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História Cinquenta Tons de Esdeath - Pelo Oceano


Escrita por: AstolfinhoRider

Capítulo 44 - Pelo Oceano


Fanfic / Fanfiction Cinquenta Tons de Esdeath - Pelo Oceano

Existem muitas estradas para o Leste. Se você estiver disposto a percorrer as perigosas estradas da Rota Comercial, você passaria por todas as pequenas cidades e fortalezas da Fronteira até o Leste, e isso poderia demorar algumas semanas, você pode também pegar uma rota mais direta, e seguir pela grande rede de estradas que contrabandistas e assassinos utilizam, nestas, você pode encontrar alguns problemas durante o percurso, não que na Rota Comercial você também não os encontre. Existem caravanas que atravessam os reinados por um preço consideravelmente baixo, enquanto outras, cobram caro, mas estas possuem uma segurança maior, e uma delas até mesmo conta com um usuário de Tengu chamado Vaarys na escolta.

Entretanto, existem mais rotas para o Leste, e uma delas era o mar. O Norte mantinha comércio com o Leste, e para que não fossem abusados pelo Império, mantinham uma rota comercial no Grande Oceano, de forma que, para ir ao leste, é possível pagar a um dos capitães dos navios e se tornar um hóspede deles durante uma viagem, era consideravelmente mais seguro, se você levar em conta a violência das terras do Império naqueles dias escuros.

Akame e Tatsumi escolheriam a rota marítima, e encontraram o auxílio de um capitão chamado Cervantes, dono de um galeão batizado com o nome de Fortaleza Esmeralda.

 

Os ventos sopravam com força naquela manhã, e os cabelos de Akame se elevavam ao serem envolvidos por eles. O sol nascia no leste, e a luz da alvorada pintava as aguas cinzentas de um dourado profundo. O som do mar a acalmava, e ela não se lembrava de outra ocasião em que estivesse tão bem consigo mesma e com o mundo ao seu redor, era como se o som das ondas pudesse, de alguma forma, acalmar a turbulência de sua alma. Akame sorriu ao ver um bando de gaivotas rumando em direção ao horizonte e alguns animais marinhos subirem a margem, saltarem e depois se perderem no azul profundo. As ondas dançavam, e o mar balançava a embarcação com calma e naquele momento não havia se quer um pequeno vislumbre de terra em todas as direções, estavam em alto mar.

Vaarys aproximou-se de Akame. O homem tinha a pele queimada pelo sol e longos cabelos castanhos que chegavam até o meio das costas, seu rosto era duro e seu semblante sério, a aparência de Vaarys poderia fazer qualquer homem pensar duas vezes antes de confronta-lo, mas na verdade, o mercenário não era uma pessoa tão impiedosa quanto seus olhos cinzentos como a neblina denunciavam. O rosto fino terminava em um queixo pontudo ornado por uma barba bem feita. Vaarys era belo, a sua maneira.

-Mestra Akame- disse ele, aprumando-se a borda- Parece-me mais feliz do que o habitual no dia de hoje.

Vaarys havia aceitado acompanha-los por toda a viagem, prometeu escolta-los até o leste, e deveria haver algum código de honra pessoal que o impediu de aceitar o pagamento e simplesmente ir embora quando Akame o pediu.

-Vaarys- respondeu ela, o cumprimentando com um aperto de mão.

-O que a senhorita faz acordada tão cedo?

-Vim ver o nascer do sol- respondeu ela. Vaarys percebeu que ela não carregava com ela a espada, e Akame nunca se separava da arma, pelo menos não durante a viagem- E você?

-Vim ver onde estava- respondeu- É para isso que estou sendo pago.

-Sabe melhor do que ninguém que não precisava nos escoltar- disse Akame, em um tom sombrio.

-Minha companhia a incomoda, mestra Akame?

-Não. Não foi isso que eu quis dizer- para ela, não fazia diferença- Mas não precisa ficar preocupado comigo, e temo que seja perigoso demais para onde estamos indo.

-O mar é perigoso. Existem monstros marinhos, piratas- Vaarys retirou do meio da camisa a ponta do seu colar, preso a ponta estava um dente de animal- Se soubesse o que se esconde por baixo dessas aguas escuras, não dispensaria a minha ajuda, mestra Akame.

-Devo agradecê-lo, então?- Akame deu um de seus raros sorrisos.

-Não, ainda não, faça isso apenas quando estiver segura na costa do Leste- sorriu- E faça isso com uma bolsa de dinheiro na mão.

-Farei.

Os dois ficaram um bom tempo em silencio, apenas observando o rumo do mar e em como as ondas carregavam a Fortaleza Esmeralda adiante.

-Está um dia bonito hoje, não está?- disse Akame, de repente, e naquele momento, as atividades no convés já começavam a serem feitas.

-Está- respondeu Vaarys sem tirar os olhos do mar, havia certa beleza naqueles olhos cinzentos- As manhãs nessa parte do mundo costumam ser calmas e bonitas.

-Já esteve aqui antes?

-Eu nasci em uma das vilas na beira do mar, é ao mar que eu pertenço.

-E como um pescador transformou-se em um guarda costas de mercenários?

O olhar de Vaarys tornou-se sombrio.

-Uma história trágica, afinal, ninguém escolhe uma vida dessas por conta própria, não é mesmo? – sorriu de soslaio.

-Estou disposta a ouvi-lo.

- Bem... Ocorreu que meu pai foi um soldado, um comandante, na verdade, que cometeu muitos erros durante a vida e que estava escondido em um canto escuro do mundo, e um dia, ele foi encontrado por um de seus inimigos- o olhar de Vaarys caiu sobre suas próprias mãos, que tocaram o punho da espada que carregava no cinto- Eles o mataram, mas não antes de minha mãe e minha irmã serem violentadas até a morte pelos homens que atacaram o meu pai. Sobrevivi porque consegui fugir, eu tinha pouco mais do que doze anos na época e talvez depois de matarem o senhor meu pai, aqueles homens não viram importância em caçar um garotinho no meio da noite- suspirou- Eu vi minha casa queimar naquela noite do alto das montanhas, e então eu voltei para os escombros dela no dia seguinte. Somente isso havia restado- Vaarys sacou sua espada, ao contrário da arma de Akame, aquela Tengu não se assemelhava a uma katana, ao contrário, tinha a cor bronze e uma empunhadura dourada, cravejada de jóias, os dois gumes da arma estavam afiados de tal forma que o movimento de desembainha-la fez o metal assoviar, era uma arma bonita da mesma forma que era mortal- O nome dela é Nægling, e era a arma de meu pai, só depois de adulto fui descobrir que se tratava de fato, de uma Tengu.
-Nunca tinha percebido antes?- Akame lembrou-se de como foi a sensação de empunhar Murasame pela primeira vez, era inesquecível.

-Para ser sincero, não. Mas eu nunca precisei afia-la, e isso deveria ser um sinal- sorriu- E ela é capaz de cortar qualquer coisa, Nægling foi de grande ajuda quando busquei vingança pela minha família. Matei cada um daqueles homens, e todos os homens que os protegiam, e nessa época virei um mercenário, e depois de completar minha vingança, virei apenas um guarda costas. Houve um tempo em decidi que era o momento de parar de tirar tantas vidas, sabe, todos os que eu matei estão... Aqui- tocou a testa- E todos eles estão lá quando eu durmo, tentando me arrastar para o lugar onde os enviei. Mas aprendi a conviver com isso.

Akame sabia bem sobre o que Vaarys falava, todas as mortes que causou e a sensação de que carregava todas aquelas almas nas costas. Uma vida de violência, como ela poderia esperar o contrário? Tinha em mente de que pagaria por tudo o que fez um dia, mas até que esse dia chegasse, jamais desviaria de seu objetivo. Inevitavelmente, o rosto de sua irmã Kurome lhe veio à mente, e a lembrança despedaçou seu coração.

-Eu sinto muito por tudo isso- foi tudo o que conseguiu dizer.

-Não é necessário, mestra Akame- Vaarys guardou a espada- Todos foram vingados, tudo já acabou.

Akame se limitou a sorrir.

-É bom que tenha se desprendido dessa vida. Espero que volte incólume dessa viagem, também.

-Tenho alguém por quem voltar- Vaarys sorriu- Eu não posso morrer aqui.

-É, não pode- voltou a olhar o sol- A manhã está bonita.

Naquele momento, ouviram passos rápidos avançando na direção dos dois, e de repente, Tatsumi se projetou em direção ao mar e vomitou, Akame e Vaarys fizeram uma careta.

-Já em pé, mestre Tatsumi?- Zombou Vaarys- Ou quase isso.

-Por favor... - Tatsumi deixou o corpo escorregar para o chão, um fio de saliva lhe descia pelo queixo e ele estava tristemente pálido- Não me chame de mestre... Droga... De quem foi a ideia de vir de navio mesmo?

-Foi sua- respondeu Akame.

-Foi sua mes... Digo, Tatsumi- Vaarys sorriu- Disse-me que sempre quis andar de navio, ver o mar se movimentando, experimentar a comida do convés.

A menção ao alimento servido no navio fez Tatsumi vomitar outra vez.

-Da próxima vez... Não me escutem... Vamos por terra!

 

A Fortaleza Esmeralda havia aportado em uma pequena cidade para receber os suprimentos que deveria levar ao leste, e também para recuperar os estoques de comida e de água, uma vez que o galeão havia saído do norte com os suprimentos baixos. A parada havia sido um alivio para Tatsumi, porque ele enfim poderia pisar em terra firme novamente. Seu enjoo durou cerca de dois dias, mas no terceiro, ele foi obrigado a manter a comida dentro de seu estomago, Akame, entretanto, pareceu menos feliz em pisar em terra.

Vaarys os levou até um bar de marinheiros perto do porto, uma casa rústica, com as dobradiças da porta enferrujadas, corroídas pelo clima, e a tinta, outrora azulada, descascada. O interior, entretanto, era bem arrumado, e no meio do salão um grupo de músicos cantava:

‘’Ao longe, iluminando os mares distantes;

Uma estrela brilha acima do mar, bela e cintilante;

Ó, É a Estrela do Norte, em seu brilho carmesim;

Bilha, Estrela, enquanto as ondas a levam para longe de mim; ’’.

 

-A Estrela do Norte- disse Vaarys- Hoje em dia é usada como um símbolo de guerra, mas para os povos do mar, é um sinal de esperança, é a estrela que guia as nossas embarcações à noite, a mais brilhante das estrelas, na verdade.

Akame encarou Tatsumi por alguns momentos, se perguntando se aquela musica o fazia se recordar de Esdeath, de fato, não entendia direito o que Tatsumi sentia por aquela mulher, Tatsumi não era aberto a falar sobre aquele assunto, e ela também não se importava em perguntar. O companheiro estava carrancudo, e ela não sabia se algum pensamento sombrio lhe passava pela mente, ou se ele simplesmente estava se controlando para não vomitar.

-Guerra... - continuou Vaarys, e não escondia o desprezo em sua voz- Muita coisa aconteceu nos últimos tempos, não acham? Há cerca de um ano ninguém sequer fazia ideia de quem era Numa Seika, e então, esse nome correu o mundo.

A menção ao nome de Numa Seika fez Tatsumi fazer uma careta, o rapaz mexeu na comida do prato com o garfo, mas não chegou a comer nada.

-Gostaria de ter conhecido aquele homem, você não, mestra Akame?

Akame estava mastigando um pedaço de carne de porco, e a frente dela ainda havia um banquete das mais diversas carnes, Tatsumi sempre se impressionava com o tamanho do apetite da companheira, porque mesmo durante a viagem, ela não deixou de comer tudo o que fosse possível. Limpou a boca com um lenço. Então, balançou a cabeça negativamente.

-Já ouviu falar de Esdeath?- perguntou Akame, tentando perceber alguma reação por parte de Tatsumi.

-Nos dias de hoje, quem não conhece a ‘’Madame do Gelo?’’- Vaarys sorveu um gole de cerveja- Vi ela uma vez, e admito que a achei bonita.

-Ficaria com ela?- perguntou Akame, meio que entorpecida pela bebida.

Vaarys riu.

-Não, creio que não. Aquela mulher me parece tão frígida que deve ter gelo entre as pernas.

O comentário fez Akame rir.

‘’Estrela do norte, brilhe nesse céu escuro, e aqueça os nossos corações;

Brilhe intensamente, e inspire nossas canções;

Ao lado da lua, pergunto-me se minha amada também a observa;

E quando a olho, um pedido faço a ela em vão;

Leve para a minha amada, o meu coração.’’

 

-Disse-me que não morreria porque tem alguém por quem voltar- disse Akame- Quem é a felizarda?

-Ainda não estamos juntos- sorveu outro gole da bebida- Mas um dia ficaremos juntos. O nome dela é... É Elina- colocou o copo de lado- Estou sentindo dificuldade para falar, acho que é hora de parar de beber- riu alto.

-Torço pelos dois- disse Akame, sentindo os efeitos da bebida, afinal, havia bebido tanto quanto o companheiro.

-Eu faço o que faço apenas por ela, precisamos de dinheiro para vivermos bem, agora que ela está esperando um filho meu... Talvez seja minha ultima viagem- sorriu- E eu espero de todo o coração que sim.

Tatsumi estava alheio à conversa dos dois, distante, perdido nos próprios pensamentos, Akame o encarou por alguns momentos, e percebeu que aquele Tatsumi era muito diferente do Tatsumi que ela havia conhecido na casa de Esdeath.

-Tome- Akame escorregou um copo de cerveja preta na direção de Tatsumi- Beba, você não come há vários dias corretamente, parece fraco.

Tatsumi levou a bebida até os lábios, provou o aroma.

-Beba tudo, Tatsumi- disse Vaarys- Mestra Akame tem razão, sabe a quantidade de energia que essa bebida tem? O bastante para dias e dias, e na próxima parte do percurso, irá precisar.

-Por que diz isso?- quis saber Akame.

-Bem... As aguas imperiais estão agora cheias de piratas, e em dias como os de hoje, sempre é bom esperar pelo pior.

-Qual a chance de sermos abordados?- perguntou Tatsumi. O único membro sobreo na mesa.

Vaarys o encarou por alguns segundos, depois começou a contar alguma coisa na ponta dos dedos.

-Poucas, creio eu...- respondeu, mas aquilo não passou seriedade a nenhum dos dois.

 

Poucas chances. Então talvez aquele fosse o dia de sorte do trio, porque, no quinto dia de viagem, a Fortaleza Esmeralda foi interceptada por uma embarcação de velas negras, que os emboscou próximo ao cair da noite.

-Pelo sangue dos deuses- disse Cervantes, o comandante da embarcação- Piratas...

-Piratas- Tatsumi encarou a embarcação e levou a mão ao punho da espada- O que faremos?

-Aqueles filhos de meretrizes não podem tocar na carga dessa embarcação!- Cuspiu Cervantes. O capitão era um homem de meia idade, de cabelos negros salpicados de branco e uma barba bem feita, outrora deveria ter sido um homem belo, mas os anos do mar lhe arrancaram boa parte dos dentes, um dos olhos e metade dos dedos da mão esquerda- Icem as velas!- ele gritou aos seus homens, e as velas caíram dos mastros, e eram profundamente verdes- Preparem os malditos canhões! vão para os canhões!

-Essa embarcação possui um armamento funcional?- perguntou Tatsumi.

O comentário fez um sorriso brotar no rosto de Cervantes.

-Em dias como esse, meu jovem rapaz, é claro que possui. Não podemos fugir deles utilizando os ventos e as marés, eles já estão perto demais, então nos resta lutar. Você e a mulher podem entrar na cabine e se esconderem até tudo isso passar.

-Eu e a mulher podemos ajudar- garantiu Tatsumi.

-E como o fariam?- desdenhou Cervantes- É um jovem rapaz e uma garota, aquele homem que veio como seu acompanhante até é de grande ajuda, mas perdoe-me, rapaz, você e aquela mulher carregam armas, mas nada me diz que sabem como usa-las.

A embarcação estava cada vez mais perto, e naquele momento era possível ver os homens dentro dela enquanto seus gritos eram trazidos pelo vento.

-Possuímos Tengus, meu senhor. Todos nós três.

Cervantes o encarou, seus olhos eram cinzentos e rodeados por profundas rugas.

-Tengus?- coçou a barba- São membros daquele exército de assassinos que está em guerra com o império?- Cervantes sabia que, se fossem homens do império, não estariam naquelas aguas - Bem que tive a impressão de já ter visto aquela garota em algum lugar. Night Raid, não é. Achei que ela fosse uma meretriz qualquer do norte, mas ela é Akame, uma mulher procurada. Reconheci a espada dela, sabe? E aquele rosto bonito está estampado em vários cartazes por ai, agora que a vejo pessoalmente, vejo que não fazem jus à beleza dela, mas, sabe quão grande é a recompensa por ela? Eu poderia comprar outro navio. Você disse ser Tatsumi, não me recordo de ouvir o seu nome em qualquer lugar, mas se está com ela, não deve ser qualquer um.

-E o que fará com essa informação?- Tatsumi retirou parte da espada da bainha sutilmente, não planejava atacar Cervantes, mas sim, persuadi-lo.

-O que eu farei? Não farei nada- seus olhos desceram até onde estava a espada de Tatsumi- Ou achou que eu fosse trai-lo, jovem rapaz? Vocês pagaram por um lugar nessa embarcação, são meus convidados, não meus prisioneiros- riu baixinho- Se soubesse a quantidade de pessoas sujas que já transportei de um lugar ao outro, ficaria mais tranquilo. Já transportei até mesmo aquele filho da puta do Syura, filho do primeiro ministro. Pode não parecer, mas Cervantes é um homem de honra.

-Nunca duvidei disso, capitão- disse Tatsumi, tranquilizado.

-Disse que você, a menina e aquele homem possuem Tengus e que podem lutar.

 -Disse, senhor.

-Então os deuses dos mares me abençoaram no dia de hoje.

 

Começou com um grito de alerta.

Akame fechou os olhos por um instante no exato momento em que o barulho das ondas do mar deu lugar a um estrondo ensurdecedor de canhões, o convés tremeu aos seus pés, um pequeno pedaço de madeira passou voando ao lado de seu rosto, mas não chegou a atingi-la, ouviu gritos, ordens dadas em tom grave e o barulho de espadas sendo sacadas. O que havia a sua volta era literalmente, caos.

Sentiu o chão vacilante abaixo de seus pés quando uma onda fez a embarcação balançar violentamente; sentiu o cheiro de pólvora, o cheiro de sangue, o cheiro de medo e de morte. Levou a mão ao punho da espada.

‘’Matar’’

Sacou a lâmina, a espada brilhou em tons azulados e ela sentiu o peso da arma em suas mãos, era leve, mas ao mesmo tempo, pesada pela quantidade de vidas que ela tomou, e a certeza que mais vidas seriam tomadas naquele momento, então Akame abriu os olhos, resoluta do que tinha que fazer.

‘’Matar’’

Akame olhou ao seu redor. O navio dos piratas estava ao lado da Fortaleza Esmeralda, e do outro lado, os invasores gritavam injúrias e erguiam as espadas em desafio, enquanto efetuavam disparos em direção aos homens de Cervantes, que revidavam com a mesma violência. Vários piratas se atiraram em direção ao Fortaleza Esmeralda, em gritos de fúria regados a rum. Uma nova saraivada de canhões fez o galeão sacudir, e por sorte, vários dos tiros erraram o alvo. O Fortaleza Esmeralda revidou, e cerca de cinco tiros perfuraram o casco do navio inimigo. Akame viu Vaarys erguer sua espada e partir um pirata ao meio com um só golpe, enquanto no outro extremo do navio, Tatsumi combatia uma leva de inimigos ao lado do capitão. Um homem estava caído a poucos metros de Akame, com o peito perfurado por um disparo, entretanto, a vida daquele rapaz já havia o deixado fazia tempo.

Akame firmou os pés, abaixou o corpo e correu. Venceu rapidamente o espaço entre ela e Vaarys, arrancando o braço de um adversário no percurso, o homem caiu de joelhos, gritando de agonia enquanto a maldição consumia seu corpo.

-Eu vou entrar- disse ela, aprumando-se ao companheiro- Vou subir no convés e matar todos eles.

-Não acha que são muitos para enfrentar, mestra Akame?- Murasame e Nægling atingiram um inimigo ao mesmo tempo.

Akame não respondeu a pergunta, apenas virou o corpo e desferiu um golpe contra o pescoço de um inimigo que vinha pelas costas, o sangue jogou sobre o convés. Vaarys teve a impressão que a Akame que estava a sua frente não era a mesma Akame que conversou com ele no bar, aquela era outra pessoa, uma perfeita maquina de matar, que não hesitaria em tirar todas as vidas que estavam se opondo a ela.

-Eu a acompanharei- disse ele, aprumando-se a uma corda.

-Não precisa fazer isso.

-Se você morrer, quem irá me pagar?- sorriu de soslaio- Me acompanhe!

Vaarys se atirou em direção ao navio inimigo utilizando a corda como impulso. Atravessou o fosso entre os dois navios, onde a agua tornara-se escura de corpos e o mar agitado se chocava com força nas paredes das embarcações, mas o corpo de Vaarys não seria mais um no meio de tantos e logo que chegou ao convés inimigo, Nægling desceu em um arco brutal, atingindo em cheio a um adversário, rasgando-o do ombro até a coxa, e depois se virou em uma estocada, Nægling perfurou o corpo de um pirata como se este fosse feito de manteiga, então, Vaarys girou a lâmina para liberta-la do cadáver. Ouviu um disparo de arma de fogo e virou-se a tempo de ver Akame partindo a bala ao meio com Murasame, então, girando como uma dançarina, arrancou a arma das mãos do inimigo com um golpe, e depois estocou-o direto na garganta, arrancando a vida daquele homem em um piscar de olhos.

Akame estocou, cortou e fatiou, e logo todo o convés a sua volta estava coberto de sangue, membros decepados, dejetos humanos, armas quebradas e cadáveres amaldiçoados. Akame ainda precisava atacar cada inimigo de forma precisa, porque eles podiam proteger-se de sua arma e alguns dos piratas eram habilidosos, mas Vaarys não, este lutava como um animal, e não havia arma ou armadura que pudesse conter a fúria de Nægling, que cortava metal e carne como se fosse uma coisa só.

Aquela era uma dança da morte, conduzida por Akame e Vaarys. Os piratas não esperavam que houvesse pessoas como aqueles dois na Fortaleza Esmeralda, e logo se reuniram para confronta-los.

 

Tatsumi estava em pé, com a lança de Incursio manchada de sangue até a sua mão. A armadura prata estava rubra, e ele estava à frente do cadáver de vários inimigos. Cervantes estava ao seu lado, com um corte aberto no ombro direito, mas ainda em pé e empunhando a sua arma.

-Porcos malditos- Cervantes cuspiu sangue- Corram, seus filhos de mil pais, todos tão bastardos quanto vocês!- sacou sua arma de fogo, preparou uma bala, atirou. Um pirata tombou morto- Desgraçado!

Tatsumi correu os olhos pelo convés, mas não avistou Akame ou Vaarys.

-Onde eles estão?- perguntou a ninguém em especial.

-No navio inimigo- respondeu Cervantes- Vi aqueles dois loucos correndo pelas cordas como macacos.

-Vou trás deles- disse Tatsumi, mas conteve o impulso- Está muito ferido, senhor?

-Se um ferimento desses me tirasse do combate, eu não poderia ser chamado de capitão, rapaz.

Tatsumi confirmou com a cabeça e correu em direção ao navio inimigo. Incursio lhe dava uma agilidade sobre humana, e saltar para o outro lado foi uma tarefa fácil. Encontrou o convés cheio de piratas mortos, e naquele momento, um disparo do Fortaleza esmeralda fez com que a embarcação balançasse forte. Uma dos disparos atingiu o mastro principal, que explodiu em uma centena de cacos, despencando em direção ao mar como um tronco velho. O ar fedia a pólvora e a morte, aquele cheiro, Tatsumi nunca aprendeu a conviver com ele.

Encontrou Akame e Vaarys enfrentando uma dezena de homens, que acreditou serem os últimos. Observou por um instante como aqueles dois lutavam como demônios cheios de ódio, e em como Murasame e Nægling faziam vitimas as dezenas. Mas os dois estavam cercados, e a medir pela quantidade de corpos caídos naquele lugar, deveriam estar exaustos também. Outros tripulantes do Fortaleza Esmeralda invadiam o convés, e a luta estava se dirigindo até onde Akame e Vaarys lutavam, e aos poucos, os piratas começavam a ser dominados.

Tatsumi correu na direção dos inimigos, com a lança em punho, perfurou as costas de um, em seguida, girou a arma acima da cabeça em um arco mortal, matando três homens no percurso. Notou a sombra de um sorriso no rosto de Akame quando a mesma o reconheceu em meio à batalha, e entendeu o que ela quis dizer quando apontou com os olhos para um homem acima, perto do timão.

O rapaz saltou sobre os ombros de um inimigo, derrubando-o no chão, para logo depois vê-lo ser morto por Vaarys, então, ainda no ar, encontrou seu oponente:

Era um homem corpulento, com uma longa barba ruiva e olhos negros como carvão, ele virou-se para correu ao ver seu exército sendo massacrado pelos guerreiros do galeão, e quando baixou a guarda, Tatsumi atacou.

Ergueu a lança, se concentrou, atirou-a em direção ao inimigo. A arma de Incursio atingiu-o em cheio no braço, decepando-o na altura do cotovelo. Tatsumi caiu sobre o timão, que cedeu ante seu peso, e não conseguiu manter o equilíbrio, nesse meio tempo, o capitão pirata lhe apontou uma arma de fogo, apertou o gatilho e atirou seis vezes. Os disparos ricochetearam na armadura, sem causar dano algum.

-Maldição!- gritou ele, atirando a arma desesperadamente na direção de Tatsumi e correu. Tatsumi o seguiu até o interior da embarcação. O lado de dentro estava úmido pelos danos que o barco sofreu na batalha, e vários cadáveres estavam lá, homens que foram mortos durante o ataque, a embarcação estava cheia de rombos, e mais se abriram quando os canhões da Fortaleza Esmeralda atiraram outra vez. Tatsumi cambaleou quando a parede ao seu lado explodiu, expondo a noite que caia do outro lado. O capitão pirata estava em pé, a frente de uma grande pilha de explosivos, e derramava óleo sobre eles, e quando Tatsumi se aproximou, virou-se a sorrir, com o coto sangrento envolvido na própria camisa.

-Não imaginei que tivessem portadores de Tengu naquele navio desgraçado. Malditos porcos!

-Não faça isso- disse Tatsumi- Ainda existem homens seus vivos do lado de cima.

-Cale-se, seu merdinha- grunhiu ele, apanhando um isqueiro e o ascendendo.

O homem se preparou para ascender o óleo, e Tatsumi estava apenas a uma batida de coração do adversário. A arma de Tatsumi avançou na direção dele, tão rápida quanto o bote de uma serpente, atingindo o capitão diretamente na barriga e despontando nas costas. O isqueiro caiu das mãos mortas do capitão.

Uma explosão sacudiu o oceano.

 

Akame arregalou os olhos quando metade do barco se tornou uma bola fumegante, os inimigos já haviam sido eliminados, mas faltava o capitão, e Tatsumi se encarregaria de mata-lo. O chão aos seus pés começou a ceder, e Vaarys a agarrou pelo braço e naquele momento, os homens do galeão se atiravam de volta a segurança da Fortaleza esmeralda.

-Temos que sair daqui!- gritou ele, enquanto pequenas explosões sacudiam o barco- Mestra Akame!

A explosão havia deixado Akame parcialmente surda e atordoada.

-Tatsumi... Ainda está lá!- gritou ela.

-Não há nada que possamos fazer por ele!- Vaarys puxou-a em direção ao Fortaleza Esmeralda quando sentiu a embarcação começar a se inclinar- Mestra Akame! Temos que ir!

 

Tatsumi recuou no exato momento em que o isqueiro caiu das mãos do capitão, viu a chama se ascender e engolir aquela pilha de explosivos, e naquele momento, teve a certeza de que morreria se continuasse onde estava. Atirou-se em direção a um rombo que havia na parede, aberto por um disparo de canhão, forçou seu caminho para fora, mas antes que pudesse sair completamente, a explosão o jogou para fora.

Por um momento Tatsumi sentiu o corpo cair em queda livre, e tudo estava escuro e confuso.

Foi de encontro ao mar e foi engolido pelas aguas, e logo o som da explosão ficou abafado, e ele apenas conseguiu enxergar a luz da explosão iluminar a superfície da agua. Vários escombros caíram onde ele estava, mas Tatsumi foi hábil o bastante para fugir de todos eles. Nadou por baixo do casco do navio que começava a ruir com toda a velocidade que Incursio permitia. Haviam dezenas de corpos na agua, boiando ou afundando em direção ao fundo do mar, e para Tatsumi, era como se chovessem cadáveres, e pelos olhos de Incursio, Tatsumi enxergou um imenso animal marinho devorando os corpos que desciam de encontro a escuridão do fundo do mar. Assemelhava-se a uma grande serpente, e era maior do que qualquer outro animal que Tatsumi já houvesse visto, e pela primeira vez, o raapz sentiu medo, um medo irracional do desconhecido e do que havia abaixo daquele oceano. Desviou os olhos rapidamente.

Subiu a superfície. Escalou o Fortaleza Esmeralda e quando os homens o viram se erguer das aguas, gritaram em saudação.

Tatsumi retirou o elmo, sorriu, cuspiu um pouco de agua salgada e se sentou. Akame e Vaarys estavam lá, banhados de sangue.

-Vencemos!- gritou Cervantes.

Tatsumi sorriu porque foi a primeira vitória plena que havia conseguido em toda a sua vida.



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