História Como Pode Ser?! - Frouxa

Acordei com o susto do despertador. Me levantei rápido demais, e provavelmente, devido a isso, fiquei com uma ligeira tontura.

Estava com uma bela dor de cabeça, um dos típicos sintomas da ressaca.

Tirei as cobertas de cima de mim e me levantei. Andei arrastando o pé até o banheiro.

— Merda...- Fiz massagem nas têmporas devido a dor de cabeça- tenho que pegar mais leve no álcool.

Joguei um pouco de água gelada no rosto e parei para me visualizar no espelho. Percebi que estava com as mesmas roupas do dia anterior.

Me despi e tomei um rápido banho quente. Logo depois, me enrolei na toalha, me sequei e coloquei meu uniforme. Estava apertado e mais curto do que o normal, precisava comprar um novo.

Dei mais uma checada no visual antes de descer até a cozinha.

Peguei uma torrada e comecei a mastigá-la. Olhei para o relógio de ponteiro pregado na parede e tentei decifrar o horário. 

Depois de alguns minutos, já que não me dava muito bem com relógios de ponteiro, percebi que estava atrasada para a aula.

Coloquei desajeitadamente as alças da mochila no ombro, peguei um pêssego na fruteira e saí correndo para fora de casa.

Não morava muito longe da escola, na verdade, minha casa e o colégio eram relativamente perto um do outro. Mas, devido aos minutos restantes até o primeiro sinal, tive que correr em todo o percurso. Só parei quando adentrei os portões e tive certeza que conseguiria entrar na sala de aula sem atraso.

Lembrei-me a tempo que tinha que olhar minha nova turma no mural. Fui até ele e chequei a lista de nomes.

A boa notícia era que Lalisa estava na minha sala; a má,  é que Tzuyu também.

Ótimo, mais um ano perto da pessoa que mais devia me odiar no mundo. Ah, e a melhor parte disso tudo é que eu nem sabia o porquê da Chou me odiar tanto. Mas vida que segue, certo?

Senti braços envolverem minha cintura e apertá-la. Me assustei num pulo. 

Virei-me para ver a pessoa abusada e sorrateira que havia me abraçado. Dei de cara com Lalisa. 

Tinha que ser, né?

— Me assustou, Manoban. Vá se foder.- Dei um tapa no ombro da loira.

— Bom dia pra você também, Kim.- Ela ignorou meu tapa e riu, mas um instante depois sua feição ficou séria- então... já viu a lista de nomes da nossa turma? Acho que teremos que suportar a Yoda por mais um ano.- Balancei a cabeça em afirmação e, talvez, com um pouco de desgosto.

Ouvimos o alto e escandaloso sinal.

Eu e Lisa nos entreolhamos com desespero, já deveríamos estar em sala de aula. Como cúmplices numa fuga, sem nem verbalizar nossos pensamentos, saímos correndo em direção à nossa sala.

Tivemos a sorte de chegar na sala e o professor Matsunaga ainda não estar lá.

Quando adentrei a sala, tropecei em algo e senti o impacto contra o chão frio. Por um momento, fiquei sem ar.

Virei-me para ver o que tinha me feito cair de tal forma. Encontrei Tzu em crise de gargalhada encostada na porta. Já tava explicado.

Quase beijei o chão e a culpada era Tzuyu. Muitas pessoas riram, mas não as julguei, até eu riria de alguém que caiu no chão tão espontaneamente como tinha acabado de cair. Só Lalisa não riu, ou pelo menos eu acreditava que não.

Lisa tentou vir me ajudar, mas foi muito lerda. Então, a menina ruiva da noite passada me estendeu a mão.

— Obrigada, Rosé.- Disse. Ela deu um sorrisinho de canto assentindo; e talvez tentando disfarçar a vergonha alheia que estava sentido.

Bati as mãos na roupa tentando limpá-la.

Olhei de relance e consegui ver Jennie pelo canto do olho. Ela olhava para mim com uma das sobrancelhas arqueadas. Não sabia o que aquilo significava, mas fingi não ver.

Depois de toda aquela cena, simplesmente decidi ir para o meu lugar e me sentar sem nenhum comentário. Só iria me complicar mais.

De todo esse tempo convivendo com as armações da Yoda, aprendi que não adiantava bater de frente. Teve uma vez que tentei e não deu certo, fomos levadas à direção e quem levou a advertência fui eu. Tzuyu conseguia se fingir de vítima muito bem, então a única coisa que me restava era tentar ser pacifista e ignorar.

O senhor Matsunaga entrou na sala e nos mandou sentar. As mesas eram compridas, cabiam duas pessoas em cada uma. Me sentei em uma mais ao centro.

Lalisa veio se sentar ao meu lado, mas Jennie se apressou e conseguiu o lugar antes dela.

— Perdeu, Loirinha.- Jennie a avisou com um sorriso sarcástico no rosto.

Lalice e eu a olhamos confusas. Isso nunca tinha acontecido antes. Lisa sempre era a minha dupla e ninguém nunca tinha disputado essa posição com ela, talvez por esse motivo estávamos tão chocadas.

— Mas onde eu vou me sentar então?- Lisa finalmente saiu do seu estado estático.

— Tá vendo a Rosie ali?- Jennie apontou para ruivinha a duas mesas à frente- pois é, ela ainda não tem uma dupla.

Lisa, um pouco relutante, assentiu e colocou suas coisas com cuidado ao lado de  Rosé.

Vi ela movimentar a boca para Roseanne, mas não entendi o que disse.

— Você é frouxa.- A menina ao meu lado me tirou dos devaneios.

— É o quê?- pensei ter escutado errado. Credo, não estava acostumada com alguém tão direto.

— Você é frouxa. Ponto.- Jennie encostou o cotovelo na mesa e apoiou a cabeça.- Por que não reagiu? Você poderia ter se machucado de verdade.

— Aprendi a ficar na minha. Já me acostumei.- Jennie arqueou a sobrancelha da mesma maneira que há alguns minutos atrás.

— E como é que alguém se acostuma a ser humilhado? Você não deveria permitir que te façam de motivo pra risada. Você é frouxa.

Sim, eu estava incomodada e chateada por ela ter me chamado de frouxa, mas não queria confusão com mais uma pessoa na escola. Por isso apenas fiquei calada e não retruquei.

— Vou te ajudar com isso, pode deixar.- Ouvi Jennie murmurar. Talvez a intenção não era me fazer escutar, mas de toda forma, acabei ouvindo.