Chegamos no hospital rápido demais. Zayn dirigiu como um louco, mesmo sob meus protestos, mas ele parecia em outro mundo. Assim que chegamos, ele saiu do carro sem ao menos o desligar e correu para dentro. Suspirei e desliguei o carro, peguei a chave e sai o travando. Entrei e andei um pouco o encontrando aos prantos, abraçado com o irmão. Falei com uma enfermeira sobre as informações e ela disse o pai havia morrido na hora, a mãe estava internada.
Sentei um pouco depois e logo eles sentaram a meu lado. Aziz dormiu com a cabeça em meu ombro e Zayn ficou andando de um lado pro outro, praticamente arrancando os cabelos. Esperávamos alguma noticia da mãe dele, que passava por uma cirurgia. Pelo que entendemos, um caminhão avançou o sinal e pegou o carro em cheio, sendo o pai o mais atingido.
- Zayn, senta. – pedi.
- Não consigo. – disse parando e respirando fundo – Isso só pode ser um pesadelo.
Não falei nada. Eu não era boa em reconfortas as pessoas.
Ficamos naquele silencio ensurdecedor. Eu não sabia como agir, como o confortar realmente, apenas pedia que ele sentasse de vez em quando, pois ele andando estava me deixando nervosa. Quando finalmente o fez, acariciei sua cabeça e ele a colocou sobre meu ombro e soluçou. Afastei o irmão dele com cuidado e abracei Zayn, que me apertou com força, então minhas lágrimas vieram, finalmente a dor se fazendo notar em mim. Perder o pai dele era como perder meu pai também, e somente agora isso pareceu fazer sentido.
Pouco depois uma enfermeira veio nos avisar que a mãe deles estava fora de perigo e estava em observação. Os dois pareceram mais aliviados e até consegui convencer Aziz a ir para casa e descansar um pouco. Queria que Zayn fizesse o mesmo, mas ele estava irredutível, então apenas me restou ficar ao seu lado.
Perdi a noção do tempo e me vi acordando sentada na cadeira da sala de espera. Zayn estava ao meu lado, também cochilando. Passei a mão rosto e ele que espertou assustado.
- O que houve? – perguntou me olhando.
- Nada, apenas acordei. – me espreguicei e levantei – Vou atrás de algo para comer, quer ir comigo?
Ele negou com a cabeça. Assenti e fui comprar algo. Pedi cafés fortes e sanduiche, mesmo que ele não quisesse, eu forçaria por sua garganta, ele precisava comer algo. Quando retornei, ele conversava com uma enfermeira e um policial. Me aproximei ouvindo parte da conversa. Lhe entreguei o café e ele deu um gole, cansado demais. Assim que a enfermeira e policial saíram, ele sentou com um suspiro pesado.
- Querem que eu organize logo o velório do meu pai. – disse ele.
- Os ouvi dizendo... – dei um gole no meu café – Quer que eu ligue pra minha mãe? Ela pode ajudar nisso.
- Não. – ele fechou os olhos com força por um instante – Irei resolver tudo.
Lhe estendi o sanduíche e ele apenas o olhou.
- Você precisa comer, Zayn. – falei insistindo.
- Não estou com fome.
- Mas precisa.
Ele suspirou e pegou o sanduíche, deu uma mordida e mastigou mecanicamente, os olhos perdidos no chão do hospital. Comecei a comer meu sanduiche também e ficamos calados.
Pouco depois seu irmão chegou, seguimos para resolver as coisas do velório e somente depois, consegui o convencer a ir em casa para pelo menos tomar um banho. O pai dele seria cremado, eles não tinham família ali, e ele apostava que a mãe iria querer levar o marido pra Inglaterra, e como não sabíamos quanto tempo levaria para ela se recuperar, então Zayn decidiu pela cremação.
O levei para minha casa. Minha mãe estava ali, e nos abraçou quando entramos. Desejou pêsames a Zayn, mas ele apenas ficou olhando o nada. Falei pra ele subir e ir tomando banho que depois subia, o que ele fez sem questionar.
- Ele está abatido demais. – disse mamãe assim que ele subiu.
- O pai dele era tudo pra ele. – fiquei olhando para onde ele sumiu na escada e depois a olhei – Não sei como o consolar, mãe. E isso me devasta.
Senti a garganta fechar e os olhos arderem. Ela me abraçou apertado e percebi que ela também se emocionava, pois sua voz estava embargada quando falou.
- Isso é muito difícil, mas você apenas precisa estar ao lado dele. Zayn precisa lembrar que há você, a mãe e o irmão ao lado dele. Assim ele ira se acostumar com a dor.
Apertei ela por um instante e então a soltei.
- Irei fazer isso mesmo. – funguei e limpei uma lagrima fujona – Vou subir e tomar um banho também.
- Tudo bem. Vou preparar um chá e biscoitos pra vocês.
Assenti e ela seguiu pra cozinha enquanto eu subia para o quarto. Ouvi o barulho do chuveiro e vi as roupas de Zayn no chão. Juntei tudo e desci colocando para lavar e secar, então subi novamente e ele permanecia no chuveiro. Fui até a porta e ouvi um soluço. Minha garganta fechou novamente e mordi o lábio. Entrei de vez no banheiro e retirei minha roupa, entrando no box e o abraçando por trás.
Zayn chorou mais e eu o apertei de leve e o acalentei, a água molhando a nós dois e abafando nosso choro, pois eu também chorava. Depois de um tempo ele virou e me abraçou apertando e pressionou o lábio no meu com força. Me segurei nele e deixei que me beijasse dessa forma.
- Nunca me deixa. – pediu mal separando nossos lábios.
- Jamais te deixaria. Eu te amo. – acariciei seu rosto.
- Também te amo.
Ele me beijou novamente e ficamos assim por uns momentos, até eu começar a ensaboar ele devagar, decorando cada detalhe da sua pele morena, e sentindo ele relaxar. Ele fez o mesmo em mim e por fim saímos do banho, colocando roupões e descemos para tomar o chá que mamãe fez. Somente assim Zayn parecia menos abatido. Mas eu sabia que nada seria tão fácil assim.
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