Em um segundo Os Cavaleiros de Bronze viviam o cotidiano com suas famílias. No segundo seguinte estavam reunidos na sala de visitas da mansão Kido. Olharam um para o outro espantados.
— Ikky, meu irmão! — Andrômeda abraçou Fênix.
— Shun! Caramba! Quanto tempo! Você envelheceu...
— O que houve? Isto é um sonho? — Hyoga perguntou.
— Parece que fomos teletransportados — Shiryu deduziu. — Atena deve ter nos trazido até aqui.
— Sim, vocês foram teletransportados. E não, não foi Atena, fui eu quem os trouxe até aqui — disse a mulher de cabelos vermelhos, sentada numa poltrona.
Os quatro rapazes ficaram em posição de luta. O cosmo estranho que haviam sentido nas últimas semanas estava extremamente forte e sua origem era aquela mulher.
— Pessoal, como chegaram até aqui? — Saori indagou enquanto descia as escadas.
— Atena! Seya! — os quatro rapazes exclamaram ao ver os dois. Seya vencia cada degrau como se fosse uma muralha. Seus passos eram vacilantes e ele precisava segurar o corrimão da escadaria. Saori o apoiava, tentando ajudá-lo.
Hyoga caminhou até eles.
— Meu amigo, como está? Deixe-me ajudá-lo. — Cisne tomou o lugar de Saori, apoiando Seya com mais firmeza.
— Ora, Atena, tenha dó! Acabe logo com isso. Essa cena é ridícula. Por quanto tempo ainda vai deixar seu cavaleiro passar por esta humilhação? — A mulher se levantou, encarando Saori.
— O que quer dizer? — Atena perguntou.
— Você sabe o que eu quero dizer. Use seu poder e o cure.
— Os cavaleiros, ainda com a guarda alta, olhavam para as duas, confusos.
— Eu não posso fazer isso — disse Atena.
— E por que não? — questionou a mulher.
— É proibido intervir na humanidade dessa forma.
— Atena, você não é mais uma criança. Todos os deuses que vocês derrotaram fizeram coisas proibidas pelos céus. E mesmo vocês tiveram de quebrar algumas regras para conquistarem a vitória. Curar o seu cavaleiro seria um escândalo pequeno diante de tudo o que vem acontecendo na Terra nos últimos tempos.
Os Cavaleiros de Bronze fixaram os olhos em Saori, sentindo surgir a esperança de que finalmente Seya pudesse voltar ao normal.
— Vamos, Saori, mostre o seu poder. Mostre do que é capaz! Seus cavaleiros já fizeram muito por você, não acha? Seja grata. — A mulher a desafiou.
— Não ouse falar comigo dessa maneira! — Saori ficou nervosa. — Sabe que não posso fazer isso, não me pressione.
— Ora! Covarde! Do que tem medo? Nem Hades conseguiu derrotar você. Não seja boba. Use seu poder, Atena! — A mulher elevou a voz e ordenou como se tivesse autoridade.
Saori ficou séria. Ao ver o olhar de Seya cheio de esperança, seu coração se partiu em mais pedaços.
— Você pode me curar? — Seya perguntou. Não acreditava naquela história. Se Saori pudesse curá-lo, já o teria feito há muito tempo. Ela o amava e tinha um coração bom. Não o deixaria sofrer tanto se pudesse poupá-lo.
A moça olhou para baixo, corando.
— Sinto muito, Seya. Não posso quebrar uma regra como essa.
“Então ela tem poder para isso”, Pégaso pensou.
— Saori, por favor, olhe para mim. Se pode fazer isso, faça! Eu não aguento mais viver desse jeito — Seya implorou.
Os olhares dos demais cavaleiros também eram de súplica.
Saori virou o rosto, derramando algumas lágrimas.
— Uau! Decepcionante. Sempre ouvi falar que o amor de Atena era capaz de vencer qualquer mal. Mas uma simples regra conseguiu impedir que o seu amor fosse capaz de devolver a vida a este rapaz. Lastimável. — A mulher estava realmente abismada. Não havia sarcasmo em sua voz.
— Não é uma simples regra. Cada vez que um deus interfere no curso normal da vida, um forte impacto acontece no universo. Nós deuses não podemos tratar a humanidade como marionetes. Cada um tem seu destino e toda escolha tem uma consequência — Saori tentou explicar.
— Oh, Atena. Olhe o mundo, olhe à sua volta. Esses garotos não escolheram ser cavaleiros, isso lhes foi imposto. Eles aceitaram a missão, sim, mas a verdade é que não tiveram escolha. Hoje eles vivem uma vida comum, cada um tem família. Pergunte a eles o que prefeririam. Com certeza todos escolheriam suas famílias ao invés de lutar ao seu lado.
— Ora, quem é você? Cale a boca! Não fale por nós! Não nos conhece! — Ikky vociferou.
— Não tenham vergonha de admitir. Proteger o mundo e ser um herói é algo valioso, mas não é mais valioso do que ter esposa e filhos. Todos são órfãos. Não sabiam o que era o amor até conhecerem suas mulheres.
Ela falava a verdade e aquela verdade impactou cada um que estava ali.
— Vamos acabar com isso! Não temos tempo a perder. Você quer ser curado, Seya? — a intrusa perguntou.
O rapaz endireitou os ombros, olhou para a mulher, para Hyoga, para Saori e para os outros.
— Sim ou não, Pégaso?
— Sim — ele assentiu.
Ela estendeu um dos braços e abriu a mão, lançando uma espécie de névoa, que envolveu Seya e o ergueu do chão.
Todos olhavam, sem piscar, até mesmo Saori, que, mesmo sabendo que aquilo era algo terminantemente proibido, queria de todo o coração ver Seya curado.
— Feche os olhos, Seya, lembre-se do homem que você é. Esqueça a raiva, abra seu coração — a mulher disse.
Seya fechou os olhos. Ela ergueu a outra mão, apontando as duas para Seya. Lançou um poder tremendo na direção dele, de coloração prateada, ofuscando a vista dos que ali estavam. Um grande estrondo foi ouvido e um vento forte percorreu a sala, tirando quase tudo do lugar.
Quando a luz cessou, Seya estava de pé, no meio da sala, as pernas firmes, os punhos cerrados, sentia uma forte energia percorrer seu corpo. A dor havia desaparecido completamente.
— Eu... não acredito. — .Pégaso abriu as mãos, olhando para elas. — Eu... me sinto ótimo.
— Preservei suas cicatrizes, Pégaso. Imagino que tenha orgulho delas. Um cavaleiro de verdade sempre tem cicatrizes.
Seya deu um largo sorriso e saiu correndo pela casa. Subiu e desceu as escadas três vezes, na última usou o corrimão como escorregador. Dava gritos e gargalhadas, correu para fora e queimou o seu cosmo, disparando seus meteoros contra uma árvore que foi reduzida a pó.
Todos o seguiram, maravilhados.
— Galera eu estou curado! Estou curado! — Ele deu pulos de alegria e abraçou cada um dos Cavaleiros de Bronze. — Não acredito! Já tinha me esquecido de como é bom viver.
Saori se aproximou, constrangida. Ela poderia ter dado aquela dádiva a Seya desde o início. Teve medo das consequências. Queria que o período de paz na Terra se prolongasse.
Ao vê-la, Seya deu um passo para trás.
— Você... Quer dizer que tinha o poder para me curar? Diga a verdade!
— Seya... Perdoe-me. Eu não podia...
A mulher saiu ao encontro deles, descendo os degraus da entrada até o jardim.
— Vejam o que mais Atena poderia ter feito...
Dito isso, a mulher abriu os braços, fazendo surgir névoa em abundância e criando um círculo de energia prateada gigantesco.
Os cavaleiros precisaram cobrir os olhos, tamanha era a força da luz que vinha do círculo. O barulho e o vendo eram intensos, como os de um tornado.
Tudo se dissipou num instante e, quando olharam para o jardim, os doze cavaleiros de ouro estavam de pé, com suas armaduras, olhando para si próprios e uns aos outros, sem entender como haviam voltado à vida.
— São os Cavaleiros de Ouro! Estão vivos! — Shun estava emocionado.
— Mestre Camus! — Hyoga correu na direção do Cavaleiros de Aquário, abraçando-o como a um pai.
— Isso é real? — Ikky esfregou os olhos.
— Aiolos, é você mesmo? — Seya se aproximou, tocando o ombro daquele cavaleiro que ele tanto admirava.
— Mestre Ancião! — Shiryu abraçou Dohko. — Eu e a Shunrei sentimos tanto a sua falta. Ela está grávida, metre. Vamos ter um bebê. Quando ela me contou fiquei tão feliz. Queria tanto que o senhor estivesse conosco para dividir nossa alegria! O senhor com certeza será um avô excelente. Tudo que eu sei sobre ser pai, aprendi com o senhor.
Saori derramava lágrimas em abundância. Ver seus cavaleiros vivos era uma alegria que ela sempre sonhou. Queria poder ter sido a pessoa que os trouxera de volta à vida.
Após os primeiros minutos de comoção, todos se voltaram para a responsável por tudo aquilo. Afinal, quem era ela? Quais eram suas intenções? O cosmo que emanava dela era diferente de tudo o que conheciam e todos os dezessete homens a encaram, esperando por explicações.
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