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História Confissões de uma ex adolescente - Eu ainda a amo


Escrita por: only_a_dreamer

Notas do Autor


Apesar de ter demorado muuuuuito pra postar, pretendo voltar a escrever os capítulos e postar com mais frequência!

Capítulo 3 - Eu ainda a amo


Fanfic / Fanfiction Confissões de uma ex adolescente - Eu ainda a amo

Aquilo não era justo. Tudo estava certo, eu estava certa do que queria. E de repente ela esta na minha casa e vai passar dias lá, eu estava confusa e chorando, lágrimas escorriam pelo meu rosto e meu peito apertava sem que eu pudesse controlar. Era tão injusto! Como eu ainda podia me sentir daquele jeito depois de tudo? Eu deveria ser muito idiota. 
Eu estava descendo a avenida, enquanto encontrava uma oportunidade de atravessar. Estava frio e garoando, mas eu não sentia nada. Era como se estivesse dormente. Não queria ir para casa e responder as perguntas dos meus pais sobre o que aconteceu. Não queria mesmo. Atravessei e continuei fui até uma praça que parecia vazia, o vento soprava forte e eu não ligava. Talvez fosse ficar doente depois, mas quem liga? 
-HEY PRINCE? É VOCÊ? - Eu escutei uma voz familiar e ao me virar vi... Sebastian?
Eu parei no lugar surpresa.
-Se-Sebastian? - Indaguei achando que estava delirando.
Ele se aproximou meio sorrindo meio confuso. 
-Você mora por aqui? - Ele perguntou.
-Moro, mas o que você faz aqui?
-Vim ver a nova casa para qual eu e minha família vamos nos mudar. Meus amigos todos moram por aqui, e eu costumo vir pra cá sempre, então...
-E-Eu não acredito. Parece muita coincidência. - Falei ainda processando aquilo tudo.
-Eu te vi saindo da lanchonete, pensei que fosse impressão, mas quando vi que era realmente você não poderia ficar lá pensando se você estaria com algum problema. - Ele se aproximou. O vento forte esvoaçava seus cabelos brancos, seus olhos estavam tão brilhantes e ele parecia ainda mais branco. Devia estar muito frio porque ele usava uma jaqueta bem grossa e saia fumaça da sua boca quando falava. Mas eu ainda não sentia nada. - Esta muito frio pra você ficar assim. - Ele tirou sua jaqueta e colocou sobre mim, eu me agarrei à ela, estava gelada e molhada, a garoa estava mais forte. Seu cheiro invadiu o ar. Um perfume forte e bom. - O que aconteceu? Vem que te pago um chocolate. Você esta fria! - Ele colocou um dos braços em volta de mim.
-Só não quero voltar pra lá. - Foi tudo o que eu disse e ele assentiu.
Pra quem não morava lá ele conhecia muito bem o lugar. Entrou em uma rua e fomos parar de frente há uma cafeteria que eu nem sequer sabia que existia. Parecia aquelas de filme, com parede de vidro  e sofás com mesas quadradas. Era bem bonito e aconchegante.  Entramos e ele escolheu um lugar, mais ao fundo.
Não demorou para que o garçom fosse nos atender, ele pediu dois chocolates quentes e brownies.
-Você não parece bem. Você estava chorando? - Ele estava sentado de frente para mim, passou sua mão, que estava impressionantemente quente, no meu rosto molhado de lágrimas e garoa.
Eu recuei e passei as mãos para secar o rosto.
-Acho que as coisas não acontecem como planejamos. - Falei não sabendo se deveria entrar no assunto. Mesmo ele me passando aquela sensação de confiança. Era como se qualquer coisa que eu dissesse fosse ficar apenas entre a gente. Eu não precisava pedir para ele não contar porque era como se ele já soubesse.
Ele recuou a mão e deu um sorriso de canto, como se lembrasse de algo não muito feliz.
-Eu sei exatamente o que quer dizer. Me sinto assim grande parte do tempo. - Ele olhou pelo vidro, a garoa havia se transformado em chuva.
Havia alguns carros no estacionamento e algumas pessoas rindo e conversando em suas mesas.
-Já gostou tanto de uma pessoa que nunca cogitou a ideia de perdê-la? Aquela pessoa que você pensa que vão passar a eternidade juntos, mas na verdade não vão é tudo ilusão.
Ele me olhou fixamente sério. Não sei se falei algo errado, mas os olhos dele pareciam incertos e de repente ele pareceu receoso. Sua respiração pareceu mais densa e era como se ele estivesse pensando no que dizer.
-Uma vez pensei que já. Mas quando conheci uma garota senti algo que nunca havia sentido nem mesmo com essa pessoa que pensei amar mais que tudo.
Um silêncio incômodo tomou nós dois. Algo de segundos, tempo do garçom voltar com o pedido. Ele colocou uma xícara grande na frente de cada um de nós e um prato com os brownies no meio da mesa.
Tomei um gole do chocolate e voltei a falar:
-Uma pessoa do meu passado voltou e eu descobri que ainda a amo. Mas estou muito magoada para perdoar.
Ele engoliu em seco, ainda me olhava fixamente. Até sair de seu devaneio e tomar um gole também.
-Se a ama vai acabar perdoando. Só tem que dar tempo ao tempo. - Foi tudo o que ele disse.
De repente parecíamos dois estranhos e aquela sensação de conforto havia desaparecido. Comemos e tomamos o chocolate quente sem trocar muitas palavras. Eu não sabia porque. Mas não sabia o que fazer. 
Ele se ofereceu para me levar até em casa, já estava tarde. Eu não quis. Ele não insistiu e foi embora. O que só fez eu me sentir pior, talvez eu devesse ter aceitado. Será que ele estava magoado? Acho que não teria razão.
Agora eu estava sentido muito frio no caminho de volta para casa. Insisti para que ele pegasse a jaqueta de volta. Mesmo com as blusas de lã, era óbvio que ele ainda estava com frio. Estava escuro e eu tinha que ir para casa querendo ou não. Levei toda a chuva que insistia em não diminuir. Tentei fazer o mínimo de barulho ao abrir o portão da garagem, mas não demorou muito para que Miguel abrisse a porta e viesse correndo em minha direção.
Ao entrar, lá estavam todos sentado na sala. Bárbara estava usando pijama e sentada ao lado da minha mãe com a cabeça no ombro dela. Eu estava toda molhada. Estava me preparando para todas as broncas que pudessem vir. Mas não foi o que aconteceu.
-Achei que não fosse mais voltar. - Meu pai falou em tom descontraído e não bravo como eu esperava.
-Pai, mãe é que...
-Bárbara já nos contou tudo.
-Ela contou? - A olhei com receio do que ela poderia ter dito aos meus pais. Ela endireitou a postura e encostou-se no braço do sofá.
-Ela disse que não estava muito no clima de ficar lá com vocês e que resolveu vir embora cedo enquanto vocês ficaram lá. Você até se ofereceu para vir com ela, mas ela não quis porque fazia tempo que você não os via. - Ela me olhou como se estivesse esperançosa e sorriu.
-Ah... É, foi isso. - Falei sem olhar para Bárbara. - Eu vou tomar banho, levei toda essa chuva.
-Aposto que você nem quer comer. - Ela completou.
-Não, já comi bastante. - Subi as escadas e fui para meu quarto.
Peguei roupas limpas e fui tomar banho. Não sei por qual motivo ela mentiria, talvez se sentisse mal por tudo que eu disse. Porém, não seria eu quem contaria a verdade.
Após o banho voltei para o meu quarto e fiquei ali, deitada na minha cama olhando para o teto e pensando em tudo o que havia acontecido. Estava em dúvida se deveria descer e fingir que tudo estava bem ou se deveria ficar ali e tentar dormir. Antes que eu pudesse tomar uma decisão escutei a porta abrir. Era Bárbara.
Não me movi, continuei olhando para o teto com os braços cruzados sob a cabeça. Tentei controlar minha ansiedade e nervosismo. Eu deveria odiá-la, então por que fico nesse estado sempre que penso nisso?
Ela foi até suas malas, abriu uma e pegou ou guardou algo, não sei direito, não olhei. Ao levantar novamente falou:
-Eu posso dormir na sala.
-É mais fácil eu dormir na sala do que você. - Falei em tom que pareceu cruel até para mim. - Pode ficar aqui. -Levantei, e sai em direção a porta. Mas parei ao chegar na entrada e a olhei sobre o ombro direito. - Por quê mentiu?
-Não quero que você seja obrigada a ficar comigo se não quiser. Apenas isso, e depois que você foi embora eu sai atrás de você e vi aquele garoto da festa indo atrás de você. Falei pro pessoal que preferia ir embora e eles entenderam, o que fizeram depois eu não sei. - Ela deu de ombros.
-Valeu. - Falei e fui para a sala. Não havia mais ninguém, por certo foram dormir. Deitei em um dos sofás e me enrolei com a coberta que tinha pego. Liguei a tv e fiquei ali, não estava assistindo, estava pensando em como fui burra. Tive outra chance com Sebastian e não fiz nada, ele se preocupou comigo e tentou me ajudar e eu fiquei tão fissurada na Bárbara que era como se ele não estivesse ali comigo.
Parabéns Prince! Você é a garota mais burra que conheço! Eu achando que nunca mais iria vê-lo novamente, descubro que ele vai se mudar para meu bairro. Se eu tivesse falado para nos encontrarmos de novo, meu bairro é muito grande. Qual seria a probabilidade de uma terceira chance? Não queria nem mais pensar nessa burrice.
Foi então que tive  a ideia de procurá-lo em alguma rede social, ele foi na festa da minha tia, talvez alguém  tivesse ele. Subi de volta para meu quarto para pegar meu celular que havia esquecido lá. A porta estava fechada e ao me aproximar pude escutar bem baixinho o que parecia ser um choro. Bárbara estava chorando. Naquele momento me senti muito pior, ela perdeu o pai e tinha chances de peder a mãe, e tudo o que eu estava fazendo era nutrir minha raiva por ela.
Não sabia se deveria entrar ou recuar. Ela deveria estar tão arrasada, e se fazia de forte para que ninguém a visse naquele estado. Encostei minha cabeça na porta e para minha surpresa não estava mesmo fechada, apenas encostada, a porta abriu e eu tropecei para dentro do quarto. Bárbara me olhou com os olhos arregalado. Ela estava abraçada com suas pernas encostada na beira da cama, no chão. Estava tudo escuro, exceto pela luz do abajur que permitia identificar onde estava os móveis.
-Desculpa, eu não queria... eu só queria...
-Tudo bem. - Sua voz era falha e chorosa. Ela secou o rosto. - O quarto é seu. - Naquele instante eu vi a mesma garota de cinco anos atrás chorando no caixão do pai e meu coração doeu de uma forma inimaginável.
-Eu só vim pegar meu celular. - Falei pausadamente indo até a penteadeira, era onde ele estava.
-Prince... - Ela puxou o ar pelo nariz com força, reflexo de quem chora . - Eu sei que faz muito tempo que não nos falamos, mas queria pedir sua ajuda com uma coisa.
Eu virei sem dizer nada e apenas afirmei com a cabeça.
-Com minha mãe no hospital, vamos ter muitos gastos e eu não estou autorizada a mexer em nada do dinheiro. O que me deixa aqui dando despesas para vocês. Então eu queria que você me ajudasse a arrumar um emprego, assim poderei ajudar com as despesas de vocês.
Bárbara sempre foi humilde. Mesmo sendo uma garota rica, ela nunca destratou ninguém e nem se achou superior por conta disso. E pelo visto ela não mudou.
-Tudo bem...- Falei com a voz fraca. Até podia falar que não precisava, mas a verdade é que a crise financeira ia de mal a pior.
Ela abraçou mais firme suas pernas.
-Quando minha mãe sofreu o acidente ela estava indo me buscar para que saíssemos juntas. Eu não estava afim de sair de casa, mas ela insistiu de que seria bom e divertido. Eu aceitei e ela ficou de passar em casa depois do trabalho. De repente eu recebi a ligação de que ela estava em coma em um hospital por causa de um acidente de carro. Se nós não fôssemos sair ela iria para academia e não teria passado onde teve o acidente. Aconteceu porque ela precisou me buscar. - Ela me olhou e seus olhos estava cheios de lágrimas que estavam prontas para escorrerem caso ela piscasse mais devagar.
-Não foi sua culpa. - Agachei apoiando-me em uma das pernas. - Ela só estava no lugar errado e na hora errada, poderia ter acontecido com qualquer um e infelizmente foi com ela. Ela vai sair dessa. Lembra da vez que ela inventou de instalar a antena parabólica sozinha?- Tentei fazê-la se sentir melhor. Ela soltou uma risada fraca.
-Ela caiu do telhado e todos achamos que ela estivesse morta, mas tudo o que aconteceu foi que ela quebrou um braço e uma perna. - Bárbara lembrou.
-Isso. E da vez que ela bateu o carro no poste para desviar de um cachorro? - Sim, minha tia tem uma enorme lista de acidentes e desastres.
-Ela levou três pontos na testa. - Bárbara riu novamente. - E ainda disse que queria ver se o cachorro estava bem. Lembro que ela não sossegou enquanto não a levamos para vê-lo. No fim, ela acabou adotando-o.
-Ela vai sair dessa. - Repeti. - Ela é uma mulher forte. Dizem que quando estamos dormindo nosso espírito viaja por outras dimensões. Talvez ela só não tenha encontrado o lugar do seu corpo ainda.
-Do jeito que ela é, é capaz de ela estar tomando chá com quem estiver perdido lá também. - Rimos. Depois de alguns segundos de um silêncio agonizante eu finalmente disse:
-Agora eu vou voltar para a sala. Mas a cama não é enfeite, pode deitar nela. - Ela sorriu se levantando. E eu sai após pegar o celular.
Voltei para a sala e deitei no sofá. Até esqueci o que eu ia fazer, então tentei dormir.
Estava escuro e crianças brincavam nos fundos de uma casa. Estava embaçado, não dava para ver seus rostos em meio à escuridão.  Elas corriam para os fundos da casa para se esconderem, brincavam de esconde- esconde. Após serem encontradas pelo garoto mais alto da turma, todos voltam correndo, exceto uma garota. Quando ela pensou em se entregar para não ficar ali sozinha uma mãos surge do escuro segurando seu braço frágil e delicado com firmeza, sem machucá-la. A única coisa capaz de ver era sua camiseta vermelha, não era possível ver seu rosto.
 Acordei no mesmo ponto de sempre. Estava caída no chão enrolada no pano. Não faço ideia de como consegui fazer tal coisa, só sei que quando olhei para cima, lá estava Gustavo com olhos arregalado e rindo. 
-Você deveria ter visto! - Ele ria sem parar. - A Prince se debatia como um peixe fora da água! Ainda por cima caiu e quase levou o sofá junto.
-Já chega! - Meu pai veio por trás do Gustavo me ajudando a levantar.
Outra vez aquele pesadelo, apesar de nunca ter contado para ninguém, parecia estar piorando.
Após me levantar me sentei no outro sofá e me joguei para deitar, meu pai havia deixado seu violão encostado ali e eu não tinha percebido. Assim que minha cabeça afundou no estofado o  violão veio de encontro ao meu rosto. Uma das tarrachas acertou meu olho esquerdo.
Levantei com ele ardendo um pouco. Meu pai, Gustavo e até Bárbara, que tinha decido por causa do barulho, me olhavam assustados.
- O que foi? - Não entendi o motivo pelo qual me olhavam tão espantados.
-Seu olho... - Gustavo apontou sem terminar a frase.
- O que tem ele? - 
- Esta roxo parece que levou um soco!- ele disse por fim.
Corri para o banheiro e ao me olhar no espelho , vi o estrago. O roxo estava bem forte ao redor do meu olho. Não doía e o ardor já havia passado.
- Você tem que colocar um bife aí. - Meum pai devia estar achando que estávamos em um filme de ação ou algo do tipo.
- Tá doido pai? - Gustavo indagou indignado - Vai estragar um bife com o olho dela! Coloca uma pedra de gelo que tá ótimo. Ficar estragando a comida com ela, tem que pensar que ainda há pessoas nessa casa querendo comer!
- Cala a boca Gustavo! Não precisa de nada disso, nem tá doendo. - Falei analisando o roxo pelo espelho.
- Mas vai ficar inchado. - Gustavo - Se é que dá para piorar.
Todos ficamos em silêncio ao escutarmos passos se aproximando do banheiro.
- O que esta acontecendo aqui? - Era a voz da minha mãe.
Não deu tempo de responder, assim que olhou para mim ela percebeu.
- Meus Deus! Prince quem te bateu? - Ela correu até onde eu estava, pegou no meu rosto e analisou meu olho que já estava um roxo avermelhado.
- Ninguém. - Tentei acalmá-la.
- Não minta para mim! Foi você, Gustavo? - Ela olhou diretamente para ele. - Ôh homem! Como tu deixa uma coisa dessa acontecer?! - Nem meu pai escapou dessa.
- Eu?! - Os dois indagaram e se entreolharam.
- Essa daí que é uma anta! Se jogou no sofá achando que é cama elástica e levou uma violãozada na cara. O soco veio do braço do violão. - Gustavo se defendeu.
- Olha - Bárbara chegou com uma sacola amarrada com um cubo de gelo dentro, ela colocava a mãe embaixo da sacola para que não pingasse no chão.
Minha mãe pegou e colocou sobre o meu olho. Segurei a sacola. Ardia por causa do gelo.
- Pode deixar. - Falei gentilmente.
- Certeza de que esta bem? - Minha mãe perguntou cuidadosa como toda mãe.
- Sim mãe. - Dei um beijo em sua testa. - Só quero dormir. É tarde.
Eu queria ir dormir no meu quarto, mas estava invadido por Bárbara. Ou eu dividia com ela ou ficava na sala, as regras da minha mãe foram bem claras. Não olhei para ela nem por um instante e passei direto para a sala. Arrumei os panos no sofá enquanto todos subiam para seus quartos. Senti que ela hesitou, mesmo assim não falou nada, apenas subiu.
Fiquei deitada pensando por um tempo naquele sonho. Fazia tempo que eu tinha aquele mesmo pesadelo e nunca descobri o que significava, se é que tem algum significado. Ele começou de repente, no começo era bem curto, mas foi aumentando com o passar do tempo, como uma memória que você recupera aos poucos depois de anos.
Depois de virar e revirar no sofá como um hambúrguer na chapa finalmente consegui dormir.

Não faço ideia de que horas eram, tudo estava claro graças a luz do sol. Levantei e fui no meu quarto para deixar meus cobertores lá, Bárbara ainda dormia profundamente. Fui escovar os dentes e pude ver a situação do meu olho. Não estava inchado, agora estava um roxo amarelado. Não queria que me vissem assim, infelizmente não tinha nada que eu pudesse fazer. Tentei disfarça com uma base e pó, mas foi o mesmo que nada, nenhuma diferença. Resolvi descer para tomar café.
Desci as escadas e tomei um susto quando vi uma mulher sentada no sofá da sala conversando com minha mãe como se fossem melhores amigas. Para minha maior surpresa ela não estava sozinha, ela estava com uma garota que não aparentava mais do que catorze anos. Ela tinha cabelos preto, compridos e liso. Sua maquiagem era bem forte e suas roupas toda preta, usava uma pulseira de espinhos e tinha piercings em vários pontos do rosto, como sobrancelhas, boca, septo e um transversal na orelha direita. A única coisa que se assemelhava com a mulher eram seus profundos olhos verdes como esmeraldas.
A mulher tinha cabelos  curtos na altura da boca, franja quase cobrindo os olhos, um corte bem estiloso, na verdade. Para falar a verdade aquela era a primeira vez que eu estava vendo aquela mulher.
- Oi. - Ela disse ao me ver parada no começo da escada, eu estava quase voltando para cima se ela não tivesse me visto. Se levantou para me cumprimentar, não tive outra escolha se não ir até onde elas estavam.
Ao me aproximar percebi a rápida expressão de surpresa pelo roxo no olho, deve ter pensado o que qualquer um pensaria, que eu me meti em alguma briga. Mas minha mãe negou levemente com a cabeça e ela pareceu aliviada. Não precisou palavras para que uma entendesse a outra. Deveria ser uma amizade de muito tempo.
- Oi. - Eu falei envergonhada quando cheguei lá a cumprimentando.
A garota estava sentada com os braços cruzados, séria e postura largada, afundando no estofado do sofá. Parecia que estava ali por obrigação e não via a hora de ir embora.
- Essa é minha amiga, Cristina. - Minha mãe falou enquanto nos cumprimentávamos com beijo no rosto.
- Sua filha é linda. - A mulher falou me analisando. Sabia que ela estava louca pra saber o que aconteceu com meu olho, mas também sabia que minha mãe iria contar assim que eu saísse.
- Cristina esta se mudando para a casa do lado, a que estava a venda. - Minha mãe continuou.
A casa a qual ela se referia era uma antiga casa que pertenceu a família Baltimore. A casa tinha fama de mal assombrada e eu sabia muito bem o porque desses rumores.
Era noite de Halloween e vamos combinar que a noite de Dia das Bruxas no Brasil não é tão emocionante quanto no exterior. A única coisa que fazemos é ver filmes de terror reprisados pela centésima vez na tv. Naquela noite minha amiga Mariana ia dormir na minha casa e nós queríamos fazer algo que não fosse ficar no sofá vendo Freddy Krueger e Jason comendo besteira. Queríamos algo diferente. Algo que marcasse aquele dia. Resolvemos usar aquele dia para se vingar do meu vizinho, Lucas. Ele havia jogado bexigas cheias de tinta da sacada dele e acertou Mariana e eu enquanto voltávamos da escola na semana anterior. Então iríamos pregar uma peça nele. Mariana entendia muito de maquiagens para filmes e personagens, ela adorava aquilo. Ela fez uma maquiagem de morta viva em nós, e realmente parecíamos mortas decompostas há dias. Ela fez várias cicatrizes espalhadas pelos nossos corpos e rostos.  Usávamos dois vestidos meus que estavam bem velhos, os rasgamos e sujamos, estávamos irreconhecíveis.
Saímos pela janela do meu quarto sem que ninguém nos visse. Pulamos o enorme muro que separava a minha casa da casa do Lucas. Lucas morava com a vó dele, então para não assustarmos a velha iríamos tentar entrar no quarto dele. Tudo estava como planejado, ao menos até a parte de pularmos o muro. Enquanto caminhávamos em direção à janela da cozinha meu pé enroscou em uns fios que estavam largados no meio do quintal. Tropecei e cai dentro de um carrinho de mão que estava perto de um buraco. O carrinho andou para frente, comigo dentro e caiu dentro do buraco.
O barulho foi tão alto que logo em seguida escutamos a porta da frente se abrindo. Mariana correu e se escondeu, me deixando lá, caída com o carrinho dentro do buraco que deveria ter um metro de profundidade. O impacto me deixou meio atordoada e não consegui sair a tempo e correr. Tudo doía. Ainda estava tentando levantar quando escutei passos se aproximarem. Lucas deveria estar se aproximando, era agora ou nunca. Quando eu ia me preparar para assustá-lo quem apareceu foi sua avó.  Eu não precisei fazer nada, ao me ver toda desmantelada ali e gemendo de dor, a velha começou a gritar desesperada. Ela dizia que um morto havia se desenterrado do seu quintal e agora estava atrás dela. Quanto mais eu pedia para ela ficar quieta e se acalmar, mais ela gritava. Obviamente ela não me reconheceu e eu estava vendo a hora de ela infartar. Ela queria correr, mas como nem suas pernas e nem seu corpo tinha tanta agilidade ela só conseguia dar um passo por minuto, enquanto ela berrava por socorro.  Ela podia não ser a mais rápida, entretanto sua potência vocal mereceia um Oscar. Eu sabia que não tinha como acalmá-la e várias casas acederam suas luzes, logo a rua toda estaria ali para saber o que estava acontecendo. Então aproveitei que ela estava de costas para mim para sair dali. Mariana me ajudou e pulamos o muro de volta. Não sei dizer quem estava pior, se era eu ou a velha. Eu estava tão dolorida por causa da queda que se eu parasse de correr iria desmaiar ali mesmo. Entramos no meu quarto pela janela, tratamos de logo tomar banho e nos livrarmos das roupas. Eu estava com vários arranhões e hematomas, Mariana ria descontroladamente de tudo o que havia acontecido. Depois de alguns minutos decidimos ir checar se ela havia se acalmado, porém, quando colocamos a cabeça pra fora da janela a situação era bem pior do que imaginávamos. A rua inteira estava ali, pessoas que passavam paravam pra saber do que se tratava, até mesmo a polícia já havia sido chamada. Não sabíamos o que fazer.
Descemos como se nada tivesse acontecido, e fomos até lá, dessa vez pela porta da frente, minha família toda já estava na porta do lado de fora pra saber o que estava acontecendo. Fomos nos aproximando lentamente, principalmente eu, que mal conseguia andar. A velha já era considerada caduca, depois que ela disse ter conversado com um alien em sua banheira enquanto tomava banho. Então pode-se imaginar o que aconteceu quando ela disse que um zumbi havia saído do seu quintal. A  polícia vasculhou todo o local e ao não acharem nada pegaram o número da filha dela para ir ficar com a mulher. A multidão assistia a cena da velha insistindo que para os policiais de que era tudo verdade e que ela não era louca como pensavam.
Mais ou menos uns quarenta minutos depois o carro da garota estacionou e ela saiu do carros desesperada indo direto na sua mãe.  Todos ainda estavam ali. Eu não sei como Mariana se sentiu, mas eu me senti muito mal com aquilo.
A velha tanto insistiu que a mulher achou melhor levá-la para morar com ela. Foi então que descobrimos que Lucas tinha ido passar o fim de semana com o pai.
Ela foi para nunca mais voltar, a levaram na manhã seguinte achando que estava caducando. Sentimo-nos muito culpadas, fomos contar a verdade para a mulher que não acreditou em uma só palavra, ela achou que só queríamos ajudar a senhora a ficar. Minha mãe por outro lado me deixou de castigo por um mês, sem celular, tv, computador e era de casa pra escola e da escola pra casa, sem visitas e nem podia visitar ninguém. Ela também ligou para os pais de Mariana e contou tudo. Os pais não tem dó na hora de castigar os filhos. Aprendi que a vingança não tem nada de doce, ainda mais quando dá errado.



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