História Como (não) ser popular - (Não) entre para o time

4 de março de 2016

Eu preciso de um tempo para respirar!

19:15

Eu odeio futebol e odeio tão igualmente o Nathan.

Costumo dizer que todas as pessoas têm um lado bom, e acho que Nathan não se aplica ao caso. Talvez ele seja uma bola.

Até tentei fazer uma lista com itens que mostram o lado bom de Nathan, mas não deu. Então, tentei uma para mostrar as qualidades dele, e adivinhem só? Não deu também. No fim da aula de geometria, eu não tinha uma lista com nada que pudesse me fazer sentir alguma consideração por ele, mas tinha uma lista de motivos para não gostar do cara, e essa lista é:

Motivos para não gostar de Nathan:

1. Ele existe.

2. Não precisa de mais itens; o outro resume tudo.

É, ele contou para a escola inteira que, não só viu eu e o Hoseok em um momento um tanto afetivo dentro do banheiro, como saiu espalhando que a gente estava namorando.

Resultado disso tudo? Uma semana inteira de pessoas perguntando se isso era verdade. Até o Taehyung veio me perguntar, dá para acreditar? Mais uma semana de pessoas cochichando sempre que eu passava perto delas e era pior ainda se tinha alguém acompanhado comigo e quatro vezes pior se esse alguém era Hoseok. Provavelmente ficavam especulando que eu e Hoseok tínhamos terminado e depois voltado.

A nossa popularidade, por outro lado, não diminuiu em nada. Talvez um pouco com as garotas que nutriam interesse pela gente. Mas viramos o assunto da escola pelo resto de fevereiro e Namjoon também ajudou nisso.

Dias após a gente ter matado aula, Namjoon resolveu fazer um jornal contando o ocorrido, ele narrou isso de forma tão engraçada e interativa que os alunos passaram o dia inteiro rindo e dando sorrisinhos para ele — os sorrisos ainda continuam — e no final do jornal, ele colocou uma conclusão dando um conselho para os alunos não matarem aula, o que também garantiu moral com o Jefferson.

Eu e os outros culpados pelo “crime” saímos como os heróis que erraram, mas aprenderam a lição. Eu deveria estar feliz com tudo isso que vem acontecendo, porém, não estou por um motivo:

Eu não quero ser conhecido como o namorado de Hoseok.

E mais um motivo extra: Ser popular não faz os professores passarem menos tarefas para você.

Ah, e tenho outros motivos para explicar minha infelicidade nesse exato momento também.

Eu entrei para o time de futebol.

E Nathan novamente....

E isso me lembra que foi por causa dele que peguei meu caderno onde guardo todas minhas frustrações para relatar mais uma tragédia da minha vida: a história de como Yoongi entrou para o time da escola.

Então, vamos voltar no tempo.   

14:31

Eu estava saindo da aula de filosofia do professor Robb quando Hoseok veio correndo até mim, sabe se lá da onde. — Ele tinha matado aula, eu fiz questão de falar isso — e disse que tinha um assunto sério para tratar comigo. Sinceramente, eu estava sem saco algum para ficar olhando para ele, a aula anterior tinha sido um porre porque Robb só ficava me encarando de forma estranha e eu não tinha feito a tarefa da próxima aula, que era Biologia.

Hoseok estava longe de ser alvo da minha atenção naquela hora.

— Me erra — Falei assim que ele abriu a boca para dizer o que eu acho que seria meu nome, apressei meus passos e apertei com força meus dedos em volta do livro de Filosofia, que eu passara a aula inteira rabiscando por não consegui me concentrar.

— Eu sei como diminuir nosso castigo!

Por isso eu não esperava.

Parei de andar na hora e olhei para ele, que estava todo suado, mas consideravelmente feliz para alguém que estava tão na merda quanto eu, sendo conhecido como o namorado de Min Yoongi, cumprindo castigo toda terça e quinta e com a mesada confiscada pelos próximos três meses. Além de quase um mês sem conseguir conversar com o namorado porque esse só sabe o evitar.

— Como?

— Jefferson disse que se meu time entrar para os jogos municipais, a gente troca o castigo pelos treinos toda sexta-feira. E ele me disse para colocar você no time também...

Entenderam? Eu deixo de pisar em uma merda, para pisar na outra.

Mais uma ironia da minha escola: A gente recebe como punição entrar para o time, enquanto nas escolas dos filmes e séries a punição é ser expulso do time.

— Não quero.

— Não dá mais para voltar... Eu já cadastrei a gente nos jogos e seu nome está constando no time. Por favor! — Ele segurou no meu braço e estava quase fazendo manha como uma criança mimada. Estranhei o toque dele em mim, o olhando com uma cara meio de nojo e meio bizarra, antes de me soltar.

— Problema é seu.

— Problema nosso, Yoongi. Hoje o treino vai ser contra o time do Jackson, e o Nathan é do time dele, uma ótima oportunidade para nos vingarmos. E também tem outra, saíram dois meninos do time, porque eles já se formaram. Consegui achar o Ed e ainda precisava de mais um membro, ou seja, você.

Eu não sei se Hoseok andou pegando dicas com o Namjoon de como me convencer a fazer algo, mas isso de vingança era um truque que sempre funcionava comigo. É claro que eu iria querer me acertar com Nathan, mas ainda assim tinha um problema nisso tudo: eu era horrível em futebol.

Quando eu digo que sou horrível, eu estou falando a total verdade. Na última vez que eu joguei futebol, eu não só mandei a bola para a janela da vizinha do Namjoon, como também perdi o tampo do dedo e trinquei uma unha, aquilo foi um show de sangue e Namjoon começou a se desesperar quando viu aquela bruxa da vizinha dele vindo em nossa direção com uma daquelas tesoura de aparar plantas e me trancou para fora da casa dele.

Eu peguei trauma.

— Eu sou horrível! — Eu já estava sem argumentos, mas precisava resistir até a última carta.

— Eu sei, mas temos o Chris, Jungkook, Jimin e eu. Nós somos os melhores jogadores da escola — Ele também não ia desistir tão cedo.  

Já não tinha mais ninguém no corredor da escola, e minha mão que segurava o livro estava suando e meu ombro dolorido por carregar aquela bolsa pesada. Hoseok estava levando a melhor nisso.

Ah, e eles não são os melhores jogadores da escola, Tyler — talvez Chris — e Jackson que são, todo mundo sabe disso, só Hoseok que não aceita que ele entra em terceiro lugar nesse ranking.

E Jimin era mais um motivo para eu não querer entrar no time. Sim, quem é que iria querer passar vergonha na frente de um garoto que ainda nutria sentimentos, porque sim, depois do fora, depois de todo o silêncio dele diante minha presença, eu ainda gostava dele. O desgraçado aparecia até nos meus sonhos.

— Tenho outra opção?

— Sim, lavar o banheiro toda terça e quinta sozinho.

— Você ganhou, Hoseok! — Ele sorria e eu só conseguia pensar no meu velório.

— Eu sei, Namjoon me falou que eu ia conseguir convencer você.

Namjoon é uma onça e eu sou o amigo.

Enquanto nós íamos correndo para a próxima aula, Hoseok me passou o horário do treino que era as 16:30 — tempo que os alunos fazem as aulas extracurriculares e tempo que eu estou voltando para casa a fim de dormir ou jogar videogame.

Quando entrei na sala para a próxima aula, já tinha mais um quadro cheio de conteúdo para estudar, várias duplas, e obviamente um Namjoon fazendo dupla com o SeokJin e do meu lado um Hoseok me olhando como um cachorrinho vendo um pedaço de carne na frente.

— Faz dupla comigo?

Eu te odeio, Hoseok.

17:30

Primeiro: O treino foi uma bosta.

Segundo: Odeio Jackson e Nathan mais do que odeio Hoseok.

Eu cheguei a acreditar que o treino iria valer a pena quando ele me apresentou para o resto dos garotos do time. Chris, por si só, já era consideravelmente agradável, mas quando ele me apresentou um garoto chamado Nick, o goleiro, vendo ele eu até esqueci que Jimin era o meu interesse no momento. Isso até Nick falar sobre a namorada dele com Chris.

Jimin estava lá também, como sempre, grudado com Jungkook. Fazia tanto tempo que eu não via ele, o cabelo do garoto agora estava preto e ele tinha colocado um piercing na orelha, só que o que mais me chamou a atenção é que ele estava sorrindo e brincando o tempo todo.

Taehyung, que eu nunca mais tinha conversado desde o dia que ele veio me perguntar se era verdade aquilo entre eu e o Hoseok, estava lá. Não saia de perto de Jungkook e Jimin, as vezes olhava para Hoseok, porém, eram olhares breves e tímidos.

Hoseok decidiu me colocar na lateral, eu preferia ficar apenas contando os pontos, mas ele disse que eu ia ter que entrar em campo. Falou para os meninos pegarem leve comigo, e falou tanto para o próprio time dele como os do time do Jackson, que estavam reunidos em um círculo igual a gente só que no lado direito do gramado. Vi Nathan rindo e quis dar um murro na cara dele.

Hoseok começou a repassar as jogadas para nós e eu inacreditavelmente entendi quase tudo que ele falava. Estava começando a achar que não me sairia tão mal, até quando o professor soou o apito.

E depois disso me senti em The Walking Dead, tinha marmanjo correndo pra tudo que era lado. Eu não soube o que fazer, estava tudo muito rápido e eu só ficava olhando de um lado para o outro sem sair do lugar.

— A bola é sua, Yoongi! — Jungkook gritou do nada.

— Quem é meu? — Gritei de volta.

De repente vi Jackson derrapando na minha frente, antes de me dar uma bela de uma rasteira. Eu não caí de bunda no chão, que foi o que achei que aconteceria, cai de cara mesmo.

— Foi mal aí, cara. — Jackson falou estendendo a mão.

— Oh, professor! Isso aqui foi falta, não vai marcar, não? — Hoseok apontou para nós.

Aceitei a ajuda do Jackson, mesmo sabendo que ele só ofereceu a mão porque era obrigado, e porque meu nariz tava doendo demais para dar alguma patada nele.

— Pega leve aí, Jackson. — Disse Jimin para ele, que o respondeu com um sorrisinho sarcástico. — Você tá bem?

— Estou.

Jimin assentiu e voltou correndo pro meio do campo. Depois de garantir ao professor de que estava bem, o jogo continuou.

O resto daquela crucificação continuou no mesmo ritmo, eu bobeando por não saber o que fazer, e deixando a bola passar reto do meu lado. Teve uma hora que tentei dar uma de Pelé e marcar um gol, mas eu acabei chutando o gramado e tropeçando em cima da bola. Tirando esse ato falho, eu corria de um lado para o outro, torcendo pra ninguém passar a bola pra mim.

Falando em bolas, as redondas e esportivas, no meio do jogo comecei a comparar Nathan com elas. Não que ele fosse gordo, porque não é, o desgraçado tem uma estatura física de se dar inveja, mas foi aí que eu finalmente consegui fazer uma lista de verdade sobre o Nathan, eis esta;

Motivos pelos quais Nathan é, de fato, uma bola:

1. Assim como a bola, Nathan só tem um função na vida. No caso, essa é falar bosta.

2. As bolas normalmente são feitas com plástico, o cérebro do Nathan também.

3. Bolas de futebóis valem mais do que ele.

4. Eu realmente comecei a achar semelhanças entre seu rosto e os desenhos ilustrados da bola, que agora ele chutava.

— Olha a bola! — Alguém gritou. Eu já contei para vocês que eu odeio essa frase? Pois bem, eu odeio ela, sempre que essa é dita o que vem depois é vergonhoso.

Dito e feito. O filho da puta do Nathan chutou a bola na minha cara. Posso jurar para vocês que vi passarinhos. Aposto que fiquei que nem um personagem tonto de desenho animado que fica vendo estrelinha antes de cair no chão.

— Qual é a tua, Nathaniel? — Ouvi Hoseok gritar e o vi indo pra cima dele.

— Calma, não foi a intenção machucar a namoradinha. — Ele respondeu, provocando Hoseok, que quase criou chifres do diabo na cabeça de tanta raiva que aparentou estar.

— Chega, Nathan. — O professor se meteu no meio dos dois. Os outros já estavam segurando Nathan e Hoseok para não partirem para cima um do outro. — Pro banco.

Nick, o goleiro dos sonhos, veio até mim me ajudar. Meu nariz doía mais ainda, acho que amanhã vou parecer um palhaço do American Horror Story, isso se não estiver tão ruim.

— De boa? — Ele perguntou.

— Acho que quebrei meu nariz. — Coloquei a mão nele e meus lacrimejaram de tanta dor.

— Que nada, é só colocar gelo que resolve. Agora vem, levanta.

Nathan e o professor discutiam no meio do campo, já que o imbecil se recusava a sair do jogo. Não deu outra, levou cartão vermelho e ainda saiu xingando. Quando passou por mim, ele falou algo que eu poderia guardar para sempre na lembrança:

— Foi mal…

E seguiu o caminho dele para fora do campo. Fiquei me perguntando se ele estava brincando como sempre, porém, era algo questionável de verdade, já que a voz dele parecia conter um pouco de arrependimento. Talvez ele não fosse 100% um ogro, apenas 99%.

Já dá uma diferença, né?

O resto da partida foi quase normal, os meninos viram como eu era em campo e começaram a me evitar. Hoseok apenas indicava para eu ficar correndo na direção que ele ia e às vezes me passava a bola para eu servir como uma ponte para outro jogador. Nós estávamos empatados, até eu incrivelmente cometer a maior atrocidade que se pode cometer em campo: Gol contra ou autogolo.

Perdemos o jogo.

Não é como se perder fizesse diferença para mim, porém, Jimin me olhou com decepção e isso sim me incomodou. Hoseok parecia querer me matar, e Nick provavelmente me achava um idiota. Chris olhou meio debochado para mim antes de se mandar para o vestiário.

Eu já estava indo tomar banho também, e procurar algum remédio para dor na minha mochila, quando o inferno aparece de novo.

— Yoongi, espera aí. — Hoseok me impediu de entrar no banheiro que tinha na quadra.

— Vai me pedir para ajudar a esconder um corpo agora?

— Não, vou pedir algo pior.

18:30

Hoseok é um gênio, mas é um gênio do mal. Pensei que esse título fosse mais adequado ao Namjoon, só que o Namjoon é o dono do inferno todo, Hoseok é aprendiz. E um ótimo aprendiz.

Eu não posso negar a lógica dele.

Depois de ver minha performance no jogo, o cérebro do gênio chegou a uma conclusão: Eu influenciava uma atração gravitacional sobre bolas.

— Eu tô falando sério, Yoongi. — Ele gargalhava como se fosse um ótimo piadista. Hoseok deve ser leonino. — Você é um imã para bolas, pelo menos as de plástico.

— Vai se ferrar, idiota. — Respondi depois de entender o duplo sentido.

— Você tem o dom natural de atrair as bolas para sua cara, deveríamos usar isso a nosso favor. — Ele pareceu pensar e de repente ficou sério, parando de rir. — Há apenas um jogador que pode aproveitar essa função de atração. O goleiro.

Sim, isso mesmo, ele decidiu me colocar como goleiro do time, já que como lateral, zagueiro ou qualquer outra posição que eu não sei o nome, seria um belo desastre.

Ele voltou a rir a maior parte do tempo que ele explicava isso, depois ficou sério novamente e falou que queria mesmo me por como goleiro e a gente iria continuar o treino assim que os meninos fossem para casa. Isso significava que eu ia ter que ficar em horário extra na escola e não iria poder voltar com Namjoon.

Eu recusei o tempo todo em que ele insistia para a gente treinar, mas acabei aceitando quando eu me lembrei que eu tinha deixado meu quarto bagunçado e minha mãe ia me atormentar quando eu chegasse lá, mas se eu tivesse uma desculpa como treinos excessivos da escola, ela iria pegar mais leve.

E foi esse o combinado.

Esperamos todos os meninos irem embora, Hoseok pareceu até meio desconfiado se certificando de que não tinha mais ninguém por perto, cheguei a pensar que ele iria me matar e pensei em sair correndo dali, só que era apenas o Hoseok, ele não faria mal nem para uma formiga...

Mentira.

O treino foi mais pesado que o anterior. Ele chutava todas as bolas com vontade na minha direção, parecia estar se vingando por todo o mal que eu, Namjoon e o maior criminoso do mundo tínhamos plantado no mundo.

— Ah, qual é, esse é o seu melhor? — Ele zombava a cada cinco minutos.

Eu até conseguia pegar bem, meu reflexo era bom.

Algumas vezes, eu me distraia e a bola acertava alguma parte do meu corpo, mas em um certo momento ela bateu na trave e foi parar nem no estômago dele, eu fiquei uns cinco minutos rindo e ele com um braço na cintura e batendo o pé esperando eu me recuperar.

Começamos até a nos divertir e foi justamente quando a diversão apareceu que deu a hora de nos prepararmos para voltar para casa.

— Eu acho que fiz uma boa escolha — Ele comentou tentando secar o suor da testa, era inútil, já estava encharcado do pé às cabeça, eu não estava muito longe disso — Você se saiu bem como goleiro.

Ok, confesso que me imaginei sendo um goleiro de sucesso e bem reconhecido por todos depois daquele comentário, mas meu nariz latejando fez questão de me lembrar quem eu era.

Agora se lembram que eu disse que odeio Nathan? Pois é, odeio mesmo, e não vai ser um “foi mal” que vai me fazer gostar mais dele.

Tudo é culpa dele. Se ele não tivesse começado isso tudo eu provavelmente não teria me sentido motivado a entrar no time apenas para um vingancinha boba e provavelmente não estaria às 18:17 no banheiro masculino de uma quadra, numa escola, sozinho com Jung Hoseok que começava a se despir com a maior naturalidade do mundo.

Ah, o banheiro da escola também entra para minha lista de coisas que eu odeio. As cabines não são totalmente fechadas e são apenas uma fileira de colunas de um 1,60.

Fora que, vocês já devem ter percebido; Tudo acontece comigo em banheiros.

Mas, graças a Nathan e o banheiro da escola, aquilo aconteceu.

Depois que Hoseok se enfiou na cabine dele, criei coragem para me despir e sai enrolado na toalha até minha cabine, consegui tomar meu banho quase normalmente, porque a ideia de que eu estava nu com o Hoseok há umas duas cabines de distância de mim me perturbava, ele poderia tirar uma foto minha enquanto eu estava distraído, ou pior, me ver totalmente pelado.  

Algo parecido com a última opção acabou acontecendo.

Eu tinha acabado de fechar o chuveiro e enrolar a toalha na minha cintura, quando me virei e ele já estava parado no vão da minha cabine enrolado na toalha dele e agindo como se isso fosse algo tão natural.

— Então, toda sexta-feira a gente vai treinar… — ele começou a falar até que algo pareceu atingir ele.

Ele me olhou assim como eu já estava olhando para ele, e não foi um olhar daquele tipo olhar de nojo que você dá quando vê seu melhor amigo limpando o nariz, ou, no pior dos casos, soltando gases pela bunda. (Até porque você não solta pelos ouvidos.) Foi um olhar tipo: estou olhando para o seu corpo, que está coberto apenas por uma toalha enquanto o meu também está coberto apenas por uma toalha. Entenderam?

E quando isso acontece, se você é um garoto, se você tem aquilo no meio das pernas e ainda por cima prefere beijar rapazes, a única coisa que você pode fazer é rezar para o seu amigo lá de baixo não ficar animado com pensamentos impuros envolvendo o seu coleguinha que tá quase nu na sua frente.

Ele tentou falar mais alguma coisa, eu tentei falar mais alguma coisa, porém, estávamos tão sem jeito pelo que estava acontecendo que iríamos continuar nisso se um fator externo não tivesse aparecido.

— Hoseok? — Era Taehyung, eu nunca pensei que iria ficar tão feliz por ouvir a voz dele — Eu ainda duvidava sobre os boatos, mas parece que o Nathan estava falando a verdade.

O olhar de Hoseok ficou frio, ele olhou para fora da cabine na direção da saída do banheiro, assim que avistou Taehyung lá, ele saiu às pressas do vão da minha cabine. Sai da cabine também, e vi ele se vestindo rapidamente e Taehyung já não se encontrava mais no local.

Ok, agora confesso não pude deixar de reparar no bumbum dele, mas esperei ele sumir do banheiro para começar a me vestir porque ele não iria ter essa mesma vantagem.

Se Namjoon souber disso vai começar a me chamar de pervertido. E ele não tá errado.

Quando me vesti, peguei minha mochila pronto para ir embora, até que meu dia ficou consideravelmente mais triste. Ou como já diriam: bateu a bad.

Ao sair do banheiro, vi Hoseok e Taehyung aos beijos na saída da quadra. Dessa vez algo me incomodou. Senti alguma coisa que não soube explicar o que era, mas eu tinha certeza de que não era nojo.

Nojo não dói.