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História Casada com um selvagem - Arco V: Natureza sobre-humana parte 3


Escrita por: BlackCat69

Capítulo 35 - Arco V: Natureza sobre-humana parte 3


Hinata realizou aprofundamento na respiração, retornando a fechar as pálpebras.

E então a porta foi mais aberta, e por ela, o Selvagem passou.

Ele perguntou:

— Cheguei tarde para o almoço?

— Infelizmente.

Respondeu ela, sorrindo.

Fez menção de se levantar da cadeira, mas logo se deteve vendo o marido fazer sinal para que se mantivesse sentada.

O Selvagem se ajoelhou ao lado da esposa, e espalmou carinhosamente a barriga dela.

Hinata o sorriu, era tão lindo ver aquele brilho sereno nas íris azuladas.

Silenciosos, não precisavam de palavras para entenderem que apenas apreciavam o momento.

— Se importa se eu almoçar na minha sala? — ele perguntou. — As coisas estão corridas hoje.

— Claro que não amor, pode ir. — Acarinhou o lóbulo da orelha dele. — Não estou brava.

Ele assentiu, e beijou-a no braço.

E ao ficar de pé, curvou-se para dá-la outro beijo, mas o segundo seria nos lábios, todavia ela desviou o rosto.

— Eu ainda não lavei minha boca... estou com fiapos de carne espalhados pelos dentes. — Hinata justificou sua recusa.

— Eu não ligo. — Ela manteve o rosto perto, esperando o beijo.

Ela espremeu os lábios, e aproximou sua boca da dele, realizando somente um selinho.

— Da próxima vez quero um completo.

Disse Naruto endireitando a coluna, apenas não insistiu porque podia chateá-la, não sabia como estava o humor de grávida dela naquela manhã.

A Uzumaki se aliviou, por ele aceitar o selinho, não quis correr o risco de ele sentir o sabor forte do vômito.

A Senhora se levantou e arrastou a cadeira para frente do espelho.

Iria se pentear, ao andar pelo quarto a procura do pente, Ayla retornou ao cômodo trazendo um lençol nas mãos.

— Senhora, a lady Hanabi teve a menarca!

A perolada abriu a boca, sem voz e observou o tecido que se desdobrou nos dedos da aia.

Ayla observou a mancha vermelha e os pingos de sangue ao redor da mancha maior.

Em primeiro momento, a Uzumaki sorriu emocionada, mas no decorrer de seis segundos, seu olhar reparou no final do tecido, a parte que se encostava ao chão.

Ayla acompanhou a vista de Hinata, e dilatou suas pálpebras ao notar uma parte rasgada do lençol.

— Que estranho... falta um pedaço... sinto muito Senhora, não percebi quando encapei a cama com ele. — Sacudiu o rosto, retornando a sorrir. — Vou mostrar para as outras servas...ai puxa vida, uma pena que Natsu-chan perdeu.

— Ainda não vá, Ayla. — Hinata chamou quando a serva se dirigia à porta. Ansiosa para visitar sua irmã, ordenou: — Ajude-me a pentear os cabelos e a calçar meus sapatos, rápido.

 

~NH~

 

Na sacada, Hanabi usava vestido vermelho cereja, de mangas acampanadas e acabamento branco.

Seus cabelos se prendiam em dois baixos rabos de cavalo.

Cada par de prendedor possuía a forma de uma borboleta prateada.

Ignorando a quentura dos raios de sol contra sua face, encimava os braços cruzados no parapeito.

De inexpressível modo fitava a extensão azulada, e o pouco de nuvens divergidas nela.

— Onde está minha mocinha?

A doce sonoridade viera da porta da sacada.

A Hyuuga se volveu, e seus prateados esféricos cintilaram.

A Uzumaki abria os braços, orgulhosa.

A menor correu à irmã mais velha.

O sorriso de Hinata se desfez quando o choro sôfrego rompeu pela garganta da caçula. Preocupou-se:

— Meu amor, o que há?

A Hyuuga abraçava a irmã, meio de lado, pondo o braço direito por trás da cintura de Hinata, pousava sua mão esquerda no centro da barriga avolumada.

Ao mesmo tempo, a Uzumaki passou a mão nos cabelos lisos e negros, encaminhou a outra mão a um ombro da Hyuuga.

Em tom tranquilizador, a Senhora verbalizou:

— Está assustada? Pensei que soubesse que era algo natural. Não precisa temer nada, meu amor.

Hanabi forte meneou o rosto, negando.

Afastou sua mão da barriga da Uzumaki.

Revelou-a o motivo pelo qual chorava:

— Hoje de manhã, quando vi o sangue no lençol, lembrei de tudo, nee-san. — Pressionou o dorso da mão contra os lábios.

— Se lembrou de tudo o quê? A menarca veio de manhã? Por que Ayla só soube agora à tarde?

Várias interrogações chegaram à Senhora.

— Lembrei de tudo o que aconteceu no esconderijo de Danzou.

A Hyuuga respondeu, descendo a mão. Entregou as outras respostas:

— Não consegui desviar meu olhar do sangue se espalhando pelo lençol. Eu cobri minha boca, sufoquei meu choro.

Começou a andar de um lado para outro, em ininterrupta fala:

— Fiquei desesperada, e só depois de um tempo que resolvi retirar o lençol. Arranquei um pedaço dele, e enfiei em uma nova calcinha. Coloquei outro lençol por cima da cama, e escondi o que estava sujo. Eu... eu só precisava de um tempo, para me acalmar.

Cessou seus pés, posicionada de lado para a irmã mais velha.

— Agora... agora está explicado o rasgo que notei no lençol. — Hinata avisou. — Ayla ficou surpresa ao vê-lo, mas ignorou, ela estava muito empolgada.

— Ela já deve estar mostrando para as outras servas. — Hanabi passou a mão na testa, arrastou a madeixa caída entre seus olhos.

A azulada em pensamentos confirmou.

Não estava sendo um momento emocionante como imaginou que seria a vinda da menarca.

Reaproximou-se Hanabi da balaustrada de leões e pousou as mãos no parapeito.

— As peças da memória que faltavam, retornaram... — A Uzumaki mencionou, temerosa do que escutaria.

— É bem pior do que apareceu nos meus sonhos. — Hanabi arrastou a unha contra o mármore do parapeito, e cerrou os dentes. Seu corpo estremeceu. — Ele passou a mão em mim, entre minhas pernas, nee-san.

O sangue da Senhora ferveu, se pudesse ressuscitar Danzou apenas para matá-lo....

Hinata apressadamente andou até sua caçula, e pousou as mãos nos ombros dela.

— Ele estava ansioso para a vinda da minha menarca. — A Hyuuga acrescentou, enojada.  

Soluços romperam por sua garganta.

A Hyuuga foi se abaixando, livrando seus ombros do toque da irmã e percorreu as mãos até a base dos balaustres.

Jazendo agachada, abraçou as pernas.

— Ele disse várias coisas, nee-san. Uma delas... eu preciso de resposta. É verdade... nee-san, é verdade que Danzou... ele disse... que...

Falhava em organizar as palavras, a recuperação daquela parte de sua memória, trazia-a inúmeras dúvidas que queriam sair ao mesmo tempo.

— Não importa o que aquele homem disse, Hanabi-chan. Ele está morto, e enterraremos com ele qualquer herança que tenha nos deixado.

Ajoelhou-se, cautelosa para não se curvar. Descansou uma mão no ombro direito da caçula.

— Quando olho para minhas lembranças que o envolve, a primeira coisa que penso é no alívio de que ele falhou, de que hoje Danzou Shimura é inexistente.

Atormentada, Hanabi escutava a voz dele:

“Por que não quer participar, virgenzinha? Deveria ser grato a mim, fui eu quem ofereceu o remédio que fez sua mãezinha melhorar. SE NÃO FOSSE POR MIM, VOCÊ NÃO NASCERIA!”

A voz do Shimura repercutia de modo alto, como se ele estivesse ao seu lado.

A lady cobriu os ouvidos, balançando o crânio.

A Senhora abraçou a irmã, pedindo-a:

— Hanabi, calma! Calma!

A Hyuuga cessou quando escutou um gemido doloroso da mais velha.

Em sua agitação, havia empurrado a barriga dela, e logo se arrependeu.

— Me perdoa, nee-san. Me perdoa. — Pondo-se de joelhos, virou-se totalmente para a Uzumaki, massageando a barriga dela.

— Está tudo bem, vamos entrar, aqui está sol demais. — Hinata acarinhou o rosto da caçula que a ajudou a se pôr de pé.

Dentro do quarto, as irmãs se aconchegaram na cama, a mais velha sugeriu que compartilhassem alguma leitura.

Todavia, a Hyuuga não quisera encerrar a conversa.

Sentada sobre as canelas, espremendo os punhos contra a saia do vestido, Hanabi perguntou:

— Eu preciso saber, nee-san, nossa mãe aceitou remédio dele?

— Ele lhe disse isso? Não precisa se preocupar com nada do que saiu da boca dele, é uma forma que ele tem de exercer domínio.

— Então não era verdade, nee-san?

A Uzumaki soube que estava sendo analisada, para saber se mentiria.

Mas não, Hinata não queria mentir, não depois de já terem um momento de irmãs, no qual cobrou sinceridade da caçula.

— É verdade. — A azulada suspirou. — Mas não foi nossa mãe que aceitou. Ele ofereceu a mim. Na época, eu não gostava da presença dele, mas não imaginava que era líder de um grupo tão macabro. Eu fiz nossa mãe ingerir de forma escondida, coloquei na comida dela.

Hanabi cultivou novas lágrimas, dizendo:

— Então... devo minha vida a ele.

— Definitivamente, não.

A Uzumaki agravou a voz. Sentada, de pernas esticadas sobre a cama, descansando a mão direita espalmada na barriga, firmava seriamente seu olhar na irmã. Seguiu firme:

— Nunca pense dessa forma. Danzou Shimura não me ofereceu remédio por se preocupar com nossa mãe, ele não ofereceu para me ajudar, não me ofereceu por querer salvar sua vida. Simplesmente, fazia parte do plano dele. E a melhor coisa que pôde acontecer, é ele nunca ter alcançado o objetivo dele.

A outra mão Hinata levou até um dos joelhos da Hyuuga.

— Se permitir ser assombrada pelas lembranças envolvendo ele, será uma vitória desse canalha.  

Hanabi assentiu, e passou o antebraço contra as pálpebras, dizendo-a:

— Mas... mas é um saco saber que nasci porque o homem que odeio tornou isso possível...

A Senhora puxou os travesseiros, amontoou-os e deitou as costas sobre eles, estendeu seu braço, convidando-a para se juntar ao seu corpo.

Hanabi limpou com o lado da mão, o catarro que sentia sair. E aceitou o espaço lhe oferecido, foi abraçada pelo ombro. Retornou a colocar uma mão na barriga de Hinata.

— Isso não é um fato confirmado, ela morreu alguns meses depois de seu nascimento. Então é possível que sem o remédio sobrevivesse até lhe dar a luz.

— .... — Hanabi considerou, porém a dor em seu coração persistia.

— Mesmo que ela tenha sobrevivido para lidar a luz por causa do remédio, não me importo que tenha sido Danzou a oferecê-lo.

— Nee-san... — A Hyuuga elevou o rosto, fitando o perfil da face de sua irmã.

Hinata manteve a vista ao teto, em seus pérolas, um sereno brilho. Calma continuou:

— Naquele dia, eu era uma menina com medo de perder a mãe. E que sequer tinha ideia do que Danzou Shimura era capaz. Aceitei até mesmo orar escondida por Indra, porque ele disse que eu não podia falar o nome dele para ninguém. Se Ashura-sama acha que deva punir uma criança, por ser enganada por um homem, acho que tenho medo sobre que tipo de divindade nosso clã honra.

— Nee-san, é perigoso dizer algo contra Ashura.

— Eu confio em você.

Hanabi prendeu o lábio inferior.

Seu coração momentaneamente se dividia entre o amor e a dor.

— Nee-san... se soubesse quem era Danzou... aceitaria o remédio?

— Sim.

Os prateados rotundos da lady, dilataram-se.

Sem arrependimento, a azulada reforçou:

— Naquele momento, eu não ligaria se era uma pessoa ruim que me desse o remédio, qualquer chance de ver minha mãe melhorar, eu aceitaria. E valeu a pena, mesmo que por mais algum tempo. — Exerceu força no ombro da irmã, e pousou a outra mão sobre a mão da Hyuuga que permanecia descansada em sua barriga.

— E-eu a amo, nee-san. — Hanabi descansou suavemente o rosto no seio da pequena mulher.

— Eu sinto muito não tê-la protegido como deveria... eu... — Os orbes perolados lacrimejaram, imaginar o Shimura tocando na intimidade de sua irmã, emergia-lhe uma dor física no coração. — Vamos superar juntas... tudo bem? Estarei com você. Eu vou melhorar.

— Nee-san fez muito, e está fazendo agora. 

Muitas lembranças horrorosas vivenciadas no esconderijo de Danzou sobrevinham à mente da Hyuuga, entretanto, da mesma maneira na qual chegaram todas de uma vez, dispersaram-se na velocidade de um raio.

Não seria difícil lidar com elas, acreditou Hanabi.

Não enquanto tivesse quem a amasse por perto.

 

~NH~

Ainda no mesmo dia

20 de abril

Terça feira

~NH~

 

 

Tsunade usava vestido camponês, na cor verde de tonalidade seca.

Passou a vestir as roupas entregadas pelas pessoas com as quais convivia na cidade principal do feudo Uzumaki-Hyuuga.

Seus serviços médicos eram bem pagos com bebidas, comidas e vestes.

Apenas nos anoiteceres que retornava ao castelo.

Empós tantos dias no feudo, ela se sentia bem mais acolhida do que imaginou.

O povoado se acostumava em lidar com uma mulher médica.

A Senju apenas não esquecia que seu belo tratamento se dava pelo sucesso nos casos que atendia.

Se cometesse um errinho sequer, seria suficiente para destruírem sua imagem e recorrer à crença de que uma mulher não poderia exercer tal profissão. 

Presentemente, em seu visual de camponesa, ela carregava uma bolsa de pelagem animal e se encaminhava ao calabouço do castelo.

Retornava mais cedo naquele dia porque Iruka a encontrou, e a repassou o chamado do Senhor que a pedia para cuidar do príncipe.

Naruto objetivava que Toneri fosse bem cuidado ao ponto de conseguir falar normalmente outra vez.

O Uzumaki pretendia conversar com ele, mas no estado atual seria impossível.

No calabouço, o guarda que acompanhou a médica, fecharia a cela, mas a loira não quis:

— Deixe-a aberta, não permitirei que ele saia. — Referiu-se ao Hamura sentado no cantinho do banco alongado e pedregoso.

— Mas o Senhor...

— Pode falar com o seu Senhor. Não cuidarei do paciente se fechar a cela. — Condicionou, enfática.

O guarda hesitante, afastou-se.

A Senju retirou sua bolsa e a colocou na extremidade oposta a que o Hamura sentava.

Ele a assistiu organizar vários instrumentos, deitando-os um ao lado do outro sobre o assento.

A Senju colocou um par de luvas feitas de couro macio.

Ela logo se volveu ao carro de mão, tratou de tirar todo o feno do transporte e do corpo do príncipe, jogou tudo no piso.

Alguns fiapos grudaram nas luvas, e ela bateu as mãos se livrando deles também.

Prendeu o cabelo loiro, deixando-os em formato de bola no topo da cabeça, impedindo que um único fio caísse na frente da face.

— Você é... — Hamura impressionado, questionou-a: — Médica?

— Não, uma boba da corte. — A mulher estalou o pescoço e os dedos, diferente dos últimos casos atendidos, o do Otsutsuki seria um desafio. — Não fale comigo enquanto eu trabalhar.

 

~NH~

 

Já devia se passar da hora do jantar, quando Tsunade escutou os passos pelo corredor. 

Era o Senhor, cessando diante a cela dos Otsutsukis, quis saber:

— Terminou?    

— Agora mesmo.

Ela respondeu, realizando três voltas com uma nova faixa para cobrir os olhos do príncipe.

Naruto observou a imagem de Hamura quem continuava sentado no canto do banco.

O Otsutsuki no mesmo velho disfarce de camponês, separava os joelhos e descansava os cotovelos neles, apertando as mãos, mantendo a cabeça baixa.

Hamura achou desagradável assistir o procedimento no qual o príncipe foi submetido.

Concentrando-se na médica novamente, o Selvagem perguntou-a:     

— Amanhã ele poderá falar melhor? 

— Difícil. — Voltada ao banco, Tsunade lavava seus instrumentos dentro de uma bacia de água. — Se eu tratasse dele antes, daria para salvar mais coisa.

O corpo do príncipe se posicionava em sentido cranial às grades.

O Uzumaki observou o tanto de faixas na cabeça do paciente, apenas alguns fios de cabelo da alteza escapavam do tecido branco pelo qual se divergia algumas manchas de sangue.

Perguntou-a:   

— O que exatamente você fez?   

— Abri um buraco na parte detrás da cabeça. O príncipe sofria de uma pressão em algum lugar do crânio, o acumulo de sangue provocava uma grave cegueira.

Depois de molhar todos os instrumentos, passou a secá-los, conforme secava um, jogava-o dentro de sua bolsa. 

Enquanto fazia aquilo, sua fala seguia ininterrupta:

— Como toda a cabeça dele doía era complicado saber o ponto certo, meu trabalho foi encontrar esse ponto para liberar o sangue. Resta esperar que a visão se estabilize.

Cada mão do Selvagem cingiu uma barra férrica. Questionou-a:

— E quanto ao problema de fala?

— Identifiquei várias marcas de queimaduras no lado interno das bochechas.

De atônito olhar, Hamura ergueu a cabeça. 

A médica prosseguia:

— Nos lugares que faltavam dentes ocorreram infecções. Até onde pude enxergar não há dano grave na garganta. Ele não ingerir alimentos sólidos se dá por conta de algum problema estomacal. Suspeito que o problema no estômago seja bem grave, verei o que posso preparar.

Todos os instrumentos no interior da bolsa, a loira colocou a alça sobre o ombro direito. 

— Queimaduras... — Murmurou Hamura, recusou-se a crer. Abandonou seu atônito olhar. — Senhorita, acredito que se equivocou.

Tsunade pusera uma mão na cintura, elevando uma sobrancelha, curiosa, observando o Otsutsuki.

Naruto levemente meneou o rosto, lamentando pela ingenuidade do prisioneiro, em contrapartida, não podia culpá-lo. Ninguém que desconhecesse a verdadeira identidade do Gondaime desconfiaria que fosse uma loira peituda.

— Eu acompanhei o caso do príncipe de perto. O tipo de violência que ele sofreu foi mais psicológica. — Hamura suspirou. — A rainha o fazia ter falta de ar, o sufocava com o travesseiro, e não o alimentava direito, esses foram os exemplos mais próximos de violência física que ela exerceu. Se ela o queimasse, eu saberia, pois eu verificava o estado dele.

— A rainha. A própria mãe causou isso nesse rapaz? Que louca. — Disse Tsunade, soltando os cabelos. Em seguida, resolveu amarrá-los na altura da nuca. — Bem, independente do que o senhor testemunhou, sei que não me equivoquei. — Caminhou até pausar na frente do prisioneiro, curvou-se pondo a outra mão na cintura, agora jazia com as duas mãos nela.  — Acabou de me assistir retirar da cabeça de seu príncipe, todo esse sangue espalhado no carro de mão e no piso; reconheci um ponto de acumulo sanguíneo depois de apalpar minuciosamente cada espaço do crânio de sua alteza e ainda consegui tampar o buraco sem deixar grande marca, no mínimo será uma manchinha escura. — Recuou um passo, endireitando a coluna. Manteve as mãos na cintura, e observou o homem de cima a baixo. — Quanto ao senhor, não resolveria nem a primeira fase do procedimento. Mas faço a pergunta, entre mim e você, quem identificaria primeiro a origem de um ferimento?

Hamura ficou paralisado nos primeiros cinco segundos.

Tentou rebater:

— Eu não quero desmerecê-la... mas...

— Mas já o fez. — Tsunade completou. — Não se preocupe, é sempre o que devo esperar, prossiga.

— Eu só falei o que vi. — Defendeu-se o Otsutsuki. — Eu não o vigiava vinte e quatro horas, mas quando retornava ao meu turno, escondido, eu verifiquei o estado dele. Eu teria perceb...

— A fase de negação é recorrente quando a pessoa deixa algo grave passar, acostume-se. — Tsunade segurou a alça com as duas mãos, encaminhou-se à saída da cela.

O prisioneiro se levantou:

— Mas eu...

— Ela é o Godaime. — Naruto o revelou. — Você pode não tê-lo conhecido pessoalmente, mas já ouviu falar dele. Todos do feudo agora sabem que o Godaime era uma mulher disfarçada. Se ainda guarda inteligência no seu cérebro, não insista contra ela.

Hamura de boca meio aberta, observou as costas da mulher que se manteve parada do lado de fora da cela.

— Eu preferia que não revelasse a ele. — Tsunade disse, cerrando os punhos. — Eu gostaria de vencer uma discussão sem usar a fama da minha identidade falsa. — Continuou andando, e ao passar ao lado do Selvagem, avisou-o: — A bacia de água não é minha.

Deixara o recipiente para trás, postado no banco. 

Naruto chamou o guarda e o mandou retirar a bacia de água de dentro da cela antes de fechá-la.

Em seguida, o Uzumaki seguiu a Senju.

Ela mencionou:

— Suponho que não me informará sobre a situação.

— É importante?

— Talvez. Além da solução para o estômago, precisarei preparar outros medicamentos. Quanto mais eu souber da origem do estado atual do príncipe, mais certeza terei do que produzirei para tratá-lo.

Saindo do calabouço, os dois pararam no corredor iluminado pelas tochas nas paredes.

Um de frente para o outro, Naruto cruzou os braços:

— Foi o que você ouviu de Hamura. Além disso, você deve ter visto marcas mais antigas, as que eu causei nele quando o torturei.

— O Senhor torturou um príncipe de um reino imenso. — A surpresa foi distinguível no timbre, embora a expressão permaneceu natural.

— Não fui eu quem causou as queimaduras, quando o torturei ano passado, usei minhas próprias mãos. Há inúmeras testemunhas.

— Não o acuso de nada, Senhor. — Bocejou. — Se não há mais detalhes que me possa fornecer, retornarei ao meu quarto. — Apertou as duas abas de seu manto, na frente do peito, sua outra mão pousava na base da bolsa.

— Um momento. — O Uzumaki a segurou pelo ombro, fazendo a mulher fita-lo de lado. Afastou a mão do corpo dela, e dissera: — O guarda me avisou que saiu duas vezes da cela, durante o procedimento médico.

— Sim, precisei pegar a bacia com água, e na outra vez, uma toalha nova.

— E nas duas vezes não se preocupou em avisar o guarda que sairia do calabouço, deixando a porta da cela aberta?

— Eu me comprometeria a ir atrás do prisioneiro se ele fugisse. Pelo que eu analisei, não daria nem para me cansar.

Grave, ele alertou-a:

— Não o subestime da próxima vez, ele é um Otsutsuki, deve ter técnicas úteis na condição que ele se encontra.

 — Eu gostaria que o Senhor não me subestimasse também, não tenho um ótimo desempenho apenas na medicina.

— Entendo... você veio das ilhas de Konoha também, como a Mitsashi. Assim como ela, deve saber técnicas de luta.

— Bastante. Outro dia, se quiser pagar, faço uma demonstração. — Tsunade bocejou de novo, e fez um gesto de despedida, balançando de forma lenta a mão aberta, de um lado pro outro.

Naruto recusou a despedida, seguiu-a durante mais alguns passos, perguntando-a: 

— Quando acha que o príncipe ficará melhor de tudo?  

— É melhor não elevar esperanças, Senhor. Eu vou preparar vários medicamentos para ele, mas o que fiz hoje o deixará vivo apenas por alguns dias, arrisco dizer que menos de uma semana. Com ou sem medicamentos, ele permanecerá com essa média de vida.

Naruto parou de segui-la, e permaneceu imóvel, mesmo quando não via mais a Senju.

O Selvagem rangeu os dentes, se o príncipe morresse não teria como esconder de Hinata.

Morrer com a possibilidade de ser inocente atormentaria a mente da esposa.

 

~NH~

 

No dia 22, os membros do clã Hyuuga se organizaram para festejar a menarca da segunda herdeira de Hiashi.

Passaram o dia 21 arranjando alguma forma de conseguir um banquete descente.

Os não Hyuugas trataram de se unir para conseguir alguns músicos.

Houve um momento de oração pela transformação de Hanabi, que com seu sangue descido, tornara-se mulher.

Dali por diante, seria cobrado dela, que se comportasse como tal.

Hanabi sorriu e agradeceu a todos, mas não estava realmente feliz, decidiu que tomaria mais cuidado com seus treinos, para não ser descoberta.

 

 ~NH~

25 de abril

Domingo

~NH~

 

A previsibilidade da médica não deu outra.

Toneri apesar dos medicamentos recebidos, não apresentou melhora.

E se aproximava do fim.

A Senhora o visitou mais uma vez durante a semana.

Seu marido esteve ao seu lado.

E ela entendeu que ele a preparava para o pior.

Os olhos do príncipe jaziam descobertos, de acordo com a Senju, ele deveria estar enxergando, mas o próprio não dava sinal dessa capacidade.

Emagrecido, arduamente.

A respiração lenta.

A perolada pousou a mão na testa de Toneri.

 

“Hinata-sama, por favor, não alimente dúvidas quanto a inocência de Toneri-sama. Arrependo-me por considerá-lo inimigo, agora não me resta dúvidas de que ele foi vítima da própria mãe. Nenhuma mãe que ame verdadeiramente um filho, submeteria a própria cria a um tratamento inumano. O verdadeiro Toneri não é o que a maltratou, Hinata-sama.”

 

Hamura discursou, enquanto ela acarinhava a testa da alteza.

O Otsutsuki com seus trapos de camponês, ajoelhara-se diante a Senhora, espalmando as mãos no piso, e entre elas, encostando sua testa contra a superfície rígida.

Sem desviar a visão do príncipe, docemente, a Uzumaki verbalizou:  

— Não precisa implorar, Sir Hamura. Não almejo um fim trágico para Toneri, quero que ele sobreviva.

Ela soubera sobre as queimaduras e de outras marcas recentes de tortura comparadas as feitas pelo seu marido. 

Não havia mais como crer que fosse um plano do príncipe.

O Toneri maléfico, o viciado em beleza, não degradaria mais sua aparência.

Não se acabaria mais, não depois de estar tão debilitado desde quando sofreu sua tortura pública no feudo Hyuuga.

Observando os olhos inertes do príncipe, a Senhora aproximou sua boca do rosto dele.

Revelou-o:

— Eu acredito em sua inocência.

— Vamos, Hinata.

O Selvagem segurou a mão dela.

Ele não suportava mais o fedor impregnado pelo interior da cela, e se apossara de um sentimento ridículo de ciúmes; por conta do olhar amoroso e pelo carinho que sua mulher concedia ao príncipe.

A visita durou cinco minutos apenas.

Hinata não protestou, acariciou as feições do príncipe antes de o marido guia-la para longe do carro de mão.

Fora do calabouço, a pequena mulher respirou em movimentos maiores, sugou e soltou o ar com vontade.

Quando esteve dentro da cela disfarçou seu incomodo pelo odor, mas no momento presente, não teve como disfarçar seu alívio, e questionou:

— A cela deles sempre está imunda?

— É o calabouço, Hinata. Vários prisioneiros se instalaram nas celas. Mijaram e cagaram como animais, alguns morreram nelas.

Como Shizuka, infeliz lembrou.

A prostituta que causou um dos maiores pesadelos da vida do casal.

Omitiu-se de usá-la como exemplo.

Mantendo-se de mãos dadas com a esposa, andava um passo na frente dela, emendando sua fala:

— Há corpos que entraram em decomposição lá. Não é um balde de água e sabão que retirarão o fedor.

— Mas poderia mandar que tentassem limpar, ao menos para melhorar um pouco.

— Eu mandei, por causa de sua visita. Ontem três servas passaram o dia inteiro esfregando o chão e paredes.

A Senhora lamentou, então realmente foi próximo de nada que adiantou.

Naruto considerava o péssimo estado da cela como parte da punição de prisioneiros, porém para o local acolher sua esposa, valia a pena que ordenasse uma limpeza.

Infelizmente, continuou um ambiente desagradável. 

— Obrigada por tentar deixar o lugar melhor. — Ela parou de andar, fazendo-o parar também.

Cessaram quatro metros da escada.

O loiro se volveu a ela.

Estúpido que ele se sentisse bobo quando ela o agradecia.

Perguntou-a:

— Quer que eu fique um pouco com você no quarto?

A pequena mulher assentiu, precisava muito ficar acolhida nos braços imensos e calorosos do esposo, enquanto punha para fora sua vontade de chorar.

Ele soltou a mão da esposa e se curvou para beijá-la na boca, um suave contato dos lábios.

Após as bocas se desprenderem, o Uzumaki acariciou as maçãs do delicado rosto antes de carregar o pequeno corpo em seus braços, indo subir os degraus.

 

~NH~

 

A mensagem enviada ao reino de Otsutsuki não obteve nenhuma resposta. Em contrapartida, o falcão mensageiro retornou com uma mensagem de outra pessoa.

Havia um pedaço de corda amarrado em torno de uma pata do falcão, Asuma informou ao Senhor que a ave havia sido capturada para transportar tal mensagem:

“O reino Otsutsuki fechou os portões, os exércitos dos aliados da rainha, aglomeraram-se pelas redondezas dos muros.

Cada um dos aliados quer tomar à frente da situação para lidar com a rainha, por conta disso, está ocorrendo um conflito entre nós.

Não nego que também quero encabeçar nesse problema, ela me deve muita coisa, metade da situação econômica do meu reino depende da rainha, se continuar assim, daqui a dois meses Ikkigakure retornará a ser uma cidadela.

Sabemos que o clã Hyuuga era o primeiro da lista de aliados dos Otsus, mas isso foi até a era de Hiashi Hyuuga.

O sobrinho mal dominou o trono.

A primogênita assumiu por alguns meses e resultou na escolha de um Selvagem ser coroado Senhor.

Sem querer desmerecê-lo, mas o Senhor não sustenta o mesmo histórico de um Hyuuga, o que tento transmitir, por meio desse texto, resumindo a sua situação, é que não precisa se envolver nesse problema, a situação está ruim, e um ex Selvagem entrar nela piorará, os ânimos por aqui não estão entre os melhores.

 

Assinado, monarca Kume Soraya.”

 

Naruto buscou informações sobre Ikkigakure, não era nenhum aliado do feudo Hyuuga-Uzumaki.

Tratava-se de uma cidadela que ganhou o status de reino depois que se tornou um companheiro comercial de Otsutsuki.

 

 

~NH~

 26 de abril

~NH~

 

 

Próximo do fim da madrugada, o quarto do casal Uzumaki recebeu batidas na porta, era Ayla quem temerosa avisou ao Senhor que um guarda do calabouço o chamava.

Naruto primeiro se preocupou com a esposa, Hinata quase despertou, ele passou a mão no braço dela, acarinhando-a.

Confirmando que ela seguia adormecida, retirou-se do quarto.

Despreocupado com as vestes, catou as que estavam pelo chão.

O Selvagem aguardava ouvir que o príncipe morrera, considerando o único motivo de ser acordado urgentemente.

Seu rosto expressava derrota conforme se encaminhava ao calabouço, haja vista que não atara nenhuma conversa com o príncipe nos últimos dias.

Nem mesmo na presença de Hinata o príncipe dissera algo.

Na entrada do calabouço, o guarda ao avistar o Uzumaki, antecipou-se em avisá-lo:

— Hamura Otsutsuki está morrendo, Senhor!

De expectativa contrariada, o Selvagem correu e ao chegar na frente da cela dos Otsus, havia outro guarda presente que agarrava os punhos de Hamura.

O Otsutsuki arranhara a própria garganta, fixando o olhar assombrado na parede onde momentos atrás escrevera usando o próprio sangue.

Sua boca meio aberta mostrava os dentes trincados e sangrentos, por ela expelia o som de engasgo.

Naruto vociferou ao guarda mais perto:

— Chame a médica!

— Já enviei alguém para chama-la, Senhor.

No minuto seguinte, a própria aparecia.

De cabelos soltos, de manto marrom por cima de um chemise e descalça, apressada, a Senju trazia sua bolsa.

Cessando do lado de fora da cela, a loira mandou:

— Traga-o para cá, deite-o de costas!

Naruto se afastou da cela, dando espaço para o guarda passar.

O guarda não soltou os punhos de Hamura ao deitá-lo no piso.

A médica se agachou e foi retirando seu material, objetivava estancar o sangramento.

Examinando os ferimentos, impressionada comentou:

— Ele rasgou a garganta e mordeu a língua.

Pensativo, Naruto se lembrou de algo:

— Cavaleiros cometem esses tipos de ferimento quando percebem que serão interrogados por inimigos. Pela honra, matam-se antes de terem alguma informação importante extraída.

Optavam pela morte em vez de prejudicar a quem serviam.

Tsunade pressionava um tecido dobrado e banhado a uma substância pastosa contra a garganta de Hamura.

E curiosa, interrogou:

— Mas ele não chegou no feudo por vontade própria? Ele contribuiu com informações, não foi?

— É isso que me confunde. — Naruto respondeu.

A médica sem deixar de pressionar o tecido contra o pescoço do homem, aproximou seu rosto da face dele, questionando-o:

— Hamura Otsutsuki? Pode me ouvir?

Sem resposta verbal, o corpo no chão tremia de dor e de repente travou.

Os guardas presentes, o Senhor e a médica, emudeceram-se durante alguns segundos.

No término de cinquenta segundos, convenceram-se de que não teriam mais nenhum sinal por parte do deitado.

Definitivamente, morto.

Tsunade afastou sua mão de Hamura, deixou o pano grudado contra o pescoço do mesmo. Comentou:

— Ele demonstrou sofrer pelo príncipe na noite que tratei do ferimento na cabeça. Acha que tem algo a ver?

— É possível. Ele queria que o príncipe pagasse pelo que fez, mas quando chegou o momento que o considerou inocente, passou a ter peso na consciência, sentimento de culpa.

— E o príncipe era inocente, de fato? — Tsunade perguntou, sem tirar o olhar do recém falecido. — Ainda não faço ideia do que acontece. Não julgo meus pacientes, só tenho curiosidade.

— Toneri agrediu minha esposa, tentou casá-la com Hamura, e planejava ser amante dela. O príncipe a forçaria a ser amante dele. — Observou o interior da cela, seus azuis se fixaram no que Hamura riscou na parede.

— Agora entendo as marcas de tortura mais antigas. — Tsunade mencionou, imaginando como seria ver Naruto irado. Ele naturalmente já tinha um rosto e um tamanho de amedrontar. — Só alguém com muito ódio para causar tudo aquilo manualmente.

O Selvagem preferia não lembrar e pegou uma tocha do corredor das celas, e adentrou na cela na qual jazia o príncipe deitado no carro de mão.

Clareou mais a região da parede riscada de sangue. Informou-a:

— Hamura desconhecia do plano do príncipe, por isso quando descobriu ficou enfurecido.

— E o que fez ele acreditar na inocência do príncipe?

— Algo difícil de pessoas acreditarem. Eu mesmo duvidei quando ele falou.

— Eu gostaria de ouvir mesmo assim.

“H”

“i”

“Hip”

“Não che...”

Palavras incompletas, sílabas e letras separadas.

Várias marcas de mão.

Era isso que os rotundos azulados observavam na parede riscada de sangue.

— Hamura acredita que a rainha tem a capacidade de controlar mentes. De acordo com ele, e Hinata, quando criança, Toneri não demonstrava que seria um homem horrível. Hamura escutou a rainha praticamente confessar que mexeu na mente do filho durante anos. Além, também, de ele ouvi-la, que ela matou o marido. — Esboçou meio sorriso, todavia seu interior gelava. — Engraçado, mesmo crescendo, escutando sobre bruxas sendo queimadas na fogueira, é a primeira vez que verei uma.

— Isso se as que foram queimadas até agora eram realmente bruxas. — Tsunade cruzou os braços. — Sem meu disfarce de Godaime, poderia ser eu, em qualquer uma das fogueiras.

O Selvagem lamentou, silenciosamente.

Volveu-se ao carro de mão, e aproximou-se do príncipe. 

No chão, vários vômitos que escorreram de Toneri, o rosto cansado do paciente mirava o teto.

O Senhor mantinha a tocha erguida na altura do ombro.

Perguntou:

— Consegue conversar comigo?

Como esperado, nenhum som obteve.

Apelou para o nome de sua esposa:  

— Hinata.

Sem resultado.

— Não quer protege-la do perigo? “Hinata... cuidado” não era isso que falava? “Hinata... perigo”.

Ficou repetindo as palavras que o príncipe usara quando chegou nas terras.

As pálpebras de Toneri começaram a piscar frequentemente.

O Selvagem arqueou as sobrancelhas, enfim obtendo sinal.

Curvou-se, pronunciando o nome da esposa mais perto do ouvido do Otsutsuki:

— Hinata.

Toneri piscou quatro vezes seguidas, e falou rouco:

— Perigo... Hinata cuidado...

O Selvagem garantiu:

— Ela está segura, eu continuo protegendo-a. Estou sempre protegendo-a.

Toneri passou a piscar devagar, de modo calmo, e agradeceu:

— Obrigado...

O olhar do príncipe não se desviava do teto.

Aproveitando que enfim Toneri usou outra palavra, o loiro esperançou conversar com ele, e iniciou:

— Ajude Hinata antes de partir, como devo atacar Kaguya? Preciso evitar o máximo de perdas possíveis.

— On... onde... estou?

— No calabouço. Já perdeu a memória?

Toneri se guardou silencioso durante quatro segundos e como se retomasse a consciência, dissera:

— Hamura vai falar tudo...

— Ele me falou muita coisa, mas não sobre como funciona a habilidade de sua mãe. Para controlar mentes, ela precisa encostar em nossa cabeça? Ela pode fazer isso a distância? Preciso saber o máximo do que enfrentarei, do que meus homens enfrentarão.

— Hamura... — Toneri tentou levantar a cabeça.

 Naruto trincou os dentes dois segundos antes de revelar:

— Hamura cometeu suicídio um momento atrás.

As pálpebras do príncipe ficaram bem abertas durante três segundos. Fechando-as devagar, lamentou:

— Ele foi pego antes... coitado...

— Não, ninguém o pegou, eu disse que ele cometeu suicídio.

Toneri especificou: 

— Ele foi pego antes pela minha mãe... por isso... ele... se matou...

— Como assim? — Naruto franziu o cenho.

Àquela altura, Tsunade assistia a cena dois passos atrás do Senhor, ao lado direito.

Os dois guardas jaziam na escuta, parados no corredor das celas.

— Ela hip... ela hip...

Toneri tentou dizer, mas seu corpo inteiro se convulsionou.

A médica intencionou segurá-lo, assim que seus dedos encostaram nele, o corpo do homem se imobilizou.

— Hamura e eu não podemos falar sobre a téc...  — Toneri foi interrompido pelo segundo ataque a atingir todos os seus músculos.

— Não faça esforço! — Tsunade mandou, sentindo um cheiro mais forte, verificou o corpo do paciente e notou que ele vazava pelo ânus, desidratando-se cada vez mais.  

 O príncipe não suportaria se sofresse mais uma convulsão. 

— Eu tenho que tentar... por Hinata... eu tenho que falar... — Toneri persistia.

Fechou as pálpebras com força, lagrimando. Seu corpo inteiro doeu, principalmente, na região abdominal.

“Ela é o meu floquinho.”

“Por ela, eu tenho que me sacrificar.”.

“Eu sinto muito por ser fraco, Hinata.”

Com esses pensamentos, realizou seu último esforço, exclamando:

— HIP... NO... SEEEEEE 

Entre vômitos completou a palavra chave, e no segundo seguinte se tornou inteiramente imóvel.

Naruto havia recuado, mudou a tocha de mão.

Seus rotundos azuis dilatados.

Atordoado pensou:

— “Mas que porra está acontecendo...”.

Tsunade havia sido atingida pelos vômitos do príncipe, mas ignorando a sujeira em seu manto e no seu chemise, realizava seus últimos esforços para tentar reanima-lo.

A mente do príncipe não se conectava mais ao corpo, ela projetava a realidade pela qual o coração dele apetecia.

Nela, ele e Hinata cresceram juntos, passavam horas no jardim labiríntico, o lugar no qual se divertiam.

Quando crescidos, vestidos de noivos, de dentro da carruagem acenavam ao povoado, em despedida.

Partiam para o reino Otsutsuki.

Neji ao lado de Hanabi, na frente dos portões das muradas do castelo, observava serenamente a ida da carruagem.

 A Hyuuga sacudia um lenço branco, em seu sinal de adeus. Sua feição umedecida e seus olhos vermelhos indicavam o quanto chorara.

Toneri abraçou sua noiva pelo ombro, beijou-a nos cabelos enfeitados com uma coroa de lírios.

Na próxima progressão de tempo, seu pai Tenji Otsutsuki ainda vivia, e sua mãe não era louca.

O casal de bom grado recebia a nora.

E na próxima lembrança, os pais do príncipe se abraçaram emocionados empós receberem a notícia de que a nora esperava um herdeiro.

A mente de Toneri continuou inventando o que era impossível de acontecer.

Seguiu ele criando mais lembranças que se apagavam gradualmente, até sua consciência não funcionar mais.

 

~NH~

Algum tempo depois de Naruto ter uma conversa com Tsunade. 

~NH~

 

Hinata terminava de se banhar quando o marido entrou no quarto.

Naruto a notando se erguer, pretendeu carregá-la imediatamente.

Ele avançou na direção da área de banho. Pisando na região funda do piso, o Selvagem recebeu o sinal de “espere” feito pela mão direita da esposa.

Em seguida, ela apontou na direção do tamborete, no qual se encimava a toalha dobrada.

O marido obedeceu, contornou a banheira e pegou a toalha, ao se volver à esposa, esperou-a retirar o excesso de água do cabelo.

As mãos da Senhora cingiam as madeixas, e arrastava seus dedos fechados até o final dos azulados fios.

A água do cabelo caía dentro da banheira. 

Fez o processo cinco vezes, e então jogou o cabelo para trás, no aguardo do seu marido envolver a toalha em seu corpo.

O Selvagem imóvel, durante um curto momento apreciou a curvatura do ventre de sua esposa.

Ela colocou as mãos na barriga, realizava um doce sorriso, de rubor queimando as bochechas. 

Seus perolados emitiam calmo brilho.

Aquele curto momento de ser apreciada pelo esposo cortou o futuro desespero dela por pensar na ausência de movimentos do bebê.

Naruto respirou fundo e avançou. Estendeu seus braços com a toalha, primeiro resolveu de cuidadoso modo secar o corpo de sua mulher.

A azulada colaborava, movendo os braços quando necessário, e virando-se de costas em outro momento.

Ao retornar a se pôr de frente ao marido, ele esfregou a toalha fortemente contra os cabelos azuis.

E somente depois que ele enrolou a toalha no corpo menor, na altura dos seios.

Retirou sua esposa da banheira, sem soltá-la, direcionou-se à cama, mas na metade do caminho, cessou.

— Devo enxugar meus pés, querido. — Hinata avisou, muitas gotas caíam.  

Jazeu imóvel o Uzumaki, tempo o suficiente para causar estranheza na esposa.

Ela pousou o lado do rosto contra o ombro do cônjuge, questionando-o:

— O que há, querido?

Após cinco segundos, ele avisou:  

— É sobre Toneri.

De forma gradual, o semblante da Senhora assumiu tristeza, e ela arriscou:

— Ele se foi?

Balançou a cabeça, confirmando-a:

— Pouco tempo atrás. Tsunade fez o que pôde, mas... — Seu silêncio a completar sua fala, equivaleu a palavras ditas.

Hinata assentiu duas vezes, sua mão que descansava no peito másculo, subiu ao pescoço. E a mão descansada no ombro largo, moveu-se tocando o outro lado do pescoço de seu amado.

Comentou-o:

— Com a presença da Sra. Tsunade, eu tive esperanças que ele sobrevivesse. — Seus lábios se espremeram, trêmulos. Batera nela a vontade de chorar. Todavia, segurou firme e ajeitou sua boca.

— Ele me agradeceu, por você estar segura.

O rosto feminino se elevou, fitando as feições do marido, perguntou-o surpresa:

— Conseguiu conversar com ele?

— Um pouco. Acredito que ele não se tornou um homem ruim por conta própria.

Naruto revelou, sentindo-se amargo, sensação de ter o orgulho ferido, reconhecendo estar errado em relação ao príncipe. 

A Uzumaki passou as mãos contra os olhos, rapidamente, perguntando:

— Acredita na inocência dele por minha causa?

— Não. Já é algo óbvio que ele seja inocente. Antes de Toneri morrer, quem morreu foi Hamura, ele cometeu suicídio forçado.

Suas pálpebras se cerraram, evitando observar o choque da esposa.

No entanto, ao reabri-las meio minuto seguinte, desgostou do que testemunhou.   

A naturalidade pálida da genética Hyuuga se elevou a uma tonalidade assustadora arroxeando os delicados beiços, preocupando o marido.

Naruto se encaminhou à cama, intencionando deitar sua esposa e chamar a Senju.

Contudo, as mãos femininas se encaixaram firmemente atrás da nuca do esposo, recusando-se a pequena mulher a sair do colo dele.

De modo frenético, ela piscava, perguntando-o:

— Como se morre de um suicídio forçado?

O Selvagem hesitou, vigiando os lábios femininos, e ao perceber que retomavam a cor comum, respondeu-a:

— Ele tentava revelar algo, começou a rasgar a própria garganta e morder a língua. Ele usou o sangue para riscar uma parede da cela.

Agoniada, a azulada afastou uma mão da nuca do esposo e encostou na própria garganta.

O Selvagem deu prosseguimento:

— Toneri também tentou dizer algo, mas da primeira vez que tentou, sofreu uma convulsão. Se ele não tentasse novamente, talvez sobrevivesse por mais horas. Ele se sacrificou para poder dizer “hipnose”. A Senju reconheceu como sendo o nome de uma técnica medicinal, que há séculos deixou de ser praticada por ser considerada bruxaria. Faz sentido a rainha não querer que pronunciassem o nome da técnica. Se aprendermos sobre hipnose, saberemos como combate-la.  

— Significa que... Kaguya implantou um modo de “autodestruição” na cabeça deles, caso tentassem revelar sobre a técnica.

— Foi a primeira coisa que a Senju pensou. — Naruto se sentou na borda da cama, ajeitando sua esposa em seu colo. — Hamura veio por conta própria e conseguiu falar muita coisa, mas não revelou o principal. Acredito que só em pensar em falar já é o suficiente para que sofra um ataque. Toneri foi muito forte... ele sabia que morreria se continuasse tentando revelar.

Hinata cobriu a boca com as mãos, sua voz chorosa saiu abafada:   

— E-eu não queria cho-chorar... mas... querido, eu posso?

O Uzumaki cheirou os cabelos umedecidos.

— Tola, por que pede permissão para isso?

Ela se concentrou, respondendo-o sem gaguejar:

— Porque você não gostaria de me ver chorando, mas está difícil segurar.

— Eu não gosto mesmo, mas será pior se segurar, pois exige esforço. Chore.  

Hinata enterrou o rosto no peito dele, sentindo a mão grande massagear suas costas.

Enquanto chorava, de pálpebras cerradas, a Uzumaki visualizava a imagem do príncipe criança.

Era daquele Toneri que trataria de lembrar dali por diante.

Daquele que fez momentos de alegria com ela, não mais o perverso que teve o desprazer de conhecer. 


Notas Finais


Oi gente, comecei uma nova fic naruhina. Se passa no Japão Feudal e envolve mitologia japonesa, para quem tiver interesse, espero que curta a leitura, um imenso abraço, aqui está o link:

https://www.spiritfanfiction.com/historia/kitsune-no-ai-21538440


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