No outro dia acordo com o celular tocando.
- Alô! - digo sem nem ver quem é.
- Abre a porta, estou aqui fora. - diz Mary do outro lado da linha.
- De novo Mary? - reclamo ainda sonolenta.
- Ai Hanna sou eu sua amiga, vai me deixar plantada aqui fora? Bati na porta, mas você não atendeu por isso liguei!
- Ta, já estou indo.
Desligo o celular e muito relutante vou até a porta, procuro as chaves, mas não encontro, Mary bate na porta.
- Hanna você está ai? - pergunta ela.
- Estou procurando as chaves. - respondo olhando em baixo da mesa.
- Você perdeu as chaves da porta? Realmente algo está errado com você...
Abro a porta interrompendo a tagarelice da Mary.
- Amiga o que aconteceu com você? Que cara horripilante é essa? Meu deus! - Mary vai entrando.
- Valeu por me deixar lá em cima... - me olho no espelho da entrada. - Meu deus! Estou horrível mesmo!
Levo um susto ao me olhar no espelho, umas olheiras enormes, o cabelo todo bagunçado e a maquiagem toda borrada.
- Parece que um trator passou em cima de mim! - completo.
- Um trator é pouco? Parece mais que um meteoro te atingiu! - Mary exagera como sempre.
- Ta você veio aqui pra que afinal de contas? Pra me deixar pior do que estou? - pergunto me jogando no sofá.
- Pelo contrário, vim aqui pra te animar óbvio! - Mary sorri alegrinha demais.
- Não é o que parece. - sussurro. - Me diz ai qual é o plano?
- Primeiro melhorar esse aspecto tenebroso em que você se encontra e depois ir às compras comigo no shopping!
- Ai Mary, sério de verdade, não to afim não! - faço careta e coloco os pés no sofá.
- Hoje é sábado e você vai sair comigo sim, já combinei até de encontrar a Ariel lá!
- Mas você não disse que ela estava na casa do pai esse fim de semana?
Mary sorri sem graça. - Não precisa nem responder, já sei que você mentiu pra eu sair com você ontem a qualquer custo. - cruzo os braços.
- Ah, mas valeu à pena vai! O show não foi ruim e você até...
- Não menciona essa parte! - interrompo Mary.
- Ta, agora você vai me contar o que ouve, porque esse ódio todo por um deus grego chamado Andrew...
- Para! Não menciona esse nome! - interrompo ela de novo.
- Então desembucha. - insiste ela.
- Só se você fizer o café pra gente!
- Tá, mas vai me contando. - Mary se levanta e vai até a cozinha.
Relutantemente sigo ela e me sento no balcão, começo o relato do fiasco de ontem a noite, Mary escuta em silêncio, logo ela coloca o café quente em uma caneca e me serve.
- E foi isso, dá pra acreditar num azar tão grande quanto o meu? Você sabe que nunca tive sorte pra esse lance de relacionamento mesmo, mas o ocorrido de ontem foi muita sacanagem! - tomo um gole do café. - Só porque realmente achei que ia sabe, aquela luzinha no fim to túnel eu enxerguei de longe ela! - tomo mais um gole.
- Só é mais um trouxa que apareceu de relance na sua vida, sai dessa amiga! Vai vê ele não era o cara certo. - Mary toma um gole de seu café.
- Ta, ele é mais um trouxa de quantos mesmo? Espera ai, deixa eu contar... - finjo cotar nos dedos. - Ah perdi as contas! Você sabe mais do que ninguém Mary que eu não tenho sorte pra essas coisas. - termino meu café.
- Você é pessimista isso sim, não porque ele é mais um dentre tantos outros que não deu certo que você deve perder as esperanças! Aliás, pelo contrário, você deve seguir de cabeça erguida, você é linda, chique, às vezes, e muito bem sucedida na carreira profissional, então pare de chorar, encare a noite de ontem como um mero sonho, talvez, um anjo de passagem por assim dizer, você ganhou um beijo do bonitão e acabou, mas sua vida continua! - Mary também termina seu café. - Agora vai se arrumar e esquece o que houve ontem, você é mais que isso!
- Só você acha isso. - fico em pé.
- Quando você encontrar o cara certo vai saber por que nunca deu certo com nenhum outro! - Mary pega minha caneca.
- Ta virando poeta agora é! - brinco.
- Não, você me disse isso uma vez quando o Enzo tinha me largado.
- Eu cobrei por isso? - pergunto rindo.
- Não literalmente, mas fomos a uma festa e ficamos com bolhas nos pés de tanto dançar. - Mary ri.
- Agora lembrei. - me aproximo de Mary e a abraço. - O que seria de mim sem você!
- É o que eu vivo dizendo. - Mary me solta e olha nos meus olhos. - De tempo ao tempo, tudo vai dar certo, enquanto isso aproveita pra curtir a vida! - concordo com a cabeça. - Agora vai se arrumar que a Ariel deve estar nos esperando.
Deixo Mary lavando a louça e sigo até o quarto me arrumar.
Querendo ou não ela tem razão, porque ficar se martirizando por algo que não durou mais que alguns minutos? Sou uma mulher de 28 anos, linda e bem sucedida sim, então bola pra frente que a vida continua!
Coloco um vestido de verão florido, faço um rabo de cavalo e uma sandália baixa.
- Estou pronta. - digo saindo do quarto.
- Beleza, vamos embora, você está linda! - diz Mary indo até a porta.
[…]
Já no shopping avistamos Ariel na praça de alimentação.
- Até que enfim vocês chegaram! Achei que não iam vir mais! - diz ela se aproximando.
- Estamos aqui, não estamos? Então pare de reclamar! - diz Mary dando um abraço em Ariel.
- Oi Hanna quanto tempo! - diz Ariel me abraçando.
- Pois é, correria da vida. - respondo. - Mas então qual é o plano? - pergunto.
- Compras! - dizem Ariel e Mary juntas.
Caímos na gargalhada, e assim seguimos pelas lojas, como sempre não comprei quase nada, não sou de gastar como vocês já sabem, comprei duas camisas novas pro trabalho, mais uma calça jeans, e por insistência de Ariel, uma sandália de salto, diz ela que era pra alguma ocasião especial e que nós mulheres precisamos andar prevenidas.
Conheci Ariel Bondink também na época da faculdade, mas ela não era estudante, nunca fez faculdade, trabalhava na lanchonete Burgerfood, a galera gostava de ir lá, e foi num dia que eu e a Mary estávamos lá comendo nosso lanche, Ariel se aproximou da mesa ao lado e perguntou o que um bando de garotos queria pedir, eles olharam pra ela da cabeça aos pés.
- Que tal você em uma bandeja querida? E com chantili por cima hein! - disse um dos garotos sorrindo pra ela.
Ariel abriu sua armadura e sacou sua arma, o que era uma caneta na verdade, apontou pra ele e soltou os cachorros.
- Olha criança, o dia em que você merecer uma mulher como eu já terá vida em Marte, então por hoje se contente com um hambúrguer, você está precisando, é bom pra fase de crescimento, afinal criança precisar crescer e amadurecer ainda, no seu caso acho que só crescer porque amadurecer ta difícil, aliás, você sabe o que significa essa palavra? Eu creio que não, então te aconselho a estudar mais meu bem! - Ariel continua olhando pro garoto e pega o bloco de anotações. - E ai vai querer o que, vitamina pra inteligência?
Mary e eu nos encaramos, na mesa ao lado o garoto ficou sem palavras e branco feito cera, os amigos dele caíram na gargalhada e zoaram com ele.
- Tá já chega de palhaçada! Vão querer o que afinal? Ou vou precisar chamar a babá de vocês lá fora pra colocar ordem na mesa? - Ariel perde a paciência.
Nisso o chefe da lanchonete se aproxima.
- Deixa comigo Ariel, vai atender outra mesa. - diz ele olhando feio para os garotos.
Ariel revira os olhos pros garotos e segue até nossa mesa.
- E vocês meninas, vão querer mais alguma coisa? - pergunta ela com o bloco de anotações na mão.
- Quero que você me diga como conseguiu deixar aquele garoto parecendo menos que um verme! - diz Mary rindo pra ela.
Ariel abre um sorriso meio sem graça.
- Nada demais, só coloquei ele no lugar dele. - ela da de ombros.
- Eu juro, nunca vi nada parecido! – digo admirada.
- Senta aqui. - diz Mary olhando pro crachá da Ariel. - Ariel, isso? Senta aqui e desembucha logo!
E depois daquela noite viramos amigas.
Depois de sairmos da loja resolvemos comer alguma coisa, na praça de alimentação, enquanto comemos, Ariel conta como está sendo trabalhar com seu pai na loja de ferramentas, nunca foi seu emprego dos sonhos, mas seu pai precisava de ajuda, então ela deixou a lanchonete, pelo menos não tem que lidar com garotos patéticos, diz ela. Mary conta como está sendo no jornal local, ela ainda é a garota do café, mas ta sempre por dentro das últimas notícias.
- Mas e você Hanna, como anda na clínica? Salvando a vida das mulheres desesperadas ainda? - pergunta Ariel.
- Não é bem assim vai! Só digo o que analiso de acordo com a situação. E minhas clientes estão bem felizes, diga-se de passagem! - respondo tomando um gole de suco.
- Mas e você? Como anda a vida amorosa? - Ariel fica curiosa.
Mary me olha de canto e pega seu copo de suco e toma um gole, com a intenção de não falar nada.
- Ta na mesma eu digo. - sem graça.
- Como assim ta na mesma? Que você não é muito de relacionamentos tudo bem, mas nem um beijinho nesses tempos? - Ariel insiste.
- É...
- Ela ficou com um cara ontem no Willmax. - Mary me interrompe.
Ariel abre um sorriso de orelha a orelha.
- E você ia me contar isso quando? Posso saber? Era gato? Como ele era? Beijava bem? Foi bom? - Ariel se empolga.
Antes que eu possa responder uma voz surge atrás de mim.
- Olá meninas! Quanto tempo! Como vocês estão? - pergunta Rachel se aproximando.
Rachel Campbell, sim a patricinha dos últimos tempos, era líder de torcida no ensino médio e uma das mais sem noção de sua turma da faculdade, fez moda, e passou um tempo em Londres, diz que era para aperfeiçoar seus estudos. Estudou junto com a Sophia, outra amiga nossa, mas depois falo dela. Rachel é uma garota superficial acostumada a ter sempre o que quer, filha de um empresário de sucesso, Sr. Robin Campbell, ela nunca precisou trabalhar, fez sua faculdade por insistência do pai, fez da vida de muita gente um inferno, por incrível que pareça, com a gente ela nunca se meteu, também ela entrava por uma porta e saímos pela outra, Sophia a ignorava de todas as formas possíveis, quando tiveram que fazer um trabalho justas, ela quase enlouqueceu! Mas enfim, Rachel hoje se tornou uma pessoa até que suportável, mas muito lá de vez em nunca, óbvio!
-Oi Rachel. - diz Ariel sem graça.
Rachel senta-se ao meu lado.
- Vejo que também fizeram compras, pois vim fazer o mesmo, meu namorado insistiu que queria me dar presentes sabe... - Rachel começa a tagarelar sem parar. - Inclusive me perdi dele. - O celular dela toca. - Ah é ele, com licença meninas!
Rachel atende o celular ali mesmo, ficamos nos olhando disfarçadamente, Mary revira os olhos, Ariel entorta a boca, Rachel desliga o celular.
- Tadinho! Ele estava me procurando, todo preocupado como sempre! - diz ela toda felizinha. - Cadê a Sophia? Faz um tempo que não há vejo, saudades da época em que estudávamos juntas, éramos muito amigas sabe... - "Só que não né querida!" - Olha quem vem vindo!
Rachel se levanta com brusquidão, continuamos sentadas e caladas contando os minutos pra ela ir embora.
- Deixa eu apresentar pra vocês meu namorado meninas! - diz Rachel se aproximando.
Continuo de costas para ela, Ariel abre a boca quando vê o cara, Mary tosse se afogando com o suco, ela olha pra mim e pro cara, pra mim e pro cara, fico sem entender nada, resolvo me virar pra ver quem é o louco de ser namorado dessa patricinha,"quem em sã consciência iria namorar com uma sem noção como a Rachel?" Assim que me viro dou de cara com Andrew, minhas pernas ficam bambas. "Isso só pode ser brincadeira!"
- Olá meninas! - diz ele sorrindo.
Ele me olha e logo desvia o olhar, Ariel diz oi, Mary sorri sem graça e eu... Bom eu fico sem reação. Também pudera né! O cara me beija noite passada e hoje descubro que ele namora a mulher mais chata da cidade, eu não mereço!
- Ele é novo aqui na cidade meninas, conheci ele num jantar que meu pai ofereceu pra alguns clientes, o pai dele é um desses clientes, e foi tipo paixão a primeira vista! - diz Rachel olhando pra Andrew com admiração. - Não é amor?
- Ah é... É sim, claro Rachel! - Andrew fica sem graça. - Querida precisamos ir, temos um almoço com seu pai lembra?
- Ai claro! Como fui esquecer! - Rachel olha as horas no celular. - E já estamos atrasados. Foi ótimo reencontrá-las meninas, e se verem a Sophia digam que mandei um beijo! - Rachel pega as sacolas e sai.
- Tchau meninas! - diz Andrew. - Tchau Hanna. - Andrew olha para mim e sorri, mas logo sai assim que Rachel chama.
Assim que eles se afastam Ariel me encara.
- Você pode me explicar o que aconteceu aqui Hanna? -pergunta ela cruzando os braços.
- Ele é cara de ontem à noite. - responde Mary.
- Mary! - repreendo.
- Qual é, você ia contar pra ela mesmo! - Mary protesta.
- Ai meu deus, ai meu deus, ai meu deus! - Ariel fica chocada.
- Vou te explicar essa história direito antes que você enfarte. - digo respirando fundo.
E lá vai eu contar essa história mais uma vez, Ariel parece surtar quando conto como ele me deixou.
- Mas então foi por isso ai que ele te deixou? Realmente existe gosto pra tudo nesse mundo! - diz ela ainda sem acreditar.
- Enfim... É isso e agora preciso ir embora, o passeio acabou pra mim meninas. - digo me levantando.
- O que foi que eu disse sobre seguir em frente? - diz Mary.
- Eu to bem, só estou cansada, nada demais! Claro que não esperava encontrá-lo novamente, ainda mais com a Rachel, mas to bem de verdade. - minto.
- Sei que isso é meio verdade Hanna. - Mary cruza os braços.
Meu celular toca.
- Alô! Oi mãe, sim, ok, me da 20 minutos, beijos. - guardo o celular na bolsa.
- Meninas minha mãe precisa de mim, obrigado pela companhia, e pelas compras, até mais! - e já vou saindo antes que me interrompam.
- Hanna! - Ariel me chama.
Me viro para encará-la.
- Esquece tá, ele é só mais um trouxa. - diz ela compassiva.
Apesar sorrio sem graça.
- Hanna! - Mary me chama. - Tenho que te deixar em casa, você está comigo lembra?
- Verdade! - mordo o lábio inferior. - Então vamos por que é sério, minha mãe precisa de mim!
Mary da um abraço em Ariel e vem logo atrás de mim.
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