garota. Ela é linda e dona de um sorriso contagiante. Nosso primeiro encontro foi complicado, um tanto desesperador, admito. Mas ela precisava da minha ajuda, bom, você sabe que eu sempre tive um coração mole demais. Mas sabe, ajudar aquela garota foi a melhor decisão que eu já tomei na minha vida ㅡ depois de aceitar o teu pedido ㅡ. Lee Haena é o nome dela, você ia gostar de conhecer. Haena é uma bela garotinha de 6 anos e meio com câncer em estágio médio, eu a encontrei quando passava por aquele parque que a gente gosta. Ela estava sentada no chão com muita dificuldade para respirar. É, passeio escolar. Haena tinha se afastado um pouco da turma, disse que tinha visto uma borboleta e foi à sua procura. Estava brincando, feliz, até que a dor a fez lembrar ㅡ palavras da mesma ㅡ que ela não é como as outras crianças, que não tem tanta força como elas. Mas a verdade é que eu até concordo, ela não é igual. Aquela doce menina é mais guerreira do que nós dois juntos, acredite.
No início eu não soube como agir, não tinha ninguém por perto, ela não conseguia falar muito. Eu fiquei bastante assustado. Nunca tinha passado por algo assim antes. Mas então a peguei no colo e corri até a avenida mais próxima, tive sorte em conseguir um táxi rapidamente e logo ela estava sendo atendida. Fui sua companhia no hospital até conseguirem avisar aos pais, claro, eu era um total estranho. Porém, parecia que não para ela, Haena disse que confiava em mim. Ela me olhou nos olhos, segurou minha mão e sussurrou um “obrigada” baixinho. Foi o melhor momento do meu dia. E continuou, pediu para que não esquecesse dela, porque por mais que nós nunca voltemos a nos ver, eu fiz parte de sua vida. Eu tinha a salvo. Se já estava chorando a essa altura do campeonato? Sim, estava. Foi questão de segundos para que eu fosse arremessado em meio a inúmeros questionamentos tão impensáveis outrora. Essa pequena, sem querer, me ensinou que a vida vale o tanto que a gente está disposto a pagar.
Foi nesse momento, enquanto eu a assistia dormir, que percebi que dançar é maravilhoso, mas ver o sorriso de uma criança é inexplicavelmente mais. Conversando com a enfermeira que ficou encarregada do caso ela me contou que em Seul tem uma clínica especializada no assunto, algo novo ainda, muito pequeno, um projeto piloto na verdade. A ideia é que a instituição ajude o máximo de crianças possíveis. E por isso eles estão precisando de voluntários, principalmente pessoas que possam se mudar para lá. Algumas crianças se apegam demais aos cuidadores e é um tanto necessário estar o mais perto possível. E por que não ir? Eu só tenho a ganhar.
Eu não conheço os pais de Haena ainda, precisei voltar para casa antes da chegada deles mas prometi ir lá antes de viajar. Eles disseram que querem me agradecer, embora eu tenha tido que não era necessário.
A verdade é que sou eu que tenho de agradecer, ela me mostrou o caminho que tenho que seguir. Me mostrou a pecinha que ficou faltando quando você se foi. Já fazem sete meses e 14 dias. Eu ainda sinto tanto a tua falta e sinto como se essa viagem estivesse me afastando ainda mais das lembranças que restaram. Não irei dizer que foi fácil decidir ir, realmente não foi, no entanto sei que não gostaria que eu simplesmente me trancasse no quarto, me escondesse do mundo por tua causa. Além que você me conhece como ninguém, sabe o quanto gosto de estar livre ㅡ não que eu me importasse de ficar preso eternamente à você ㅡ. Sabe que o meu sonho de garoto bobo é viajar pelo mundo, conhecer novos ares, comidas, novas culturas.
É por você também que estou indo. Por você, pela nossa história e pela Haena que eu não irei desistir.
E eu prometo te deixar orgulhoso. Nem que seja a última coisa que eu faça.
Mudando de assunto drasticamente, já são seis e meia e eu ainda nem levantei da cama. Isso me faz lembrar que você costumava me encher dizendo que eu era sempre muito indeciso e que tinha mania de deixar pra fazer tudo no último instante. Aish! Ás vezes você era totalmente chato e careta. Como eu podia te amar tanto? Posso te contar um segredo? Sabe aquele dia que eu acabei fazendo a gente se atrasar para a formatura do meu irmão? Desculpa, foi um pouco proposital. Mas só um pouco. É que eu adoro te ver bravinho, todo impaciente… Era, não, é algo que eu realmente amo muito em ti.
Sim, continuo te amando como no primeiro dia. Sim, ainda dói, ainda choro, ainda me pego pensando em você, nas nossas discussões bobas, nos momentos bons. Eu sinto saudades, amor. Mas posso dizer que já tive um grande avanço dando em conta que até consegui deixar o Mook sair daqui de casa. Eu devo muito a ele. Não sei se teria suportado o peso da tua morte sem alguém do meu lado, me apoiando como ele fez. Com certeza teria enlouquecido ou feito coisa pior.
Chega a ser engraçado lembrar o quanto você morria de ciúmes cele. Foi o garotinho tailandês metido que suportou todas as crises do teu namorado. Todas as noites de pesadelos, choros e irritações fora de hora. O Jaebum também esteve aqui algumas vezes. Sabia que ele está namorando aquele pianista da nossa antiga escola? Qual era mesmo o nome dele? Youn… Youngjae, certo? Isso mesmo, Im Jaebum, o pegador master, finalmente decidiu se declarar. Você sabia, não era? Eu percebia que por vezes vocês se olhavam cúmplices. Senhor Park Jinyoung, você nunca me enganou. Não esqueça que fui eu o primeiro a tomar iniciativa naquela festa, se não fosse por isso, talvez, nós nem teríamos ficado juntos por tanto tempo.
Ah, hyung. Você foi o melhor presente que aquela escola insuportável me trouxe.
Me recordo perfeitamente da primeira vez que “conversamos”. Estávamos indo para a sala de música quando aquele babaca do terceiro ano resolveu que aprontaria comigo, ele só não contava que você me defenderia. Bem, na verdade nem eu contava com isso. Nós nunca tivemos nenhum contato ou coisa parecida, e o cara era bem maior que a gente, mas ainda sim você se arriscou por mim. Eu agradeci e nós ensaiamos até o sinal do intervalo tocar. O problema foi que depois desse dia não trocamos uma palavra sequer. Você parecia me evitar por mais que eu notasse seus olhares, ah, também te olhava, só conseguia ser mais discreto. Convenhamos que esse nunca foi teu forte. E eu realmente não entendia por qual razão se escondia se até o universo jogava na tua cara que você queria falar comigo.
Então chegou o dia da tão esperada ㅡ mentira, ninguém espera por isso, todo mundo odeia essas merdas. ㅡ festa de fim de ano escolar. Mais fiasco que aquilo só a faculdade de economia que eu pensei em começar. Aish, onde eu estava com a cabeça?! Mas também foi o nosso primeiro dia, primeiro toque, primeira conversa de verdade. Eu ousei beber umas a mais e chegar perto, me apresentei, te chamei pra dançar, você aceitou e então eu te beijei, te beijei novamente e te beijei mais um pouco ㅡ insira aqui uma imagem de várias borboletas voando num céu de fim de tarde ㅡ. Nós fomos um do outro e sempre seremos. Clichê, eu sei.
Mas não deixa de ser verdade. Você não me perdeu, eu também não te perdi. A vida só… Resolveu que nós teríamos que trilhar caminhos diferentes. Tudo bem, não foi fácil pra mim entender de primeira, não foi fácil para os meus pais lidarem com um semi-adulto revoltado com tudo e todos ao seu redor. Perdi a conta das vezes que gritei desejando ter ido no teu lugar ou ido com você. Das infinitas noites consecutivas de pesadelos em que eu acordava desesperado chamando pelo teu nome, até me dar conta que você já não estava ali comigo. Que dali em diante eu teria que seguir sozinho. Teria que me construir novamente, dia após dia. Mas, hoje, as coisas ficaram um pouco mais claras. Às vezes eu consigo falar sobre nós sem chorar ㅡ pff, é claro que eu não estou fazendo isso agora.
Você voltaria se eu pedisse mais um pouco?
Sim, talvez eu encontre uma outra pessoa nessas voltas que a vida dá, talvez eu case com ela, quem sabe? É talvez sim ou talvez não. O que sei, é que mesmo que eu encontre isso não significa que eu irei te esquecer. Isso não é sobre lembranças, é sobre amor. E amor não morre nunca.
[...]
Eu ainda estou no nosso quarto, na nossa cama, as malas já estão prontas e eu tenho quase certeza que esse som veio do táxi que chamei alguns minutos atrás. Ah, se essas paredes falassem com certeza elas teriam muito pra contar, desde as coisas mais ridículas às mais belas.
Você era totalmente ridículo. Ridiculamente lindo.
Aish, por que eu estou chorando novamente?
Acho que não tem mais volta, há um carro me esperando bem aqui na frente, o taxista até que parece ser simpático. Eu estou nervoso. Eu deveria mesmo estar nervoso? Esse é mesmo o melhor pra mim, certo? Aish, tudo bem, não é hora para ficar tão inseguro. Eu estou indo! É, eu estarei indo em cinco minutos. E parece que não estarei sozinho no caminho, seria uma ótima hora para agradecer a Namyangju por ser apenas 22 minutos de distância de Seul? Se for, obrigada.
Como sempre eu acabei falando mais do que deveria. Um dia eu mudo isso, juro de mindinho e tudo. Eu só queria te deixar saber que embora nós não estejamos mais juntos fisicamente você é ainda é o meu anjo da guarda. Ok, tudo isso parece tão louco, eu escrevo como se você ainda pudesse ler, mesmo consciente que no fundo essa será só mais uma carta jogada ao vento. Só… Me deseja boa sorte, huh?
- Kim Yugyeom. A.k.a Brownie.
P.S. eu nunca disse que sabia escrever uma carta.
[...]
ㅡ Responde!
ㅡ Dessa carta, acho que aquele moço do táxi acabou esquecendo.
ㅡ Tá, joga isso no lixo e vamos que o ensaio já vai começar.
ㅡ Não. Eu vou devolver pra ele, já volto.
ㅡ Mas Jinyoung-
[...]
ㅡ Oi, você é o Yugyeom, certo?
ㅡ Sim, por que? Eu te conheço?
ㅡ Não, eu só… Bom, acho que isso é seu.
ㅡ Obrigado. Mas quem é você?
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