As pessoas não deveriam prometer algo que não conseguem cumprir, jamais. Promessas vazias machucam, e quando feitas em cima de um sentimento, elas se tornam como arame farpado.
Você está cercado por elas, e caso se remexa muito dentre uma, as partes livres de pontas afiadas não impedirão que seu corpo se corte no processo.
Hoseok sabia que estava se enrolando em um arame, mas ele podia jurar que não havia se remexido tanto para ter sido cortado tão facilmente. Embora dessa vez, sua tristeza não fosse somente por Taehyung ter lhe escondido que era um estudante de psicologia, e sim, por seus hyungs terem feito isso também.
Pouco importava se o loiro escolheu tal profissão para seguir, na verdade, sempre desconfiou muito de Taehyung em questão à isso, já que ele sempre deixou claro sua forma de agir. Certo que, se lhe dissessem sobre isso no início, não concordaria nenhum pouco com a idéia, - nem com o loiro - que desde a primeira vez que o viu, não havia ido com sua cara, então, o que mudaria ter dito a verdade naquela ocasião?
Porque não haviam lhe dito a verdade antes que se apaixonasse?
Em silêncio, segurando as lágrimas que insistiam em cair, o Jung continuou andado pela fauna imensa que o cercava, sem perceber que anoitecia aos poucos. Não queria permacer pensando naquilo, era frustante e cansativo. Tudo bem, poderia aceitar que o mais velho era um estudante de psicólogia sim, porém, se isso realmente não fosse um problema, por que Seokjin não lhe contou sobre esse pequeno acaso de uma vez? Não era como se fosse enlouquecer por isso, mesmo tendo um certo repúdio por clínicas e psicólogos.
Céus, sua cabeça estava uma confusão, criando coisas que poderiam ou não ser verdade. E isso o deixava aflito, pois nada do que imaginara se esclareceria realmente sem lhe deixar sequelas. Toda aquela explosão de sentimentos e duvidas o deixavam receoso, e ao mesmo tempo, ansioso. Odiava ter de sentir fortes emoções como aquelas, mas odiava mais ainda todas as perguntas sem respostas que vagavam por sua mente.
É por isso que se drogava, por isso que caia todas as noites em uma cama diferente para conseguir drogas de vários tipos. Era para não ter que pensar, para não ter que sentir, e para não ter que lembrar.
– Finalmente te achei...– Ouviu a voz que conhecia bem ultrapassar seus tímpanos. – Por que saiu assim do nada? Suran disse que você ficou estranho e... – Antes que pudesse ouvir mais uma palavra sequer, se virou rapidamente para o loiro, o encarando friamente. Seu coração pulsava descompensadamente, e quanto mais tentava se controlar, mais raiva sentia por terem omitido sobre o que o Kim realmente era.
– Por que não me contou que estudava psicólogia?! O que o Jin hyung lhe pediu para que viesse dar uma de babá?! Eu sou sua experiência, Taehyung?! Está testando suas habilidades no imbecil aqui?! – Exclamou, jogando para fora tudo o que estava engasgado em sua garganta; enquanto o nó que se embolava nela lhe fazia querer finalmente chorar.
Continuou a encarar o loiro por alguns minutos, mas viu que este estava tão surpreso quanto a si mesmo. Mas céus, aquele silêncio só o assustava, queria ouvir algo que o acalmasse e que o fizesse acreditar que não era nada daquilo que estava pensando. Mesmo que fosse mentira as palavras que sairiam daqueles lábios rosados, acreditaria nelas cegamente, apenas para continuar ao lado da única pessoa que dizia lhe amar de verdade.
Quando se deu conta que o mais velho não iria lhe responder, girou seus calcanhares para o caminho que seguia sem de fato saber onde daria. Se pôs a caminhar, deixando para trás um Kim perdidamente pensativo. E estava razoavelmente longe do lugar onde havia estado com o outro, quando ouviu em seu encalço passos apressados. Sentiu lágrimas caírem sobre seu rosto, assim que a destra não tão quente - como de costume - do mais velho lhe segurar pelo pulso, e o puxar para seu corpo, e nele mesmo, o acolher.
Os braços trémulos o envolviam, e a respiração pesada de Taehyung batia sobre sua face. Não sentia seu coração, como sempre sentia. Era como se tivesse parado de bater, e ali só existisse um grande vazio. Sendo exatamente dessa forma, que o Kim se sentia no momento, quando ouviu o moreno fazendo-lhe aquelas perguntas. Seu coração instintivamente parou, assim como o mundo a sua volta, e só voltou quando seus olhos ainda desfocados fitaram a silhueta na qual tanto tinha medo de perder, se distanciar.
– Hoseok, por favor. Deixe-me explicar? – Pediu, sentindo um sentimento assustador lhe tomar. A medida que precionava o mais novo sobre seus braços, este que ao mesmo tempo que queria se livrar daquele corpo, queria permanecer alí para sempre.
– Aish, finalmente achei os pombinhos! Sabia que todos estão à procura de vocês dois? Até mesmo eu fui obrigado a sair do meu jogo só pra vir atrás de vocês! – Yuta vociferou ao vê-los juntos, a medida que tentava retomar o ar que perderá por ter andando tanto.
Taehyung não podia acreditar no garoto, então apenas ignorou suas palavras, e bufou.
– Volte para o acampamento, nós estamos bem, só vamos conversar mais um pouco, e logo estaremos de volta. – Disse, ainda aninhando o Jung choroso, - que não queria ser visto naquele estado - em seu peito. Yuta sorriu e concordou, mas antes, não se segurou em gritar da forma mais cínica possível, suas suposições certeiras.
– Espero que tenha contando ao Hoseok hyung que só o ajudou porquê precisava concluir o seu trabalho da faculdade... Qual era mesmo o tema, Drogas ilícitas e seus efeitos colaterais?! Não, acho que não é isso... Hm.... Talvez, iluda um dependente e veja as consequências?! Não, também não é isso. Ahr, eu realmente não me lembro, hyung. Mas, não importa, não é? Ele não passa de um rato de laboratório para você.
Taehyung simplesmente não conseguiu abrir a boca para impedi-lo de dizer tais palavras. Nem mesmo conseguirá expressar a raiva que sentiu de Yuta no momento, porquê agora, seu medo era exorbitante.
Avassalador.
Assim que o moreno ouviu aquelas palavras, sentiu como se facas atravessassem seu peito uma por uma, continuamente. Seu corpo todo gelou, e tudo a sua volta se tornou cinzas novamente. Havia sido tão idiota em acreditar que poderia seguir um caminho sem ser exatamente atingido por aquele que o guiou até alí.
Tão idiota em acreditar que talvez um dia, alguém o amaria de fato.
– Me solte! – Exigiu em um tom ríspido, afastando-se do corpo alheio.
Tudo em si havia parado naquele momento, e sentiu como se cada borboleta que se agitava em sua barriga por Taehyung, morresse cruelmente pelo frio que seu corpo agora se encontrava.
Elas haviam morrido, assim como os sentimentos bons que sentia pelo loiro.
Todo calor que emanava daquele ser que jurou não machuca-lo havia sumido, tornando tudo ao seu redor gélido e vago de cor. Até mesmo suas lágrimas haviam secado, se encontrando incapaz de chorar.
No fim, Taehyung era como todos os outros que abusavam de si. Só que ainda pior. Os outros sempre mostravam quem eram, sem pudor ou sentimento. Eram lixos que não se importavam com nada e nem com ninguém, e sempre deixavam isso bem claro. Porém, o loiro à sua frente? Ele mentia, omitia. Fazia você se apaixonar apenas para usá-lo à seu favor. Ele nunca o amou de verdade, nunca se importou de verdade, era apenas uma máscara, uma ilusão para que seu trabalho escolar não fungisse de si e o afastasse da nota máxima que receberia. Taehyung estava de parabéns, ninguém o quebrara tanto, quanto ele o fez.
" Mentiroso. "
Queria distância daquele homem.
" Dissimulado. "
Queria nunca ter o conhecido.
" Manipulador. "
Se fosse para mata-lo, deixasse com que ele mesmo o fizesse.
– Aonde você vai? – Taehyung questionou, assustado.
Estava preocupado, mas não era a hora para insistir em algo. Não depois do que Hoseok ouviu; este que mordeu os lábios inferiores, logo em seguida, lhe desferindo o dedo do meio.
– Para algum inferno que não tenha você como anfitrião. – Rosnou. – Espero ter sido útil pro seu maldito trabalho, Taehyung! – Exclamou, antes de seguir a trilha que guiava para fora daquele local.
— Eu não vou te impedir, Hoseok... Mas, por favor, volte para casa. — O Kim respondeu, pressionando os punhos a ponto de sentir suas unhas curtas fincarem na carne.
— Você acha que ainda tem moral para me pedir algo? — O moreno riu em escárnio, quando se virou para ele novamente.
— Não, eu... — A voz do loiro morreu assim que viu a forma que o Jung o fitava.
A forma que agora ele sempre veria ao fita-lo.
— Você me enoja, Taehyung. — Hoseok ditou, sua voz soando completamente embargada pelo choro.
Dizer aquilo em voz alta o machucava porque ainda queria está ao lado do mais velho.
Ainda queria Taehyung ao seu lado, mesmo depois de usá-lo.
Sua mente estava nublada, não sabia o que realmente faria, ou para onde iria. Só queria fazer aquela maldita dor em seu peito desaparecer. Não devia ter se arriscado, não devia ter posto o resto de sua alma para os cães assim tão facilmente. Sabia que estava perdido; que sempre esteve, aliás, outrora, ainda existia algo em si que desejava mudar, que ansiava por algo melhor. Era uma pena essa parte ter sido despedaçada tão rapidamente por alguém que prometeu não machuca-lô.
Que disse amá-lo.
Dor.
Sua vida inteira havia sido moldado em dor, então por que, Deus, por que?! Por que foi brincar de ter um namorado, de ter que sair com os amigos, ou de ter que sorrir, e esquecer do que realmente sua vida era feita? Por que ousou se esquecer, mesmo que por alguns minutos, quem de fato era Jung Hoseok?
A esperança que matou a mãe, a esperança que foi estuprada, a esperança que se drogava, a esperança que se vendia. A esperança nati-morta. A esperança que infelizmente, estava apaixonada.
Fechou os olhos com força, a medida que andava. Sua cabeça latejava, sentindo como se cada veia de seu cérebro estourasse, contudo, nada se comparava com o que sentia exatamente naquele órgão avermelhado que bombeava sangue, àquele órgão que sempre era alvo de seu destino.
Era assim que ele deveria viver? Era assim que ele viveria?
Hoseok estava cansado.
Ele finalmente havia cansado.
Assim que encontrou os portões do local, notou que estava em um ambiente que desconhecia. Felizmente, para sua sorte, - ou azar - logo mais à frente, havia um ponto, e nesse mesmo ponto; alguns adolescentes carregando malas conversavam despreocupadamente. Os ignorou quando se aproximou e esperou alí por uma hora, até que chegasse um ônibus que o levasse de volta para casa. No trajeto, se viu longínquo daquele plano, adentrando cada vez mais fundo nos olhares, nas palavras, nos sorrisos, nas ações, em tudo que chava que era verdadeiro em Taehyung. E como uma boneca de porcelana que cai e se quebra em mil pedaços, viu cada momento que passará com o Kim até onde estava se fragmentar.
Desaparecer como cinzas no vento.
– Com licença, você tá legal? – Um garoto que se sentou ao seu lado logo depois que entrou no ônibus perguntou. O Jung o olhou ainda desnorteado, e sem usar da voz, concordou. Mesmo que estivesse devastado por dentro, não era o tipo de pessoa que contava sobre toda sua vida para alguém da rua, como muitos faziam. – Pra mim você parece péssimo. – Continuou. – Eu estou indo para uma balada em Seoul, que vir? Quem sabe não te alegra um pouco? – O moreno deitou a cabeça no vidro da janela.
Começava a chover.
– E por que não? – Respondeu, logo encarando fixamente o rapaz ao seu lado. Que por um momento, podia jurar ser Taehyung.
Por um único momento, quis se afastar dele.
Mas não o fez.
Quando chegou na boate com o garoto, deixou-se guiar por ele. Depois da primeira dose, outras sete desceram por sua garganta queimando e assim que se viu alterado o suficiente, e com os movimentos mais leves, passou a dançar loucamente entre àquela aglomeração de gente. Beijou mais garotas do que beijou na vida, e homens não ficavam para trás. Porém, mesmo bêbado, pode constatar que nada, nenhuma boca ou corpo que beijara e sentira naquele espaço, se comparava ao que sentia só de sentir a respiração de Taehyung contra sua pele. Mesmo em tal estado, ainda conseguia se lembrar dele. Conseguia vê-lo o observando em cada canto.
Na verdade, deve ter chamado todos os caras que ficou pelo nome do Kim.
Precisava de algo mais forte que um simples álcool. Algo que o dopasse por completo, que o fizesse ver apenas coisas sem sentidos, enquanto via tudo ao seu redor rodar como um carrossel.
Precisava de algo que o fizesse dormir.
Dormir para sempre.
– Quero algo mais forte! – Exclamou para o "amigo". Que também desfrutava da festa mais do que qualquer um.
– Olha cara, tem umas paradas que o dono daqui vende, mas o pagamento dele não costuma ser em dinheiro. Ele é nojento, não vale à pena. Mas se você quiser, posso te por lá. – Disse, apontando para uma porta no andar de cima, no qual havia dois guardas protegendo o local.
Hoseok não pensou uma ou duas vezes, apenas pediu para que Minyoung o colocasse lá dentro.
Em questão de minutos, se encontrava naquele quarto de luz neon vermelha, em cima de uma cama redonda, fitando fixamente aquele homem mais velho abrindo uma caixa de madeira, no qual continha incontáveis saquinhos de cores distintas.
– Tire a roupa. – O indivíduo de porte grande exigiu, enquanto fumava seu charuto, a medida que espalhava de um pó branco que tirara da caixa na cadeira. E o Jung apenas obedeceu.
Obedeceu sem pestanejar.
Suas retinas se enfatizaram ao ver o pó ganharem a cor rubra sobre a luz neon do comodo. Queria senti-las atravessando suas narinas novamente, queria provar dos delírios distorcidos que ela causava, queria sentir seu coração pulsar rapidamente, e depois vê-lo parar por algo que não fosse relacionado a Taehyung.
O que era contraditório, já que ele estava alí por conta deste.
Estava nú quando àquele cara lhe agarrou pelos cabelos, - lhe fazendo grunhir de dor - o arrastando até a cadeira. Deixando-o de quatro, com a cara sobre a droga que parecia brilhar como purpurina de tons brancos e azuis.
– Cheire. – Ditou, destilando autoridade. Como se realmente fosse dono daquele frágil e submisso corpo, vítima do acaso.
Jung estava agitado, seu corpo suava e seu estomago se embrulhava. Desejava como nunca desfrutar daquele prazer que o matara a longo prazo, contudo, algo ainda em sua mente sã lhe impedia. Queria mesmo aquilo, não queria? Já estava acostumado com homens o fodendo, como uma dívida à ser paga, não estava? Não fazia sentido continuar se segurando, fazia?
Assim que se deu conta da permissão que o outro tinha lhe dado, simplesmente deixou com que aquela parte que o tentava convencer de que aquilo não estava certo, sozinha.
Se aprofundou no pó sem cerimónia, deixando com que os primeiros efeitos da droga lhe atingissem. Os gemidos do outro que atravessava sua extremidade era apenas mais um detalhe diante ao que estava sentindo. Havia uma música em sua cabeça, e com ela, uma imagem. Elas lhe distraiam, fazendo-o ignorar as pontadas violentas que levava por trás. Outrora, o dono da boate era alguém peculiar, e nem mesmo os delírios da droga fora capaz de amenizar a dor dos pingos de cera quente que caia sobre suas costas.
Estava queimando, e não aguentava mais daquele pênis sujo dentro de si. Não estava esquecendo, não estava deixando as dores de sua vida de lado, estava apenas às aumentando. Às intensificando. Deixando-as incuráveis.
Começou a rir sem ter um motivo real, e logo em seguida a chorar.
Aquele que usava de seu corpo cessou os movimentos grosseiros, virando o moreno de barriga pra cima. Era lindo observar aquele semblante perdido, carregados de decepção e sofrimento. Todos que o procuravam eram exatamente desta maneira, possuíam o olhar baixo e focado no vazio, todos, depois que usavam, riam como se estivessem felizes, mas segundos depois, estavam chorando como bebês, assim como aquela jóia bela que estava abaixo de si. A única coisa que o tornava diferente, era a beleza de seu corpo, e de sua face. Nem mesmo aquelas marcas que se mostravam em sua pele macia era capaz de apagar a ternura daquela silhueta. O mais novo parecia tão puro, que a idéia de fode-lo até vê-lo sangrar parecia irresistível.
E ele o fez, fez quando pincelou sua glande inchada contra a extremidade mal tratada de sua entrada e o invadiu de uma vez, com força e violência.
O Jung estava inerte na cama quando passou a ver flores caindo do teto, em sua mente, vozes falavam rapidamente coisas que não conseguia entender. Quando se deu conta, estava em sua antiga casa, parado em frente a cozinha, observando sua mãe contar historinhas ao seu "antigo eu". Aquela noite foi a única noite tranquila que havia tido com sua omma, pois seu pai havia milagrosamente sumido.
Como desejava que ele sumisse para sempre. Mas um demônio só se vai, quando leva consigo uma alma.
Antes que pudesse desfrutar mais daquela cena, ouviu gritos femininos, e logo, lá estava ele em um corredor escuro, observando no fundo deste, apenas uma porta semiaberta. Os gritos misturaram-se ao choro desesperado de uma criança, e aos xingamentos que conhecia bem. Seu coração batia forte, mas nem todo medo que sentira fora capaz de fazê-lo parar de andar em direção aquele passado.
Assim que abriu a porta, se viu à frente de sua mãe, protegendo-a daquele homem bêbado. Não sabia como aquela faca havia ido parar em suas mãos, mas sabia o que faria com ela. Mataria seu pai, daria liberdade à única pessoa que o amava, daria à sua mãe a felicidade que ela merecia ter.
Mas Hoseok não entendia, nunca entendeu o porquê de ela ter entrando no meio. Ela havia surgido tão rápido, que só conseguirá parar o ato quando o sangue fresco do melhor ser que conhecera, escorria por entre seus dedos.
" – Hope querido... – Ela o chamou, pousando sua destra ainda quente nas bochechas molhadas do menor. – Não marque suas mãos por este... Este homem. – Proferia, caindo de joelhos, mas ainda assim, mantendo um sorriso no rosto. – Você não... Não é como ele. "
Pela primeira vez, havia discordado da mais velha.
Pela primeira vez, havia à odiado.
Quando acordou de seu devaneio, sentiu sua parte traseira arder. Aquele homem ainda estava por cima de si, e sentiu nojo de sua tão conhecida posição. Seu corpo estava fraco, ainda entorpecido pela droga, contudo, mesmo estando em um estado tão deplorável, tentou com todas as suas forças sair debaixo do outro. Que sorria dos tapas moles lhe desferidos.
– Calma pequeno, já estou acabando. – Inquiriu entre risos, quase que fazendo Hoseok vomitar.
Era impossível, do jeito que estava, nunca conseguiria pará-lo. Mas, quando é que um dia, conseguiu parar os outros de machuca-lo? Quando que conseguira parar a si mesmo, de se machucar?
– Tae... – Chamou pelo loiro, choramingando. Quando tombou sua cabeça para o lado, fitando uma abajour desligada sobre um criado mudo. – Socorro... – Sussurrou.
Desde o primeiro dia que Jung Hoseok conheceu Kim Taehyung, seu caminho havia se tornado outro. E este, não tinha ligações com sua antiga vida. Nada que o levasse até um quarto com alguém estranho era parte dessa estrada. Se ele acabasse em tal lugar, seria por sua própria escolha.
Sua visão aos poucos escurecia, a medida que sentia seu coração diminuir suas pulsações aceleradas. Sentia cada um de seus músculos relaxarem e quando estava prestes a desmaiar, ouvirá um estrondo da porta que se pudesse voltar no passado, teria escolhido nunca ultrapassar.
– Desgraçado! – Ouviu a voz da pessoa que chamará, e logo o peso que estava por cima de seu corpo desaparecer.
Os guardas da boate adentraram o quarto segurando o loiro pelo braço, enquanto varios curiosos paravam para ver a confusão. Eles o socavam no rosto e no estômago, até este vomitar sangue. As coisa só ficaram pior quando o dono do local se recuperou do golpe que tomara. O homem fulminava-o com o olhar, e não se segurou ao tirar um canivete de dentro do criado mudo que havia no quarto.
– Segurem esse filho da puta direito. – O mais forte bradou, aproximando-se com a lâmina.
Porém, Taehyung não se intimidou, na verdade, seus olhos só conseguiam se focar no moreno nu que estava por cima daquela cama, de joelhos, observando ainda de forma desorientada o que acontecia. Continuou a encará-lo, até notar que sangue escorria por suas virilhas.
Taehyung naquele momento simplesmente não conseguiu segurar as lágrimas.
– O que você fez com ele?! – Vociferou, voltando seu olhar cheio de ódio para o mais velho. Mesmo imaginando o que havia acontecido. – O que você fez, seu desgraçado?! – Não queria acreditar no que via, não suportava a idéia de que tudo aquilo era culpa sua e apenas sua.
O homem olhou de relance para Hoseok, se pondo a gargalhar de forma esganiçada ao se dar conta do porquê aquele rapaz invadirá sua casa.
– Está falando dessa putinha aqui?! – Insinuou, indo até o menor e lhe agarrando pelo cabelo, erguendo-o a face. Taehyung juntou as sobrancelhas e se debateu, na tentativa de se soltar, mas aqueles brutamontes conseguiam ser bem mais forte que si.
– Tire suas mãos imundas dele, seu porco!
Hoseok não entendia o que estava acontecendo, não mais. A pessoa que havia o enganado estava à sua frente, com um olhar tão obscuro quanto seu passado, mas tão triste quanto à si mesmo. Taehyung estava triste, tão triste, e por que? Não queria ver aquele olhar no mais velho, nunca, em hipótese alguma. No entanto, o loiro havia o usado, havia o transformado em um trabalho, em uma nota qualquer. Havia testado em si, o quão bom podia ser na profissão. Ele não era nada para o mais velho, nada além de um rato de laboratório.
— E o que vai fazer se eu não tirá-las? — Ele perguntou, rindo, posicionando atrás de Hoseok novamente antes de jogar seu corpo contra o colchão e se deitar contra ele novamente. — O que vai fazer, para me parar? — Zombou, penetrando o moreno novamente, enquanto socava seu pênis o mais fundo que conseguia.
Dava para ouvir o barulho de seu escroto batendo contra as nádegas do Jung. Bem como podiam ouvir as peles se chocando.
Ele ainda tinha um sorriso no rosto quando gozou dentro de Hoseok, enquanto se agarrava em seus fios negros para que Taehyung olhasse bem em seu rosto.
Em seu semblante.
Novamente, sentiu seu corpo seu corpo ser largado por um momento, a medida que visava aquele homem cruel andar em direção à Taehyung lentamente, eles falavam algo, mas nada lhe entrava nos ouvidos. O silêncio abrupto era desolador, assim como as expressões rigorosas estampadas em cada rosto presente. No entanto, assim que vira a luminosidade daquele utensílio preso firmemente entre os dedos daquele que lhe abusava, viu nele à si mesmo.
Um monstro, um demônio prestes a destruir tudo que amava.
Sua visão estava tão confusa, que a imagem que enxergava era como reviver uma lembrança antiga. Sua mente estava brincando consigo ao transformar aquele momento em seu passado, afinal, era como se estivesse revivendo tudo de novo e de novo.
A lâmina atravessando o corpo de sua mãe, o sangue correndo, o desespero que sentia, a dor consumindo seu peito. A culpa o punindo. Tudo, cada sentimento que viveu naquele dia fatídico renasceu. Outrora, não era ele quem empunhava uma arma, e não era sua mãe quem fora atingida. Por um segundo, seus olhos não falharam, e sua mente não se divertiu com sua cara. Por um segundo, sentiu as lágrimas mais amargas que poderia derramar, molhar sua boca.
– Daeshi! Já chega! – Uma mulher conclamou, fazendo o dono da boate soltar cabo do canivete que pressionava contra a barriga do loiro. Este, que assim que foi solto pelos guardas, caiu de joelhos sobre o chão.
Não se lembrava exatamente de quando havia sido atingido, e nem de como a dor que o percorreu na hora deixou de se tornar um problema. Não se lembrava de nada, apenas de que precisava tirar Hoseok dali. Manteve a lâmina dentro de si, apenas pressionando as brechas que deixavam seu sangue fugir de seu corpo, e se levantou, tonto, mas consciente. Indo em direção daquele que queria proteger a cima de tudo.
Minyoung, que observava o que acontecera de longe, adentrou o quarto, andando em direção aos dois rapazes. Assim que Taehyung cobriu o dongsaeng com sua própria jaqueta, tentou levantar o Jung com um dos braços, mas foi em vão até que o rapaz que havia lhe dito onde o mais novo estava, lhe ajudara. Ninguém os impediu de partir, e assim que sairá do cômodo, pode ouvir a mesma mulher que parou o homem, xinga-lo de diversos palavrões.
Mas isso não importava. Não importava. Não importava. Mas Taehyung só queria matar aquele desgraçado.
– Você...– Respirou fundo, sentindo sua respiração pesada. – Sabe dirigir? – Questionou o menino, que colocava um Hoseok quieto como uma criança no banco de trás do carro.
Min assentiu, ajudando Taehyung se sentar, logo depois, tomando a posição do motorista. Fitou o moreno por alguns segundos, notando que este havia dormido, ou talvez, desmaiado. Se ele havia realmente usado uma droga mais forte, com certeza acreditava na segunda opção. Voltou seu olhar para o loiro a sua frente, que ainda não sabia o nome, mas suspeitando qual seria, uma vez que o mais novo havia repetido um só nome enquanto beijava outros caras, diversas vezes, tentou o acalmar.
– Tente não fechar os olhos. E continue pressionando a lesão. – Avisou, enquanto dirigia para o hospital mais próximo.
Quem dera fosse fácil, a cada minuto que passava, o Kim sentia sua respiração cessar, e seus batimentos cardíacos diminuírem. Nem forças tinha mais para continuar fazendo pressão sobre o local onde ainda havia algo lhe atravessando. Sabia que estava perdendo muito sangue, e sabia que se tirasse aquele objeto, perderia ainda mais, Taehyung não tinha escolha, parecia que iria morrer de qualquer forma.
Deixou com que um sorriso ladino escapasse de seus lábios, não conseguiu cumprir a promessa que fez ao seu primo, e nem mesmo a promessa que fez a Hobi. Era uma falha do mundo, assim como seu passado dizia. Morrer daquela forma seria o seu castigo?
– Eu disse pra não fechar a porra dos olhos! – O garoto gritou, apesar de parecer calmo, Minyoung sentia como se carregasse o peso de uma cruz. E céus, não queria nem imaginar que, se aquele ao seu lado fechasse os olhos, esses, não abririam mais.
Min manteve um diálogo com Taehyung até finalmente chegarem no hospital, quando os médicos colocaram o loiro em uma maca, e o levaram para a sala de urgência, este já não se encontrava mais acordado. Atrás dele, Hoseok também fora levado em seguida.
Ele estava tendo uma overdose. E talvez, Hoseok morreria assim.
Mas, quando foi que tudo havia se tornado um mar de espinhos?
Quando foi que duas almas foram fadadas a viverem mortos, e morrerem sem terem vivido?
Quando?
» ☆ «
A noite estava gélida e tempestuosa, Seokjin, que observava o tempo da casa de sua mãe, sentiu um calafrio desagradável percorrer sua espinha, e uma estranha dor lhe perfurar o coração. Quando se deu conta, estava chorando sem um motivo plausível, e nem mesmo os braços daquele que o esquentava todas as noites foi capaz de romper o frio que sentirá.
– Eu sei... Também estou sentindo. – Ouviu a voz de Namjoon atravessar seus ouvidos, fazendo-o se sentir melhor. Se aconchegou nos braços do maior, tentando ignorar a sensação pungente que o atormentava.
No entanto, na manhã seguinte, voltariam para casa.
Na manhã seguinte, nada sobraria.
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