História Cartas para você - Sexto Capítulo

Mirai Natsume - Japão, Tóquio, dia 14 de Fevereiro de 2017.

É sábado, o dia do baile. Se eu estou ansiosa? Muito. Mas ao mesmo tempo eu estou com medo, estou com um mal pressentimento horrível. É engraçado como eu posso ''prever'' coisas assim, por mais que não ando tendo sonhos e ''déjà vus'' esses dias.

Olhei meu vestido preto pendurado ao lado do espelho. Confesso que tenho um ótimo senso de moda, escolhi meu vestido muito bem - apesar de ter tido a ajuda de Asuna-chan - e o preto dele iria combinar perfeitamente com a minha aparência. Fico pensando se eu e Ayato formos coroados Rei e Rainha... Mas isso é impossível, até porquê eu sou a garota mais normal naquele lugar, existem meninas que chamam bem mais a atenção do que eu. Ajeitei o casaco do uniforme e peguei meu celular que estava sobre a mesa de canto, caminhei até a porta e encarei o escritório de meu pai. Trancado, como sempre.

- Pai... Estou saindo. Tem café na cozinha, amo... Deixa pra lá, tchau!- Pensei melhor e corri para a saída de casa e me escorei no batente da porta.

Desde que minha mãe morreu, meu pai não sai de seu escritório pra nada, nem para comer. Eu sei que doeu perder minha mãe, mas já fazem dois anos que ela se foi. Eu pensei que me mudando para cá poderíamos até ficar mais próximos, mas isso não aconteceu. Acabei desistindo, eu sei que ele não vai mudar. Não depois do que aconteceu. Antes que eu começasse a chorar, corri para a escola.
Ao chegar lá, logo encontrei Asuna me esperando no portão, ela parecia estar muito feliz. Forcei um sorriso e caminhei até ela.

- Bom dia, Asuna-chan!- A cumprimentei, já arrastando a garota para dentro.

- Bom dia, senpai! - Respondeu. Nós precisaríamos nos organizar para finalmente abrir a feira. Eu fiquei em um grupo com a Yui, a garota que vive com os Sakamaki. Eu realmente acho que tem algo de errado com ela, ela nunca fala nada e parece um pedaço de massinha morta. Não me pergunte de onde tirei essa referência.

Peguei minhas coisas e levei pra dentro da barraca. Eu cuidaria até uma parte da tarde, depois disso eu iria pro teatro. Eu consegui o papel de principal na peça, e eu realmente estava feliz com isso. Peguei alguns doces e organizei nas prateleiras. Logo Yui chegou e começamos a trabalhar.

***

Olhei no espelho. Eu realmente dou uma ótima princesa japonesa da era Edo. Eu estava trajando um grande kimono e meu cabelo estava cheio de enfeites. Foi uma das primeiras vezes que eu realmente me senti bonita. Iria interpretar uma princesa que teve seu trono roubado por seu amado, e luta com o mesmo pelo trono. No fim, ela destrói todos os guardas do castelo sozinha e mata o próprio amado, tendo seu trono de volta. É uma história que combina comigo. Senti meu celular vibrar na mesa e olhei. Era um SMS.

- Você está linda.
Eu estarei te observando.
Estou ansioso para ver você atuando.
xx
 

Eu tremi e olhei em volta. ''Você sabe quem mandou.''  Meu consciente gritava, mas eu continuava me negando. Afastando os pensamentos idiotas de lado, finalmente entrei no palco. Tudo começava com uma dança, e eu tentava dançá-la com a maior graça possível. Eu sentia todos os olhares em mim, mas ignorei. Eu gostava daquilo. Após a dança acabar, alguns atores vestidos de soldados entraram no palco, apontando espadas e lanças para mim. Fiz uma cara de surpresa e olhei para o garoto que interpretava o amado de minha personagem. Abaixei a cabeça e pensei em algo triste e lágrimas desceram por meu rosto. Um apagão planejado aconteceu e eu fugi. Quando a luz se ligou novamente, os atores que interpretavam os soldados e o novo rei estavam surpresos. Depois disso, apenas algumas partes mostrando como o novo rei era mau e cruel. Depois, entrei em cena novamente, agora empunhando uma katana. Rasguei o kimono como planejado, facilitando a luta. No fim, após acabar com todos, ''matei'' o antigo rei e roubei sua coroa, colocando em minha cabeça, simbolizando que eu agora era a nova rainha.

A peça acabou aí e a plateia urrava e aplaudia, e eu apenas sorri e agradeci, saindo do palco. Antes de entrar novamente por entre as cortinas, notei um vulto no fundo do teatro. Era ele. Ele estava lá, me observando. Eu abaixei a cabeça e sorri, entrando de uma vez.