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História Champagne Problems - Invitatio


Escrita por: thereddiamond

Notas do Autor


Hello! Como vão?
Postado um novo capítulo e espero que gostem. Rs.
Antes de vocês irem ler, queria dizer que, com a introdução dessa porcaria de horário de verão, tomei a decisão de mudar os dias da postagem. Geralmente, na madrugada do sábado para domingo, postarei novos capítulos, semanalmente, porque no estado onde moro não tem horário de verão e fico meio confusa com o horário da internet, que não bate com meu relógio HUAHUAHUAHAUHAUHAUHAUHAU.
Enfim, obrigado pela atenção e boa leiura!
Bjus ♥

Capítulo 7 - Invitatio


E então se completava o terceiro dia de tratamento, que tinha se iniciado a todo o vapor. Sohyun me olhou sorridente, transmitindo sua confiança com o avanço da minha reabilitação, iluminando o rosto bonito e jovem enquanto vinha me ajudar a retirar os pesos em minhas pernas.

Agora livre daquele peso extra do qual ancorava meus tornozelos ao chão, me permiti a ficar estirada no fino colchonete para respirar. Olhei o teto alto e iluminado da academia, notando suaves ondulações nas luminárias côncavas, escutando o ritmo agitado da música eletrônica que era transmitida pelas caixas de som, embalando o ritmo acelerado da minha respiração e do bater frenético do coração. Meu corpo protestava de dor por todos os cantos. Os músculos meses parados a fio reclamavam brandamente do exercício, embora me sentisse infinitamente melhor e mais energética que antes. Não sei se isso acontecia por causa da companhia revigorante e alegre da doutora Kwon ou quando meu olhar se encontrava com o da doutora Jeon, que sorria para mim, incentivando-me a continuar os exercícios com mais vigor.

Como prometido, não quebrando o juramento do dedinho, ela sempre estava ali para me acompanhar até a cabana, aproveitando o tempo livre de espera, para se exercitar.

Fechei os olhos por alguns segundos, permitindo descansar um pouco, lentamente controlando a respiração, acalmando tudo dentro de mim. Sentia muito calor e mesmo que o ar-condicionado tentasse abranda-lo, desejei poder passar o resto do dia dentro da banheira no meu quarto, que tentei alcançar com meus pensamentos. Definitivamente iria tirar um bom tempo para relaxar na banheira.

- Você está bem? – Escutei a voz de Sohyun me questionar, desviando minha atenção daqueles agradáveis devaneios.

Automaticamente abri meus olhos para responder ao seu chamado e a encontrei me olhando de cima, parecendo preocupada com meu estado acabado e esparramado no chão. Sorri simpaticamente e acenei enfaticamente com a cabeça, mostrando que me sentia mais do que bem. O forte cansaço que me abatia era consequência dos dias de sedentarismo que fui forçada a tomar, quando machuquei meu pé. Tirando isso o resto estava perfeitamente normal.

- Só estou um pouco cansada e louca por um banho quente... – Resmunguei roucamente, esticando a mão em sua direção, exigindo que me ajudasse a levantar.

Entendendo meu pedido, sua mão agarrou a minha quase que imediatamente e me puxou para cima, evitando, assim, que eu forçasse meu pé ainda em recuperação. Por mais que tivéssemos avançado no tratamento e fosse capaz de erguer pesos, tínhamos de agir com cautela para não magoá-lo precipitadamente. No final das contas ainda estava vulnerável. Apropriadamente em pé observei ao nosso redor, como sempre fazia depois de terminada a fisioterapia e procurei Jiyoon entre as poucas pessoas que sobravam ali ao entardecer. De imediato não a encontrei, deixando-me levemente frustrada, mas quando meus olhos passaram pela fileira das esteiras a encontrei conversando com um homem.

- Quem é ele? – A pergunta escapou da minha mente, sendo prontamente verbalizada.

Sohyun parou o que fazia para seguir meu olhar e a vi franzir as sobrancelhas para a cena mais a frente. Ao se virar para mim deu de ombros, mostrando-se pouco interessada.

- Ele é o diretor chefe de St. Cecília. – Explicou desatenciosa, voltando a guardar as pesadas tornozeleiras que eu havia utilizado anteriormente. – Kyuhyun oppa é o braço direito do Sr. Heo. Tem gente que diz que ele está envolvido romanticamente com Gayoonie... – Falou repentinamente receosa em ser escutada e se aproximou de mim para segredar algo, ansiosa por isso. Seus olhos castanhos estavam divertidos, mostrando que gostava de conversar sobre o assunto. – Mas eu acho que ele tem uma queda pela Jiyoonie. Toda vez que ela tá aqui, ele vem vê-la. E se alguém chega perto, se afasta envergonhado... É muito engraçado! - Começou a rir, cobrindo a boca com a mão e virando para a médica e o diretor, observando-os por rápidos instantes enquanto retornava para finalizar seu trabalho.

Engoli em seco ao escutar aquilo. Seria verdade?

Meu olhar queimou sobre os dois que sorriam para o outro e não cansavam de trocar palavras. A conversa parecia muito interessante. Observei atentamente o tal do Kyuhyun, notando a elegância de sua postura. Tinha uma imagem refinada. Ele vestia camisa social de tom azulado, perfeitamente engomada, que se comportava agradavelmente em seu corpo esguio e magro. Seus polidos sapatos refletiam a luz da academia. O cabelo curto que parecia ter sido cortado recentemente foi penteado lateralmente, fazendo com que as madeixas castanhas não rebelassem contra sua vontade. Os lábios grossos e rosados alongavam-se charmosamente enquanto falava, mostrando-se afável e docemente gentil. Ele era um homem belo, aparentando ser bem apessoado. Pelo menos era o que dava para perceber daquela distância. Precisava olhar mais de perto para ter certeza.

Contudo, com tantas possibilidades, isso não evitou que a irritação subisse a minha cabeça. Não quando uma de suas mãos grandes tocou levemente o braço da doutora, que não o rechaçou.

Aquilo foi o suficiente para mim.

- Até amanhã, Sohyun. – Me despedi apressadamente da garota rumando na direção de Jiyoon, sem tirar os olhos daqueles dois.

- O que...? Unnie! – Ela protestou a minhas costas obrigando-me ao menos a virar o rosto e lhe mandar um beijo pelo ar. Não tinha tempo para explicar nada, somente queria escutar o que eles tanto conversavam.

Rapidamente me aproximei, vendo que falavam num tom suave e amigável. De vez em quando riam de algum assunto que parecia divertido, trocando sorrisos e olhares amistosos. E quanto mais perto chegava, pude notar uma motivação desconhecida nos olhos castanhos daquele homem, que de alguma maneira estava relacionado à morena, fazendo com que não conseguisse desviar o olhar por nenhum segundo. Ele parecia cego para as coisas ao redor, como se tivesse esquecido o que havia por perto. As palavras educadas saiam de sua boca com delicadeza, quase como se pudessem acaricia-la.

- Jiyoon unnie. – Chamei minha médica que girou os calcanhares no mesmo instante. Um sorriso quente cresceu em seu rosto bonito assim que nossos olhos se encontraram, fazendo florescer um sentimento de satisfação em meu peito. Ela estava praticamente ignorando ele para me receber.

- Você já terminou a sessão? – Perguntou com inocência, não notando o que sua reação havia provocado em mim. Balancei minha cabeça positivamente, respondendo-a e sorri. – Então a gente pode ir... – Murmurou meio distraída pegando as coisas das quais havia trazido consigo, nesse caso se tratava de uma garrafa de água e uma luva para erguer pesos, e se virou para o homem que a observava meio decepcionado. – Oppa, desculpa por encerrar nossa conversa, mas vou acompanha-la até seu quarto... Nos vemos por ai?

Devolveu a questão com bastante interesse, mostrando-se aberta para que continuassem aquela conversa numa outra hora, em um momento mais propício, abrindo mais um sorriso suave que deixou evidente seu desconforto por encerrar a conversa tão subitamente. Para mim isso não poderia me satisfazer menos, não ligava se estava sendo mal educada ou grosseira, desde que saísse de perto dele para mim estava ótimo.

Kyuhyun devolveu seu sorriso a contragosto, acordando para a realidade como se tivesse levado um banho de água gelada e ajeitou a gola da camisa, dividindo o olhar entre nós duas.

- Certamente você tem que voltar a seu trabalho, Jiyoon. Conversamos outra hora. – Se voltou para mim e lançou um sorriso suave, superficialmente charmoso. – Espero que St. Cecília esteja lhe agradando, Srta. Hyuna... Seu empresário parecia preocupado sobre deixa-la sozinha sem ninguém para se comunicar. Por isso pedi para que Jiyoon conduzisse tudo... Ela é incrivelmente talentosa no que faz.

Dirigiu-me seu sorriso parcialmente orgulhoso por falar da morena com tanta propriedade e confiança, provocando-me ainda mais sem que percebesse fazê-lo. Meu sangue borbulhou em irritação. Em contrapartida, suas palavras constrangeram a médica que soltou uma risada sem graça, embaraçada o suficiente para desviar o olhar para o chão. Novamente sua atitude voltou a provocar meus ataques de infantilidade.

- Jiyoon unnie é maravilhosa no que faz. – Desloquei meu olhar sobre a médica que me encarou em silencio, escutando nossa conversa. Abri um sorriso meio constrangido e agarrei seu braço para evidenciar o que estava falando. Estava sendo cem por cento sincera neste momento. – Ela me ajuda muito aqui dentro. Obrigado por tê-la colocado em meu caminho, senhor...?

Abri a deixa para que ele se apresentasse apropriadamente, mostrando que embora não gostasse do tipo de aproximação que tivesse com ela, acima de tudo era uma pessoa educada e sociável. Acabei me deparando com sua risada cordial e branda, fazendo-o curvar levemente a cabeça para baixo antes de voltar a me olhar. Minha formalidade pareceu pegá-lo desprevenido.

- Sou Choi Kyuhyun. – Esticou sua mão na minha direção, exigindo formalidades em nossa apresentação, retornando a boa educação por mim utilizada. Não acreditei que houvesse a necessidade de falar meu nome, pois provavelmente o sabia, então o cumprimentei sem largar o braço da morena, que não reclamou por estar aferrada a ela sem necessidade. Notando que não tinha motivo para permanecer ali, ele suspirou disfarçadamente e contorceu os cantos dos lábios para cima, forçando-se a sorrir. – Vou indo na frente, tenho muito trabalho para fazer na diretoria... Tenham uma boa noite, garotas.

Despediu-se com cavalheirismo, o tom de voz permanecendo transcorrido e cortês, se inclinando com respeito a nossa frente. Rapidamente ele seguiu pelo caminho oposto ao nosso, por onde imediatamente saiu da academia, parecendo estar repentinamente apressado, tomando o cuidado para não esbarrar em ninguém durante sua “fuga”. Subi meu olhar pela doutora, esperando vê-la encarando as costas retas e largas de Kyuhyun, quando me surpreendi ao encontra-la me observando. Notei alguns sinais de curiosidade queimando por trás de seus orbes escuros, que foram camuflados, tornando-os difíceis de ler.

- Que foi? – Perguntei meio sem graça pela intensidade de seu olhar, era como se pudessem ver através de mim. Não conseguindo conter o sorriso debochado que quis crescer no rosto, ela riu de si mesma e dos pensamentos ocultos, agitando a cabeça para simplesmente afastar algum tipo de pensamento, assim como também negando a minha pergunta. Novamente me deparava com aquele bloqueio mental, como se protegesse de mim e dos meus questionamentos. – Então... Quem era ele? Você parecia muito interessada na conversa...

Forcei as palavras a sair da minha boca como uma suave de brincadeira, dando a entender que havia um duplo sentido na frase, quando na verdade me obriguei a engolir em seco um caroço estranho que se formou na garganta. Queria manter a pose zombeteira e brincalhona, mas ficava difícil quando essa sensação enervante me dominava. Jiyoon, em contrapartida, riu sem graça, repentinamente seca com as minhas palavras. Tinha voltado à atenção para frente, enquanto nos guiava para fora da academia barulhenta. Mas, podendo observar tranquilamente seu perfil, pude notar um tom estressado em sua expressão, chegando ao ponto de franzir as sobrancelhas. Ainda aguardando uma resposta, somos cumprimentadas pelo vento do lado de fora. Aos poucos o clima nas montanhas esfriava, obrigando-me a me aconchegar em seu corpo quente, aferrando-me no braço que ainda abraçava.

- Pare com esse tipo de provocação, Hyuna... Ele é meu chefe. – Me repreendeu ainda continuando a conversa de antes, como se também tivesse entrado em minha brincadeira. Porém, de maneira ou outra, seus olhos transmitiam um sentimento diferente do qual verdadeiramente desejava transmitir. Não consegui decifrar o que se tratava, mas era algo profundo e obscuro, e ele afetava seu bom humor.

Notando que estava entrando em assuntos que eram desagradáveis, um terreno bastante minado tanto para mim quanto para ela, suspirei em derrotada, dando por encerrada a conversa e me afastei para esfriar o corpo, mesmo estando resignada por fazê-lo. Seguimos pelo caminho até minha cabana, cada uma presa nos próprios pensamentos, permitindo que ar esfriasse entre nós. Derrubei meu olhar novamente sobre sua figura mais alta, sentindo-me terrivelmente ansiosa para fazer algo. Não conseguia me manter calada por muito tempo.

Contudo, antes que minha boca se abrisse, sua voz me impede. E o que veio a seguir foi totalmente fora do contexto. Sem dúvida, inesperado.

- Você quer ir assistir um filme comigo hoje à noite? – Se virou repentinamente, pegando-me desprevenida com seu convite. Meu olhar não largou do seu por uma fração de segundo se quer. Estava analisando-os com minúcia, à procura da mentira ou, quem sabe, um tipo de brincadeira sem graça. Entretanto, não encontrei nada além de expectativa.

- Como? – Aquele questionamento foi meio que automático, pois acabei lembrando, desnecessariamente, de que não havia como assistir nada ali dentro. Estávamos perfeitamente isoladas, tanto que ao menos sinal de celular pegava. Isso também gerou um tipo de dúvida em minha cabeça... Como o pessoal que trabalha aqui se comunica com o exterior? Seriam eles também privados de sua vida?

Minha pergunta pareceu deixa-la secretamente feliz, por um motivo estranho e absurdo, pois era óbvio que ela tinha descoberto uma maneira de contornar aquele “pequeno” detalhe. Mostrando que a mim foi ocultado algo, trazendo a tona seu lado sádico para me torturar, sabendo que a curiosidade me consumiria a cada minuto sem uma resposta. Guardou as palavras durantes bons minutos de silêncio, até que, sem anuncio prévio, vendo que estava completamente desamparada de ideias, se aproximou de mim e pegou minha mão, diminuindo de vez a distância entre nós. Seus lábios roçaram fios do meu cabelo para falar estritamente próxima a meu ouvido.

Senti-la tão perto, com seu hálito quente e agradável chocando-se contra minha pele sensibilizada, fez tudo em mim se agitar, reagindo melindrosamente. Aquela aproximação não fazia bem a sanidade. Meu coração disparou contra meu peito, enlouquecidamente, e, falando com sinceridade, acreditei que ela soubesse disso. O que era vergonhoso de se pensar. Será que Jiyoon não tinha consciência do que provocava em mim? E se tinha, parecia se divertir com isso.

- Tá vendo aqueles prédios mais ao fundo? – Sussurrou na tentativa de evitar que as pessoas, aquelas que passavam ao nosso redor, escutassem a conversa. Discretamente apontou um conjunto de pequenas edificações cinzentas ao fundo do vale. Meus olhos seguiram a direção apontada por seus dedos e acenei fracamente a cabeça mostrando que havia compreendido. Minha cabeça zunia na tentativa de camuflar o incomodo que sua respiração provocou em minha pele, que se arrepiou por inteira. – Eles chamam aquele setor de “área de serviço”, mas na verdade é onde ficam os apartamentos para os médicos e enfermeiros de plantão. – Murmurou suavemente sem desviar o nosso caminho. Se afastando minimamente conseguiu ver o meu rosto, tendo a certeza de que estava entendendo sua breve explicação. Vendo que eu não parecia tão confusa como antes, continuou sua explicação. – Atualmente tenho um apartamento permanente por lá, porque raramente vou para minha casa em Glasglow... Nesse apartamento eu tenho uma televisão e alguns dvd’s... Se quiser me acompanhar por hoje, ficarei muito feliz. – Sorriu para mim para me incentivar a aceitar seu convite, parecendo animada. – Você está precisando mudar um pouco sua rotina aqui dentro.

Definitivamente sua oferta era algo que não esperava e muito menos conseguiria imaginar acontecer. Certamente Jiyoon era a pessoa mais imprevisível que conheci na vida, pois era capaz de me pegar desamparada, desprovida de atitudes. Felizmente ao invés de recusar sua oferta, apenas sorri embasbacada.

- Não precisa usar esse tipo de desculpa para dizer que quer me ver, Jiyoon unnie... – Zombei de suas “motivações” em me convidar para seu apartamento, sentindo-me absurdamente feliz por fazê-lo, arrancando um revirar de olho de sua parte. – É óbvio que quero! Adoraria “mudar minha rotina”.

Concordei daquela maneira sem graça, brincando com suas palavras fazendo piada delas. Instintivamente acabei mudando o foco dos meus olhos, que caíram diretamente para seus lábios, que naquele instante se ergueram. Ela ainda estava bastante próxima a mim e isso permitia que pudesse me embriagar com seu cheiro, além de hipnotizar-me com seu olhar quente.

- Então está combinado. – Afirmou com propriedade, criando uma distância segura entre nós, assim evitando que as pessoas ao nosso redor começassem a nos encarar de maneira estranha.

Por mais inocente fosse a nossa conversa, para alguém de fora, sob a ótima de uma visão desconhecida, nossa aproximação poderia ser interpretada erroneamente. Fingindo não pensar da mesma maneira que eu, reparei que colocou algumas mechas de seu cabelo parcialmente suado, atrás da orelha. E sem que eu tomasse ciência, estava focada demais em sua figura, tardiamente notei que havíamos chegado ao nosso destino.

- Como vou conseguir chegar até lá? – Expus minha principal dúvida na tentativa manter viva a nossa conversa, adiando sua partida enquanto maldizia o momento em que teríamos de nos separar novamente. Ao menos me contentei ao lembrar que tinha “permissão” de vê-la mais tarde. Isso certamente me deixava excitada a níveis alarmantes. Uma festa do pijama parecia uma boa ideia como “quebra de rotina”. – Isso não vai causar problemas a você?

- Problemas? Só se alguém ver você entrando naquela área... – Jiyoon comentou calmamente, parecendo se divertir com o pensamento de que aquilo poderia lhe causar problemas. Sua atitude não me agradou em nenhum ponto, pois não queria ser a fonte de um desentendimento e acabar afetando seu emprego. St. Cecília parecia o sonho de qualquer médico.

- Por isso estou perguntando como vou chegar ao seu apartamento sem ser vista. – Resmunguei teimosamente, fazendo-a suspirar.

- Você somente precisa me encontrar atrás do refeitório, depois do jantar. – Disse calmamente, as mãos gesticulando enfaticamente. – Não se preocupe com o resto... Se Taemin tentar te seguir apenas jogue verde e tire-a de sua cola.

Sorriu felicitada com as soluções que alcançou em poucos segundos, parecendo orgulhosa de si. Cheguei a cogitar, com certa esperança, de que ela havia premeditado tudo aquilo e que tal convite não foi tão espontâneo e imprevisível como parecia ser. Um tipo de impulso do qual a dominou no momento, incontrolável para manter guardado dentro de si. E se realmente existisse tal possibilidade em sua cabeça, de que havia premeditado a situação, não poderia me fazer sentir mais... Esfuziante.

Mas como sempre isso ficava em meus pensamentos, pois não tinha coragem nenhuma de pergunta-la. Bastava imaginar que poderia provocar algum incomodo ou dar mais motivos para caçoar de mim, por pensar coisas absurdas como aquela, me tornava uma perfeita covarde. Estava guardando muitas coisas dentro de mim e isso não era bom, porque havia a probabilidade de que, em uma hora inoportuna, elas acabariam por aparecer.

Aceitando que seu planejamento era a melhor ideia que poderia pensar no momento, afinal eu não conseguia pensar em nada mais, somente a possibilidade de ter uma noite eclipsada por sua presença chegava me deixar agitada, suspirei em concordância, mostrando-me apta para executar seu plano de ação. Evidentemente satisfeita, atuando como se estivesse desinteressada, se despediu de mim e seguiu seu caminho para o bloco de prédios cinzentos, os quais que em breve irei conhecer.

Enquanto me despedia dela, acenando a distância e balançando-me sobre meus pés, parada em frente à cabana que serenamente aguardava minha entrada, senti o caos que havia se instalado em meu interior, findando por me atordoar. Dentre tanta confusão, insegurança e até mesmo medo, encontrei a animação e um tipo idiota de felicidade infantil, percebendo que, de alguma maneira, tinha um encontro marcado com a Dra. Jeon. Sentia-me como uma estúpida adolescente que não conseguia segurar a excitação para uma noite na casa das amigas. Pensar aquilo me fez bufar para o nada, sendo consumida pelos nervos.

Só não segui saltitando para meu quarto, como uma gazela correndo num bosque, porque meu pé não suportaria tal esforço. Lembrava uma criança descontrolada e elétrica, que não via a hora de subir no brinquedo mais divertido do parque de diversões. E, por mais sem sentido fosse pensar assim, sentir-me daquela fazia com que a felicidade me dominasse, dando a entender de que poderia estar flutuando a qualquer momento. Até havia me esquecido da imagem refinada do Diretor Chefe de St. Cecília, Choi Kyuhyun. Ao lembrar dele, acabei me gabando mentalmente, tendo pensamentos implicantes e imaturos sobre ele não ter sido convidado.

Enquanto isso, segui para o banheiro azul em meu quarto e pude me deleitar com a imagem da tão almejada banheira. Sentando-me na borda lisa da louça branca da banheira, girei o registro da água quente tomando cuidado para não deixa-la numa temperatura desagradável, controlando-a com água gelada. Assim que consegui encontrar um ponto harmônico entre as águas, me levantei e peguei a nécessaire para escolher um dos aromáticos sais para banho, que despejaria nela. Fiquei em dúvida entre meus dois preferidos. O primeiro tinha cheiro de rosas e lilases, já a segunda opção era de hortelã, que dava ao corpo uma sensação maravilhosamente agradável e relaxante. No final, minha decisão foi tomada com base no que se encaixaria melhor na ocasião. Fechando as torneiras, despejei o pacote de hortelã, acreditando que precisava diminuir a tensão em meus nervos. Tudo isso acontecia porque havia tido uma superexposição a Jiyoon.

Sendo assim, restou tomar meu banho o mais rápido possível, pois ao anoitecer serviriam o jantar e não queria perde-lo em nenhuma hipótese.

 *

O clima efetivamente tinha esfriado de maneira drástica, a partir do momento em que o sol desceu atrás das montanhas no oeste, fazendo com que a noite se mantivesse numa temperatura favorável a se agasalhar e se esconder dentro das cobertas em minha cama.

Contrariando a lógica criada pelo frio enregelante, me obriguei a agasalhar meu corpo dentro do casaco escuro de tecido grosso que pus especificamente para aquela noite, sentindo o ar gelado se manter afastado pelo calor que se mantinha enclausurado nele. Segui nervosamente, com passos hesitantes, até os fundos do refeitório-barra-cafeteria, sentindo-me ansiosa pelo que poderia encontrar por lá.

O jantar havia sido servido horas atrás e esperei o momento mais propício para sair de lá sem que ninguém me notasse, mantendo o rosto neutro de emoções que pudessem denunciar minhas intensões. Porém, durante o caminho de ida, acabei me esbarrando com Sohyun, que agradavelmente se voluntariou para ser minha acompanhante durante o jantar. A escutei tagarelar por quase uma hora inteira, notando que a menina não conseguia perder sua jovialidade e muito menos a energia, embora aparentasse estar cansada. Seu trabalho como médica não era fácil e isso drenava um pouco da agitação que a cobria. E por mais que eu adorasse conversar com ela, tudo o que mais desejava era o momento em que pudéssemos nos despedir.

Antecipando seus passos, evitando que me seguisse ou se oferecesse para me levar para a cabana, inverti nossos papeis e questionei se não queria que a acompanhasse em seu caminho de volta ao trabalho. Para minha sorte ela recusou com risadas de constrangimento, abrindo uma expressão desconfiada, começando a estranhar minhas atitudes. De qualquer jeito, recebi uma resposta de que, para todos os efeitos, não poderia me acompanhar em lugar nenhum, pois precisava pegar o transporte que iria em direção a Trimera, e de lá seguir caminho para sua casa na parte baixa da vila. Certamente aquele foi um golpe de sorte, me despedi dela enquanto a acompanhava pela curta trilha, deixando-a no caminho que seguiria até a saída e a observei ir embora, usando uma trilha da havia feito somente uma vez, quando cheguei nesse lugar. Parando para pensar apropriadamente, estava em St. Cecília mais de uma semana e, diferentemente de como pensava antes de chegar aqui, os dias passaram sem que ao menos tomasse noção disso.

Assim que Sohyun praticamente desapareceu da minha visão, apressei meus passos de volta para a cafeteria e finalmente pude perseguir meu verdadeiro objetivo.

Encontrei a figura já tão conhecida de Jiyoon atrás da cafeteria, onde ficava a porta de serviço, como havia combinado naquela tarde. Ela estava de costas para mim e não tinha me visto, pois estava distraída olhando a trilha de pedras a sua frente. A médica vestia um confortável moletom preto e calça jeans, mostrando-se até mais agasalhada e casual. Antes que pudesse me aproximar, olhei para meu corpo e comecei a me questionar, insegura se não deveria adiar aquele encontro. Daria tempo de trocar rapidamente de roupa? Estava “arrumada” demais se comparada à médica.

A roupa de hoje foi uma decisão da qual tomei com muito cuidado, pois não queria transparecer nervosismo e também evitar parecer desleixada. Sendo assim, escolhi um justo jeans e tênis comum, além de um casaco grosso e escuro que cobria minha camiseta estampada. Deveria ter me vestido de maneira menos... Previsível. Era como se tudo em mim gritasse que estava esperando aquele encontro, o que era a mais pura verdade.

Agitei esses pensamentos para longe e respirei fundo para exigir que meus passos a alcançassem.

O som dos meus passos findou por chamar sua atenção, atraindo seu olhar sobre mim. Ela imediatamente se virou para ver quem se aproximava e finalmente pude encontrar com seus olhos. Por poucos segundos notei um tom inseguro marcando-os com profundidade, sendo imediatamente substituído pelo característico brilho caloroso, para receber-me com um grandioso sorriso.

- Estou muito atrasada? – Perguntei na esperança de que não tivesse a feito esperar naquele tempo frio, discretamente vistoriei seu rosto em buscas de sinais e acabei vendo que suas bochechas e nariz começavam a tomar um tom rosado por causa do vento.

- Nem um pouco... Cheguei quase agora. – Respondeu tranquilamente, não percebendo que tinha captado sua mentira. Ela havia me esperado.

Aguardou que me aproximasse, permitindo que pudesse observá-la mais intensamente. Notei que seu olhar discretamente me avaliava e que seus lábios estremeceram imperceptivelmente, não sei se por frio ou numa falha tentativa de conter o riso. Mesmo assim, embora não compreendendo o significado daquele olhar penetrante, meu corpo estremeceu.

- Vamos? – Arqueei uma sobrancelha com expectativa e a incentivei para que guiasse o caminho.

Minha pressa pareceu acorda-la de sua imobilidade e pigarreando, tomando o cuidado de cobrir a boca com o punho, se concentrou na conversa. Era impressão ou ela tinha se distraído por minha causa?

- Hã, espera um pouco. Tem alguém vindo daquele lado... – Jiyoon disse ao desviar o olhar para o caminho, abrindo um pouco de espaço para que pudesse me posicionar ao seu lado. Não tive vontade de averiguar se falava a verdade. Apenas percebi que sua atitude não tinha sido em vão. Tive a impressão de que quisesse evitar os meus olhos, forçando-a mudar de postura, procurando assunto para manter a conversa viva. – Nós vamos exatamente por aquela direção, então precisamos que o caminho esteja livre pra gente.

- Não tem câmeras por aqui? – Era uma pergunta meio óbvia, pois de longe eu conseguia detectar algumas câmeras de vigilância pelo caminho, o que tornaria nossa “ação furtiva” meio desnecessária.

- Tem sim, mas como é uma área pouco movimentada, praticamente a segurança não se preocupa com ela. – Explicou ao me olhar rapidamente, antes de retornar para o que fazia. Novamente agia de maneira fugaz. – É bem provável que pensem que você é mais uma interna indo descansar.

- E como você tem certeza? – Retruquei teimosamente, cruzando os braços para evidenciar meu desgosto. Ela sabia demais e estava muito despreocupada. Ou era uma pessoa extremamente confiante ou havia feito aquilo muitas vezes.

Meu estômago revirou de maneira estranha, lançando uma sensação quente e pulsante no meu corpo, assim que me deparei com um sorriso diferente no rosto de Jiyoon. Era um sorriso carregado de malícia, levemente sombrio e ameaçadoramente caloroso. Havia descoberto um novo sorriso e não poderia estar mais ansiosa para compreender as motivações por trás dele.

- Olha, - falou ao se voltar para mim, encarando-me francamente, exigindo que tomasse suas palavras com atenção. – eu sou uma pessoa que, de vez em quando, faz coisas que, se descobertas, poderiam custar meu emprego... – Explicou com tranquilidade, não permitindo que meu olhar escapasse do seu. – Então tomo as devidas precauções antes de fazê-las.

Engoli em seco por causa daquela revelação, por mais estranha e misteriosa fosse, sendo pega de surpresa pela maneira brusca e sincera como falou.

- E o que seriam essas coisas?

- Você verá quando chegarmos... – Deu sua resposta evasiva, frustrando-me profundamente. E, não dando chance para que a questionasse de volta, sua mão procura a minha. Assustei-me pela maneira repentina como me tocou, mas não pude fazer nada a não ser segurar a sua em troca. – Anda. Precisamos ir o mais rápido possível, antes que qualquer outra pessoa atrapalhe nosso caminho.

Falou com pressa e me arrastou atrás de si, sem esperar uma resposta, por provavelmente saber que não a declinaria. Meus pés a seguiram de maneira robótica, porque ainda ruminava a conversa anterior, não segurando minha curiosidade. A mente formulando mais e mais questões. Apesar disso, fiz de tudo para não retardá-la embora soubesse que ela não reclamaria da minha lerdeza, pois sabia que a condição do meu pé não era, ainda, das melhores.

Mantendo um ritmo natural, porém apressado, seguimos na direção de um dos pequenos prédios cinzentos. Na verdade era uma construção prática e simples, erguida com tijolos avermelhados, que haviam perdido a cor há muito tempo, tornando-se acinzentados de longe, após terem sido remodelados pela chuva e o sol. Parecia um lugar praticamente abandonado, onde poucas almas vivas faziam questão de transitar por ali. As plantas que o cercavam quase dominavam as paredes. Enormes gavinhas contornavam os edifícios, abraçando-o como se pertencessem à natureza e não ao homem. A fachada possuía um design arquitetônico, digamos bem decente. Havia longos vitrais coloridos dominando a fachada, indo do teto ao chão numa paleta de cores sortida, e uma alta porta de madeira maciça marcando presença, descascada e gasta. Provavelmente durante seus tempos áureos aquela construção foi algo a ser impressionante, porém, atualmente, restava seu valor histórico contado pelo desgaste em suas paredes rachadas. De todos os cantos desse centro de reabilitação hospitalar, aquela parte era a única que carecia de atenção e cuidado. Alguém ao menos deveria cuidar das flores que cresciam ao redor da edificação, sem nenhum tipo de corte ou modelagem. Tive a sensação de estar entrando num domínio selvagem. E embora aparentasse estar abandonado, permanecia com uma carga charmosa e aconchegante a sua maneira.

- Chegamos! – Jiyoon exclamou com animação, virando-se para me olhar.

Somente consegui sorrir em resposta, sentindo aquela mesma sensação nervosa dominar a boca do meu estômago, remexendo as inúmeras borboletas que bateram asas.

Onde estou me metendo? – me questionei antes de segui-la para dentro.


Notas Finais


Eita HAUHAUAHUAHUAHAUHUAHUAH. Comentários? Até a próxima~~~! ^^


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