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História Champagne Problems - Gressus


Escrita por: thereddiamond

Notas do Autor


Anyong~~~!
Peço perdão pela demora em atualizar CP, mas posso dizer que foi meio complicado pegar no computador esses dias... Duas semanas seguidas de provas não é fácil, quase que enlouqueci aqui HAUHAUAHUAHUAHAUHAUAH.
Felizmente as provas acabaram quinta e consegui tempo para organizar a fic! Yeah! Agora vamos ao que interessa, não é? Obrigado pela paciência!
Boa leitura! Bjus <3

Capítulo 5 - Gressus


Meu corpo não parava de se mover sobre a cama. Fazia horas que tentava adormecer... Tanto tempo desperdiçado, que a madrugada havia começado e eu ao menos sentia as sombras da letargia que cobria minha consciência, quando estava prestes a adormecer, dar sinais de vida.

E pela décima vez naquela noite suspirei pesadamente antes de concordar que, em nenhuma hipótese concreta, iria conseguir dormir. Vencida por minha ansiedade incomum, me sentei na cama, arrumando como podia os lençóis que se embolaram em minhas pernas. Arrastei os dedos pelo cabelo organizando-o da maneira mais adequada possível. Senti alguns cachos se desfazer sob meu toque se tornando ondulados contra sua vontade. Meu olhar se voltou para a janela e notei que a lua brilhava na campina, dando-lhe um ar sombrio e ainda mais lindo do que durante as manhãs. Apanhei meu celular pedido embaixo de um dos travesseiros e constatei que eram duas da manhã. Certo, se ainda tinha chances de haver tempo para dormir, ver às horas acabou por naufragá-las por completo.

E por mais que não quisesse admitir, tinha uma vaga noção do que motivava minha insônia e saber disso fazia crescer a ansiedade no peito.

Completava quase uma semana que não me encontrava com a doutora Jiyoon. A contragosto me obriguei a admitir que, por mais estranho fosse, sentia falta de sua presença revigorante. Não importava se Taemin visse conversar ou bater um breve papo comigo durante as refeições, ainda existia aquela sensação de que seria triplamente mais interessante com sua presença. E, durante todos esses encontros, que em minha opinião se encerravam rápido demais, uma expectativa desengonçada crescia em meu espírito na esperança de que a jovem médica desse o ar da graça. Seja para apenas dizer um “oi” ou simplesmente tirar sarro da cara da enfermeira e amiga. Quem sabe se minha situação tivesse sido mais problemática, ela teria sido obrigada a me ver mais vezes, porém, como apenas precisava aguardar que meu corpo se recuperasse, nossos encontros foram adiados até lá.

Não houve um dia em que não me sentisse frustrada quando fazia o caminho de volta à cabana de estômago cheio, mas com o coração decepcionado.

Certamente na presença de outras pessoas tinha que segurar esses sentimentos transbordasse em minhas feições, pois Taemin tinha a atenção em cima de mim. Mas durante um momento de irritação, acabei comentando sem querer que a doutora Jeon havia desaparecido do planeta. Como se eu tivesse procurado por ela em todos os buracos da instituição, coisa que realmente não fiz... Por pouco, porém não fiz...

A enfermeira somente sorriu provocativa, como sempre fazia e disse que Jiyoon não estava no hospital naqueles dias. Ocupada demais com outros tipos de trabalhos fora de St. Cecília.

Sua resposta certamente me deixou curiosa, ávida por mais informações, contudo juntei o máximo de orgulho que sobrava e mantive uma expressão desdenhosa, fingindo não me importar com aquilo. Atitude que gerou gargalhadas nela.

E pensando por alto, a última vez que havia me encontrado com a médica, foi exatamente na quarta de manhã, onde passamos um bom tempo nos movendo de um lado para o outro dentro do hospital, subindo e descendo andares, fazendo mais e mais exames. Durante o horário do almoço, que quase passou despercebido por mim, recebi um convite seu para me juntar a ela. Acabamos disfrutando uma refeição agradável, transcorrendo algumas trocas de diálogos amigáveis, dos quais acabei recebendo respostas às questões que formulei em minha cabeça, na tentativa de descobrir um pouco mais de si.

Aos poucos uma imagem sua, diferente da pessoa que encontrava a minha frente, foi se formando na minha cabeça. Ela certamente era gentil e disso eu tinha provado de várias formas. Era uma pessoa preocupada e às vezes insegura, mas que quando toma uma decisão dificilmente tem um pé atrás. A comida era algo que gostava, da qual admitia ter um prazer esquisito de comer, embora admitisse que as amigas com quem dividiu apartamento durante a época de estudante, não gostassem de sua comida e evitasse cozinhar por causa disso. Tinha uma leve paixão pela música e durante um festival em sua escola, na adolescência, fez uma performance com mais duas colegas de sala, de Fin.K.L e que aquilo foi o máximo de algo artístico que chegou a fazer na vida. Também notei seu lado mais caseiro e familiar quando vi seus olhos cintilarem ao falar dos pais e da casa em que foi criada, das quais havia deixado em Seoul. Não havia dúvidas do sentimento de saudade que cobria suas palavras, principalmente quando mencionou o irmão. Entretanto admitiu ter se acostumado com essa sensação, pois como seu trabalho era longe não podia nada mais a ser feito.

Uma nuance pegajosa no tom forçado de sua voz, me fez acreditar que por baixo de seu sorriso despreocupado, havia uma história mais profunda atrás das palavras que me dizia. Existia um fator primordial em sua vida que não quis contar, quem sabe uma experiência que mudou tudo, forçando-a a se excluir nas montanhas.

Tudo bem que o emprego era ótimo e deveria pagar muito bem... Mas o que faria uma jovem como ela, talentosa e inteligente, ter que sair do conforto de casa?

Fora isso, assim como todas às vezes quando nos encontrávamos, o tempo passou rápido demais. Dando por encerrado nosso tempo juntas por causa da droga dos ponteiros do relógio, que insistiam em avançar contra minha vontade. Como se tivéssemos transformado isso numa rotina, ela me acompanhou até a cabana e a última visão que tive dela foi ao se despedir de mim, enquanto seguia seu caminho para a clínica com as mãos dentro do jaleco e a cabeça perdida nas nuvens.

Passei as mãos sobre o rosto para me arrancar desses devaneios desnecessários e sai da cama apressada para tomar um rumo diferente, me distrair com coisas mais produtivas. Apanhei um casaco qualquer dentro do baú e rumei para fora do quarto, sentindo-me repentinamente sufocada por ele.

Precisava de ar fresco na companhia de um café bem quente ou quem sabe um energético... Não importava o que, somente precisava espairecer a cabeça. Temerosa em receber uma reclamação sobre meu ato impensado, coloquei a cabeça para fora do meu quarto, olhando as redondezas, e encontrei o caminho livre para uma caminhada. Não que ninguém fosse me repreender, não havia regras expressas sobre ser proibida a saída dos pacientes durante a madrugada – pelo menos não que saiba, ainda temendo algum problema com a segurança, joguei o capuz do casaco sobre a cabeça e rumei na direção da cafeteria com o olhar baixo.

Minhas ideias de comprar um Iced Americano foram todas para o ralo, quando vi que a cafeteria estava fechada e completamente lacrada. Seria abusar demais da sorte em encontrar alguém capacitado para abrir a cafeteria e fazer uma bebida para mim?

Sabendo que a resposta era um não, me preparei para voltar quando o brilho confortável de uma máquina de café expresso me alegrou, mesmo que pouco, sobre a ideia de ao menos sair daqui com um café em mãos. Segui até ela e coloquei as quantidades de moedas necessárias para colocar a máquina em funcionamento e selecionei o modo de preparo no painel touchscreen, que suavemente apitou para mim. O copo caiu numa base de plástico e aguardei ansiosamente o momento em que o excitante líquido fumegante e preto, caísse dentro dele.

Por algum motivo desconhecido minha atenção foi desviada para o lado, onde encontrei uma pessoa adormecida num banco, poucos metros de distância da máquina. Ela tinha a cabeça pendente para baixo, parecendo completamente a par do ambiente ao redor, presa no mundo dos sonhos. Para minha surpresa era Jiyoon. Certamente o café deve tê-la atraído até aqui, ao menos no primeiro momento, pois um copinho vazio pendia frouxamente entre os dedos pousados na coxa. O sono deve tê-la consumido antes que o café pudesse agir em seu organismo. Ela tinha o queixo contra o peito, dando a entender que a posição não era nenhum pouco confortável, mas que o cansaço foi maior e acabou adormecendo sentada. Senti um pouco de pena da posição automaticamente sabendo que mais tarde ficaria com uma dor irritante nos músculos do pescoço, que protestariam incômodos.

A observei congelada em meu lugar, notando que seu rosto ficava vulnerável e engraçado quando dormia Os lábios levemente abertos... Parecia tão livre em seu sono, que nem ao menos a ideia de acordá-la chegou a ser cogitada em minha cabeça. Infelizmente a máquina tinha outros propósitos e soltando um irritante apito, arrancou-me da minha letargia e tirou a doutora de seus sonhos.

Seus olhos grogues e assustados caíram em minha direção, percebi que por breves momentos pareceu estar confusa com o que encontrou a frente, mas aos poucos um sorriso embaraçado cresceu em seu rosto.

Já mencionei que ela ficava adorável quando sorria desse jeito, fazendo os olhos sorrir junto?

- Perdeu o sono? – Me questionou com a voz enrouquecida e falha por causa do sono, esticando o corpo para espreguiçá-lo.

Minha reação automática foi de engolir em seco ao sentir um leve tremor atravessar meu corpo. Para esconder isso de seus atentos olhos, desviei o olhar para o copo a minha frente, pegando o café.

- Acho que sim... – Respondi quase que forçadamente, tentando manter o equilíbrio na voz. Voltei a encará-la quando tomei confiança e encontrei sua sobrancelha arqueada ao me questionar silenciosamente. – E você? Tentando encontrar o sono?

- Sono não é o que me falta. – Soltou um misto de riso e bufo, antes de se erguer e jogar o copo no lixo perto de si. Virou-se para mim e manteve o sorriso no rosto, iluminando-o ainda mais. – Não me diga que adquiriu sonambulismo.

Apontou para o café que tinha em minhas mãos e soltei uma suave risada. Tomei um gole da bebida que aqueceu meu interior e imediatamente senti um jorro de energia me dominar.

- Não... Só quis tomar um iced americano, mas a cafeteria está fechada... – Comentei com uma expressão decepcionada, apontando com a cabeça a cafeteria escura a minhas costas, fazendo-a rir.

- Essas coisas não são boas para você. Não é saudável e como médica posso dizer isso... – Falou humoradamente ao se aproximar de mim.

- Olha quem fala... Você tinha um café nas mãos até agora! – Gargalhei com ironia do seu conselho médico, deixando claro que não havia a aceitado de muito bom grado. Em contra partida, ao invés de se irritar comigo, ela fingiu indignação.

- Eu sou uma médica, minha função é cuidar dos outros e não de mim mesma. – Brincou.

Embora tivesse dito aquilo num tom brincalhão, senti um leve desconforto atravessar minha mente, deixando-me preocupada. Ela podia ter certeza de que seu dever profissional se baseava nisso, mas, de qualquer maneira, desejava que continuasse saudável e bem. Meus olhos inspecionaram seu rosto e pude encontrar expressões de cansaço, o que me fez tentar descobrir as motivações por trás disso. O que lhe estressava passou a me afligir negativamente.

- Dia difícil? – Perguntei com um tom mais educado e preocupado. Para minha surpresa a vi suspirar e encostar o ombro na parede, mostrando de vez o estresse que encurvou os ombros.

- Um pouco. – Admitiu antes de baixar o olhar e colocar as mãos no bolso do jaleco.

- Então me conte o que aconteceu... Não vou dormir tão cedo mesmo. – Pedi com um toque humorado, humor que adquiri dela, arrancando um sorriso.

Aceitando a oferta, guiou-me para fora da cafeteria, onde fomos recebidas pelo ar gelado das montanhas ao nosso redor. Encolhi-me dentro do casaco, sentindo um calor confortante me abraçar de volta, aguardando pacientemente o momento em que falasse seus problemas.

- Você consegue andar direito agora... – Ela comentou com animação preguiçosa mostrando que ainda desejava dormir, apontando para o meu pé, que em ritmo lento se recuperava. Lancei em sua direção um sorriso bobo, não vendo necessidade de respondê-la e esperei pelo momento em que começaria a falar. Suspirando alto e desviando o olhar para nossa frente, se preparou para dizer o que arrancava seu sossego. – Acho que você deve ter reparado que passei esses últimos cinco dias fora daqui... – Me inspecionou com um rápido olhar, confirmando suas suspeitas em meus olhos e continuou. – Eu trabalho voluntariamente num hospital próximo a capital e por causa disso tenho a permissão de me ausentar por cinco dias a cada mês. Geralmente não passo do terceiro dia, mas...

- Dessa vez você passou os cinco dias. – Comentei sem muito esforço, esquecendo que deveria esconder o fato que havia notado sua falta em St. Cecília.

A expressão em seu rosto ficou endurecida e por poucos segundos não me respondeu, parecendo ponderar se continuava a falar. Mas no final de tudo, preferiu suspirar profundamente e deixar que os ombros mais uma vez caíssem. Ela estava abatida.

- Sim, eu ultrapassei os dias de permissão... A situação pediu por isso. – Meio que deu de ombros para confortar a si mesma, parecendo ser consumida por questões e pensamentos. Seu olhar caiu para os pés antes se erguer para o caminho e lá permanecer. – Minha função como voluntária é o de substituir ou auxiliar outros médicos. E existe um senhor com a idade avançada, que é responsável pelo setor da oncologia... Certo dia ele precisou tirar uma licença médica para se tratar de um problema urinário e, por algum motivo, me escolheram para substituí-lo. – Ela somente me olhou para garantir que estava acompanhando o processo da história, tendo a certeza se que queria ou não continuar. Suspirou mais uma vez em derrota, abrindo mão de seus receios e continuou a falar. – Nós voluntário raramente ficamos encarregados de um caso específico... Mas, como estava substituindo o doutor Grasson, tive que aceitar a entrada de uma paciente em especial. – De longe consegui sentir a densidade que pesava seus ombros, certamente o caso a perturbou por algum motivo que ainda me era desconhecido. – Ela estava sendo submetida a tratamento há mais de um ano e acabei tomando de conta dela por mais dois meses, depois que teve uma regressão crônica em seu estado clínico... Até que ontem recebi a notícia de que não resistiu aos tratamentos.

- Sinto muito... – Suspirei meio sem reação, sentindo que não poderia fazer mais que isso.

Jiyoon retornou sua atenção sobre mim e abriu um sorriso torto, completamente exaurido, agradecendo meu gesto desengonçado. Sua atitude lentamente esmoreceu ao passo que meu café continuava a esfriar, enquanto ansiosamente aguardei uma resolução. Sua boca quis permanecer fechada, mas algo a impulsionou a continuar.

- Esse é um risco do meu trabalho, Hyuna. Eu deveria estar acostumada com a probabilidade... Ela não tinha muita chance de sobreviver de todas as maneiras, não importando o tipo de tratamento que a submetesse. – Tentou transparecer sua frieza profissional, contudo um brilho estranho em seu olhar me fez contradizê-la.

- Isso não quer dizer que você precisa suportar a dor. – Disse sem receios, atraindo seus olhos, que caíram sobre mim como pedras. Eles estavam tão duros e intensos que me senti intimidada em continuar a olhá-la.

- O pior não é isso. Eu não senti a dor... A paciente sentiu. – Soltou uma risada fria e cortou o contato em nossos olhos para observar o caminho mais a frente. – Sabe quantos anos ela tinha? Dez anos. – Aquilo me pegou desprevenida e foi praticamente impossível não corresponder aquilo, restando arfar em completo choque. Minha reação pareceu alcança-la, pois novamente estava na mira de seu olhar, que estavam mais quentes e derretidos. Foi impossível não sentir sua dor mesmo que negasse sua existência. – Simplesmente não consegui pregar o olho depois que recebi essa notícia. Não consigo esquecer o sorriso que a garotinha me deu quando apareci em seu quarto, depois de tanto tempo sem poder visita-la. Ela era tão frágil e doce... – Falou tristemente e pude ter a certeza que choraria por causa do brilho em seus olhos, mas rapidamente pareceu se controlar, mostrando-se irritada. – Por que essas coisas acontecem em pessoas como ela e não comigo? – Voltou a bufar em ironia, desviando mais uma vez os olhos. Mostrando-se indignada com o enveredar inquieto de seus pensamentos, voltou a se ancorar na frieza profissional. – Me questionar esse tipo de coisa não tem fundamento nenhum. É sem sentido. Ela está morta e eu viva de qualquer jeito.

O silencio recaiu sobre nós e pela primeira vez desde que a conheci, tive vontade de escapar de sua companhia. A atmosfera negativa que a rondava me provocava angústia, quase que engolindo meu peito. Sentimento que há muito tempo não sentia desde que fui considerada “curada” da minha depressão. Jiyoon era uma pessoa intensa em todas as maneiras, tanto que isso chegava a afetar o ambiente ao seu redor e cabia a mim continuar ali ou sair correndo para a minha cabana, que apareceu a poucos metros de distância. De qualquer maneira, decidi permanecer ao seu lado.

O tempo entre a gente novamente se esvaia e eu estava o desperdiçando com medo de tentar me aproximar, pelo simples motivo de que ela havia se fechado no próprio pessimismo. Sua dor era algo que embora pudesse ser sentido, fazia questão de escondê-lo, obrigando a construir uma barreira entre nós.

- É... Você não foi à única em se questionar assim. Eu mesma já fiz isso. Por motivos egoístas, talvez, mas na hora fazia sentido. – Comentei com a voz suave, falando abertamente com um, praticamente, desconhecido sobre a época mais obscura da minha vida. Encontrei-me com seus olhos, que retornaram até mim com certa ansiedade. – Nunca é fácil admitir isso, mas eu fui fraca por muito tempo e acreditei em coisas que hoje me servem de exemplo para seguir em frente. Jamais quero voltar a pensar daquela maneira, então me utilizo dessas lembranças dolorosas como um impulso a me tornar uma pessoa melhor. – Complementei antes de suspirar e mudar a atenção dos meus olhos, que escorregaram para frente. – Faça de seus erros uma lição do que deve fazer daqui para frente... Era isso que meu psicólogo costumava a dizer.

- Você está falando da sua depressão? – Ela me questionou com suavidade, tornando sua voz mais profunda e hesitante. Retornei a olhá-la surpreendida com o fato de reconhecer isso. Encontrei uma pontada de vergonha em seus olhos escuros, fazendo-a encolher levemente os ombros. – Desculpa se sei disso, tive que ler seu prontuário médico antes de iniciar o tratamento...

Se explicou meio envergonhada, parecendo ter invadido minha privacidade sem meu consentimento. Somente sorri lateralmente, compreendendo suas motivações por fazê-lo, pois de maneira nenhuma foi intromissão de sua parte ter de fazer isso, quando a situação exigia que o fizesse. Na verdade seria um pouco estranho e antiprofissional se não tivesse feito.

- Sim, estou falando disso. – Concordei seriamente de sua suposição, desviando o olhar para a cabana que aos poucos se aproximava. Mais alguns passos e estaria em frente à escadaria. Então, parando numa bifurcação que levaria a doutora na direção da clínica, me virei para ela e puxei sua mão, notando que estava fria e inerte ao lado do corpo. Seus olhos novamente se avolumaram sobre mim, impossíveis de ser lidos. – Apenas não se deixe abalar profundamente sobre isso, unnie... Mesmo que não pareça, eu sei o quanto isso deve ser difícil pra você. Ainda há tempo de compensar isso. Você tem a chance de continuar a salvar outras vidas e... – Repentinamente me obriguei desviar a atenção para as nossas mãos, sentindo-me constrangida pela intensidade em seu olhar, dificultando que a honestidade saísse de minha boca. Respirei fundo e tratei de falar o que realmente queria transmitir. – Não seja fria sobre isso. Não combina com você... Isso a faz perder sua beleza.

Pronto, aqui estava minha vergonhosa admissão, fazendo-me largar sua mão com certa pressa. Ainda sem olhá-la tentei arranjar coragem para erguer olhar, sentindo o rosto queimar.

Ai, o que é que faço comigo?

Sua risada suave foi motivação o suficiente para que subisse meus olhos. Notei que minha admissão tinha a deixado envergonhada, mas não o suficiente para tentar esconder o rubor de suas bochechas, pois tratou de mudar o clima estranho instalado entre nós com sua gargalhada espontânea. Ela atuou como uma garotinha tímida, escondendo o sorriso com as mãos fechadas em punhos, mostrando seu lindo eye smille. Sua atitude obviamente me arrancou risadas, era praticamente impossível não ser arrebatada com aquela visão, tanto por ser bonita quanto por fofa.

- Aigoo, Hyuna! Por que falou isso tão de repente? Isso me deixou envergonhada... – Resmungou ao desviar o olhar e tocar o rosto, que certamente ardia, assim como o meu. Tentei não rir de sua reação, mas novamente não consegui.

 - Você não me deixou escolha, unnie! – Retruquei com humor, dando-lhe um leve empurrão em seus ombros curvos, que lentamente tomavam confiança para retornar a posição correta. Vê-la sorrir com mais calor foi aliviante, restando fazer o mesmo em troca e agradecimento por me permitir ajuda-la.

Tomar noção que minhas palavras, por mais que sem graça e simples fosse, poderia arrancar os sentimentos negativos fora de seu peito, provocava uma sensação orgulhosa dentro de mim que fez inflar meu ego.

- Obrigada... Eu realmente estava precisando disso. – Ela me agradeceu inesperadamente, enfiando as mãos nos bolsos do jaleco, que flutuava suavemente com o vento frio que batia a suas costas. Como se tivesse acordado para a realidade lembrou-se de algo que a fez reagir plenamente, olhando o relógio que tinha no pulso. – Preciso voltar à clínica. Passei tempo demais dormindo... – Suspirou alto em consternação com o próprio deslize e deu um passo para trás sem deixar de me olhar e sorriu mais uma vez. – Vê se consegue dormir antes da nossa consulta! Estarei te esperando ás oito. Não se atrase! – Apontou o indicador em minha direção como um aviso sério e acenou com a mão antes de girar pelos calcanhares, seguindo pela bifurcação.

- Prometo não me atrasar! – Falei a suas costas, recebendo seu olhar sorridente por cima dos ombros.

Me permiti a perder alguns segundos a observando se afastar, sem conseguir perder o sorriso em meu rosto que apenas ameaçava crescer, como se pudesse partir minha face em dois. Assim que ela estava longe demais, continuei meu caminho e terminei meu café que aos poucos esfriava. Entrei na cabana me aconchegando mais uma vez com seu calor, me espreguiçando confortavelmente e acabei por bocejar em tédio. Depois de jogar o copo seco no lixo, me sentei na cama com força, fazendo as molas reagir sob minha bunda impulsionando-me para cima antes de voltar a ficar estáticos. Retirei o casaco e os sapatos sem muita pressa, novamente puxando a coberta sobre mim, me acomodando dentro dela como um casulo.

Outro bocejo veio como uma recompensa, sendo seguido pelo bônus da letargia assim que minha cabeça repousou no travesseiro. Lentamente minha mente foi vagando até o nada, fazendo-me fechar os olhos, embalando-me num sono sem sonhos.

*

A consulta das oito chegou antes mesmo que meu corpo pudesse ter despertado por completo, obrigando-me a seguir ao consultório da doutora com a cara meio inchada. Tentei conter os bocejos pelo caminho e não importando o quanto de café havia consumido durante o café da manhã, meus olhos insistiam em manter as pálpebras pesadas, frustrando-me no trabalho de seguir firme.

Sabendo que seria repreendida pela doutora por me encontrar assim, melhorei o máximo que pude minha cara, disfarçando a privação de sono e bati na porta antes de verdadeiramente entrar na sala.

Assim que me coloquei para dentro, fui recebida por um de seus simpáticos sorrisos e educadamente me conduziu com palavras até a cadeira em frente à mesa, pedindo para que me acomodasse confortavelmente. Minha boca em nenhum momento foi relutante ao sorrir de volta, como se tivesse sido programado a fazê-lo todas as vezes que a encontrasse. E, não importando o quanto tenha tentado, ela notou meu estado deplorável a base da cafeína e reclamou de mim por não ter tido uma saudável noite de sono, lançando reprimendas ao alertar-me que isso acabaria com meu organismo. Deveria ser mais cuidadosa.

Em contrapartida aos seus resmungos, lembrei-a de que ela não havia tomado noção disso quando tentei confortá-la, findando por abusar da confiança recém-construída entre a gente. Para minha felicidade, recebi seu sorriso brincalhão em retorno ás minhas acusações, deixando a atmosfera a nossa volta ainda mais leve.

- Certo, vamos começar com os exames... – Se ergueu da poltrona e veio em minha direção, mantendo o sorriso no rosto. Certamente seu humor estava muito melhor comparado à madrugada.

- Mais exames? – Resmunguei como uma criança contrariada, bufando meio irritada por ter que me submeter a mais exames. Eu queria ação.

- Somente vou ver se seu pé está em condições de iniciar a fisioterapia mais tarde. – Disse em conclusão, repetindo a mesma expressão infantil em meu rosto. Porém isso a deixou terrivelmente adorável. Me derreti toda por causa daquilo.

Então, vencida pelo leve muxoxo em sua expressão, permiti que se agachasse a minha frente e puxasse minha perna para seu colo. Ajudei a erguer a barra da calça e também retirar meu tênis, guardando a meia comigo. A observei em silencio, absorvendo sua imagem. Seus olhos estavam fixados nos movimentos que fazia em meu pé e tomei disso como uma oportunidade para olhá-la sem temer ser descoberta. Ela tinha cílios longos e tão escuros quanto o cabelo, que me fez questionar em como não se enroscavam contra o outro. Os traços finos do nariz dava a sensação de que seu rosto era afilado, enquanto a curva acentuada dos olhos provocava o contrário. Pelos lábios uma suave camada de batom de tom avermelhado, deixava-os ainda mais chamativos.

Uma rápida fisgada em meu pé cobrou minha atenção do que fazia, fazendo-me resmungar brevemente sobre, atraindo seu olhar.

- Ainda tá doendo? – Perguntou hesitante tomando cuidado para que seus dedos firmes não voltassem a me provocar dor.

- Não muito... Foi uma fisgadinha de nada. – Respondi com medo de que isso a decepcionasse e findasse por adiantar mais uma vez as sessões de terapia. Queria avançar no tratamento, estava cansada de ficar trancada em meu quarto.

Porém, contrariando meus temores, ela suspirou profundamente antes de balançar a cabeça, sorrindo aliviada pela minha resposta. Virou a cabeça para a mesa e, sem mudar a posição, se esticou da maneira que pôde para alcançar um pacote em cima dela. Meus olhos foram diretamente atraídos para o objeto que capturou entre os dedos e pude notar que se tratava de adesivos terapêuticos.

- Vou colocar um desses adesivos no seu tornozelo, só por precaução. – Falou exalando confiança do que fazia e colocou o adesivo branco onde havia apontado anteriormente. – Vou pedir para que Taemin deixe um pacote em seu quarto, assim toda vez que sentir dor, você pode aplicar o adesivo para que ela passe.

Deu sua profilaxia do dia e liberou meu pé da sua perna, antes que pudesse se erguer. Entretanto quando fez um movimento de pescoço, chiou por cima do fôlego sem conseguir se controlar, subindo a mão para a fonte da dor repentina. Por pouco não soltei risinhos provocantes, pois sabia muito bem qual era a causa disso.

- O pescoço está doendo? – Contive minha vontade de gargalhar, passando os dedos sobre os lábios, lembrando-me de conter minha arrogância e permanecer a brincar com a situação.

Seus olhos se estreitaram minimamente em resposta, notando minha real vontade de brincar com ela, tendo que agir com forçada inocência para não ceder a mim.

- É, dormi de mau jeito naquela hora... – Resmungou contrariada pela situação que havia provocado e afastou um pedaço do cabelo, mostrando o adesivo que havia aplicado na fonte de dor. – Tentei colocar isso, mas não serviu tanto quanto gostaria.

- Hum, que pena... – Brinquei consigo recebendo outro estreitar de olhos em sentido de repreensão. Antes que pudesse arrancar reclamações suas, puxei um vidrinho de óleo aromático que havia trazido comigo de dentro do casaco, prontamente adivinhando da sua dor. Seus olhos saltaram minimamente ao notar o que tinha em minha mão e abriu um sorriso dando-se por vencida. – Trouxe isso para você. É um óleo de menta e algumas ervas cheirosas que ajudam a relaxar os músculos... Uso muito disso quando sinto meu pescoço reclamar depois de uma apresentação. Ele é bem refrescante. – Contei a verdade por trás da aquisição daquele óleo aromático, mostrando a extensão de sua eficácia. Uma das coisas que mais gostava de fazer durante as compras, era entrar em lojas de essências aromáticas e comprar óleos para massagem. Soltando uma exclamação impressionada, ela pegou o vidrinho e o colocou em frente aos olhos, observando-o de mais perto, para depois aproximá-lo do nariz, sentindo sua fragrância. – Quer tentar?

Questionei levemente ansiosa por sua resposta.

- Claro que sim! Se isso melhorar essa dor chata, juro que ficarei te devendo uma! – Soltou uma risada desconcertada com sua repentina agitação, arrancou o adesivo inútil, jogando-o no lixeiro e destampou o vidro fazendo com que o forte cheiro de menta e ervas medicinais dominasse o ar confinado de sua sala. Antes que a visse despejar um pouco do líquido nas mãos a impedi.

- Espera! Deixa que faço isso por você, unnie. – Pedi quase que bruscamente e me levantei da cadeira com pressa.

Seu olhar esquisito e inquieto caiu sobre mim, surpreendida com meu pedido imprevisível. Ignorei sua atitude, estava preparada para fazer isso por ela, a guiei até a cadeira onde antes estava sentada e peguei o vidro de suas mãos. Sorrindo simpaticamente pedi licença, afastei seu cabelo da nuca e despejei um pouco do óleo em minhas mãos. Parei um instante o que fazia repentinamente meio hesitante sobre continuar. Observei sua figura tensa, pois estava posicionada atrás dela, tendo uma visão ampla de seu longo pescoço. Meu interior revirou do avesso com a ideia de tocá-la, deixando-me mais agitada que o normal.

Respirando fundo para não transparecer isso a sua frente, comecei a massagem, tomando cuidado para não magoar o pescoço, deslizando os dedos com suavidade. Assim que o óleo tocou sua pele senti-a estremecer sob meu toque e aos poucos relaxar. Lentamente fui movimentando meus dedos com mais força, pressionando com receio as áreas tensas, ganhando suspiros agradecidos de sua parte.

- Pode apertar um pouco mais nessa área? – Pediu com a voz estranhamente arrastada, fazendo-me olhá-la em desconfiança. Encontrei-me com seus olhos fortemente fechados, parecendo aproveitar dos meus toques com mais intensidade.

- Aqui? – Questionei hesitantemente, pressionando com mais força a área antes apontada.

- Isso... – Suspirou quase que gemendo, fazendo-me reagir instintivamente, arrepiando da cabeça aos pés, repentinamente incomodada pela sua reação. Meu coração disparou acelerado, surpresa com o som que saiu de sua boca.

Sua atitude foi tão inesperada e intima, que senti as maças do meu rosto arderem em resposta, acompanhado as batidas erráticas em meu coração. Contudo não me deixei afetar por aquilo, procurando afastar esses tipos de pensamentos confusos, voltei a minha atenção para o que estava fazendo. Notei que minha massagem estava relaxando-a cada vez mais, ao ponto de se jogar na cadeira, que protestou audivelmente em resposta a sua atitude e se entregar de vez aos meus toques.

Tentei ignorar o fato de estar quase gemendo com minha massagem, deixando-me ainda mais envergonhada e ansiosa praticamente do nada, provocando meu interior e pele, que se arrepiava com cada som que saia de sua boca.

A porta sendo subitamente aberta finda por quebrar o momento, chamando nossas atenções.

- Oh! – Uma morena alta de traços suaves que carregava em seus finos lábios um sorriso provocante, exclamou em surpresa ao encontrar tal cena, fazendo-me retrair minhas mãos de imediato. – Desculpe por atrapalhar o momento...

Seu tom debochado e olhar atento a minha figura encolhida e constrangida, me fizeram sentir um leve arrepio atrás da minha nuca. Não pedindo permissão entrou de vez na sala e se dirigiu até a doutora, que sorriu em troca.

- Ah, você definitivamente sempre chega nas horas erradas, não é Gayoon? – Jiyoon abriu uma expressão brincalhona ao mesmo tempo em que provocativa, convidando a mulher para que entrasse em sua brincadeira.

- Você não poderia esperar menos de sua esposa, Jiyunit... Meu senso apita para essas coisas! – Ela gargalhou como uma verdadeira dama, antes de lançar seu olhar arrogante sobre mim, novamente parecendo se questionar de quem se tratava a pessoa atrás da doutora.

Meu corpo congelou no lugar com a novidade, automaticamente reagindo ao momento. A palavra “esposa” queimou em meu cérebro, pegando-me sem nenhum tipo de reação... Como assim ela era casada?

Foi com esse tipo de questão que encarei a médica, exigindo respostas imediatas.


Notas Finais


Eita! Estou sentindo treta HUEHUEHUEHEUHEUHEU. Comentários? Até a próxima!


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