História Conselheira Amorosa - Capítulo 15

Entro no meu apartamento aos prantos, quando tusso lembro do cheiro da fumaça, já não está tão forte, mas ainda me incomoda, sei que ali não posso ficar, mas em hipótese alguma volto pro AP do Andrew, resolvo ligar pra Mary.

-Oi Hanna. - diz ela do outro lado da linha com voz sonolenta. - Porque ta me ligando esse horário? Algum problema?

Me toco que já deve ser tarde.

-Desculpa Mary, mas... - tusso. - Queria saber se posso dormir ai.

-Você está resfriada?

-Não, é que pegou fogo no micro...

-FOGO! - Mary fica preocupada. - Você se queimou? Você está bem?

-Calma Mary, eu estou bem, Andrew me socorreu... - dizer o nome dele dói. - Posso dormir ai ou não Mary? - fico meio sem paciência.

-Claro Hanna, vem sim, vou te esperar!

Desligo o celular e vou arrumar umas coisas pra levar, fecho a porta do AP, antes de ir até o elevador olho pra porta de Andrew, meu coração fica apertado, uma lágrima escorre pelo olho, entro no elevador e assim que ele se fecha atrás de mim sei que tudo mudou daqui pra frente. Estaciono em frente a casa da Mary, confesso que nem sei como consegui chegar, vim o caminho todo chorando. Mary abre a porta da frente e vem ao meu encontro, me arrasto pra descer do carro, porque só queria que o chão se abrisse aos meus pés.

-Hanna!? - Mary fica um tanto assustada ao me ver chorando.

Apenas olho pra ela sem ter o que dizer, Mary se aproxima e me abraça.

-Vamos Hanna, vamos entrar, você precisa descansar. - Mary pega minha bagagem de mão e me leva pra dentro.

Mary me faz deitar em sua cama e ela deita do outro lado, desde sempre dormimos juntas, sempre ficamos até tarde conversando e rindo feito doidas, só que hoje não quero rir nem conversar, só preciso apagar, tentar esquecer essa noite. Mary mexe no meu cabelo, ela sabe que isso me relaxa quando estou nervosa, ainda chorando o sono começa a me dominar.

-Dorme Hanna, vai ficar tudo bem, você vai ver. - pego no sono com essas últimas palavras de Mary.

Desperto no outro dia meio assustada, tive vários pesadelos, Andrew estava em todos eles.

-Bom dia dona dorminhoca! - diz Mary entrando no quarto.

-Bom dia...

Espera! O que a Mary está fazendo no meu quarto? Sento rápido na cama e olho a minha volta.

-Calma, você está na minha cama, no meu quarto, não se assuste. - Mary senta-se nos pés da cama. -Você está bem?

Caio em si da noite passada, olho pra Mary e sorrio meio sem graça.

-Obrigada. - digo.

Pego o celular para ver as horas.

-Meu deus! Estou atrasada pro trabalho! - levanto de um salto.

-Pode relaxar ai Hanna, hoje você não vai trabalhar. - diz Mary sossegada.

-Eu preciso Mary, minhas clientes precisam de mim. - vou mexer na minha mala.

-Já liguei pra Ingrid e disse pra ela cancelar com todas suas clientes por hoje.

-Não acredito que você fez isso! Mary minhas clientes...

-Nada de suas clientes hoje Hanna, você precisa de um tempo pra você, do jeito que chegou aqui ontem por mim você tirava o resto do ano de folga!

Ontem... Parece que foi há alguns segundos, as lembranças voltam de repente.

 

"Sabe que se sair por essa porta nossas vidas vão mudar não sabe?

-Sei.

-Tem certeza disso?

-Não tenho escolha.

-Você sabe que tem. "

 

Lembrar do último adeus ao Andrew me sufoca, dói, seu olhar de decepção parecem facas afiadas entrando em minhas costas, me abraço e começo a chorar.

-Hanna! - Mary corre em minha direção e me abraça. - Me conte o que te aflige!

-Eu... Andrew... - minha voz se recusa a sair.

-Se acalme Hanna! O que aconteceu entre você Andrew?

Enxugo as lágrimas e respiro fundo.

-Acabou Mary, acabou. - minha voz sai embargada.

-O que acabou Hanna? Me explica essa história direito! E outra... Que história é essa de pegar fogo no seu AP?

-Foi ai que tudo começou. - olha pra baixo.

-Hanna vamos lá, me conte tudo do começo porque não estou entendendo nada.

Nos sentamos na cama e começo o relato da noite passada, Mary presta atenção em cada detalhe.

-E foi isso. - suspiro voltando a chorar.

-Ai Hanna! Confesso que não sei o que dizer, ao mesmo tempo que concordo com você, mas... Não posso deixar de concordar em partes com Andrew.

-Mary!

-Mas é sério Hanna! Analisa comigo... Você não merece ser feliz? Sim, envolve outras pessoas, mas e a felicidade de vocês dois onde fica? Assim como qualquer pessoa vocês também merecem ser felizes!

-E você acha que eu não sei disso?! - levanto da cama e fico andando de um lado pro outro no quarto. - Mary você lembra da minha profissão? Lembra com o que trabalho?

-Você é psicóloga formada e tem um clínica de conselhos amorosos.

-Conselhos amorosos, esse é o ponto. - aponto o dedo pra ela. - Sabe um dos problemas que mais aparecem no meu consultório?

-Mulheres desesperadas?

-Mulheres decepcionadas! Mulheres que foram traídas, deixadas e abandonadas por outra! Acha realmente que eu seria capaz de fazer algo do tipo com a Rachel e ainda mais com o Phil que é o próprio irmão do Andrew?

-Não, mas...

-Onde fica meu lado profissional nisso? Não posso ir contra meus princípios Mary!

Mary fica pensativa, volto a me sentar ao seu lado.

-Tudo bem, não vou mais discutir, afinal você também não deixa de estar certa, mas... Eu no seu lugar jamais conseguiria fazer o mesmo, deixar o amor da sua vida pelo bem de outros... É muita bondade sua!

Sorrio sem graça, de alguma forma as palavras de Mary me afetam.

-Enfim... Já que não vou trabalhar, o que vamos fazer? - pergunto.

-Vamos ao shopping oras!

-Grande novidade! - reviro os olhos.

-Tem ideia melhor? - abro a boca pra dizer algo. - Certeza que não! - Mary me interrompe. - Vou deixar você se arrumar ai, vê se não demora!

Mary me deixa a sós em seu quarto, enquanto me arrumo fico pensando em suas palavras.

"Deixar o amor de sua vida pelo bem de outros..."

Porque sinto um peso ao pensar nisso? Só estou fazendo o certo! De repente as palavras de Andrew aparecem.

 

"Pense em nós Hanna..." "A felicidade está em sua porta..." "Pare de pensar nos outros..."

 

Começo a me sentir sufocada, abro a janela para tomar um ar, corro até o banheiro lavar o rosto, me encaro no espelho.

-Para com isso Hanna, já está na hora de você começar a esquecer isso, você consegue garota! - digo a mim mesma.

-Hanna morreu ai minha filha! - grita Mary lá de baixo.

-Já to indo!

Passo batom, lápis e rímel nos olhos e desço.

-To pronta, vamos embora! - digo saindo pela porta.

 

*-*-*-*

 

No shopping tomamos café e andamos pelas lojas, Mary, como sempre, compra muito, eu, porém não estou muito afim, mas ajudo Mary com as escolhas dela, depois vamos almoçar, o tempo vai passando e consigo "esquecer" os acontecimentos da noite anterior, Mary faz de tudo pra me fazer rir, o que pra ela não é difícil, porque quando ela quer ela consegue ser a rainha da comédia. De repente meu celular toca, quando olho na tela vejo que é Philip.

-Oie! - digo ao atender.

-Oi Hanna! Tudo bem? Que saudades! - ele diz todo feliz.

-Tudo bem sim e você?

-Pode ficar melhor.

-Como assim?

-Tenho um convite pra te fazer!

-Que convite? - fico curiosa.

-Espero que goste. - Philip faz suspense.

Mary está toda sorridente olhando pra mim.

-Conta logo Phil!

-Você topa ir comigo pra Londres?

Fico em silêncio tentando assimilar o convite. “Espera... Ele disse Londres?”

-Londres? - pergunto meio chocada.

-LONDRES? AI MEU DEUS HANNA! - Mary fica histérica.

-Quem está ai? - pergunta Philip ouvindo Mary gritando feito doida.

-É a Mary, minha amiga doida. - faço sinal pra ela ficar quieta.

-Meu deus bem que você falou que sua amiga era doida! – Philip ri. - E então Hanna, você aceita o convite? - Philip parece esperançoso.

-É... Quando é a viagem? - pergunto um tanto preocupada.

-Como assim você está perguntando quando é a viagem? - Mary grita na minha orelha. - É só você dizer sim criatura!

-Mary! - a repreendo.

-Acho que quem ta querendo ir é a Mary! - Philip ri do outro lado da linha.

-Tenho certeza disso! - também sorrio.

-Bom... O vôo é hoje a noite...

-Hoje a noite? Wow meio em cima da hora...

Mary toma o celular da minha mão.

-Phil aqui é a Mary, e em nome da Hanna eu digo que ela vai! Que horas é o vôo? - Mary espera uma resposta. - Às 7 horas ela estará pronta pode deixar, ok, tchau! - Mary desliga o celular e me devolve toda sorridente.

-O que você fez? - pergunto meio chocada.

- Resolvi parte da sua vida! - encaro Mary com os olhos semicerrados. - Ah qual é Hanna, o cara te convida pra ir pra Londres, você ouviu bem?

LONDRES, e você fica ai com frescura!

-E meu trabalho e minha vida aqui Mary?

-Para de pensar em trabalho pelo amor de deus! E quanto a sua vida, ta na hora de dar um up!

-Mas...

-Nem mais nem meio mais! - Mary se levanta da mesa. - Vamos!

-Onde? O vôo é só a noite.

-As compras! - Mary sorri empolgada. - Mas agora pra você! - ela aponta o dedo pra mim.

-Ah não Mary, não to precisando de roupa!

-Hellow! Você vai pra Londres, sempre precisa de roupa! Hanna pare com esse desânimo, se não vou roubar seu namorado e quem vai pra Londres com ele sou eu!

Nos encaramos e caímos na gargalhada.

-Eu sei que você me ama, não teria coragem de fazer isso com sua melhor amiga! - provoco.

-Duvida? - Mary entra na provocação.

-Com certeza! E outra... O Phil não faz seu estilo! - começamos a andar em direção as lojas.

-Apesar dele ser um gato, realmente não faz meu estilo, não curto caras novos com carinha de bebê.

-Eu sei boba! - entrelaço meu braço no dela. - Mas você tem razão... Afinal é Londres, nada mal comprar umas roupinhas novas!

-É assim que se fala garota!

E assim vamos às compras, claro... O mais básico possível, entre aspas, porque Mary sempre olhava com cara feia pra minhas roupas, mas... Entre tantos desacordos compramos coisas bem legais, e quanto a roupas básicas eu tenho algumas que da pra colocar na mala!

Deixo Mary em sua casa e sigo pro meu AP, assim que o elevador abre em meu andar respiro fundo, olho pra porta de Andrew e meu coração da um salto, ando mais rápido até meu AP, fecho a porta atrás de mim e me encosto nela.

-Afinal de contas essa viagem até vai ser necessária pra me manter longe do... - não quero dizer o nome dele.

Olho em direção a cozinha e vejo o microondas todo queimado, resolvo não me preocupar com isso, vou até meu quarto, jogo as sacolas de compras em cima da cama e vou pro banho, começo até a cantarolar Only Girl da Rihanna. “Meu eu vou pra Londres, da pra acreditar! Que sonho hein! Vou fazer de tudo nessa viagem pra esquecer o Andrew e me concentrar no Phil!” Ouço meu celular tocar, saio correndo do banho e vejo que é Mary.

-Já deu saudades é? - pergunto.

-Pior que já amiga! Mas e ai, se preparando?

-Sim, acabei de sair do banho. - olho as horas no relógio da cozinha. - Meu deus Mary, to atrasada, já são 6:15 e ainda tenho que arrumar minha mala!

-Então vai lá Hanna, vou deixar você se arrumar, faça uma boa viagem, e não esquece de tirar fotos, atualizar seu facebook pra mim ter notícias, e não vai esquecer meu presente, se não faço você voltar e buscar!

-Pode deixar! – começo a rir.

-E Hanna...

-Sim.

-Se divirta ta!

-Mary eu vou pra Londres, não tem como não me divertir?

-Você tem toda razão, mas agora vai lá se arrumar, beijos!

-Beijos!

Desligo o celular e corro pro quarto me arrumar, coloco uma calça jeans, uma blusa de frio e já deixo outra arrumada sei que Londres é frio, então já me preparo, na mala coloco tudo quanto é roupa quente que acho, as que comprei e alguns casacos que tenho, na hora de fechar...

-Ai meu deus! Fecha por favor! - subo na mala.

Forço um pouquinho e ela finalmente fecha, a campainha toca.

-Quem será essa hora? - vou atender.

Ao abrir a porta dou de cara com Philip todo fofo sorrindo ao me ver.

-Oi! - diz ele. - É... Você vai? - pergunta ele todo esperançoso.

Sorrio pra ele, me aproximo e lhe dou um beijo, ele me abraça e aprofunda o beijo, me afasto e olho nos seus olhos.

-Eu acho que se a gente ficar se beijando aqui... Vamos perder o vôo. - digo fazendo carinho em seu rosto.

Ele abre um sorriso de orelha a orelha.

-Isso quer dizer que você vai mesmo? - ele pergunta.

Digo que sim com a cabeça, ele me abraça e me carrega no colo.

-Uhu! Ela vai! - ele grita.

-Phil não grite, os vizinhos vão pensar que somos loucos!

-Deixe que pensem o que quiserem Hanna, só estou mostrando o quanto estou feliz!

-Eu também estou, mas... Que tal extravasar essa alegria toda lá em Londres?- Philip me coloca no chão.

-Você tem toda razão, aliás... - Philip olha em seu relógio de pulso. - Já estamos atrasados!

-Meu deus!

Corro até meu quarto pegar minha mala, Philip vem ao meu encontro e pega ela da minha mão, pego minha bolsa no sofá e fecho a porta atrás de mim, ao sair me recuso a olhar em direção ao apartamento de Andrew, agora é hora de eu esquecer dele de uma vez por todas.

Já no avião, sento na janela, olho pra fora e vejo Springwood pequenininha lá em baixo, de certa forma me da uma aperto no coração, afinal é onde nasci, cresci e vivi toda minha vida, já sinto saudades.

-Ta tudo bem? - pergunta Philip segurando minha mão.

-Ta sim. - sorrio sem graça.

-Hanna, sabe que pode confiar em mim.

-Sei sim, só estou um pouco nervosa, faz tempo que não saio dessa cidade, da MINHA cidade...

-Entendo, não foi fácil sair de onde eu vivia também, mas... Ai eu conheci você e tudo mudou. - Philip sorri.

-Afinal de contas o que você vai fazer em Londres especificamente? Ou vai só a passeio mesmo? - pergunto curiosa.

-Quem dera! Na verdade vou a trabalho também, preciso ver uns fornecedores pro restaurante.

-Mas esse não é o trabalho do Andrew? - me espanto ao pronunciar seu nome.

-Na verdade é sim, mas com esse lance de noivado, ele me mandou ir no lugar dele. - Philip faz careta.

Ouvir Philip falar desse noivado só me faz mais ainda cair na realidade da vida.

-O que pra mim está sendo ótimo, porque além de me livrar da mimada da Rachel todo dia no restaurante, vou curtir Londres com minha linda namorada! - Philip se aproxima e me da um selinho.

Sorrio e volto a olhar para a janela, logo pego no sono.