História Condenada. - Holanda

Era mais ou menos meia noite quando a transformação aconteceu. Eu estava cuidando da Cath naquele dia. 1890, a Holanda nunca tinha sido tão fria.

Depois da morte da minha mãe, meu pai resolveu se mudar para a Holanda. Que, naquela época era o centro da epidemia. Não demorou muito até ele ser mordido e ter ficado louco e sedento por sangue. Naquela maldita noite nós brigamos. Meu irmão havia ficado em Londres com a empregada. Ele já era um vampiro, mas soube esconder muito bem do meu pai. Mas não de mim.

Naquela noite, uma quarta-feira, meu pai entrou em casa, agressivo demais para ser de bebida. Cath estava na cama comigo pois estava com medo devido a chuva e aos trovões. Ele então entrou. Seus olhos vermelhos fogo, seu rosto inchado e também vermelho fazia uma cara de dor. Joguei Cath para de baixo da cama e comecei a gritar mandando-o embora. Mas não adiantou. Ele pulou na cama e agarrou meu pé esquerdo. Suas unhas penetraram minha pele me fazendo urrar de dor. Eu chutei sua cara e escutei Cath chorando.

- Sai daqui agora! - Gritei para ela. No mesmo instante subi em cima de meu pai e tentei de todas as maneiras parar ele. Mas era impossível.

Cath saiu correndo do quarto. E eu ainda podia escutar seu choro.

- Pai, para por favor. -Supliquei segurando os braços dele. Mas não houve respostas, ele ainda tentava me morder. - Por favor pai, olhe no que você se tornou! - Ele então me jogou no chão e subiu em cima de mim.

No começo, parece que você derramou café quente no seu pescoço, depois de alguns segundos parece que alguém está passando um cubo de gelo em cima. E então você sente muito sono.

- Pai... Pensa na Cath... Por favor... - Meus olhos foram ficando pesados e minha respiração lenta. A ultima coisa que disse antes de morrer foi. - Eu te odeio.

Então, eu morri. Foi simples. Muita dor, pouca dor, sono, escuridão. Fiquei lá no chão por mais ou menos cinco horas. Quando abri os olhos de novo minha cabeça latejava. Passei os dedos pelo meu pescoço e senti o sangue seco e dois tiros de canhão. Ok. Os furos eram pequenos, mas no momento eu achei eles imensos. Não havia ninguém no quarto. E por falar em quarto, o meu estava destruido. Foi quando lembrei de Cath.

Levantei e corri a casa inteira. Nada. Até sentir um cheiro gostoso, muito gostoso que fez meu estomago roncar. Comecei a perseguir o cheiro e então, de baixo do sofá lá estava ela. Dormindo. Meu pai havia sumido mas ela ainda não estava em segurança. Não comigo ali. Eu queria morder ela. Beber todo seu sangue e procurar outra pessoa para morder. Mas eu não podia. Era minha irmã. A unica de nossa familia que estava viva. Delicadamente eu peguei ela no colo e fui em direção a porta, na hora que abri uma rajada de sol bateu no meu rosto.

De princípio é como derrubar café na sua cara, depois parece que continua derrubando café.

Cai no hall de entrada e com um chute fechei a porta. Meu rosto queimava e nisso Cath acordou e começou a gritar pois a pele do meu rosta estava derretendo.

- Calma, Cath, sou eu Val, calma por favor.

- Val?

- Sim amor, sou eu.

Ela me abraçou, mas meu rosto ainda estava queimando. Essa parada de que amor cura tudo é mentira.

Então eu passei o dia inteiro com Cath dentro de casa e com a cara derretida. Ela me contou que depois que saiu correndo se escondeu em baixo do sofá e ficou. Nosso pai procurou ela mas não achou e por fim foi embora. Ai ela dormiu. Quando a noite caiu eu expliquei o que estava acontecendo.

- Cath, meu amor, é o seguinte: eu vou deixar você no orfanato, mas volto pra te buscar quando conseguir um emprego, é temporário ta bom?

- Tudo bem. Eu te espero.

Tá bom, eu menti um pouco pra ela. Na verdade, menti muito, pois nunca fui buscá-la. Não podia.  Eu a deixei no orfanato.

Com o passar dos anos eu fui vendo ela crescer e não ser adotada. Com 18 anos ela teve que ir embora. Se casou e teve filhos. Nunca mais a vi. Seu tumulo é na Holanda ainda. Faz um século que não vou visitá-la. Mas até acho que foi melhor assim.