História Contos de amor. - Diário de um homem baleado

Eu só sabia que estava morrendo e que queria você do meu lado. Ali deitado com tubos e aparelhos conectados ao meu corpo, a minha única preocupação era que você não estava ali comigo.

Antes de ser baleado, naquela noite em que a gente brigou no restaurante e você saiu magoada. Eu quero que você saiba que me arrependo de tudo que disse aquela noite. Minha intenção nunca foi magoa-la e se eu pudesse andar eu iria até você e falaria isso pessoalmente, mas me desculpe meu amor eu não sinto as minhas pernas, os médicos disseram que a bala se alojou na minha coluna, mas aqui esperando o beijo da morte, lembro das memórias lindas que tivemos juntos, nós de mãos dadas no parque com a velha cesta de piquenique da mamãe, você correndo até o topo do pequeno morro onde havia a sombra do velho salgueiro, me admira como você sempre estava sorrindo mesmo aquele maldito câncer ter chegado num estágio fatal, mesmo você sabendo que estava morrendo, você ria na cara da morte. 

E eu aquela noite disse que não conseguiria aguentar a barra, você estava morrendo e eu não podia aguentar, como pude ser tão frio, como pude dizer tudo aquilo. Foi então que o doutor que estava me atendendo perguntou se eu não tinha ninguém para ligar, eu imediatamente só pensei em você, ele saiu e vinte minutos depois voltou dizendo que essa pessoa que eu solicitei para ligar não poderia atender o telefone pois acabara de sair da UTI e estava em repouso no quarto ao lado, com as horas contadas. Que pessoa ao lado estava com câncer terminal, não estava em condições de cuidar de outra pessoa.

 Então na manhã seguinte recebi a notícia que meu único amor, a única pessoa que eu amei em toda a minha vida, a pessoa que por arrogância abandonei, havia morrido as oito horas daquele dia, quando a enfermeira terminou de falar, senti a notícia, um tremor percorreu  todo o meu corpo e as lágrimas de tristeza brotaram nos meus olhos, não aguentei e entrei em choque, quando percebi ja estava gritando em desespero pela perda do meu amor, mas a dor que eu sentia era de arrependimento, ela morreu sem saber que queria me desculpar, não ouve tempo para minhas lamentações, tudo o que eu queria dizer não havia sentido desde às oito horas daquela manhã.

    Lamentável diário/ adeus Julia.

Adrian.