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História Como perder alguém em 10 dias - Camren - Revista Composure: Como perder alguém em dez dias


Escrita por: kcamilafarias

Notas do Autor


Hey, pessoas! Aqui estou mais uma vez e juro que tentei voltar mais cedo, mas a vida social de vez em quando chama, né? Eu tive que atendê-la! E agora sem mais papo, vamos ao que interessa, porque o voo deu uma balançada da última vez, mas apesar disso, acho que as máscaras não chegaram a cair, né? Peguei pesado, eu sei... Enfim, enjoy!

Capítulo 16 - Revista Composure: Como perder alguém em dez dias


Fanfic / Fanfiction Como perder alguém em 10 dias - Camren - Revista Composure: Como perder alguém em dez dias

Nova York - Terça-feira - 07:18 a.m

POV CAMILA

Era a décima vez, em menos de 30 minutos, que eu checava a hora e constatava que o tempo não estava muito a meu favor. Estava sozinha no meu quarto e minha cama, assim como todos os móveis daquele cômodo, testemunhavam a minha luta fracassada por uma mísera hora de sono, mas ele não viria, disso eu tinha certeza. Minha mente sempre agitada, costumava ficar ainda mais em alerta diante de uma discussão ou uma história mal resolvida e bem, naquele momento eu tinha bem mais que isso.

Tantas coisas passavam pela minha cabeça. Raiva, vergonha, arrependimento, angústia, tristeza... Todos os sentimentos ali, agarrados um ao outro como se quisessem me partir ao meio. Eu só queria que o sol surgisse mais poderoso naquele horizonte de uma vez. Quem sabe sua luz não me ajudava a clarear minhas ideias. Era algo que eu definitivamente precisava, porque aquele dia seria bem longo pra mim e minha cabeça voltava a latejar só de lembrar.

Desisto de ficar naquela missão fracassada e me levanto, indo em direção à cozinha, talvez um chá me ajude a relaxar um pouco. Eu nunca fui muito fã, mas não era como se tivesse muita opção. Sigo pela casa totalmente silenciosa e parcialmente escura. Aquele dia estava começando do mesmo jeito que meu humor: Totalmente nebuloso. Após alguns minutos, escuto o barulho da panela que continha a água apitar e volto à realidade, me dando conta de que já não estava mais sozinha naquele ambiente.

- Te procurei no seu quarto, não conseguiu dormir? - nego o questionamento da minha amiga, que havia tido muita paciência comigo nas últimas horas. Dinah pode ser louca, sem noção e falar coisas bem inapropriadas fora de hora, mas não tem no mundo alguém que eu confie e que me conheça tão bem. Ela se aproxima com aquela cara de pena e me puxa pra um abraço - Não imaginei que o fim dessa história seria essa. Nos imaginei bebendo e comemorando o fim dessa ideia louca que você teve, mas que tava te divertindo tanto no início. Aquela mulher te pegou direitinho.

- Não fala dela, Dinah, por favor - peço me apertando mais em seus braços, ficando de olhos lacrimejados mais uma vez - Eu quero esquecer tudo isso. Me ajuda, Cheechee.

- Você devia ter deixado eu voltar lá e arrancar aqueles olhos da cara dela - lhe encaro com uma expressão fechada e ela revira os olhos - Eu não consigo não tornar esse o nosso assunto, ainda posso ir até apartamento que ela mora e torcer aquela cara que você insistia em dizer que era bonita, me passa o endereço?

- Dinah, para de falar bobagem - me desvencilho de seus braços e ando até o fogão - Já basta tudo que aconteceu, você ainda quer arranjar mais confusão?

- Só quero que ela engula tudo que falou na frente de todo mundo - coloca as mãos na cintura - Ninguém fala do meu filhote daquele jeito e fica impune - sorrio com seu jeito de me defender, ela sempre me pegou no colo, como uma verdadeira leoa protege sua cria quando algo não está bem, mas eu sabia que também não estava inocente nessa história.

- Sua oferta é tentadora - pego uma xícara despejando a água quente sob o sachê de erva doce -Mas não quero ter que pagar um advogado para te livrar de um processo que aquela idiota certamente abriria - me sento em um dos bancos altos de madeira, colocando a xícara sob a bancada - Mas você sabe que eu também falei muita bobagem.

- Vai defender agora? - ela me encara indignada e eu apenas respiro fundo.

- Não, Dinah - bebo do líquido quente, sentindo meu corpo responder a sensação - Eu mais do que ninguém tenho motivos pra estar com muita raiva, mas ainda preciso reestabelecer toda paciência e sanidade que me restam para encarar o dia mais tarde, você sabe que... - minha fala é interrompida pelo toque da companhia e eu franzo o cenho confusa.

- Deve ser a Ally - minha amiga explica - Eu mandei uma mensagem falando do que rolou ontem - concordo silenciosamente e ela logo vai em direção à porta, me deixando momentaneamente sozinha com meus pensamentos, mas não demora muito até que uma Ally com cara de choro venha em minha direção, me abraçando apertado.

- Eu odeio finais tristes - ela diz fungando no meu pescoço - Eu achei que vocês fossem ficar juntas, estavam fazendo um casal tão lindo e você está tão apaixonada por ela.

- A intenção é ajudar ela, pequeno pônei, não fazê-la encontrar com a Samara lá no fundo do poço - escuto minha amiga maior exclamar e Ally me encara espantada.

- Ai meu Deus, Mila, me desculpa! - diz nervosa - Eu.. eu só quis dizer que achei que vocês fossem namorar e que logo estariam morando juntas e com um filho - torço meu rosto numa expressão de sofrimento - Desculpa, eu fico nervosa e começo a falar o que não devo.

- Eu sei, Allycat, só não fale mais nenhuma previsão - ela concorda envergonhada - Era isso que tava insistindo pra falar comigo, não era Chee? Ontem quando disse que tinha algo sério pra me contar, era isso? - ela balança a cabeça em concordância - E por que você não me trancou aqui e me fez ouvir de qualquer jeito?

- Eu tentei, Chancho - ela passa a mão no cabelo, nervosa - Eu juro que tentei, mas, sei lá, você tava tão empolgada falando de como tinha sido o final de semana, que por um momento eu achei que pra ela pudesse ser diferente também - permaneço em silêncio ouvindo suas palavras. No fundo era isso que eu queria, depois de tudo que havia acontecido, o jeito como me olhava, me tocava, a sua paciência mesmo quando fazia absurdos, achei que pudesse significar alguma coisa. Na verdade significava mas não o que estava esperando, eu era só uma aposta.

- Eu fui tão idiota - coloco as mãos sob meu rosto, suspirando pesado - Eu achando que estava aprontando com ela e olha toda a merda que aconteceu comigo também e o pior ainda está por vir - afirmo e minhas amigas me encaram esperando que continue - Eu sou muito imbecil mesmo.

- Mila, você não devia se sentir assim - Ally se aproxima afagando meus ombros - Olha, eu sei que deve ter sido difícil descobrir tudo isso, mas a sua revolta não faz muito sentido, você também a usou, lembra?

- Allyson! - Dinah grita chamando sua atenção - Desde que chegou só tá falando merda, se não é pra ajudar, vai pra revista.

- Deixa, Chee, ela tá certa - me levanto seguindo até o quarto em busca de um remédio. Minha cabeça parecia querer entrar em combustão - Mas o meu ódio não é só pelo que aconteceu, é pelo que ainda vai acontecer - divago e sou seguida por elas - Ontem eu fui pedir a Taylor que desconsiderasse minha coluna essa semana e como recebi uma negativa sua, resolvi escrever do jeito que achei mais certo.

- E o que você fez? - Dinah me questiona e eu rio negando com a cabeça só de pensar na burrada que havia cometido - Você não confessou sentir algo por ela, né? - fico em silêncio e ela logo tem sua resposta - Camila!

- É, eu sei! - suspiro e engulo mais um comprimido. Se até o final daquele dia, eu fosse parar no hospital em coma pela ingestão exagerada de medicamento seria uma má ideia? - Por que você acha que fiquei tão fora de mim ontem? Porque além de descobrir tudo que a Lauren estava fazendo comigo também, eu lembrava o quão idiota havia sido e que hoje o país inteiro vai ler a declaração mais equivocada que já existiu.

- Calma, Mila - Ally intervém tentando amenizar - As pessoas não vão adivinhar que vocês não estão juntas.

- Não me importo com as pessoas, Allyson - aumento meu tom de voz voltando a ficar nervosa só de lembrar daquela mulher - Eu estou inconformada de que qualquer pessoa ligada aquela idiota leia isso. Por quanto tempo vocês acham que eu vou ser motivo de chacota? Um mês? Talvez dois? - questiono voltando a chorar e Dinah me puxa pro seu colo - Como você descobriu, Chee?

- Deixa isso pra lá, Chancho - ela alisa meus cabelos carinhosamente - Esquece isso, agora é esperar essa matéria ser publicada e na próxima semana já ter outra coisa no lugar e todo mundo esquecer.

- Eu quero saber, Dinah! - insisto e ela bufa - Me diz o que aconteceu.

- Nós saímos pra beber no Joe's sábado à noite. A Ally foi tentar encontrar mais um pretendente a marido e eu fui pro bar encher a cara - explica sob meu olhar atento - Pouco tempo depois, quatro meninas chegaram animadas, elas me viram sozinha e perguntaram se não queria me juntar à elas - concordo e ela continua - Ficamos bebendo, rindo e dançando à noite inteira, até que uma delas me questionou porquê estava sem ninguém ali e eu expliquei a situação de cada uma de vocês - franzo o cenho com sua informação - Quer dizer, eu não entrei em detalhes, só disse que uma amiga estava tentando desencalhar e a outra estava viajando.

- Vai direto ao ponto, Dinah - peço impaciente e ela prossegue.

- Ela sugeriu que podíamos juntar os grupos qualquer dia, falou que uma amiga também estava viajando e talvez estivesse em apuros, eu fiquei curiosa e como a mente dela parecia não funcionar mais em perfeito estado, ela acabou me falando de uma tal aposta para ganhar uma campanha e que essa amiga estava enfrentando problemas porque a "namorada" parecia uma maluca - suspiro alto fechando os olhos e minha amiga ameaça parar, mas indico que finalize - Eu fiquei com uma pulga atrás da orelha, mas deixei passar, só que no meio da noite, o nome da Lauren surgiu na roda e fiquei mais intrigada. Ela me falou mais alguns detalhes que me fizeram ter certeza que era a sua Lauren - reviro os olhos - Okay, a Lauren.

- Com quem você conversou?

- Com a Manu, Mana...

- Mani, Chee.

- Isso, tava tentando lembrar desde sábado - ela faz uma cara pensativa - Aliás, tive a leve impressão que ela tava dando em cima de mim.

- Foi ela que te contou sem querer também, Mila? - Ally que, assim como eu, ouvia a explicação de Dinah em silêncio, me questiona.

- Não! Foi a outra amiga da Lauren, a Vero.

- A Lauren tá bem de amiga, né? - Dinah exclama debochada - Não precisou nem de rival pra estragar seus planos.

- Que estrago, Chechee? - me inclino parcialmente no seu colo - Não teve estrago nenhum, ela conseguiu o que queria, a campanha é dela, ela não perdeu absolutamente nada.

- Mas ela parecia sentir algo por você também, Mila - Ally como sempre tentava ver o lado bom da situação - No dia da "consulta", ela não teria sugerido a viagem se fosse algo ruim pra ela.

- Allyson, acorda! - me levanto irritada da cama - Será que você não percebe? Tudo era pela aposta, Ally, tudo! As mensagens, os telefonemas, os encontros, a viagem, a paciência. Esse tempo todo ela nunca revidou o que aprontei com ela - ando de um lado para o outro no quarto - Nunca deixou de fazer nada que eu queria, mesmo sendo o maior absurdo e por quê? Porque era boazinha? Porque gostava de mim? Porque tinha a paciência que você tanto elogiava? Não, Ally, era unicamente por ter um objetivo maior por trás de tudo. Você não estava lá ontem, não viu, mas bastou essa maldita aposta acabar e ela descobrir que também foi feita de idiota, pra mostrar quem era de verdade. A mulher arrogante que me fodeu literalmente por um objetivo além de simplesmente me querer.

- Chancho - Dinah vem na minha direção, tentando me acalmar mais uma vez - Não pensa mais nisso, olha pelo lado bom, você descobriu antes que se envolvesse ainda mais. Já pensou se essa amiga da Lauren não tivesse te falado nada? Você ia ficar com ela, até que ela decidisse que não te queria mais, seria muito pior, Chan. Além do mais, apesar da matéria vir com uma declaração de brinde, você fez seu trabalho, a Taylor vai reconhecer isso e finalmente te deixar escrever sobre o que você sempre quis - me abraça e eu me permito relaxar por alguns instantes - Falando nisso, temos que ir para revista, a reunião começa daqui a pouco - concordo e sigo pro banheiro. A água daquele chuveiro bem que podia levar todos os meus problemas por aquele ralo.

Antecedente a cada publicação da revista, uma reunião era realizada com a edição já nas mãos da nossa editora chefe, a fim de discutir e receber críticas e/ou elogios referentes ao trabalho desenvolvido ao longo daqueles dias. Por isso, depois de pronta, sigo com minhas fiéis escudeiras para Composure, pretendendo me livrar logo daquele fiasco. Numa coisa Dinah tava certa, o meu dia não seria tão ruim, eu finalmente seria a jornalista que sempre almejei mesmo antes de entrar na universidade.

Adentramos no prédio da revista um pouco antes das 10:00 a.m e rapidamente seguimos para sala onde aconteceria a reunião. De cara, noto a presença de um homem vestido de terno, muito bem alinhado e concentrado em um assunto qualquer, ele estava de costas enquanto conversava com outra colunista, mas assim que escuta o movimento da porta, se vira e eu logo vejo de quem se trata. Era só o que me faltava.

- Senhorita Cabello, bom dia - estende a mão educadamente e eu não tenho como ignorar.

- Bom dia Philip, como vai?  - meu tom de voz é polido e tenho que utilizar da educação dada pelos meus pais, para não gritar agora mesmo.

- Muito animado - diferente de mim, sua expressão é de pura felicidade - Estou muito satisfeito com a edição dessa semana, não sei se lembra que lhe falei ontem, mas temos uma matéria especial sobre os diamantes DeLauer - ah, sim, como esquecer da festa, dos diamantes, da responsável pela campanha? Minha cabeça volta a doer - Aliás, aconteceu alguma coisa ontem? Não nos despedimos, também não vi a Lauren antes de ir para casa. Devo dizer que vocês foram o casal mais cometado da noite.

- Eu já sei de tudo, Philip - ele me olha confuso e eu devolvo um olhar sério. Eu poderia estragar os planos da Lauren de uma vez, agora mesmo, certo? Respiro fundo - Não foi nada, eu peço desculpas por não ter me despedido da maneira correta, eu não estava muito bem no meio da noite e ela gentilmente me levou para casa, sinto muito por roubar sua funcionária exemplar numa noite tão importante para vocês.

- Ah - ele sorri comprensivo - Não se preocupe, estava tudo sob controle. Fico feliz em saber que ela estava do seu lado para lhe ajudar. A festa foi um sucesso. Estamos todos muito felizes.

- Que bom pra vocês - forço um sorriso - Anh, Philip, se me der licença, eu preciso pegar uma cópia da minha matéria antes da reunião começar.

- Claro, não quero te atrapalhar, eu já estou de saída - assinto - Até mais e apareça de vez em quando na PHR, você inspira minha publicitária - me limito a lhe estender um sorriso amarelo me retirando em seguida.

- Você tá concorrendo algum cargo de anjo imaculado e não me contou? - escuto Dinah falar atrás de mim, enquanto caminho até minha mesa em busca da minha cópia - Por que não ferrou com aquela alma penada?

- Tô sem disposição pra discutir, Dinah. Só queria me livrar o mais rápido possível daquele homem, ou você esqueceu que ele também participou da aposta?

- Sei!

- Dinah, não começa - pego meu exemplar - Vai agir igual a Ally agora e dizer que eu fiz isso porque não quis prejudicar a Lauren e deveria ir atrás dela porque formamos um lindo casal?

- Okay, não tá mais aqui quem falou, só acho que deveria ter dito tudo que aconteceu ontem.

- A aposta era me levar pra festa e mostrar pra ele que eu estava apaixonada, Dinah! Embora eu lamente muito admitir isso, ela conseguiu alcançar esse objetivo - minha amiga me olha com uma cara sentida e eu dou de ombros - Tá tudo bem, Cheechee, eu não sou a primeira nem a última a ter um sentimento não correspondido, né? Agora vamos porque quero ter pelo menos uma notícia boa hoje.

Seguimos para sala de reunião e como previsto, ela já estava ocupada com todos os editores esperando a entrada da chefia. Taylor não demora muito a chegar e inicia às críticas e opiniões em torno das matérias publicadas por cada um. Eu nunca entendi essa reunião ser feita no dia da publicação. Quer dizer, a revista já tá impressa, qual a diferença se alguma coisa tá certa ou errada, se aquelas páginas já estavam a caminho dos locais de venda?

A medida que minha editora chefe tece comentários sobre o que cada um produzira, a sala vai ficando mais vazia e propositalmente ou não, depois de algum tempo me vejo sozinha com ela, enquanto folheava pacientemente a revista. Ela parecia bem concentrada na minha matéria e eu só consigo sentir mais raiva por saber exatamente o conteúdo encontrado ali e depois do tempo que julgo mais do que suficiente, ela finalmente se manifesta.

- Bom, eu não sabia que esses dias haviam sido tão intensos e que você ia se declarar desse jeito - repira Camila, ela é a primeira de muitas que verão sua burrice - Não era o que eu esperava, quer dizer, o objetivo era você a dispensar e se divertir com tudo isso - lhe encaro sem saber o que falar - Mas, devo admitir que está muito melhor, meus parabéns, Camila - suspiro aliviada - Você realmente me surpreendeu e isso mostra que está pronta para assumir o seu caminho. De agora em diante, sinta-se livre para escrever sobre qualquer coisa.

- Qualquer coisa? - sorrio triunfante. Aí estava minha boa notícia do dia.

- Sim, pra qualquer lugar onde o vento soprar.

- Até política? - pergunto eufórica.

- Ah, o vento não vai soprar por esses lados.

- Que tal religião, pobreza, economia? - tento introduzir os assuntos que mais me interessavam.

- Esse vento na realidade é mais uma brisa leve.

- Sobre o que posso escrever então, Taylor?

- Sobre tudo que quiser! Sapatos, terapia laser, roupas para o seu tipo de corpo... Use a sua imaginação, o ceu é o limite - fala e logo volta sua atenção para os papéis em sua mesa. Então era isso? Acho que eu já posso, com todos os méritos, me declarar o ser humano mais estúpido, babaca e ignorante da face da terra, quiçá da galáxia inteira. Como eu poderia cogitar a possibilidade de escrever sobre assuntos tão relevantes numa revista como aquela, que só falava de assuntos tão banais? Nada contra, existe público pra tudo e algumas matérias tem seu fundo de importância, seja uma dica ou uma curiosidade, mas aquela não era eu. Eu não passei todo aquele tempo estudando para trabalhar em algo que não me representava. Mesmo trabalhando na Composure, eu sempre fui muito sincera sobre só escrever matérias relacionadas à coisas cotidianas e como isso me deixava. Você tem que honrar e seguir sua voz interior e eu sempre encorajei as meninas a fazerem o mesmo, mas elas se encontraram ali e eu estava feliz por elas, mas pra mim faltava algo, eu tenho isso no meu DNA. O modo que minha mãe me criou sempre foi: Não se acomode, se arrisque e espere que isso traga frutos. Eu preciso me sentir viva, mas fui imbecil o suficiente para achar que uma matéria ensinando como dispensar alguém em dez dias, seria meu passaporte para conquistar o meu sonho. Eu merecia levar bem na cara.

- Obrigada por essa oportunidade, Taylor - digo após um tempo em silêncio, refletindo meus próximos passos.

- De nada.

- E obrigada também por tornar mais fácil a minha demissão - ela me encara de olhos arregalados, com um misto de surpresa e confusão, mas não lhe dou tempo para questionamentos. Alcanço minha bolsa, saindo da sala sem olhar pra atrás.

Existem aqueles dias felizes, que um sentimento de plenitude te toma e você se sente entorpecido, como se nada fosse capaz de atrapalhar aquela sensação. Nesses dias, costumamos sorrir para o nada, agradecer por tudo e até questionar em que momento mereceu viver algo tão sublime. Mas também, existem àqueles dias que a única coisa que você deseja é se tornar invisível e ficar quieto, sem pensar em nada e sem ninguém para atrapalhar esse silêncio, que costuma ser tão perturbador. Era exatamente "nesses dias" que eu me encontrava agora. Me sentindo errada por ter brincado com alguém, enganada pela mesma pessoa, irada com minha ingenuidade, decepcionada com os resultados adquiridos, sozinha, sem alguém pra despejar todo sentimento que trazia em meu peito e agora sem um emprego também. Eu não farei aquela pergunta de "será que pode piorar?" Porque não quero arriscar ser surpreendida com a certeza dessa possibilidade. O que me resta é encarar minha total derrota, emocional, profissional e pensar no que será da minha vida daqui pra frente.

Alguns dias depois...

"Encarar minha total derrota", bem, não foi exatamente o que fiz ao longo desses dias. Hoje é Domingo, dia 16 de Outubro e seria só mais um, se não fosse por um detalhe, hoje aconteceria a final dos Knicks, jogo que fui convidada para assistir há duas semanas. Pois é, quase duas semanas haviam se passado desde todo aquele pesadelo que se tornou a minha vida. A minha matéria fora um sucesso e meu email lotou com mensagens de "escreve mais sobre a rotina de vocês", da qual fiz questão de ignorar sem remorso. As poucas vezes que me dispus a sair de casa, em sua maioria para ir ao supermercado, me deparei com outdoors espalhados, anunciando a campanha da grande DeLauer, que viria em poucos dias. Ótimo, pelo menos a vida de alguém tinha seguido seu curso naturalmente e o peso da minha consciência diminuía, afinal, eu poderia ter dado um jeito de arruinar tudo aquilo, né? Mas talvez a conta à pagar viesse ainda mais cara.

Neste momento estava prostrada sob o sofá macio da casa da minha amiga. Ally tem sido bastante paciente comigo durante esse tempo, não que isso me surpreendesse, mas era sempre bom ter certeza das pessoas que tinha ao meu lado para qualquer assunto. Dinah tivera que viajar para acompanhar a chegada de mais um irmão e para não me deixar sozinha, incumbiu nossa amiga mais velha de cuidar de mim para garantir que "eu não me entupiria de doce ou remédio em sua ausência e morreria sem direito a sua despedida". Dinah conseguia ser bem exagerada quando queria e eu era o alvo principal de sua maluquice, mas o que faria sem minha grandona?

- Você ouviu alguma coisa que falei? - escuto a voz da minha amiga distante e lhe encaro com uma cara culpada, lhe dando uma resposta silenciosa - Mila, você precisa virar essa página - franzo o cenho e ela sorri já sabendo do meu pensamento - Okay, eu não sou a melhor pessoa para falar isso, mas é sério, você tem que seguir em frente ou...

- Nem completa essa frase - interrompo já sabendo de sua alternativa.

- Não é uma ideia tão absurda.

- Claro, depois de tudo que disse e ouvi, é uma ótima ideia aparecer no apartamento da Lauren e perguntar se o convite para o jogo ainda está de pé, Allyson.

- Não tô me referindo a falar do jogo, me refiro à vocês duas. Tá na cara que ainda gosta dela, só tá magoada demais pra admitir isso.

- Ally, sabe engano? Então, essa história é um exemplo do significado dessa palavra. Nós entramos nessa, movidas por um intuito que não era o de permanecer juntas e é exatamente isso que está acontecendo, então o trabalho foi realizado com sucesso.

- Você é muito cabeça dura.

- Pode ser, mas agora silêncio que o jogo já vai começar, posso ter ignorado meu ingresso, mas ainda quero ver meu time ser campeão.

- Isso é o que vamos ver - diz convencida e eu reviro os olhos, lhe encarando.

- Sabe que eu me pergunto porque sou sua amiga! Você torce pra um time rival do meu e é hétero... É muito defeito pra ser superado, mini - ela me olha indignada - Se bem que é melhor continuar assim, gostar de homem dá menos dor de cabeça.

- Ah, é! Estou relaxadíssima aqui também, mesmo gostando de homem.

- A culpa foi sua, se falasse menos, o Troy estaria aqui até agora... Os homens são mais facilmente domesticados. Mulher quando quer fazer da sua vida um inferno, consegue sem deixar provas e sem o menor remorso. Você sabe, a inteligência nos domina.

- Eu que sou dramática, né? - diz e consegue arrancar um pequeno sorriso do meu rosto.

- Convivência. Agora presta atenção como se joga.

"E começa o último jogo da final que foi disputada em partidas emocionantes..."

O narrador exclama quando o juíz determina o início do último jogo.

- Eu não teria ido também - escuto Ally falar baixinho do meu lado - Bom, eu até gostaria de ir mas você provavelmente não deixaria - me entrega uma cerveja - Você fez a coisa certa, não fica assim, Mila! - ia tentar explicar pra ela mais uma vez que ficaria tudo bem, mas tenho a fala interrompida pela batida na porta - Olha aí, a comida acabou de chegar. Tô indo! - caminha na direção da entrada, com a carteira na mão - Certo então foi... - a fala de Ally para de repente e a vejo fechar a porta rapidamente - Mila! - ela me encara nervosa - Não é o entregador, é o Troy.

- Troy? - fico surpresa com suas palavras e sua reação.

- É! - seu nervosismo é gritante - O que eu faço? O que eu faço?

- Fale com ele! - digo calma tentando fazê-la ficar do mesmo jeito.

- Eu não posso.

- Ally, você fala do Troy há quase um mês e agora que finalmente ele veio te procurar, você vai dispensá-lo? O escute pelo menos.

- Certo, certo - ela tenta se acalmar - Você tem razão, você tem razão, como estou?

- Linda! - abro um sorriso lhe incentivando - Agora, abra logo essa porta antes que ele mude de ideia.

- Okay - ela caminha até a porta passando as mãos nos fios loiros. Posso ouvir a respiração de Ally daqui do sofá, seu peito subia e descia numa velocidade constante - Troy? - ela chama num tom aflito. Eu só espero que minha previsão esteja errada - Troy? - chama mais uma vez e finalmente escuto uma voz masculina soando no corredor.

- Oi - sua voz é baixa, talvez pela falta de jeito que aquela situação se desenrolava.

- Oi - minha amiga responde quase se derretendo, mas logo a vejo assumir uma postura de durona - Então, o que você tá fazendo aqui? - Okay, Ally, péssimo teatro.

- Eu não sei exatamente... Ontem à noite eu estava deitado na minha cama tentando dormir e, sabe o perfume que você borrifou no meu travesseiro?

- Ah, sim.

- Bem, ele sumiu e Ally, eu quero ele de volta.

- Eu não sei se você pode ter ele de volta - fala firme encarando o homem que parecia ainda mais nervoso.

- Tá, tá, entendi.

Não sei se estou na tpm, ou minha atual situação amorosa tá me deixando num nível totalmente anormal de sentimentalismo, mas ver Troy parado ali na porta, com uma expressão totalmente perdida, segurando em suas mãos trêmulas um buquê de rosas vermelhas, faz meus olhos lacrimejarem. Ally finalmente estava ganhando sua recompensa. Ela, que sempre era tão julgada por suas atitudes impensadas e um tanto exageradas, me provava sem querer, que quando o sentimento é verdadeiro, não importa o tamanho do absurdo que tenhamos que fazer para vivê-lo. Troy tinha aprendido aquilo e conhecendo minha baixinha, eu sabia que aquela marra estava prestes a ruir. Ela me olha e eu apenas sorrio em sua direção, lhe mostrando que estava tudo bem, ela não precisava se sentir envergonhada por desculpar tão rápido ou culpada por me deixar ali sozinha.

- Eu acho que posso pensar na possibilidade - ela finalmente lhe responde e Troy a encara esperançoso.

- Que bom - vejo um imenso sorriso brincar em seu rosto - Anh, essas são pra você.

- Obrigada! - Ally segura as rosas com extremo cuidado e inala seu perfume.

O momento seguinte é de emoção pra mim e imagino que de total euforia pra minha amiga, pois logo os dois estão trocando um beijo carinhoso, repleto de boas intenções e saudade.

- Sabe ursinha, nós bem que poderíamos...

- Ah, eu sei onde você mora - me olha divertida e eu pisco o olho em sua direção.

Escuto o som da porta ao ser fechada apressadamente, denunciando toda ansiedade daquele momento. Agora, os sons das torcidas e da narração, são os únicos presentes no ambiente. Que loucura pensar que toda essa história começou pra ajudar "leitoras confusas e perdidas como Ally", que cometiam erros em seus relacionamentos, fazendo com que eles tivessem um fim antes mesmo de se tornarem algo mais significativo. Agora a única confusa e perdida era eu. Minha realidade bem que poderia ser outra. Lauren podia ir até meu prédio, ser informada que eu estava na casa de uma amiga, dá um jeito de descobrir o endereço de Ally e aparecer, assim como Troy havia feito. Ou eu poderia fazer o mesmo e aparecer em seu prédio, embora tenha quase certeza que minha entrada já está mais do que proibida.

Mas nada disso iria acontecer. Ela não perderia o jogo para ir até minha casa, o porteiro não saberia o meu destino, ela também não teria como descobrir o endereço da minha amiga e mesmo que fosse capaz, quem me garante que esse era o seu desejo? Eu também não me levantaria daquele sofá. Depois de tudo que aconteceu, não era fácil dar o próximo passo e isso tudo é tão fodido, eu havia acabado de dar um conselho de "tente", "escute", "faça alguma coisa" e olha onde eu estava! Mas é sempre assim, é sempre mais fácil aconselhar do que fazer. Falar é sempre mais fácil do que agir. As atitudes congelam dentro de nós como se não nos pertencessem e acabam deixando de existir de verdade, uma vez que não são colocadas em prática.

Eu queria tanto que tudo tivesse sido diferente. Que eu merecesse o meu final feliz, mas talvez eu devesse acordar de uma vez e colocar na cabeça que isso só seria possível com outra pessoa. A minha história com Lauren já havia começado de maneira errada. Ela terminou antes mesmo de ter de fato um início e não tinha conserto. Eu, tentando bancar a "fodona com as palavras", como ouvira de sua boca e tentando mostrar para outras mulheres o que tanto erravam, acabei errando. Acabei cometendo, o que naquele instante, classifiquei como o maior erro da minha vida. E embora arrependida do acordo, das coisas que havia aprontado, das palavras intencionalmente proferidas, eu não correria atrás, eu não arriscaria ouvir e ter certeza que fui apenas uma peça num jogo da qual não fui convidada a participar. Covardia, eu sei. Mas nesse momento, a única coisa que posso fazer por mim é parar de me lamentar, é me erguer, pelo menos no lado profissional da minha vida, é fazer valer todo esforço que fiz na época da universidade e resgatar em mim, a Camila sonhadora e confiante. Eu machuquei e fui machucada. Estava na hora de reiniciar e talvez novos ares completassem melhor essa ação. Não era uma má ideia mudar de cidade, certo? E era exatamente isso que eu faria. Daria adeus a Nova York.


Notas Finais


Pra qual cidade a Camila vai, gente? So... Eu tentarei voltar mais rápido para contar sobre os dias da Lauren pra vocês. Se tiverem curtindo essa bagaça, coloque seu dedinho na estrelinha dessa página e divulguem para os amiguinhos essa estória. Nos vemos em breve. Aloha!


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