História Cold Rain - Idiot

Esse lugar é basicamente onde fui criado e onde eu gostaria de viver a minha vida inteira, apesar de ele ser meio... desgastado. O teto do meu quarto se é assim que devo chamar o sótão, é esquisito, parecia que iria desmoronar a qualquer momento durante seu sono, mas isso não importa, o que realmente importa é que o orfanato havia inúmeros pirralhos quando éramos crianças, porém desde que o animal do Hiro entrou, saía crianças a rodo.
 

-Oliver, está tudo bem contigo? Parece meio triste. - Dizia Hiro entrando no quarto e fechando a porta.

 

-Estou bem, Hiro. Só estou descansando meus lindos olhos. -me cobria com o meu cobertor preferido.

 

-Você quis dizer dormindo? - Sorria ele.

 

-Não.

 

Hiro me enchia o saco quando me via sozinho em algum lugar do orfanato, parecia que tinha algum problema quando me avistava solitário. Ele é típico do menino cuidador quando tínhamos a turma dos pirralhos, era o garoto mãe da turma, agora é minha mãe.

 

-Pode me dizer o que esta fazendo?

 

-Me deixe descansar...

 

-Esta um dia lindo. Porque não vamos estudar lá fora?

 

Tive que retirar meu cobertor do rosto para olhar o Hiro com cara de morte.

 

-Serio? Hoje é domingo e esta muito frio lá fora. Sinto que esta quase nevando e você me pedindo para sair da minha cama para estudar lá fora ? Não.

 

-Você é um preguiçoso, senhor Avalon.

 

-Obrigado. - Disse sarcasticamente - Você sabe se ainda há alguma chance de nós ainda sermos adotados?

 

-Então é isso que lhe incomoda? Creio que não vamos ser adotados e, o orfanato vai fechar em breve. -dizia o menino de cabelos escuros se sentando perto da minha cama e fitando o teto cheio de estrelas que brilham no escuro. - Não se preocupe com isso.

 

-Tens razão. Você é tão velho que pode ir às baladinhas, beber e criar filhos.

 

-Mantenha a postura, babaca.

 

Não sei dizer se sinto falta de algum amor paterno, até porque nunca vi ou tive um. O Hiro Kamiya é meu melhor amigo e praticamente minha família desde que ele se acidentou na balança e ele parecia um idiota chorando naquele hora.

 

-Quer sair? -Dizia o moreno parecendo entediado.

 

-Se for para estud- ele me interrompia.

 

-Para se divertir na "baladinha" eu digo

 

-Você não é de dizer essas coisas. Quem te possuiu? -Olhava para ele assustado

 

-Ninguém. - Ele se levantava e começava a pegar suas roupas para se trocar no banheiro

 

Peguei minhas melhores roupas e me troquei no quarto mesmo. Não havia nada do que esconder do orfanato.

 

-Talvez seu lado divertido esteja se libertando igual uma borboleta, Kamiya.

 

-Cale a boca – Ouvia-o sussurrando no corredor.

 

Minha melhor roupa foi um colete preto, uma gravata vermelha, camisa social, jeans preto e meu cachecol azul e verde, meu cabelo só precisava ser ajeitado para a franja ficar um pouco no meio do rosto para ficar “cool”.

 

-Pego todas hoje. - me olhava no espelho ajeitando minhas mechas negras

 

-Só que não.

 

-Você só esta com invej-Olhei para o Hiro com aquela blusa vermelha que deixa exposto toda a sua clavícula e sua calça jeans apertada.

 

-Inveja? Oi? -ele dava uma pequena risada.

 

-Esta parecendo um viado. Alias, você cortou seu cabelo sem me avisar?

 

-Não ficou bom esse corte?

 

-Creio que você repicou muito em cima.

 

-Que droga. -Resmungava

 

Nós saímos naquela noite fria e esperamos no ponto de ônibus para irmos a balada.Entrei no ônibus e olhei pela janela a linda cena e tirei uma foto.

 

-Vai tirar foto novamente disso? -Perguntava Hiro

 

-Obvio, esta lindo o céu e as plantações.

 

-Acho que depois que você voltar da balada vai entrar no computador, editar essas fotos de merda, colocar um monte de frufru de Tumblr e postar lá mesmo. - disse ele mexendo no celular

 

-Você só esta com inveja da minha câmera profissional. -Disse dando risada

 

Chegando ao nosso ponto, descemos e vimos luzes e ouvimos musica alta, são essas características que foram definidas pelos nossos sentidos antes de entrar no ambiente. Provavelmente seria divertido ficar lá e descarregarmos toda a carga escolar que conseguimos durante a semana. Ainda bem que não havia nenhum guardinha na porta do estabelecimento, se não provavelmente eu seria barrado. Muitos me confundem com uma criança, mas não sou uma.

 

Quando entramos Hiro disse tomar cuidado com as bebidas e me deu uma embalagem quadrada e parecia que havia um circulo no meio....creio que não vou precisar disto agora, mas mesmo assim agradeci e ele foi curtir . A música era contagiante e eu me sentia ridículo com aquelas roupas... acho que não deveria me preocupar com minhas vestimentas quando eu seguia com meus olhos o Hiro, ele já estava com várias pessoas a sua cola, era normal ele se dar bem nesse tipo de lugar, até porque já frequenta há tanto tempo.

 

-Quer uma bebida ? - Perguntava a balconista me fitando maliciosamente.

 

-Não, obrigado. - Disse envergonhado

 

-Parece tenso, querido. Já frequentou esse lugar ou é a primeira vez?

 

-Já frequentei aqui algumas vezes. - Dizia sentando na cadeira.

 

-Você bebe?

 

-Algumas vezes, quase nunca.

 

 Não conseguia parar de olhar para Kamiya. Sentia-me um pouco incomodado ao ver ele com seus amigos de trabalho, escola e ex-namoradas tudo ao seu redor e ao mesmo tempo. Até que um ruivo sentou do meu lado no balcão e me olhou gentilmente.

 

-Tudo bem garotinho? Essa puta esta lhe incomodando?  -Dizia ele rindo.

 

-Depois eu te recuso bebida e não sabe o porquê, né? Aoshi.- falava ela com raiva .

 

-Você não pode me recusar nada, Monna. E então ele é seu novo amiguinho? - o ruivo dizia apontando para mim

 

-Acabei de conhecer ele, não é uma gracinha?- Ela dizia preparando uma bebida

 

-Cuidado com essa mulher, essa dai não presta. – ele dizia no meu ouvido.

 

-Eu ouvi isso, idiota. -ela colocava a bebida no balcão em direção ao ruivo

 

-Obrigado. -ele pegava a bebida e olhava para mim enquanto a Monna iria servir outro cliente – Eu vi para quem estava olhando.

 

-O que? Quem? - Eu dizia assustado

 

-Você estava olhando para o brilhante Hiro, o cara que trabalha aqui faz um tempo como balconista. Eu já o namorei.

 

-Eu o conheço. - Dizia sério

 

-Esta vigiando o menino? Ele já é quase idoso para esse tipo de coisa, ou ele te abandonou?

 

-Na verdade eu que dei a ideia de vir-

 

-Tanto faz. Vamos para o terraço trocar umas ideias. Aqui esta muito barulhento  - Ele falava com um tom animado me puxando pelos pulsos.

 

O céu estava limpo e dava para ver muitas estrelas no terraço. O ruivo se sentou e indicou igual um cão para que eu me sentasse do lado dele, eu obedeci.

 

-Qual é seu nome garoto de mechas escuras?

 

-Oliver, Oliver Avalon.

 

-Prazer Oliver, eu sou Aoshi Kaneko. -Dizia ele sorrindo – o Hiro fala muito sobre você .

 

-Tanto faz. -Bufava

 

-E então o que você gostaria de ser no futuro menino?

 

-Eu gostaria de ser seu namorado.

 

-Não tem graça, Oliver. Diz isso porque ficou bravo com Hiro?

 

-Um pouco. -Dizia ajeitando meu cachecol.

 

-Você não sabia que ele te escondia alguns segredos?

 

-Apenas duvidei, até porque ele sempre saía várias vezes sem me avisar.

 

-Então você ficou na mesma situação que a minha quando namorava ele. Eu sempre duvidava do que ele fazia, mas era para o meu bem...eu acho.

 

Eu não conseguia arranjar algum assunto com ele, estava bravo de mais com Hiro e estava frio no terraço. Eu deveria beber um pouco para me esquentar.

 

-Posso? -Perguntava apontando para a garrafa.

 

-Pode. - ele ria - Primeiro devemos nos conhecer, certo? Qual a sua idade?

 

-Eu tenho dezessete anos. E você?

 

Tomei um susto quando ele se engasgou com a bebida.

 

-Você é tão novo assim?!  Eu tenho vinte e sete.

 

-Mentira! Parece que tem minha idade. E alias, não sou tão novo e você não é tão velho.

 

A bebida me esquentava, comecei a relaxar e conversar muito mais com o ruivo. Tive conversas das mais estupidas até as mais normais, ou seja, do cotidiano.

 

-Espero que quando terminarmos essa garrafa eu consiga me levantar – Dizia rindo quase derrubando as outras garrafas.

 

-Você é tão tolerante ao álcool e ainda diz essas coisas? Preciso tirar foto de sua pessoa agora, estás muito engraçado. - Eu pegava minha câmera, olhava com calma no visor e fazia os ajustes para focar nas feições de Aoshi , quando consegui ele estava olhando para a minha direção e seu sorriso estava tão iluminado que ascendeu um sorriso em mim também , e então eu disparei a foto. - Droga, saiu com o flash.

 

-É eu vi. Quase morri. - Dizia ele dando goles na garrafa de bebida alcoólica.

 

-Mais uma. -Levantei a câmera em direção aos meus olhos novamente e lá estava ele se preparando para tirar mais uma foto ridícula de bêbados com o sinal de paz em seus dedos. Ajustei a câmera para que não tirasse com flash e assim foi. - Agora sim.

 

-Deixe me ver! - Falava o ruivo indo em direção ao menor e admirando a foto ridícula. - Nunca me senti tão cool na minha vida.

 

-Ah, claro. Depois eu vou postar nas redes sociais e lhe marcar como o Sr.Cool. - Dizia guardando a câmera na minha bolsa verde e checando meu celular com quase cinquenta mensagens de flood só do Hiro.

 

"Onde você esta ? " - 22:12

"Esqueci-me de lhe avisar que o ônibus não trabalham 24h aqui... e para estar na porta do estabelecimento as 00:00" - 22:37

"Eu lhe esperarei para na porta para irmos embora."- 23:01

 

Avisto o relógio do celular e vejo que ainda dá tempo para terminar a garrafa e conversar mais um pouco.

 

"Estou com um amigo no terraço, não estdasf "

 

-Sai desse celular ! - Dizia o menino metendo o dedo na tela do meu smarthphone me fazendo digitar tudo errado.

 

-Sai desgraça! -Desviava as dedadas dele do meu celular e continuava a digitar. - Já estou acabando de digitar.

 

-Você é muito estressado para alguém de quinze anos. -Dizia ele se aproximando de mim, provavelmente para cutucar meu celular.

 

-Não tenho quinze anos. -Digitei tudo o que precisava e coloquei meu celular na bolsa, quando eu me deparei estava próximo ao Aoshi e ele curtia o momento vendo as estrelas.

 

-Ele ainda comenta de mim? - Ele me perguntava com uma tonalidade triste.

 

-Não. - Eu me virava para olhar para ele e sentia o cheiro da mistura do perfume e álcool . Não era um cheiro ruim, pelo contrário, era um cheiro que me fazia lembrar quando estava lavando as roupas do Hiro. - Não se lembra de que ele nunca me contou sobre você?

 

-Não.

 

Eu acho que comentar do Hiro mexeu com a cabeça do Aoshi .

 

Eu escuto o celular apitar novamente e vejo que é a mensagem da "mamãe".

 

"Com quem?" - 23:07

"Com o Aoshi." - 23:08

 

-Você poderia me desculpar? - Dizia o menino com a blusa preta

 

-Sobre? –Perguntava deixando meu celular de lado.

 

Eu olhei para ele e senti seus lábios no meu, tentei me afastar, só que ele me abraçava gentilmente com um de seus braços que me fazia intensificar o beijo. Sentia meu coração disparar tão forte que nunca havia sentido tamanha sensação, nem na montanha-russa. Estava com tanta vergonha que queria me livrar dele o mais rápido possível, não sei por que, mas era esquisita essa sensação. Ele introduzia sua língua na minha boca e senti por alguns segundos o gosto forte das bebidas que ele havia tomado, me assustei e engasguei quebrando o beijo.

O clima estava tenso e não conseguia parar de tossir. Ouvi passos de alguém subindo e abrindo a porta do terraço com força, era o Hiro. Eu me perguntava a cada minuto porque estava acontecendo isso exatamente hoje e do por que meu irmão parecia tão... nervoso?

 

-Vamos. - O menino de cabelo azulado me dizia friamente.

 

-Mas ainda não deu o horár-

 

-Não quero saber. - Dizia ele me puxando bruscamente pelos pulsos.

 

Acabei indo com o meu irmão sem me despedir do ruivo e quase deixando minha bolsa. Ele começava a descer as escadas apertando cada vez mais meu pulso, no final quase correndo e esbarrando na multidão que parecia infinita sobre aquela musica que parecia fazer tudo isso muito frustrante.

 

Esperamos no ponto e voltamos para o orfanato sem dizer uma única palavra, até eu questiona-lo.

 

-Qual é o seu problema? - Perguntei olhando nos olhos dele

 

-Nada - Dizia calmo.

 

-Então você acha que aquilo foi simplesmente normal? Agarrar-me com tanta força e me fazer correr aquele jeito quas-

 

-Não quero brigar. Só não se meta com aquele idiota.

 

-Por quê?

 

-Não lhe devo satisfações.

 

Detestava brigar com ele, não havia mais nada que eu poderia fazer a não ser ficar quieto no meu canto, mas decidi investigar mais.

 

-Ele é muito bonito. - falava me despindo.

 

-Você é mais.

 

-Por que você não me disse namorou ele? -Me deitava na cama com o meu pijama e olhava para os pisca-piscas

 

-Irrelevante. - Dizia ele se sentando na cama.

 

-Se somos irmãos poderia me dizer algo a seu respeito que você disse a ninguém?

 

-Eu cortei muito meu cabelo.

 

-Para de desviar do assunto. - me sentava e olhava para ele fixamente.

 

-Que assunto ?

 

-Porra, você esta me deixando muito irritado. - Dizia jogando o travesseiro nele.

 

-Não quero falar sobre isso. -Ele sorria.

 

‘Dane-se.’

 

Peguei meu celular e fui procurar o nome do cara ruivo nas redes sociais. Acabei achando ele com uma foto de perfil horrível, nem parecia ele para falar a verdade. Adicionei-o e ele havia me adicionado no mesmo instante.

 

"Olá. Se assustou com a situação?" - 00:40

 

"Um pouco. Fez isso para irritar meu irmão? Se for conseguiu" - 00:40

 

"Nunca. Mas bem que eu gostei de ver ele novamente no Started, faz tempo que ele não visita o povo lá" - 00:42

 

"Que aleatoriedade. E então você poderia me contar o que houve entre vocês? " - 00:43

 

"Algum dia. E gostou pelo beijo surpresa? :9" - 00:43

 

Meu rosto esquentou e fitei a ultima mensagem dele.

 

“Vou lhe denunciar.” – 00:44

 

Deixei meu celular de lado e fui dar uma olhada na minha câmera que estava com a bateria baixa e me lembrei de que havia tirado uma imagem do Aoshi. Olhei a foto e dei risada.

 

-Idiota.