☆ Morto Para Mim.
Meus pêsames
Vou chorar com a sua família
Vou abrir uma garrafa
Despejar um pouco em sua memória
Vou estar no velório vestida toda de preto
Vou chamar o seu nome, mas você não vai responder
Vou entregar uma flor para sua mãe quando eu disser adeus
Porque, querido, você está morto para mim
Eu preciso te matar
Essa é a única maneira de tirar você da minha cabeça
Oh, eu preciso te matar
Para silenciar todos as pequenas coisas encantadoras que você disse
Eu realmente quero te matar
Limpar você da face da minha terra
E enterrar sua pulseira, enterrar sua pulseira
Seis pés abaixo da terra
Dias chuvosos e guarda-chuvas pretos
Quem vai te salvar agora?
Você consegue enganar o subsolo?
Meus pêsames
Vou chorar com a sua família
Vou abrir uma garrafa
Despejar um pouco em sua memória
Vou estar no velório vestida toda de preto
Vou chamar o seu nome, mas você não vai responder
Vou entregar uma flor para sua mãe quando eu disser adeus
Porque, querido, você está morto para mim
(Vou lamentar quando você se for)
Querido, você está morto para mim
(Vou lamentar quando você se for)
Eu preciso dizer sinto muito
Essa é a única coisa que você diz quando você perde alguém
Eu costumava dizer sinto muito
Por todas as merdas estúpidas que você fez
Então agora eu realmente sinto muito
Sinto muito por sentir muito
Mas se eu te dissesse de novo, se eu te dissesse de novo
Você pensaria que eu sou louca
Meus pêsames
Vou chorar com a sua família
Vou abrir uma garrafa
Despejar um pouco em sua memória
Vou estar no velório vestida toda de preto
Vou chamar o seu nome, mas você não vai responder
Vou entregar uma flor para sua mãe quando eu disser adeus
Porque, querido, você está morto para mim
(Vou lamentar quando você se for)
Baby, você está morto para mim
(Vou lamentar quando você se for)
Porque, querido, você está morto para mim
Dead To Me (Melanie Martinez)
2 Anos Depois.
Hoseok estava deitado contra o chão, ansioso. Seus dedos batiam contra a madeira do piso um por vez. Sua voz ecoava baixinha. Ele cantarolava uma antiga música que ouvia de sua mãe antes de dormir. Ele estava cansado, contudo, não tinha sono. Era o peso de sua mente que o deixava fraco, era as dores no corpo, e a vontade incontrolável de se drogar que o deixavam daquela forma. Ele não queria as usar, mas sua casa estava cheias delas. Pó, e comprimidos. Ele precisava às jogar fora, sabia que se elas continuassem ali, ele as procuraria. Elas eram suas amantes fiéis. Elas não o machucavam diretamente. Elas o ajudavam a esquecer. A esquecer de suas mãos sujas de sangue, do seu corpo abusado, de seu pai, do fim de sua mãe, e de sua mente fraca. Em sua cabeça, elas não o matavam, e se o matassem, ele não daria a mínima. Hoseok já estava morto. Ele morreu no dia em que sua luz se apagou, morreu sabendo que fora ele quem o fez. A culpa era dele. Ele tentou salvar sua mãe do monstro errado. In-su era um lixo de humano, sim. Mas fora ele quem realmente acabou com sua única esperança. Fora ele a ter o sangue de Baedoona em suas mãos.
Uma lágrima silenciosa e furtiva correu de seus olhos. Hoseok estava tão absorto nas cores mofadas do teto de sua casa que não notou quando água de gosto amargo molhava sua face. Ele não tinha o direito de chorar. Era no que ele acreditava. Ele não tinha o direito de sofrer, de sentir saudades, ou de culpar seu pai.
Pai.
In-su não era um bom pai. Hoseok não gostava quando ele o usava. Não gostava quando os lábios dele tocavam os seus, tampouco quando suas mãos estimulavam seu membro, que por mais que tentasse, nunca reagiam àqueles toques. A nenhum deles. Hoseok não gostava quando apanhava sem motivo, e não entendia porquê Minzy - sua madastra - o xingava. Existia muitas coisas do seu passado que ele não gostava. Que ele não compreendia.
Ele entende agora, e sente nojo. Nojo da pele que tem, nojo de sua boca, de seu rosto, - onde aquelas mãos ásperas o acariciavam. - nojo de tudo que foi tocado por vários e incontáveis homens.
Eles os rasgaram em lugares que ele não conseguia entender. Era normal para ele, mas o machucava. Todos os jogos promíscuos que Hoseok participou deixaram cicatrizes, que em cada parte de seu corpo, assemelhava-se a uma obra de arte. Tristes, e incuráveis.
→☆←
Hoseok sentia frio, então se agasalhava. Não durava dois minutos, e seu corpo queimava como se estivesse caído nas profundezas do inferno. Talvez ele estivesse lá. Não saberia dizer. Os móveis de sua casa pareciam falar. Ele sorria com eles. Eles eram engraçados fazendo todas aquelas caretas. Ele não se sentia sozinho... Ele se sentia sozinho.
Seus olhos foram em direção ao pó espalhado pela mesa baixa. Em frente ao sofá velho. Hoseok estava com raiva delas, com raiva de ter puxado-as até a última carreira.
"Você vai morrer".
Ele pensou.
Ele queria morrer, bem como não queria. Ele sentia medo. Muito medo. Assim sendo, Hoseok gritou. Até que ficasse sem voz.
Raiva. Ele sentia tanta raiva que - já na cozinha - ele desferia copos e pratos de vidro contra o chão. Hoseok chorou ao se cortar. Não de dor, mas de culpa. Ele se desculpava com sua mãe, de onde quer que ela estivesse, ele se desculpava.
Ainda tonto, o Jung jogou o que restou do pó sobre o chão. Juntou todas as pílulas dopantes que tinha e as jogou no vaso sanitário, dando descarga logo em seguida. Tinha a sensação de que suas têmporas explodiriam a qualquer hora. Suas mãos sangravam e ele não se importava com isso. Hoseok caiu em qualquer canto da sala, tremendo, sagrando.
Lembranças corriqueiras invadiam sua mente, e vozes o assombravam. Não havia muito o que fazer, ele estava perdido.
→☆←
Depois de suas últimas recaídas, Hoseok procurou a igreja. Sempre ouviu das pessoas que batiam em sua porta que Deus era capaz de curar as mais profundas cicatrizes, que se ele se tornasse um seguidor e um rapaz de fé, sua vida mudaria, que suas dores seriam cessadas e seus pecados seriam perdoados. Outrora, Hoseok não tinha fé, muito menos acreditava em Deus. Afinal, onde ele estava quando seu pai espancava sua mãe até que ela desmaiasse, onde ele estava quando In-su bebia e a estuprava, mesmo sendo ela sua mulher, onde Deus estava quando ela morreu? Quando, em que exato momento ele estava, toda vez que seu pai o vendia em troca de dinheiro e drogas?!
" Deus, se você estava mesmo lá, por que só assistia, por que nunca fazia nada? Era divertido para você? Onde você está Deus ? "
O Jung gostaria de saber.
Hoseok só estava desesperado, como muitos outros “fiéis”. Ele também tinha medo de ir para o inferno. Medo de o encontrar lá. Medo de ter a mesma vida que In-su estava disposto a mantê-lo.
Ele assistia o culto, mas seu coração doía ao ouvir as palavras do padre. Sua interpretação distorcida sobre a bíblia assustava Hoseok, assustava-o tanto, a ponto de fazê-lo deixar a igreja em prantos.
O Deus no qual pregavam nas igrejas, não era o mesmo Deus do qual sua mãe lhe falava. O justo, e cheio de amor. Aquele que estava disposto a salvar a humanidade.
Hoseok agora mais do que nunca não acreditava em Deus, embora acreditasse no inferno e nos monstros que lá viviam.
→☆←
Três semanas depois, o Jung batucava os dedos contra a poltrona de couro sintético, de tons amarronzados. A sala era de uma cor bege predominante, as paredes eram adornados por diversos quadros panoramicos, e os objectos que enfeitavam a mesa de madeira se relacionava a física. Hoseok não sabia o nome, mas às achava interessante. Eram esferas de metais que batiam continuamente umas nas outras, e continuavam num ciclo perpétuo.
– Jung Hoseok. – Ele conhecia essa voz. Não era a primeira vez que visitará aquele consultorio, ou aquele homem.
– Sim... – Murmurou baixinho. Mania que ganhou graças aos tratamentos de seu pai. In-su não gostava que ele abrisse a boca para falar.
– Me parece mais magro, não está comendo? – O homem de cabelos negros perguntava, ao que se sentava na outra poltrona. Hoseok negou com a cabeça.
– Não sinto fome.
– Sabe que se não se alimentar corretamente será pior para você.
– Eu não ligo. – Murmurou, encolhendo-se no estofado. Não tinha coragem de olhar o homem nos olhos. Não gostava de quando ele lhe pedia para comer, e não gostava quando ele começava a perguntar sobre ela.
– Você liga. – O homem afirmou. – Se não ligasse, teria terminado o que começou semana passada. – Ele se referia aos cortes no pulso de Hoseok.
Sim, ele tentou se matar.
– Ela não ia gostar se eu o fizesse. – Lembrou-se da mãe. Se não fosse por causa dela, talvez não estaria ali conversando com o mais velho.
– Ela não gostaría de muitas coisas que você faz. – A voz soou potente, fazendo-o estremecer. O psicólogo não tinha raiva, tampouco soava grosso. Sua voz só era aguda demais. – Outrora, você continua fazendo. Porém, isso... – Apontou para o pulso do menor. – Você não concluiu porquê estava com medo. Porquê você não quer morrer, você quer viver Hoseok, só não sabe como. – Seu peito doía. Era como se seu coração quisesse deixar a caixa torácica.
– Você não sabe de nada. – Resmungou, puxando os lábios e espremendo os olhos.
– Eu sei de tudo sobre você Hoseok. O suficiente para lhe dizer que você não quer ser curado. Você quer continuar sofrendo, porquê acha que só assim, conseguirá pagar o que você fez com sua mãe.
– Não é verdade! – Ele se levantou, gritando. O homem continuou sereno aos ataques do rapaz.
Era sempre assim.
– Você sabe que é, mas a verdade dói bem mais do que se drogar, do que se prostituir. – Suspirou. – Hoseok, por que você não volta para a clínica? Se você se esforçar, você...
– Não! Eu não quero voltar para aquele lugar! Nenhuma daquelas pessoas se importam comigo, ou com qualquer um que precise de ajuda ali! – Exclamou.
Hoseok estava nervoso, em sua concepção, aquele psicólogo estúpido considerava tudo algo fácil de se vencer.
Força de vontade.
Onde ele conseguiria isso? Por que ele faria isso? Ele era sozinho, não tinha motivos para viver, não tinha razão para se curar.
Sua mãe o deixou quando o devia proteger, e a culpa era dele. Seu pai abusava de si, e deixava que outros fizessem o mesmo. Ele estava sozinho, sempre esteve. Do que adiantaria ir a clínica, ou aquele consultório? Seu passado ainda estava lá, seu maldito passado ainda estava ali para assombra-lo.
– Eu vou embora. – Avisou, levantando-se. O psicólogo não o impediu. Porque não importava o quanto ele falasse, Hoseok se negava a ouvir. Deixaria que seu prazo acabasse, era triste imaginar que um dia teria que interná-lo a força, todavia, era para seu próprio bem.
→☆←
Hoseok estava deitado no sofá, no escuro de sua sala. Todas as janelas estavam fechadas, e as cortinas impediam que a luz iluminasse aquele cômodo. Estava abafado, outrora, sentia frio. Fazia duas semanas que ele não colocava uma pílula na boca. Duas semanas que não ia em um motel com alguém estranho, duas semanas que não acordava em lugares estranhos.
É que ele se sentia cansado demais até mesmo para isso. Todo seu corpo estava mole, no máximo, se levantava apenas para ir ao banheiro fazer suas necessidades. Ás vezes entrava no chuveiro para tomar banho, e ficava por horas debaixo d'água.
Ele se deitava no chão enquanto a água morna caía sobre seu corpo, até que ele dormisse ali mesmo. Acordava sufocado com o líquido que alcançava suas narinas e após desligar o chuveiro, ia até o quarto e se deitava na cama, após se secar superficialmente com a toalha. Ele não vestia suas roupas, mas se enrolava nas cobertas como se elas fossem sua proteção.
Hoseok passava dias dessa maneira, até que a vontade de se drogar voltasse com força total.
Ele não hesitava na hora de ir busca-las com seu fornecedor. Nada nunca o impedia. Nem as dores, e a ânsia do dia seguinte. Nem as novas marcas que surgiam em seu corpo, muito menos a ardência em seu ânus o fazia parar. Não tinha cerimônias por parte de Hoseok. Era rápido, mas não tinha beleza no que ele fazia. Era corriqueiro e destrutivo.
• Uma observação à ser feita. •
Hoseok estava deixando a vida, finalmente.
Ele havia exagerado no consumo de pílulas e pó no último dia do mês de novembro. E ele estava sozinho. Ele morreria sozinho. Hoseok não chorava. Ele não conseguia, por mais que o nó em sua garganta o sufocasse, nem uma lágrima sequer corria por seu rosto.
Ele estava encolhido no próprio corpo, sentado em uma calçada. Cada parte de si tremia, apesar de estar com calor. Sentia o suor escorrer por suas costas a cada minuto que permanecia ali, embora o tempo estivesse fechado, e tão frio quanto uma noite de inverno.
Sua mente não se dava o trabalho de relembrar algo, nem mesmo palavras passavam em sua cabeça.
Estava desligado, não se lembrava do seu nome, ou do seu passado. Não sabia o que era, ou de onde vinha.
Era de fato, uma casca vazia.
Naquela tarde, Kim Namjoon voltava de uma palestra quando viu o garoto suando em um frio abaixo de zero graus negativos.
Havia parado o carro, - de longe- apenas para observar o moreno, que não movia um músculo sequer.
O rapaz balançou os cabelos castanhos claros, preocupado, deveria sair mesmo do carro? Em um bairro estranho, e obviamente perigoso? O certo seria ir embora, ignorar aquele jovem. Quantas vezes não vira mendigos perambulando às ruas?
No entanto, ele não era um qualquer. Namjoon sabia disso, julgando por suas roupas. A verdade era que sua aparência esquelética e olhos profundos denunciavam bem o seu verdadeiro problema.
" Que se dane! "
Foi o que pensou, quando decidiu ir até o menino.
Enfiou as mãos dentro do bolso de seu sobretudo preto, espremendo-se no tecido. Não estava frio, estava congelando. Era loucura alguém permanecer naquele clima por mais de meia hora, ainda mais sem qualquer tipo de vestimenta calorosa.
– Com licença, precisa de ajuda? – Os olhos fundos do menino se voltaram contra o barulho que despertou sua mente; que como uma bomba, explodia ideias, palavras, sentimentos, cores e pensamentos, como uma máquina que acabava de ser reeligada.
– Chocolate... Você cheira a chocolate e a whisky. – Disse com uma certa dificuldade. – Os comprimidos rosas eram para me fazer voar, por que me sinto tão preso ao chão? – Divagou. – Meu coração está parado. Por que ele está parado?
Namjoon respirou fundo, estava na cara que o garoto não estava em boas condições mentais. E mesmo sendo arriscado colocar um estranho em seu carro, o fez; pois não deixaria o jovem morrer ali, de overdose, ou de hipotermia. Ele era um médico afinal, não deixaria ninguém para morrer assim. Porque era fato, passasse mais alguns minutos ali, Hoseok não conheceria a dor de estar vivo.
Naquele dia, o Jung ganhou uma família. Pessoas que com ele se importava, mesmo que ele ainda não enxergasse ou valorizasse.
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