História Como A Luz No Mar - Paz?

O tempo em família acabou tirando os problemas de Sasuke dos holofotes, pelo que ele era realmente grato. O resto da manhã e o almoço consistiram em conversas sobre como estava indo a vida de Itachi. Fugaku e, principalmente, Mikoto faziam uma pergunta atrás da outra para o filho mais velho que, sabendo que seu irmão não gostaria de manter uma conversa naquele momento, se ateu a respondê-las sem grandes objeções.

Agora já de barriga cheia, Sasuke se levantava da poltrona da sala, onde Itachi contava aos pais alguma coisa sobre uma TV quebrada em seu quarto, e se dirigia à grande porta de vidro que dava acesso a um deck de madeira.

Só quando pisou do lado de fora foi que realmente se deu conta de onde a casa se encontrava. A brisa do mar de repente lhe cercava enquanto seus olhos apreciavam cada parte daquela longa extensão de areia e mar. Com a luz do sol a banhando, a praia parecia sorrir para ele, convidando-o a se aproximar.

E foi isso que ele fez. Tirando seus sapatos e deixando-os de lado, Sasuke se pôs a andar pela areia morna, sentindo como se, pela primeira vez em muito tempo, pudesse respirar de verdade.

O problema é que sua paz não durou muito, pois de repente ele ouviu uma voz gritando.

— Naruto Uzumaki! Faça o favor de voltar aqui, você precisa comer, menino!

Olhando para a fonte do barulho, Sasuke percebeu que agora se encontrava diante da casa ao lado onde, de um deck de madeira como o de seu irmão, uma mulher gritava sem o menor esforço. Seus cabelos vermelhos e longos voavam conforme o vento lhes esvoaçavam e, apesar de toda a gritaria, Sasuke se viu sorrindo ao ver que ela balançava uma espátula na mão, parecendo apontá-la para alguém atrás dele. 

Sasuke já ia se virando para ver com quem a moça falava quando sentiu alguma coisa se chocando contra seu ombro, fazendo com que quase perdesse o equilíbrio e caísse na areia fofa.

— Ai, caramba! – Uma voz masculina exclamou a seu lado. – Me desculpa, você está...

A pessoa falava, mas Sasuke já não a ouvia mais. Seus olhos pareciam querer focar toda sua atenção naquela cena à sua frente.

Gotas de água salgada escorriam pela pele bronzeada de um corpo torneado. Fazendo seus caminhos por todos os lugares certos, cada gota parecia dar um brilho especial à pele, contornando cada músculo definido. Sasuke se viu perdido naquele momento, até que uma mão em seu ombro finalmente o tirou de seus devaneios.

— ... se você está bem – a voz dizia novamente e, só então, Sasuke se forçou a olhar para o rosto de quem estava falando, quase se perdendo novamente ao fitar olhos extremamente azuis.

— Hm, eu... s-sim – ele disse, ainda meio confuso.

— Ah, que bom. Por um momento achei que tinha te quebrado.

O garoto agora ria, passando a mão em seus cabelos loiros, de onde gotas de raio de sol pareciam cair.

O que está acontecendo comigo?, Sasuke se perguntava ao pensar em como não conseguia tirar os olhos do loiro.

— Espera, você se parece com Itachi. Por acaso é você o irmão caçula que ia chegar hoje? – ele perguntou, levantando uma sobrancelha.

— Sou – Sasuke assentiu, tentando se recompor.

— É bom finalmente te conhecer, Itachi já me falou muito de você – o sorriso estampado em seu rosto parecia poder cegar alguém. – Prazer, eu sou Naruto.

— Sasuke – ele assentiu, apertando a mão do garoto.

— Naruto! Quantas vezes eu vou ter que te chamar? – a voz da mulher que gritara anteriormente se fez presente e Sasuke virou para olhá-la de novo. Ela não parecia dispor de muita paciência no momento.

— Estou indo, mulher, não precisa gritar tanto! – Naruto gritou de volta, para logo depois voltar-se para Sasuke, com um sorriso nos lábios. – Bom, a gente se vê depois. Tenho que ir antes que minha mãe resolva vir me puxar pelo cabelo.

E com um aceno de mãos, Naruto saiu correndo em direção à casa.

Forçando-se para não observar seu novo vizinho enquanto ele corria, Sasuke se virou e voltou para sua família.

                                                    ...

As horas passavam e Sasuke continuava deitado na espreguiçadeira, aproveitando a paz que ele tanto quisera nos últimos meses. Sua paz, no entanto, era perturbada a cada poucos minutos quando Sasuke se lembrava do modo como agira na frente de Naruto. Não que ele se sentisse constrangido por ter admirado um garoto, muito pelo contrário. O que ele não aceitava era a maneira como havia perdido a noção de tudo ao seu redor só por causa de um rato de praia, com aquele corpo bronzeado e os profundos olhos azuis.

Suspirando, ele tentava, em vão, esvaziar sua mente. Por sorte, nesse momento, a campainha tocou e, por impulso, ele se levantou para atender a porta, mas antes que pudesse atravessar as salas de estar e de jantar viu que seu irmão chegara primeiro.

— Itachi, querido, boa tarde! – Sasuke reconheceu a voz. Era a mesma que ele ouvira gritando horas atrás.

Ele parou antes que pudesse ter visão de quem se encontrava ainda do lado de fora, tentando normalizar sua respiração, que de repente ficara pesada.

— Fiquei sabendo que seus pais vieram lhe visitar hoje. Queria aproveitar para vê-los, já que nunca se dão ao trabalho de aparecer para dar um oi — a mulher dizia novamente, com um tom brincalhão.

— Boa tarde, Kushina... – Itachi começou a falar.

Sem ouvir o resto, Sasuke seguiu para a cozinha, vendo seu pai em pé encostado na bancada e sua mãe sentada em um dos bancos que cercavam o balcão. Ambos conversavam enquanto seguravam xícaras, do que parecia ser chá, nas mãos.

— Como está a praia filho? – Mikoto o perguntou, assim que o viu.

— Normal. Com bastante areia, sabe? – ele respondeu distraído, sentando-se, arrancando uma pequena risada da mulher.

Nesse momento, uma nova pessoa adentrou o cômodo.

— Aí estão vocês! – Os cabelos vermelhos eram inconfundíveis. A mulher, Kushina, mostrava uma expressão alegre ao se fazer presente na cozinha, fazendo Mikoto logo se levantar e a envolver em um abraço. – Não acredito que não me avisaram que haviam chegado. Acham que não me devem mais satisfação agora que endireitei este filho rebelde de vocês.

O seu tom de brincadeira parecia contagiar todos na sala, já que até Fugaku exibia um sorriso em seus lábios, que normalmente pareciam não saber como realizar aquela pequena ação.

Sasuke estava surpreso. O que só piorou quando percebeu que sua mãe se movimentava para cumprimentar quem vinha atrás de Kushina. Naruto se encontrava de pé ali, em sua cozinha, também arrancando sorrisos de seus pais. Ao seu lado estava uma garota.

Ela era novidade, e Sasuke se pegou analisando-a. Tinha longos cabelos pretos e brilhosos, seus olhos lhe davam a impressão de serem quase brancos de tão cristalinos que eram.

Ela era linda, ele tinha de admitir.

— Então quer dizer que esse é o famoso Sasuke? – Kushina o olhava com um brilho nos olhos.

— O próprio – Itachi respondeu, sorrindo.

— É um prazer, querido. Sou Kushina – ela lhe cumprimentou com um beijo na bochecha, pegando-o de surpresa, outra vez. – Acredito que seus pais não tenham lhe falado sobre mim. Típico.

Ela lhes lançou um falso olhar de reprovação, o que apenas os fez revirar os olhos.

— Este é meu filho, Naruto, e esta é Hinata, nossa vizinha. – Apontou para os dois adolescentes ao seu lado.

— Já nos conhecemos mãe – Naruto sorriu, olhando para Sasuke, que agradeceu à blusa laranja, que o loiro agora vestia, por estar ali. – Esbarrei com ele na praia mais cedo.

— É mesmo, Sasuke? Ele não te causou nenhum problema, espero – Kushina lançou um olhar, repreendendo o filho.

— Mãe... – Naruto suspirou.

— Não, ele não me causou nenhum problema – Sasuke sorriu, finalmente entrando na conversa.

— Ah, que garoto gentil!

Assim, os adultos engajaram em alguma conversa que Sasuke não se deu ao trabalho de prestar atenção.

— Então, Sasuke... – era Naruto que vinha se debruçar sobre o balcão, puxando assunto. – Como você deve saber, amanhã é nosso último dia de férias...

— Infelizmente – Sasuke suspirou, cortando-o. – Só queria não ter passado minhas férias inteiras trancado dentro de casa.

— Por que passou suas férias trancado em casa? – Naruto perguntou, levantando as sobrancelhas.

— Naruto! Não seja rude – Hinata o interrompeu. Sua voz parecia uma melodia. – O que ele estava querendo dizer é que amanhã vamos fazer uma última fogueira antes das aulas começarem, e queremos que se sinta a vontade para aparecer por lá.

— Fazer fogueiras é uma atividade comum por aqui? – Sasuke fez ambos rirem.

— Bastante – Naruto assentiu.

— Bom, se não estiver muito ocupado amanhã... talvez eu vá.

— Ah – a expressão alegre no rosto do loiro de repente sumiu. Sasuke sentiu uma estranha sensação no estômago ao assistir àquilo.

— Não faça essa cara, Naruto. Ele está sendo irônico - Hinata revirou os olhos.

A risada do loiro invadiu o cômodo. Ela era bem alta, e Sasuke percebeu que não se incomodava nem um pouco com aquele detalhe.

                                                 ...

— Você sabe que não estamos fazendo isso por mau, não é, filho?

— Sim, mãe, eu só queria que acreditassem em mim quando digo que tudo não passou de um mal entendido.

— Já conversamos sobre isso, meu filho – a voz imponente de Fugaku deu a conversa por encerrada.

Sasuke suspirou. Não tinha como discutir.

Seus vizinhos já haviam ido para suas casas, as malas de Sasuke já tinham sido carregadas até seu novo quarto e agora era a vez de seus pais se despedirem. Sendo o homem sério que era, Fugaku apertou a mão dos filhos e se dirigiu até a carro.

— Por favor, cuidem um do outro – Mikoto beijou as testas dos garotos e também se foi.

— Agora somos só nós dois, irmãozinho - Itachi falou orgulhoso, colocando o braço sob os ombros de Sasuke.

— Não que isso seja uma coisa boa – ele debochou, revirando os olhos.

— Ah, é mesmo?

Itachi o prendeu pelo pescoço, fazendo Sasuke lutar para se desvencilhar enquanto ambos entravam em casa, rindo.