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História Como eu era antes de você - (Hot Version) - Segunda Temporada - Capítulo 4


Escrita por: geezerfanfics

Capítulo 35 - Segunda Temporada - Capítulo 4


William está magnifico, como sempre, em um de seus ternos para trabalhar. Seus olhos estão me observando com atenção. O braço esquerdo está descansando no escoro da cadeira e as pernas estão cruzadas, o tornozelo sobre o joelho. Está usando meias pretas. O cotovelo direito está apoiado na cadeira e a mão abaixo do queixo, passando o dedo indicador pelo lábio inferior. Não consigo saber qual a sua expressão, talvez seja por causa do escuro, mas ele parece... Impassível. O que? Ele está mesmo aqui ou eu estou sonhando? Pisco, erguendo o corpo para sentar-se sobre a cama e esfrego os olhos fervorosamente com as mãos. Olho novamente para o meu lado da cama. Ele continua ali, parado, apenas me observando com uma seriedade nunca vista antes.

— Oi. — Murmuro.

Ele ergue as sobrancelhas quando escuta a minha voz. E mesmo tentando, ele deixa escapar um ar de saudade nos olhos.

— Oi.

Ah! Essa voz. Em uma única palavra dita por ele, tão simples, meu coração dispara. Ele está mesmo aqui. Senti tanta falta desse homem.

— Há quanto tempo está aqui?

— Tempo suficiente.

Inclinei a cabeça para o lado, como ele sempre faz, e tentei entender o que estava acontecendo.

Arregalei os olhos.

— Você está... Zangado?

Ele apenas concordou com a cabeça.

— Por que?

— Porque você fugiu de mim.

Ao falar isso a voz dele soou mais chateada do que eu imaginei. Fiquei olhando para ele; aquele rosto encantador e que parecia ter sido desenhado e moldado milimetricamente por mãos muito hábeis estava me fitando atento, como se tivesse tentando descobrir qualquer coisa através do meu olhar. Seus olhos azuis cinzentos me aqueciam e só agora eu pude perceber o quanto realmente sentia falta disso. Como eu sobrevivi todos esses dias sem ele?

 — Me desculpe, Will.

Ele continuou em silêncio.

Eu não consegui dizer nada, além disso. O que eu poderia dizer a ele? Eu fugi dele, tirei a oportunidade de proteger-me e agora estou aqui, ferida, me perguntando se eu estivesse sob sua segurança em Londres isso teria acontecido.

— Me desculpe por ter deixado você.

Will continuou em silêncio. Ele está mesmo zangado. Me encolhi sobre a cama desejando apenas beijá-lo, mas eu não poderia fazer isso. Senti uma dor súbita no meu rosto... Meu remédio. Preciso dele. Mas preciso mais de Will.

— Como você sabia que eu estava aqui? — Pergunto, tentando outra estratégia de fazê-lo falar.

— Eu já estava vindo para cá quando sua mãe me ligou.

Arregalei os olhos.

— Ela ligou para você?

— Sim, claro. Quando você sumiu. Pensou que estávamos juntos. Mas eu já estava à caminho.

— Como sabia onde eu estava?

— Invadi o celular da sua irmã.

O que?

— Sinto muito. — Ele disse imediatamente, lendo meu rosto, imagino. — Mas eu precisava descobrir seu paradeiro.

— Quem fez isso para você?

— O que?

— Quem invadiu o telefone da minha irmã.

As bochechas dele ficaram vermelhas. Afinal de contas, ele está zangado ainda ou não? A inconstância em seu humor, lá do inicio, voltou.

— Nathan. Eu fui até o Hospital, levei o notebook do escritório e ele fez tudo o que precisava.

— Nathan é detetive também?

Eu não duvidaria.

— Não, mas ele é um expert em tudo o que diz sobre segurança e investigação. — Will passou as duas mãos no cabelo. — Ele rastreou a última ligação de vocês. E então descobri o endereço.

— E quando você chegou...

A minha voz falhou. Abaixei a cabeça e fitei meus dedos entrelaçados em cima das pernas.

— Cheguei aqui há algumas horas. — Revelou. — Mas não tive coragem de entrar.

Ergui o rosto para ele. Parecia estar falando sério, de verdade. Fiquei o observando por detrás dos cílios.

Eu sou completamente apaixonada por este homem.

— Achei que vê-la dormindo seria a melhor opção.

Um suspiro saiu da minha boca.

— Eu queria proteger você. — Falei de repente.

As palavras saíram antes mesmo de conseguir pensar melhor. Will me olhou, confuso, e depois inclinou a cabeça para o lado tentando entender. Ah, olha para este rosto! Ele é tão lindo. Como eu não iria querer me assegurar de que tudo ficaria bem com ele? Sua inocência às vezes me faz adorá-lo ainda mais.

— Patrick estava atrás de mim, não de você. — Murmuro e então ele levanta as sobrancelhas quando entendeu. — Eu não poderia deixar que nada de mal acontecesse com você, Will...

— Você sabe que eu não preciso de proteção.

Mas Nathan me disse que precisava, sim.

— Sei que iria me defender caso alguma coisa acontecesse. E eu admiro muito isso em você, de verdade. Mas não suportaria a ideia de vê-lo pular na minha frente se Patrick disparasse a bala.

Ele não disse nada. Fiquei olhando para seu rosto, ainda impassível. Quer saber? Dane-se. Me levantei da cama, ignorando a dor insistente em meu rosto e fui até ele. Não esperei que ele falasse alguma coisa. Apenas sentei-me em seu colo e aninhei-me ali. Percebi que o peguei de surpresa. Inspirei profundamente sentindo aquele perfume divino. Ah, como eu sentia falta disso. Colei a orelha do lado esquerdo de seu peito e sorri, mesmo sabendo que ele não me via. É aliviante ver que ele está bem. Cobri seu pescoço com os braços e me aconcheguei em seu colo e permaneci de olhos fechados até sentir meu corpo relaxar sobre o dele.

— Eu faria qualquer coisa por você, Louisa. — Ele disse de repente e beijou meu cabelo. — Sou louco por você... Tão louco que me jogaria, sim, em sua frente para a bala machucar a mim e não a você.

Abri os olhos. Minhas duvidas foram confirmadas. Will iria mesmo se sacrificar por mim caso isso fosse necessário. Ergui o rosto para ele.  Então, neste instante, não senti mais arrependimento e nem culpa por ter saído hoje à tarde. Se ele estivesse comigo, talvez Patrick mostrasse o revólver. E saber que eu fui a única vitima disso era triste, mas, ao mesmo tempo, era reconfortante também.

— Se não fosse para protegê-lo eu jamais teria ido embora. — Murmurei. — Foi a coisa mais difícil que já fiz na vida.

Ele finalmente sorri de canto, daquele jeito que acredito que é reservado especialmente para mim, e segura meu rosto com uma das mãos, acariciando minha bochecha com o polegar. Pareceu de repente muito aliviado. Será que ele realmente pensou que eu o deixei porque não o amava mais?

— Pensei que eu nunca mais iria vê-la, Clark. — Sussurrou. Notei, com surpresa, que a sua voz estava embargada.

 Caramba, ele me ama mesmo. Seus olhos ficaram marejados de repente. Então ele abaixa a cabeça e puxa minhas mãos para a boca dele e começa a entregar beijos leves nos nós dos meus dedos, tomando um cuidado excessivo para não me machucar.

— Não está mais zangado?

Ele sorri contra a minha mão.

— Ainda não sei, Clark.

Ah, a forma como ele me chama... Meu Deus, esse sotaque. Fiquei com vontade de esmaga-lo num abraço, mas me contive. 

 

— É muito cedo e você dormiu pouco. — Ele diz infelizmente me trazendo para a realidade. — Volte a dormir.

Então ele se levanta e por mais que tentasse estar sendo frio, me coloca de pé com uma delicadeza excessiva.

— Deite-se.

Fiz o que ele mandou. Deitei sobre a cama e colei a cabeça no travesseiro e fiquei o observando de pé ao meu lado.

— Você não vai dormir comigo?

Ele balança a cabeça negativamente. Olha para a porta e, quando fez menção de sair dali, estiquei o braço e segurei o cós da calça dele, a única coisa que eu alcancei em meio ao desespero repentino.

— O que foi?

— Não me deixe sozinha, Will. Por favor.

E então, pela primeira vez, seus olhos se suavizaram. E o rosto deixou de ser impassível para ser doce. Meu Will voltou. Ele sentou-se e o colchão afundou.

— Eu nunca vou deixar você sozinha, amor.

Amor. E foi com esta simples palavra que meu coração relaxou pela primeira vez nas últimas horas. Fechei os olhos e dormi com a mão sobre a perna dele confirmando que ele continuaria aqui comigo.

 

 

— Clark — Alguém me chamou.

Abri os olhos, preguiçosa, e senti uma fisgada no canto da minha boca. Coloquei a mão ali e senti a pequena bolha de sangue. Merda, o remédio. Olhei para cima e era Will me apontando um copo de suco de laranja. Meu corpo relaxou quando me dei conta de que o que vivi hoje mais cedo era real.

— Está tudo bem?

— S-sim.

— Está doendo?

Ele senta-se no meu lado na cama. Ergui o corpo para me sentar também.

— Um pouco.

— Eu trouxe suco e um remédio que sua mãe pediu para lhe entregar.

Pego o remédio e o engulo sem a ajuda do suco. Eu só preciso engolir logo e deixar a dor se esvair aos poucos, mas não quero revelar isso. Olho para Will, para aquele rosto bonito e sereno, e meu coração se aquece.

— Não está mais... Hum... Zangado comigo?

— Não, Clark. Mas deveria.

Pisquei, tentando meu ar de inocência.

— Não faça isso.

Droga!

— O que?

— Tentar não ser a culpada.

Sorrio, sem jeito.

— Me desculpe. 

Ele deu de ombros. Senti-me culpada.

— Will, por favor, eu...

— Vamos tomar um banho.

— O que?

— Vamos tomar um banho.

— Estamos na casa dos meus pais, Will.

Ele ergue as sobrancelhas.

— Eu não posso sair tomando banho com um homem na casa dos meus pais!

Will revira os olhos. Por que ele sempre pode fazer isso e eu não?

— Eu vou dar um banho em você, Clark. Eu já pedi permissão pra sua mãe, se isso acalma você um pouco.

Senti minhas bochechas queimarem. Então não tomaremos banho juntos como antes. Ele vai apenas me ajudar. Fico em pé e Will segura meu cotovelo, guiando-me até o banheiro como se eu não soubesse o caminho. Mas eu não digo nada. Por que ele parece tão distante? Meu inconsciente me olha de cara feia por trás dos óculos de meia lua. Tudo bem, eu mereço um pouco do seu mau humor. Quando chegamos ao banheiro Will fecha a porta atrás de mim. Afinal de contas, eu fugi dele sem deixar pistas. Percebo, insatisfeita, que Will está com o estado de espirito como quando acordei no meio da madrugada com ele sentado ao meu lado. Será que todos esses dias pensou que eu havia terminado com ele? Pensei em perguntar, mas não ousei abrir a boca. 

Meus pensamentos foram interrompidos quando ele começa a me despir. Sinto suas mãos na barra da minha camisola e logo ele a levanta até a altura do meu busto. Quando passa o tecido por minha cabeça toma um cuidado extremo para que ele não roçasse no meu rosto machucado. A camisola cai no chão. Will leva as mãos até as minhas costas e apenas ouço o click do meu sutiã sendo aberto e, segundos depois, deslizando por meu braço até cair. Will olha apenas em meus olhos e não há nada malicioso nele, mesmo com ele me tirando as roupas — levando em conta todas as vezes que ele já fez isso e, logo depois, transamos. Ele se abaixa e tira a minha calcinha. Apoio a mão em seu ombro para me equilibrar enquanto ergo um pé e depois o outro para me livrar do tecido.

Quando ele se ergue, seus olhos passeiam rapidamente por meu corpo, mas não parece estar me admirando. Quando seus olhos chegaram aos meus detectei uma expressão de sofrimento.

— Você está muito magra. — Disse, tocando levemente os dedos no meu quadril onde o osso aparecia muito mais do que antes. Não tinha reparado nisso. — Você não come mais nada, Clark?

— Eu não estava com fome.

— E por isso tem que ficar fraca desse jeito?

— Eu estou bem, Will. Juro.

— Não é o que parece. — Sua mão subiu do meu quadril até minha clavícula incrivelmente exposta com os ossos. — Olhe para isso. — Ele balança a cabeça para os lados. — Não acredito que você ficou tanto tempo sem comer.

— Eu comia. Mas pouco.

Recebi um olhar de desaprovação. Ele tem razão. Decido não discutir.

Will me deu as costas e me deixou ali no meio do banheiro, nua, e foi ligar o chuveiro. Ficou o tempo inteiro com a mão embaixo do chuveiro velho aguardando a água esquentar. Ele não me olhou nem por um instante.

— Muito bem. — Disse, virando-se para mim, os olhos serenos, finalmente quebrando o silêncio. Aproximei-me dele e seu braço se estendeu até mim. — Vai arder um pouco, mas depois vai passar.

— Tudo bem.

Ele segurou a minha mão e me guiou para dentro do box, ficando do lado de fora. Quando entrei senti as gotas leves da água respingar em mim e senti um arrepio em minha espinha. Isso vai doer.

— Não vou tirar o curativo da sua perna. — Ele disse quando percebeu meu pavor. — Vou trocar só depois do banho. Caso contrário, vai doer.

Apenas assenti. Ainda estava com medo.

— Prometo não demorar, Clark, pode ficar calma.

Ok. Eu confio nele. Dei um passo para trás e senti a água pegar primeiro nas minhas costas, depois escorreu pelos ombros. Will continuava do outro lado, onde a água do chuveiro não alcançava, e estava sendo muito cuidadoso enquanto ajudava a me equilibrar. Fechei os olhos com força e dei outro passo para trás. Pronto. Meu corpo inteiro está coberto pela água morna do chuveiro e tudo em mim arde. Meu rosto com os ferimentos causados pelos tapas, minha perna mesmo coberta com o curativo e meus ombros, que até então não havia me dado conta que doíam. Senti lágrimas se aglomerarem em meus olhos. A dor é exatamente com aquela de quando era pequena e ia tomar banho depois de ralar o joelho no final do dia. Só que agora, além da dor física, há a dor emocional. Eu não me machuquei brincando. Fui agredida. Meu ex-namorado fez isso comigo. E só agora, aqui, neste banheiro, me dei conta do que realmente aconteceu.

Meu ex-namorado me agrediu covardemente.

Abro os olhos e vejo o rosto bondoso de Will. Ele esfrega os dedos no meu couro cabeludo, com muito cuidado, e sua expressão é de um sofrimento claro. Ele não gosta de me ver assim mesmo quando tenta ser durão. Inspiro profundamente, guardando o choro. Eu não posso chorar. Não aqui e agora. Isso também é difícil para ele. 

Percebo, de repente, que não estou nem um pouco incomodada com suas mãos em mim. Mesmo nua em sua frente. Ah, era desse conforto que eu estava precisando.

— Está tudo bem? — Ele me perguntou, preocupado.

— Sim, está.

— Vou passar shampoo. Agora vai arder um pouco mais. Mas prometo que não vou demorar.

— Tudo bem.

Will pegou o shampoo na pequena prateleira atrás de mim e jogou um pouco na palma da mão. Colocou-a no alto da minha cabeça e começou a esfregar lentamente até a espuma descer para as pontas do meu cabelo, que ele esfregou também. Puxou-me para a frente para que a água não caísse sobre o meu corpo junto com a espuma e eu sentisse a dor cedo demais. Fiquei olhando para ele, segurando o choro, o coração na boca. Minha perna ardia tanto que eu passei a não senti-la mais.

— Dê um passo para trás, por favor.

Fiz o que ele pediu e neste instante a espuma desceu por meu corpo, correndo rapidamente, e senti a dor me invadir. Meu rosto inteiro doía — desde a área perto das sobrancelhas até o canto da boca. Mas ele foi rápido, como havia prometido. Passou as pontas dos dedos rapidamente sobre a minha cabeça e, em segundos, meu cabelo já estava limpo. Depois ele se inclinou sobre mim mais uma vez e pegou a esponja, passou sabonete liquido e começou a massagear meus ombros, descendo por meus braços, depois minha barriga. Mas não passou daí, me enxugou e desligou o chuveiro.

Will deu as costas para mim e eu fiquei encarando o chão. Segundos depois ele voltou com duas toalhas brancas, sendo que uma secou rapidamente o meu cabelo e enrolou-a no alto da minha cabeça, me fazendo rir minimamente com seu jeito atrapalhado para fazer isso — nunca pensei que ele pudesse se atrapalhar para fazer algo, além de cozinhar. Depois segurou minhas duas mãos e me trouxe para a frente, para fora do box, e me enrolou com a outra toalha.

— Vamos para o seu quarto agora. — Ele disse, abaixando-se e calçando o par de chinelos em mim. Fiquei surpresa que, pela primeira vez, uma frase dessas não soou com tantas promessas como fazíamos antes. — Vou escolher uma roupa bem bonita para você usar.

Eu sorri sem jeito, sem saber se deveria realmente sorrir, e segui ao lado dele com passos curtos e lentos, voltando a sentir as dores na minha perna. O curativo já descolou com a água e estavam pendurados. Ele abriu a porta e uma bufada de ar frio bateu contra mim, fazendo-me parar por um instante quando essa diferença de clima bateu com tudo contra o meu rosto, que ardeu mais do que antes. Fechei os olhos, respirei fundo e depois continuei andando.

Nunca pensei que o caminho do banheiro até o meu quarto seria tão longo assim.

Quando chegamos lá Will fechou a porta atrás de mim e me levou até a cama. Sentei-me e fique o observando ir até o guarda-roupas e ficar examinando, de braços cruzados as peças coloridas que estavam dobradas e organizadas — graças ás belas mãos de mamãe — em cada prateleira. Depois de alguns minutos ele tirou de lá um short jeans e uma blusa de alcinha estampada com flores azuis. Virou-se para mim estendendo as peças de roupa na frente dele para eu enxergar.

— E aí, o que achou disso? — Perguntou, sorrindo pela primeira vez, e eu soube que isso era para me distrair.

Afinal... Ele está zangado ou não?

— É uma bela combinação, Sr. Traynor.

Ele pareceu satisfeito e fechou a porta do guarda-roupas.

— Calcinha e sutiã?

— Na primeira gaveta do meu criado-mudo.

Assentindo, foi em direção ao lado da minha cama. Mas quando ele saiu da frente do guarda-roupa, revelando o espelho na porta, foi quando meu coração mais doeu. Eu vi meu reflexo ali e eu estava... Estava completamente horrível. Meus lábios estavam incrivelmente inchados e com uma pequena bolha de sangue no canto. Minha sobrancelha do lado direito estava inchada e machucada também. Estava com cara de quem havia chorado por horas e dormido muito pouco.

— Ei, Clark, o que foi? — Will perguntou de repente sentando-se ao meu lado.

Eu não havia notado que estava chorando até ele me perguntar. Abaixei o rosto, escondendo-o nas mãos, e comecei a soluçar baixinho. Não sabia se estar chorando pela forma como Patrick deixou meu rosto ou porque Will ainda parecia zangado comigo.

— O que aconteceu? Está com muita dor? Quer ir para o Hospital?

Estou horrível, simplesmente isso. E com dor. O tempo inteiro ele esteve magnifico na minha frente e eu assim.

— Olhe para mim, Clark. — Ele tentou segurar o meu queixo para erguer o meu rosto, mas eu me desvencilhei do seu toque.

— Não, por favor. Não me faça olhar para você... Não assim.

— Assim como?

— Meu rosto, Will... — Suspirei, sentindo as lágrimas quentes molharem as palmas das minhas duas mãos. — Eu estou assustadora.

Ele bufou ao meu lado e segurou meu queixo outra vez, agora mais firmemente, me mostrando que não iria me soltar tão cedo. Continuei chorando, tentando me acalmar, mas não consegui. Então ergui a cabeça mesmo assim sabendo que ele não iria desistir.

— Você está linda, Louisa Clark. — Ele disse, olhando em meus olhos, a sinceridade quase tocável em sua voz. — Está linda como sempre esteve. Não seja boba. Ainda continua delirante e... E mais linda do que todas as mulheres que eu conheço.

Eu sorrio, tímida, sentindo outra lágrima escorrer. Eu sei que isso é mentira. Sei muito bem que agora estou completamente horrível, embora ele tente me convencer do contrário. Mas sua tentativa me fez sorrir.

Sou pega de surpresa quando ele inclina a cabeça para a frente e sela nossos lábios. É o primeiro beijo que recebo dele desde que chegou aqui. Fechei os olhos, saboreando a sensação que durou apenas por alguns segundos. Mas, apesar disso, o suficiente para que eu soubesse que ele ainda me ama. Will encostou nossos narizes por alguns instantes e depois se levantou abruptamente depois de um suspiro longo.

— Agora se levante. Quero vestir você.

 

Sentamo-nos na mesa da cozinha para tomar o café da manhã. Mas eu estava sem fome, então fiquei apenas brincando com a omelete em meu prato. Meu rosto parou de arder e agora eu cheirava a sabonete. Will estava ao meu lado.

— Uau, você parece muito melhor, Lou. — Papai disse, sentando-se na mesa. — O que um bom banho não faz, né?

Eu sorri.

— Bernard! — Mamãe o repreendeu.

Eu gosto do bom humor de papai e do fato de ele sempre fazer piadas nos momentos difíceis. Essa é a forma dele lidar com uma situação angustiante e acredito que é porque não se sente bem demonstrando muito seus sentimentos, apesar de ontem a noite ter me abraçado e chorado feito uma criança.

— Ninguém ligou para vocês ainda? — Perguntei.

Notei todos os olhos em mim. O que foi?

— Ainda não. — Mamãe disse tristemente sentando-se na minha frente. — Você não vai comer?

— Estou sem fome. — Larguei os talheres dentro do prato. — Esses caras estão realmente procurando por Patrick? Ele não pode ser tão bom assim. Ele é criminoso há... O que? Duas semanas?

Fiquei olhando para mamãe que abaixou os olhos para o mamão fatiado na sua frente. Papai engoliu em seco e passou o guardanapo na boca. Não ousei olhar para o meu lado onde William estava sentado.

— Se você quiser eu posso contratar seguranças particulares. — Will disse. — Não só pra manter a sua segurança, mas pra procura-lo também e...

— Não. — Ergui a mão para ele, finalmente criando coragem para virar o rosto. Papai se levantou e saiu da mesa cedo demais. — Eu não quero que gaste dinheiro comigo.

— Vou acordar seu avô. — Mamãe disse.

E pronto. Éramos só eu e Will. Ah, merda. Por quê? Eu odeio ficar sozinha com ele quando está desse jeito. Apesar do nosso selinho, ele ainda continuava ríspido. Sinto-me intimidada e esqueço-me de tudo o que preciso dizer. 

— É a melhor opção que você tem agora. — Disse, finalmente. — Ou me deixa contratar seguranças ou Patrick vai continuar perseguindo você.

— Os policiais estão ao redor da minha casa.

— E o que isso adianta?

— Ele não pode entrar aqui.

— Você pretende ficar nessa casa pelo resto da vida?

Sua pergunta me atingiu como um baque. Tudo o que já falamos sobre novos horizontes e a forma como ele me fazia se sentir em relação ao mundo foi colocado tudo na mesa. Assim, em questão segundos. Eu não pretendo ficar aqui para sempre, mas...

— Você tem que aceitar a ajuda das pessoas, Clark.

— O que você quer dizer com isso?

— Que você sempre está pensando nos outros. Sempre quer fazer tudo sozinha. — Ele soltou os talheres sobre o prato e suspirou. Parecia de repente muito cansado. — Você poderia ter continuado em Londres. Eu tenho seguranças. Estávamos bem, Clark. Até você fugir e...

Ele não terminou de falar. Suas sobrancelhas se juntaram como se ele estivesse sentindo dor.

— E ser agredida. — Completei sua frase.

Will me olhou incrédulo. Era como se eu tivesse falado que o mundo é quadrado. Será que fui longe demais? Acho que sim. Quando ele está zangado não posso provocar ainda mais.

— Você saiu de casa sem falar nada. Nem um bilhete. Nada. Deixou-me perdido, Louisa. — Ele desabafou, passando as duas mãos nos cabelos arrepiados, respirando pesadamente. — E quando sua mãe me ligou enquanto estava a caminho daqui eu pensei que... Pensei... Que você estivesse morta.

Pisquei. Fiquei apenas olhando para ele, para sua expressão de dor e mágoa e meu coração se partiu. Ah, Will, me desculpe, por favor...

— Eu nunca pensei que sofreria tanto assim. — Continuou. — Ficar sem você durante esses dias foi como ter tirado o chão debaixo dos meus pés. Fiquei sem rumo, Louisa... E tenho o direito de estar zangado. Fiquei furioso com você por ter fugido, comigo por ter deixado isso acontecer, por Patrick que é um filho da puta cruel...

Falei um “me desculpa” com a boca, mas em silêncio, e vi os olhos dele marejarem quando um pensamento passou por sua cabeça.

— E pensar que você tinha morrido foi a pior coisa que já me aconteceu.

E então Will jogou o corpo para a frente, caindo sobre mim, me tomando nos braços. O calor de seu corpo me cobriu e eu fechei os olhos com força. O corpo dele começou a tremer e soube, então, que ele estava chorando. Eu nunca o vi chorar antes. Fiquei sem saber o que fazer com o choque que passei a sentir. Ah, meu pobre Will... Se eu soubesse que você ficaria tão magoado assim eu jamais moveria um centímetro para longe de você.

 


Notas Finais


Vocês me pediram um capítulo surpresa e de presente pro feriado, mas como sou maldosa esperei passar o feriado só pra dar um sustinho de "não vou postar nada". HAHAHAA. E é também um capítulo pra relaxar depois daquela prova do ENEM de ontem. Espero que vocês gostem. Beijos, abelinhas! ☻


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