Lilian só queria uma rosquinha cheia de açúcar de confeiteiro e nada mais. Porém lá estava ela afogada no beijo mais atordoante de sua existência.
Quem é que ligava para rosquinhas quando seus sentidos estavam sendo todos bagunçados por uma desconhecida?
A mulher que a beijava parecia estar alheia aos seus caninos pontiagudos. Logo Lilian descobriu que era porque ela tinha suas próprias presas — mais longas e grossas — para se preocupar com seus dentes afiados.
Ela deveria estar preocupada? Sim, claro. Mas, mais uma vez, quem é que ligava?
Ela suspirou baixinho quando seus lábios se separaram. Seu coração martelava no peito e ela sentia calor que a queimava de dentro para fora.
— Hum... — resmungou, encostando o nariz no pescoço de Helena. O fluxo de sangue mais o cheiro de floresta da mulher estavam fazendo suas presas pulsar. — Você cheira bem.
Helena riu, passando a mão em seu cabelo.
— Bom. Você cheira bem pra mim também — disse ela, pressionando um beijo no canto de sua boca.
Lilian olhou para a expressão extasiada de Helena e sentiu uma parte dentro dela aquecer. Era um sentimento de afeição muito semelhante ao que direcionava a Darius. Mas, diferente de Darius, essa afeição seguia por caminhos desabitados de sua mente e coração que fazia suas terminações nervosas chiarem com ansiedade.
Ela estava absolutamente indo se enroscar em Helena em uma hora mais propícia.
— Sem querer ser estraga prazeres, pois estou super animada com toda a parte física e tal, mas você poderia me explicar o lance dos olhos de gato? — ela perguntou, encarando, fascinada, os olhos felinos de Helena.
Com essa deixa os olhos de Helena voltaram a ser pretos como ébano. Lilian enxergou nervosismo e fez careta quando os braços de Helena saíram de sua cintura.
— Meu irmão e minha... Hm... Prima... Eles estão esperando. Se você me acompanhar eu posso explicar qualquer coisa que queira — disse Helena, mordendo o lábio.
Ficou surpresa.
— Sério? — perguntou ela. Isso era novidade. Helena claramente não era humana, embora duvidasse que fosse vampira. Por que cargas d’água ela se abriria com ela?
Talvez fosse ela a híbrida que estava procurando?
Se fosse, Lilian estava com sorte.
Ou não.
Seu cérebro finalmente digeriu a primeira parte do que Helena dissera e ela franziu a testa.
— Espera... Você disse irmão? E prima? — perguntou.
Helena ficou sem graça, um rubor mínimo subindo às bochechas.
— Eles estão ali. — disse ela, apontando para a esquerda.
Lilian se virou e viu duas pessoas. Uma era uma garota pequena com cabelos castanhos arruivados presos numa trança embutida. Mesmo com seu tamanho ela claramente praticava algum tipo de luta. Ela usava jeans e um cropped curto com propriedade, pouco se importando para os olhos admirados dos poucos adolescentes que passavam. As pernas seguravam o jeans sem deixar faltar nada. Usava botas militares por cima da calça. Por conta do tamanho da blusa era fácil ver uma boa parte da barriga pálida chapada. Era tão liso que Lilian teve certeza que ela malhava.
No entanto o que a deixou admirada foram suas cicatrizes. Um olho humano talvez não visse, mas Lilian enxergava os cortes apagados ao longo do pescoço, na bochecha e pela barriga.
Seus olhos castanhos estavam curiosos, mas ao mesmo tempo cheios de desafio. Encontrava-se de braços cruzados, encostada a um macho que na primeira olhada a fez recuar e engolir um sibilo.
Ele era de um tom dourado pálido, alto e atlético. Músculos de um espadachim habilidoso. Ele era maravilhoso com seu cabelo negro caindo ligeiramente na frente dos olhos, a roupa escura em contraste com a pele translúcida. Seus olhos vermelhos a olhavam com malícia brincalhona como se sua retração o divertisse.
Havia diversos aspectos no vampiro que lembrava Helena. Tirando a palidez comum de um frio, o dourado apagado de sua pele refletia um pouco a da mulher ao seu lado. Ele parecia jovem, mas ela notou os mesmos traços faciais. Eram retos e angulosos. O mesmo cabelo preto. Altura semelhante.
Não havia como negar que eles eram irmãos.
Sua mente estalou. Arregalando os olhos ela voltou à atenção para Helena, depois para o vampiro e então para a pequena garota na frente dele. Seu olhar calculado não demonstrava nada a não ser puro reconhecimento.
Lilian tremeu. Ela tinha achado sua híbrida.
— Cara! — murmurou sob o fôlego.
— Lilian? Nós podemos ir? — perguntou Helena indecisa.
Lilian não sabia o que fazer. Ela estava divida em fugir e fingir que nada daquilo acontecera a exigir respostas da minúscula vampira. Ela também percebeu que não poderia se afastar de Helena. Ela era dela. Lily não a estava deixando ir.
Merda.
Os pés de Lilian ganharam vida e caminharam à frente. Helena soltou um suspiro de alívio e a acompanhou. Elas se aproximaram do vampiro e da híbrida ruiva onde se instalou um silêncio constrangedor.
— Então... — começou o vampiro. — Qual é a sensação de se agarrar no meio de uma calçada cheia de movimento?
— Oh meu Deus! — exclamou a híbrida, afundando o rosto nas mãos.
Lilian sentiu o rosto esquentar. Helena cerrou os olhos para o irmão e não disse nada.
— Quer saber? Vamos voltar para o estacionamento antes que Henry solte mais uma pérola — falou a pequena, olhando furiosamente para Henry.
— Você me ama! — exclamou Henry, puxando a garota para seus braços.
— Saíiiii. — gritou a garota. Uma vermelhidão subiu suas bochechas.
— Henry, solte-a. Você não está agindo normal — disse Helena.
Henry fez careta, largando a jovem.
— Estou bem — disse ele. Helena balançou a cabeça.
— Não está não.
Lilian sentiu um sorriso se formar.
— Ele está agindo assim por conta da “visita” da pequena? — perguntou zombeteira.
— Por visita você está se referindo a minha maldição mensal? — a ruiva questionou.
— Você não parece muito feliz — sorriu Lilian.
A menina bufou.
— É porque eu não estou — disse ela furiosa. Lily a achou adorável.
— Você é tão bonitinha com raiva! — exclamou.
Henry riu. Helena a olhou fixamente. A menina a fitou como se ela tivesse uma segunda cabeça.
— Eu não sou bonitinha! — chiou ela.
Lilian sorriu feliz.
— É sim. Seu rosto contraí todo e você parece uma criancinha brava.
— Helena, controle sua companheira! — exclamou a ruivinha, antes de arregalar os olhos e bater a mão na boca.
Lilian travou. Companheira?
— Companheira? — repetiu para a fêmea ao seu lado.
Helena ficou pálida.
— É... Bem... Surpresa! — Abriu um sorriso trêmulo.
Companheira. Lilian abriu a boca para falar alguma coisa, mas não conseguiu. Tinha ouvido falar em suas viagens sobre parceiros imortais, como era raro de se encontrar. Após tantos anos solitários ela estava conformada em nunca achar alguém. Mas agora ela estava ali, lado a lado com a pessoa que o destino havia reservado para ela. Feita no seu molde, a pessoa quem deveria amar e cuidar por toda vida.
E pensar que Darius não queria que eu viesse para Rochester.
— Você é imortal certo? — perguntou para Helena ansiosamente.
Os olhos de Helena se ampliaram.
— Sou... — respondeu hesitante. Lilian abriu um sorriso gigantesco e a puxou para um abraço.
— Bom, porque eu não estou saindo perto de você — disse, antes de beijá-la pela segunda vez na ultima hora.
A risada de Henry fez par com o ruído exasperado de Nessie. Lilian desligou os dois de sua mente e beijou Helena com entusiasmo, mordiscando seu lábio inferior com as presas. Prazer sensorial a engolfou quando sentiu a pele ser banhada por algo que não conhecia. O cheiro de Helena pareceu ficar mais forte e Lilian se atordoou quando um grunhindo começou a se formar em sua garganta.
— Garotas, vocês estão chamando atenção. Poderiam, por favor, esperar chegarmos em casa antes que alguém acabe descobrindo o que somos? — disse Henry alegremente.
— Você é tão idiota, Henry — falou a garota.
Contra-a-gosto, Lilian se separou de Helena. O rosto rubro de Helena a fascinou e ela sorriu para ela. Sem fôlego e com os olhos mais uma vez num bonito tom verde felino, Helena sorriu de volta. O sorriso então caiu um pouco e um olhar incrédulo mudou seu rosto.
— Seu cabelo está vermelho! — sussurrou Helena surpresa.
Lilian abriu um sorriso zombeteiro.
— Bem, você não é a única que tem cartas nas mangas. — falou antes de seu cabelo voltar para rosa choque.
— Sim, sim. Tudo lindo, tudo mágico, mas é melhor irmos logo antes de alguém achar que está enlouquecendo — disse a menina ao lado de Henry.
Lilian olhou-a curiosamente.
— Qual é o seu nome? — perguntou.
A garota rolou os olhos.
— Henry me batizou como Vanessa, mas gosto de Nessie.
— Monstro do Lago Ness — murmurou sorrindo. Vanessa olhou-a friamente. Lilian continuou sorrindo. Ness bufou e olhou para Helena.
— Podemos ir? Por favor? — pediu para sua companheira.
Lilian viu o carinho nos olhos de Helena e lutou contra o repentino instinto de retalhar a híbrida. Ela não gostava de Helena olhando Vanessa com afeição.
— Vamos — concordou Helena, pegando em sua mão. Lilian suspirou. Helena a olhou com um olhar conhecedor, uma pequena malícia nos orbes gato que a fazia lembrar seu irmão curtidor.
Eles foram para o estacionamento de um supermercado. Henry se adiantou com Nessie em direção a uma Mercedes preta. Helena entrou na parte de trás e a puxou junto enquanto os outros dois iam à frente. Ela observou incrédula como Henry puxou o final da trança de Nessie e como ela reagiu socando ele no braço. Lilian olhou para Helena que lhe deu um sorriso tranquilo como se isso fosse o normal dos dois.
O carro saiu do estacionamento silenciosamente. Ela não sabia onde manter os olhos, se na paisagem do lado de fora da janela, em Helena ou na minúscula mestiça que agora retirava duas adagas de médio porte de dentro das botas. Ela soltou um ruído baixo quando Nessie cortou a ponta dos dedos e permitiu que manchassem as lâminas com sangue.
— Você é uma daquelas pessoas com problemas de automutilação? — perguntou abruptamente.
Henry perdeu o controle do carro por um instante, sacudindo-se em uma risada silenciosa. Já Nessie nem mesmo se deu ao trabalho de virar o rosto para olhá-la.
— É claro que não. Isso é só um ritual — respondeu ela. Lilian viu de relance o brilho das lâminas.
— Hum, se me permite perguntar, mas por que você tem essas adagas?
— Para matar, é claro. Para que mais eu usaria?
Lilian abriu a boca.
— Quantos anos você tem? — perguntou. Certamente aquela menina não batia bem.
Dessa vez Ness se virou para lhe dar um olhar estreitado.
— Por que tanta curiosidade? — questionou rigidamente. Helena rosnou baixo ao seu lado. Nessie rolou os olhos.
Ela olhou para Helena e viu seu olhar divido em irritação e vergonha pelo ruído. Lilian pousou a mão em sua coxa delicadamente. Helena fechou os olhos e relaxou um pouco.
Ela se virou de volta para Nessie.
— Peço perdão se minha pergunta a ofendeu. Eu só estou tentando descobrir o que temos em comum. Nunca conheci ninguém igual a mim e essa é uma oportunidade que nunca sonhei em ter.
O rosto de Vanessa relaxou.
— Eu não sei quantos anos tenho — respondeu ela.
— Como assim não sabe? — Lilian franziu o cenho.
— Eu sei que Helena disse que somos primos, mas a história não é realmente essa. Henry salvou a minha vida alguns meses atrás. De qualquer forma eu sou uma Reese agora.
Ness abriu um meio sorriso. Lilian viu pelo canto do olho a mão de Henry buscar pela dela e Vanessa automaticamente entrelaça-las juntas. Ela estava curiosa sobre o relacionamento desses dois. Era intrigante a forma como eles se tratavam.
— Espera... — pausou, quando as palavras de Nessie se assentaram nela. — Você disse que Henry salvou a sua vida?
Nessie anuiu. — Eu teria morrido provavelmente — respondeu sombriamente.
Lilian ficou muda. De repente ela estava repassando as cartas de Darius mentalmente, lembrando o conteúdo das mais antigas e de como o misterioso remetente estivera aflito quando contara o quão furioso estava seu senhor ao descobrir que a prisioneira mais valiosa havia fugido. Se Nessie era a única híbrida em Rochester então ela deveria ser a prisioneira descrita na carta.
— Eu consigo ver sua mente funcionando — disse Nessie com um sorriso negro. — Quem é você e o que você sabe sobre mim?
— Nessie... — falou Helena em tom perigoso.
Ness deu um olhar gélido para sua companheira.
— Você sabe perfeitamente bem que se ela se revelar uma péssima companhia eu terei de ir embora.
Lilian sentiu uma picada de irritação passar por ela e soube que seu cabelo e olhos tinham mudado de cor. Nessie a olhou como se fosse um inseto.
— Eu sou mais velha que você criança e você está aborrecendo minha companheira — sibilou sob os dentes.
Henry soltou um grunhido alto — Nada de brigas no meu carro!
Nessie não estava nem um pouco abalada.
— Você pode ser mais velha, mas advinha quem ganha numa luta física? — zombou ela. — Esse seu rostinho de porcelana nunca viu uma lâmina, não é mesmo?
Lilian abriu um sorriso seco.
— Eu prego amor corporal, querida. Não sou fã de violência. Mas você não é a primeira a supor que só porque tenho um rosto bonito não sei me defender. É o que todos acham.
— Você tem história — murmurou Nessie, analisando-a. — Alguém testou você muitas vezes.
— E você é algum tipo de soldado. Criada para ser o pesadelo dos outros.
— Você parece bem certa. — disse Nessie com uma gota de acidez.
— Eu vejo morte nos seus olhos, menina. Tanta violência para alguém tão jovem... — Os cílios de Lilian se moveram lentamente. — A maioria dos vampiros age com hostilidade quando seus territórios são visitados por nômades. Perder sua preciosa comida faz dos predadores verdadeiros animais. O seu olhar, no entanto, é extremamente calculado. Você pensa antes de agir. Também não mata por prazer, o que não significa que hesite se for necessário. Eu me pergunto quem foi a pessoa que tentou destruir sua alma.
Poderia ter caído um alfinete dentro do carro naquele momento que ele seria escutado. O olhar de Vanessa escureceu, dizendo sobre ossos quebrados e gritos de dor. Lilian nunca viu olhos jovens com tantos pesadelos.
O carro parou. Helena abriu a porta do seu lado e Lilian imitou o gesto. Ela ouviu os outros dois fazendo o mesmo, mas ela estava totalmente focada na enorme casa no meio do arvoredo brilhando com o sol calmo que traçava pequenas iluminações na pele de Henry. Sua pele cintilante a faz lembrar Darius e o coração dela apertou.
Nessie se virou para ela. Daquele ponto o cabelo dela brilhava em um avermelhado vívido. Pequenas mechas se soltavam do penteado e caiam na frente do rosto infantil. Lilian se sentiu triste ao reparar nas cicatrizes na face com mínimas sardas. Jovem demais, pensou. Jovem demais para ter sofrido tanto. Aquele olhar adulto não era certo no corpo de menina.
Mas então, Lilian nunca tivera a oportunidade de ser criança também.
— Você me olha como se eu estivesse sangrando na sua frente — Vanessa comentou, cruzando os braços.
Ela balançou a cabeça.
— Eu estava pensando no quão juvenil você parece. As marcas em sua pele me falam sobre sobrevivência, mas aposto que muitos olharam para você e só viram uma garotinha rebelde. — Um sorriso triste. — Esquecem que somos incapazes de sermos realmente filhotes. Lembro-me bem quando deixei de ter uma mentalidade infantil.
— Pelo menos alguém entende — resmungou Nessie, dando um olhar feroz para o vampiro ao seu lado.
Lilian escondeu um sorriso.
— Que tal irmos ao que interessa? — falou Henry, ignorando Vanessa.
— Tipo...? — Lilian deixou a frase no ar.
Henry deu-lhe um olhar perigoso. Ela sentiu Helena ficar tensa perto dela.
— Tipo, por que você está em Rochester? — O vampiro abriu um sorriso deslumbrante.
— Essa é a sua pergunta mais simples? — questionou Lilian com uma pequena careta.
— Bem, eu não vou deixar uma desconhecida entrar na minha casa. Mesmo que essa seja a companheira da minha irmã. E não me olhe assim, Helena.
Lilian olhou para Helena e se surpreendeu com o olhar de morte que ela dirigia para o irmão. Os olhos eram uma chama verde, seus caninos sobressaídos e as unhas crescidas curvadas em garras afiadas.
— Ela entrará se eu quiser, Henry — rosnou Helena, num tom mais grave do que sua voz normal.
Henry bufou.
— Você pode ser a primogênita e ela pode ser sua companheira, mas isso não justifica. Guarde suas presas nesse exato momento.
Helena deu um passo para frente. Lilian viu Nessie enrijecer, uma mão subindo para a coluna de Henry. A reação do vampiro com o toque foi no mínimo... Interessante.
— É melhor pararmos aqui — ela falou. — Eu irei contar a razão... Só peço que, por favor, não me olhem com outros olhos.
— O que isso quer dizer? — quis saber Helena, cerrando os olhos em sua direção.
O jeito que ela a olhava fez Lilian engolir em seco. Seus movimentos eram puramente felinos, uma cautela deliberada que fazia a pele da mestiça mais apertada. Não era nada que tivesse presenciado alguma vez, e se fosse medo que Helena esperava causar estava fazendo um péssimo trabalho.
Com um suspiro, Lilian passou a mão em torno de sua cintura e a abraçou. Helena soltou um ruído que mais lhe pareceu um rosnado suave antes de corresponder ao abraço. Helena era surpreendentemente mais alta do que ela, deveria ter pelo menos um e setenta e poucos, talvez mais considerando que ela perdia para poucos centímetros em diferença com o irmão. Lilian se sentiu acolhida em seus braços, o corpo tão quente quanto o dela. E suave. Tão suave.
Ela depositou um beijo em sua clavícula antes de se virar para os dois vampiros. Helena permaneceu atrás dela, segurando seus quadris com as unhas ainda em garras. Lilian imaginou que ela não estava em dos seus melhores humores.
— Eu moro em Brighton, na Inglaterra, há pelo menos cinco anos. Fui criada por um vampiro chamado Darius. Ele é meu guardião desde que compreendi as palavras, e isso, bem... Isso foi mais ou menos dois dias depois de ter nascido. — Encolheu os ombros.
— Ele é o seu pai biológico? — perguntou Nessie rigidamente.
— Não. Darius nunca me disse quem eles foram de fato. Falou apenas que era um vampiro rebelde que foi morto pelos Volturi por revelar sua natureza a um humano.
— E como foi que você chegou até esse Darius? — perguntou Henry.
Lilian abriu um sorriso desdenhoso.
— Darius não é exatamente adepto às regras da realeza. Ele também estava querendo criar híbridos, mas ao contrário do meu pai que seduziu uma humana com uma conversa sobre imortalidade, Darius amava a sua humana. Infelizmente ela morreu junto com a criança. Assim que ela morreu Darius descobriu que na verdade ela estava sendo envenenada pela própria irmã. Ela também se encontrara com um dos soldados dos Volturi e o denunciou. Ela morreu também. Pequena tola. Os Volturi não acreditaram nela, claro. Principalmente porque quando chegaram ao chalé em que Darius estava não havia ninguém.
— Agora isso é mentira — falou Nessie.
— Por que seria? — perguntou Lilian.
— Porque se estamos falando dos Volturi, isso significa passar pelas mãos de Aro. Um vampiro habilidoso com um bom treinamento psíquico poderia facilmente encobrir as próprias memórias, mas não uma humana. Aro é um leitor de mentes. Um muito bom por sinal. Não conheço ninguém que tenha passado por seu toque e conseguido manter seus segredos por muito tempo. Se Darius achou que o líder dos Volturi deduziu que era apenas um delírio de uma mente humana... — Nessie balançou a cabeça. — Lamento informar, mas é quase impossível. Se a humana viu a irmã e a criança morrer, então ele provavelmente pensou que a “experiência” — Ness fez aspas. — foi um fracasso. Mas deixar isso de lado? Duvido muito. Ele deve ter caçado Darius por décadas.
Lilian estremeceu visivelmente.
— Você falando desse jeito faz com que muita coisa faça sentido. Digo, o episódio de Darius com sua companheira foi muito antes de eu sequer existir. Quando ele conheceu meu pai ele o ajudou apenas porque estava interessado na criança. Que era eu. Ele admitiu pra mim que não se importou muito com o que foi feito com meu criador.
— Ele é o típico vampiro com interesse em ganhar algo. — falou Henry num tom gélido.
— E todos não são? — falou ela com um sorriso.
— Sim. — concordou Nessie com em tom vago. Seus olhos pensativos caíram nela. — Eu vou supor que Darius faz do tipo protetor-agressivo.
Balançou a cabeça.
— Protetor ele é. Agressivo também, mas não dá maneira como imagina. Ele nunca colocou a mão em mim de forma errada. Ele só matou as pessoas que se interessavam por mim em longo prazo.
— Que agradável. — Sorriu Henry.
Lilian o ignorou.
— Ele sempre me permitiu que eu viajasse. Até mesmo para a Itália, contanto que eu permanecesse longe de Volterra. Era fácil passar por humana considerando minha aparência e minha facilidade em me mesclar com o fluxo de pessoas.
— Por alguma razão eu acho meio difícil você passar em branco. Seu rosto, seu estilo e esse cabelo não são exatamente o tipo de roupa discreta — disse Nessie, olhando-a de cima a baixo.
— Eu gosto — sussurrou Helena. Lilian sorriu.
— É claro que você gosta. Ela é sua companheira — disse Henry rolando os olhos.
— Meu dom facilita as coisas — falou Lilian. — É bem útil.
— Isso tem a ver com seu cabelo mudando de cor? — perguntou Helena curiosamente.
Ela assentiu. Com delicadeza ela soltou as mãos de Helena de seu corpo. A mulher resmungou contra-a-gosto e a deixou ir. Sorrindo para os três ela fechou os olhos e se concentrou na mudança.
Três respirações surpresas garantiu que a mudança estava feita. Abriu os olhos e notou a expressões abobalhadas dos dois vampiros e de sua companheira. Sorriu divertida e pôs uma mecha de seu cabelo — agora loiro e longo — para trás.
— Então, o que vocês acham?
***
Helena estava atordoada com a imagem de Lilian. Em um momento ela estava com o cabelo rosa repicado, olhos escuros e lábios rosados com resquícios de açúcar. Agora seus olhos eram de um bonito azul violeta, um longo cabelo loiro platinado com mechas de tom mais escuro e uma boca pintada de vermelho profundo que sorria tentadoramente para ela.
— Uau — Henry sussurrou, fazendo Helena lutar contra a vontade de chutar a bunda do irmão.
— Eu vou supor que isso é um elogio e direi obrigada — disse Lilian risonha. Helena reparou que até seus cílios eram loiros platinados.
— O que você é? — perguntou Nessie. Ela parecia impressionada com a mudança, mas não deslumbrada. Na verdade Helena viu um pequeno vinco de irritação na testa da híbrida enquanto lançava alguns olhares assassinos para Henry.
— Darius diz que eu sou um camaleão — respondeu Lilian, voltando para ela. Helena não conseguiu manter suas mãos longe dela. Com o cabelo cumprido e os olhos brilhantes ela ficava com um ar diferente naquelas roupas. O gato de Helena queria ronronar. — Eu posso facilmente mudar o cabelo, os olhos e até a forma de algumas partes do corpo. No entanto estou aperfeiçoando isso ainda.
— Então, qual é a sua aparência de fato? — perguntou Helena, enroscando um dedo numa mecha de seu cabelo.
— Essa — respondeu, indicando a si mesma. — Mas tem alguns anos que uso o cabelo curto e colorido. Darius me irrita em algumas décadas, então eu mudo meu estilo como represália. — Um sorriso matreiro. — Ele tem essa coisa de boa aparência e modos. Isso o deixa mais horrorizado ainda porque lidero sua livraria luxuosa com a aparência de uma garota pronta para ir a um show de rock.
— Você não gosta muito de regras, não é? — perguntou sorrindo.
Lilian riu. — Não mesmo. Te incomoda? — perguntou de repente, seu sorriso caindo um pouco — Minhas roupas? Talvez o meu cabelo?
Helena nem precisou pensar sobre isso. Antes mesmo de saber que ela era sua companheira ela já a amava. Um pedaço de pano ou um cabelo rosa não era nada se comparado ao amor que quase explodia seu coração. Ela só queria levar Lilian para seu quarto e entrelaçar sua alma com a dela para sempre.
— Não, querida. Nada me incomoda em você — disse carinhosamente.
Lilian abriu um sorriso maravilhoso que derreteu Helena por dentro. Num piscar de olhos o cabelo colorido tinha voltado. Seus olhos, no entanto, permaneceram no azul violeta.
Um bufar acabou quebrando o encanto entre as duas.
— O que, Nessie? — perguntou Helena num tom cansado.
— Ela se veste com roupas que são tudo, menos elegantes, e você acha lindo. Mas quando eu invento de colocar exatamente essas mesmas roupas você só falta me colocar em uma camisa de força. Onde está sua indignação? A propaganda de Valentino, Chanel e Dolce & Gabbana? — Seu tom era ofendido.
Henry riu gostosamente.
— Nessie, Lilian poderia estar nua e Helena continuaria achando-a maravilhosa. — Um sorriso malicioso — Embora eu aposto que isso esteja na lista.
— HENRY! — gritou Helena e Nessie juntas. Lilian parecia extremamente divertida com a interação dos três.
— Nós estamos desviando muito do assunto — brigou Nessie, esfregando a testa com a mão. — Eu me recuso pensar qualquer coisa que tenha você, Helena e um quarto no meio. Então, desenvolva isso logo para que essa conversa acabe — pediu, encarando Lilian impacientemente.
Lilian endureceu a coluna e seu sorriso desapareceu enquanto encarava Nessie. De repente Helena começou a ter uma má impressão do que a híbrida mais velha iria falar. Ela torceu para que o que quer que fosse não causasse um derramamento de sangue.
— Como eu havia dito, Darius é extremamente protetor. No decorrer dos anos nunca pude ter uma amigo de verdade. Estive sob sua proteção durante esse tempo todo e nunca imaginei que haveria outros híbridos como eu. Até uns meses atrás quando entrei no escritório dele e li umas cartas que ele vinha recebendo.
— Cartas? — Henry repetiu, levantando as sobrancelhas.
— Sim, cartas — concordou Lilian. — Quatro meses atrás, Darius recebeu uma carta que o deixou com um humor terrível. Ele é taciturno por natureza, mas naquele dia ele estava pronto para destruir a cidade. Foi uma das raras ocasiões que ele se deixou levar pelas emoções. Eu fiquei preocupada e curiosa, então entrei em seu escritório e li as cartas.
— O que havia nelas? — perguntou Helena.
— Para começar elas estavam escritas em espanhol. O conteúdo era todo muito melancólico e a pessoa que escreveu estava claramente preocupada. Não havia nomes. Nada que pudesse ser realmente útil. Tive que ir atrás das cartas antigas porque não estava entendendo nada. Nas cartas o remetente dizia sobre uma garota. Uma menininha assustada que teve a mente ludibriada, forçada a esquecer de quem era ela e as pessoas que a amavam. Em todas as cartas a pessoa dizia o quão triste era ter que presenciar a mudança na jovem. Ele também citava um tal de mestre, dos horrores que ele praticava, das mortes que causava e as mentiras que contava... — Lilian franziu a testa. — Eu não sei por que, mas parece que cada passo que esse mestre dava influenciava de alguma forma a vida da menina presa com eles. Porém, nas ultimas cinco cartas algo mudou. Alguma decisão do mestre fez com que a pessoa que escrevia resolvesse ajudar a criança. Foi só na ultima carta que ele citou que a prisioneira mestiça estava solta em Rochester que eu percebi o que estava acontecendo.
— Ele estava falando de mim. — disse Nessie em tom cortante. — Eu sou a única híbrida rondando esta cidade.
— Bem, eu sei isso agora — falou Lilian. — Afinal de contas foi para isso que eu vim. Precisava encontra-la.
— Por quê?
— Primeiro porque eu não tinha ideia que havia outra igual a mim. Segundo porque acredito que Darius conheça esse mestre.
Helena soltou um suspiro chocado enquanto via Nessie apertar as mãos em punho. Henry segurou o braço da híbrida delicadamente, seus olhos graves ao encarar Lilian fixamente. A bruxa se manteve ao lado da companheira, odiando como eles estavam divididos; Henry e Nessie de um lado, ela e Lilian do outro.
Nessie fechou os olhos, respirando fundo.
— Como eu posso confiar em você quando me diz na maior cara lavada que o homem com quem mora tem uma ligação com o vampiro que me encarcerou? — sussurrou ela rigidamente.
— Eu não nenhuma razão para me atracar com você. Amo Darius, mesmo com todos os seus defeitos. Mas ele me machucou e por alguma razão ele está envolvido nisso, por alguma razão ele mentiu pra mim... Eu só quis fazer o que achei que era certo — falou Lilian em tom embargado.
— O certo... — iniciou Nessie em tom gelado. — Seria contar aos Volturi, não a mim. Essa sim seria a atitude de um vampiro comum.
— Eu não sou um vampiro comum — rebateu Lilian. — E eu não me envolvo com a realeza vampírica. Não estou interessada em ser objeto decorativo
— Bem, de um jeito ou de outro, você sabe que eu vou arrancar a cabeça do seu guardião, certo? — perguntou Nessie com um sorriso ameaçador.
Lilian começou a tremer.
— Darius não é alguém ruim... Ele não tem c...
— Não tem culpa? — completou Nessie bruscamente. — Talvez não. Mas ele sabia que eu estava presa e não fez nada. Na realidade, estou quase supondo que ele saiba mais do que você imagina. Começando sobre quem é o mestre e o que ele realmente quer comigo. Você tem uma visão bem errada do seu vampiro. Especialmente quando ele só olha para o próprio umbigo.
— E você não o faz? — sibilou Lilian. — Tudo para o bel-prazer.
— Experimenta ser jogada em um cômodo escuro com aranhas venenosas para você ver o que faz com uma garota — cuspiu Nessie. — Ou melhor, tente ficar calada sem expressar nenhuma reação enquanto suas pernas são quebradas. Fique uma semana sem comer ou duas sem dormir. Pense em alguém invadindo sua mente sem sua permissão e imagine a sensação de violência, o desamparo que é ter o único lugar que deveria ser seguro sendo mutilado de dentro para fora. Olhe-se no espelho e veja somente uma casca. Se odeie, odeie o mundo, odeie a todos. Seja o monstro que foi feito. Não tenha esperança, não tenha fé, não tenha vida. Não tenha nada. Quando você passar por tudo isso, então você saberá a razão por eu lutar apenas por mim mesma.
Os olhos furiosos de Nessie foram a ultima coisa que Helena viu antes dela correr para floresta. Henry nem mesmo hesitou antes de ir atrás dela. Enquanto isso Lilian estava paralisada, o rosto pálido petrificado pelas palavras de Vanessa.
— O que ela disse é real? — sussurrou Lilian para ela.
Helena encolheu-se.
— Nessie nunca conta sobre seu cativeiro. Tudo o que ela nos falou é muito superficial. As atitudes dos soldados, do mestre, dos aprendizes... Ela raramente diz sobre seus próprios sentimentos e quando os faz acaba nos chocando como agora.
— Eu não queria irritá-la — sussurrou Lilian. — Mas o jeito que ela falou sobre Darius...
— Eu sei. Ness pode ser bem cruel às vezes. Ela não teve uma vida justa.
— O que eu vou fazer? — questionou Lilian vacilando. — O que diabos vou fazer?
Helena não sabia que resposta dar. Os olhos de Lilian cintilaram com lágrimas, mas ela não as derramou. Triste por ela e por Nessie, Helena a abraçou com cuidado, amparando-a enquanto ela arfava em dor emocional.
***
Por que Matthew fez isso?
Nessie tinha um enorme buraco fantasmagórico no peito. Estava em dúvida se o que sentia era dor ou apenas resquícios do treinamento árduo que teve. Independente do que fosse ela estava fria. Assombrosamente fria. A raiva que a habitava era gelada e calma.
Muito.
Calma.
Ela queria entender. Queria fodidamente entender por que Matthew enviara cartas para um vampiro estranho dizendo sobre ela. Falando sobre seu suplício.
Nessie correu para além de sua capacidade, focando na dor que queimava seus músculos. Impulsionou o corpo para o ar para chegar ao outro lado do riacho, determinada a ficar longe da companheira de Helena. Ela não tinha capacidade para olhar aquela fêmea sem que a vontade ensandecida de caçar seu guardião a engolfasse.
O cheiro de Henry chegou até ela e só a fez mais furiosa. Agarrou o galho da árvore mais próxima e escalou para o ponto mais alto, tentando manter-se afastada do vampiro que insistia em caçá-la.
Inesperadamente o galho em que estava pendurada se partiu e ela começou cair em queda livre.
Ótimo, é assim que eu quebro todas as partes do corpo e morro, pensou enfurecida.
Antes que ela quebrasse qualquer coisa, no entanto, ela parou de cair. Atordoada com o que acabara de acontecer ela olhou para baixo e notou que estava pelo menos a dez centímetros do chão. Movendo o pé delicadamente deu-se conta que flutuava.
— Mas o que... — balbuciou.
— Você precisa parar com essa mania de tentar fugir de mim! — exclamou Henry, aparecendo na sua frente.
Nessie olhou seu rosto irritado.
— É você que está fazendo isso? — perguntou, tentando descer inutilmente.
— Pareceu a única forma de pará-la — disse sem se importar com sua expressão homicida.
— Ponha-me no chão!
Nessie despencou de repente, batendo a bunda no chão arenoso.
— Seis meses morando juntos e só agora você resolveu dizer que é a porra de um tele cinético? — revoltou-se, erguendo-se do chão.
Henry rolou os olhos.
— Eu não disse. Demonstrei. E não sou só um tele cinético. Estou em nível celular, Nessie.
— Nível celular? — Uma luz fez-se em sua cabeça. — Stephen.
— Sim — anuiu Henry. — Eu usei partículas de ar e forcei seu coração a bater de volta.
Ness lembrou-se daquela noite meses atrás quando Henry se recusou a dizer o que ele podia fazer e fez cara feia. Virando as costas para ele, ela começou a andar.
— O que pensa que está fazendo? — rosnou Henry, agarrando seu braço e virando-a para ele.
— Me mantendo longe de você, não está vendo? Agora me solte.
— Você não pode ir assim! — grunhiu Henry, aproximando o rosto.
— E por que não? Eu faço a droga que eu quiser — gritou, batendo a mão em seu peito.
— Você está irritada e com um humor homicida. Não tem como na Terra eu permitir que você saia por aí assim.
— Fico feliz em saber que você quer receber minha raiva no lugar de outra pessoa.
— Não seria no lugar do tal Darius?
Nessie emudeceu. Embranquecendo sua expressão ela olhou para o lado e esperou que Henry a soltasse, cansada de prolongar aquela discussão.
O toque frio de Henry chamou sua atenção, mas ela recusou a olhá-lo. Seus olhos queimaram com lágrimas que ela segurou com todas as forças.
— Desculpe — disse Henry calmamente. — Não queria ser grosso, mas você tem que admitir que me tira do sério.
— Por que você veio atrás de mim? — perguntou ela. — Helena é a sua irmã e Lilian a companheira dela. Independente de termos ou não trocado sangue... Não significa nada.
— Significa tudo — discordou ele. — Você é uma Filha da Terra. Você faz parte do clã. Eu não vou te deixar.
Ela virou o rosto para ele.
— E se eu precisar ir embora? E se eu não conseguir ficar no mesmo teto que Lilian? — Ela balançou a cabeça. — Não vou viver com vocês para sempre. Tem que se lembrar disso, Henry.
— Você não vai embora — balbuciou Henry. — Não pode ir embora.
Nessie ficou confusa. O tom de Henry era claramente de dor. Olhou em seus olhos vermelhos e encontrou uma nota de desespero que não estava ali dez minutos atrás. Encostou a mão em seu rosto, surpreendida quando o corpo do vampiro começou a tremer e um suspiro aflito saiu de seus lábios.
— O que está acontecendo? O que há de errado com você, Henry? Diga-me a verdade. Já tem dias que você está diferente e hoje foi o suficiente para esquisitices.
— Não importa — resmungou ele, desviando o olhar.
— Realmente? Bem, se é assim... Deixe-me sozinha. — falou, empurrando ele para longe.
— Nessie... — iniciou Henry.
— Vá embora. — falou, tomando distância dele.
— Volte. — rosnou ele.
— Tchau Henry.
— Vanessa!
Nessie fechou os olhos. Parou no meio da floresta, de costas para Henry, lutando contra o ardor queimando através das pálpebras.
— Pelo pouco que me conhece e se isso valer de algo para você... Por favor, por favor, Henry. Deixe-me sozinha.
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