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História Contos de Riverstone - Interativa - O Colar de Ouro


Escrita por: Avioteto e _iludidap

Notas do Autor


Olá forasteiros

Aqui quem fala é o Flávio, responsável pela guarda da entrada dessa nada bela cidade.
Vejo que vocês se reuniram novamente para ouvir mais uma das histórias de nosso aclamado contador, não se acanhem, peguem uma bebida, juntem-se a fogueira e preparem o espírito para mais um dos relatos de nossa cidade.
Espero que se divirtam... ou pelo menos que tenham coragem de voltar mais uma vez.

Capítulo 3 - O Colar de Ouro


Fanfic / Fanfiction Contos de Riverstone - Interativa - O Colar de Ouro

Ah, você deve ser a Ana... A última forasteira lhe indicou o local onde me encontraria, não é?

Ora, não precisa ter medo, sente-se comigo, beba um pouco do meu vinho, cortesia das moedas da última forasteira... Esse, por acaso, era o vinho favorito de um antigo amigo... Mihael Keehl, ou Mello, como preferia ser chamado...

Mello era um homem devasso, quase todas as noites era possível vê-lo nesta mesma taverna, bebendo e roubando beijos de mulheres comprometidas. Sua aparência afeminada era o ponto que mais lhe feria o orgulho. Seus cabelos sempre arrumados, rosto de traços femininos e cintura fina eram as maiores feridas que, quando apertadas, deixava o jovem cuspindo fogo. Falando em ferida, ele possuía uma enorme cicatriz, que seguia do lado esquerdo do rosto até a sua barriga, consequente de uma briga com um dos muitos maridos enfurecidos pelo o comportamento do jovem.

Para viver, Mello não era muito diferente da população inescrupulosa dessa cidade: vivia como um mercenário, matando em nome daqueles que pagavam mais. Mas também era um larápio de mão leve, adorava surrupiar jóias, mas sua verdadeira paixão era o ouro... Mas um dia... Ele roubou algo que não deveria. Sua vida se tornou um inferno depois desse dia... Quero dizer, o pouco tempo que viveu após isso.

Ah, parece que cheguei aonde queria! Essa, minha querida Ana, será a história de nossa noite... O Colar de Ouro.

Nossa história se inicia em uma noite qualquer dessa nossa cidade. A chuva lavava os mendigos e limpava as ruas de nossa cidade das doenças, pelas sombras das ruelas estavam Mello e outros dois companheiros. Eles acabavam de sair de um bar, Mello ainda segurava em sua mão a garrafa de vinho, a qual bebia em goles rápidos.

Eles cantavam cantigas sobre mulheres casadas e sexo ao ar livre, até que algo chamou a atenção dos três rapazes. Sentada no chão, estava uma mulher. Uma bela mulher. Sua pele era morena, seus cabelos escuros e cacheados refletiam a luz de uma tocha, molhados com a chuva. Seus seios eram fartos e seu corpo escultural, provavelmente a mais bela mulher da cidade naquela noite. Vestida com roupas típicas de uma cigana, ela não havia notado os três vampiros, que a encaravam sedentos e embriagados.

- Parece que demos sorte essa noite, companheiros! - Mello gritou, alertando a mulher que levantou seus olhos, ao ver os três homens ela se levantou e se afastou um passo.

- Não se aproximem! - a mulher gritou, ela se virou para correr, mas não foi rápida o suficiente. Um dos vampiros já se encontrava ali, impedindo a saída da mulher.

- Não tem porque ter medo... Não iremos te morder. - Disse o vampiro que agora segurava os ombros da mulher, arrancando-lhe um beijo.

O beijo de um vampiro é algo muito curioso. Semelhante a uma droga, eles são capazes de hipnotizar até mesmo as mentes mais fortes apenas com o toque dos lábios.

Ainda resistindo, a mulher empurrou o homem e recuou um passo a mais, sendo a vez de Mello interferir. Segurando a mulher pelo pescoço e a colocando contra a parede, ele encarou-a com seus olhos que aos poucos se tornavam escuros.

- Você pode deixar com a gente, não irá lembrar de nada mesmo... - ele deu então um longo beijo na moça, prendendo a mesma contra a parede. Aos poucos a resistência da moça era desfeita, até que ela simplesmente parasse de se debater.

Quando se afastou, os olhos da cigana estavam escuros, como um céu sem estrelas.

- Rapazes... Minha noite será espetacular... - Mello comentou com um único movimento, parte de cima da roupa da mulher foi rasgada, deixando agora os fartos seios livres para serem observados.

- Sua noite? - um dos amigos comentou, se aproximando e agarrando o pulso da mulher. - E onde está o companheirismo nisso?

- Eu hipnotizei, ela é minha. - Mello falou ainda encarando os seios da morena. - Tem algo contra? - ele comentou se virando para o outro vampiro.

- Deixe de ser egoísta. - foi a vez do outro vampiro dizer, aproximando sua mão do seio da moça, que estava completamente inerte a tudo que acontecia. Com um chute, Mello mandou o companheiro para longe, acertando uma pilha de caixas.

- Eu já disse, ela é minha, e se não quiserem morrer, melhor não tentar nada! - Mello gritou.

- Vai ter volta, Mello... Vai ter volta... - o vampiro que foi arremessado disse enquanto desaparecia na escuridão junto a seu camarada.

Mello abriu um sorriso, voltando sua atenção para o corpo da cigana. Agarrando seu seio com certa agressividade, ele voltou a beijar a moça. Não poderia deixar que a hipnose se quebrasse, seria ruim se ela se lembrasse de seu rosto, e ele não gostaria de matar uma mulher tão bonita.

Levou a mulher até uma estalagem abandonada, jogou a mesma na cama, mesmo que ela não demonstrasse uma reação sequer. Rasgou o resto da roupa da mulher, revelando então as belas pernas da moça, com coxas grossas. Ele agarrou com ferocidade as coxas da mulher enquanto beijava seus seios, passou então a explorar com vontade o corpo da morena com a língua enquanto ela agarrava seus cabelos involuntariamente. Aos poucos desceu até a virilha da moça, lambendo sua intimidade enquanto a cigana, ainda sobre efeito da hipnose, deixava escapar alguns gemidos baixos.

A noite foi longa para Mello, que usufruiu do corpo da morena, a qual acreditava que tudo não passava de um sonho estranho e confuso.

Quando tudo terminou, a morena permaneceu imóvel, com algumas lágrimas a escorrer por seu rosto. O vampiro se levantou, recolhendo a roupa do chão e se vestindo, mas algo dourado chamou sua atenção. Era um objeto que brilhava entre as roupas da cigana.

Ele se abaixou para olhar, tomando aquilo em sua mão. Era um colar de pingente estranho, talvez um pouco assustador. Parecia uma moeda de ouro, mas em seu interior, havia uma figura semelhante a uma caveira de olhos vazios e sorriso frio e cínico.

O cordão atraiu o vampiro, que sem pensar duas vezes colocou-o no pescoço, se aproximado da cigana ainda caída em seu sonho.

- Levarei isso como lembrança, querida. - Disse Mello, puxando o cabelo da mulher. - Apenas para não esquecer dessa noite fantástica.

Ele se levantou e saiu do local. O sol já nascia no horizonte, porém Riverstone é uma cidade perfeita para vampiros. Sua cortina de nuvens, que vive sobre a cidade, mantém a luz do sol distante durante quase todas as estações.

Horas depois que o vampiro saiu, a cigana recobrou a consciência. Lembrava-se vagamente do que acontecera, mas seu corpo já lhe dizia o que havia ocorrido. Chocada e violada, a mulher não sabia o que fazer. Juntou suas roupas e as vestiu, mesmo rasgadas, e procurou então o colar que lhe fora entregue. Procurou nos bolsos da vestimenta e no chão do local, mas não estava lá.

O desespero começou a tomar conta da moça, o colar devia ser destruído, ele era muito... Então como um clarão, a imagem do homem que a violentara passou em frente a seus olhos, um homem loiro e com uma enorme cicatriz. E em seu pescoço... Um sorriso surgiu no rosto da cigana, seguida por um riso longo e insano. A vida tem formas bem irônicas de fazer o que desejamos.

Mello já estava longe demais para ouvir a risada, mesmo que a sensação de que havia algo estranho não saísse de perto dele. O colar em seu pescoço estava agora por dentro de sua camisa, ele se mexia e batia no peito do homem a cada passo que dava. O vampiro atravessava de cabeça baixa no meio de uma feira, onde frutas, verduras e carnes eram vendidas aos berros dos comerciantes.

Virando em uma ruela, Mello adentrou em uma taverna, a mesma em que nós nos encontramos, e se dirigiu ao balcão. Lá, pediu uma garrafa deste delicioso vinho. Enquanto bebia, contava sua façanha da noite passada, como hipnotizou a cigana e como passara a noite toda usando a morena.

Você acha que algum dos homens da taverna se rebelou contra a atitude do homem? Não... Nossa cidade é composta pela escória da sociedade. Até os homens bons se corrompem apenas com um copo de gim.

Enquanto bebia, o vampiro vitorioso não via que, sentados em uma mesa afastada, estavam seus dois "colegas" da noite passada. Ambos observavam Mello, com seus olhares cheios de ódio. Mas eles tiveram paciência, e assim, ambos saíram do local sem chamar a atenção.

Quando o sol se punha, o vampiro loiro saiu do bar, ainda levando a garrafa de vinho vazia em sua mão. O homem estava levemente embriagado, seu andar estava lento, mas ele estava lúcido.

- Eu falei que você iria se arrepender. - Mello ouviu alguém, e antes que conseguisse se virar, um punho foi de encontro com o seu rosto. Ele cambaleou, mas perdeu o equilíbrio e bateu com seu rosto no chão. O outro vampiro apareceu, agarrando o loiro e batendo com suas costas na parede de alguma construção.

Mello abriu os olhos, acertando uma cabeçada no homem que o segurava. O homem recuou e Mello tentou correr, mas o primeiro vampiro o segurou e bateu com sua cabeça no chão. O sangue começou a escorrer da cabeça do loiro, que quase inconsciente, pegou a garrafa de vinho e acertou a cabeça de um de seus agressores.

Se levantou rápido, virou-se e começou a correr em direção à rua. Os outros dois estavam bem próximos dele, e quando chegou no meio da rua, a única coisa que ouviu foi o relinchar dos cavalos antes de sentir uma mão lhe empurrar.

Tudo aconteceu rápido, quando percebeu, o loiro já estava no chão do outro lado da rua, ele ouviu os gritos de algumas pessoas que estavam por lá. Quando se virou, viu os corpos dos dois "companheiros". Uma carroça estava parada, as rodas e os cascos dos cavalos estavam sujos de sangue.

Um casal de burgueses desceu da carruagem, observaou o estrago e pediu aos cocheiros para "tirar o lixo do caminho". Toda cidade tem a elite que merece, isso não é uma exceção em Riverstone.

Mello se levantou para observar melhor, as rodas da carruagem havia decapitado os dois vampiros, além de os cascos terem esmagado e quebrado vários ossos, deixando até mesmo alguns expostos.

O loiro se sentou no chão de pedra, ofegante e lutando para recuperar o ar. Podia ter sido ele, era o que passava por sua cabeça. Mas algum anjo ou demônio havia lhe protegido. Seus pensamentos foram interrompidos quando sentiu um calor no peito, colocou a mão na fonte de calor e notou que era o colar.

- Um colar da sorte. - disse o loiro sorrindo.

Naquela noite o mesmo foi em diversas casas de apostas, todas as vezes que ganhava mais e mais dinheiro o colar voltava a se esquentar, as vezes o loiro podia senti-lo até mesmo pulsar, como o coração de uma donzela sendo deflorada. Mas o vampiro não dava atenção, tudo que importava era ganhar mais dinheiro com seu amuleto da sorte.

Virando mais e mais garrafas de bebida nos vários bares e tavernas da cidade, em um momento, o vampiro apenas apagou. Os sonhos foram estranhos, talvez pela bebida, mas tudo podia se resumir em gritos... Gritos de pavor, que gelavam até mesmo o coração parado do vampiro, gritos capazes de tirar a sanidade de qualquer um.

Acordando em um salto em uma sarjeta qualquer da cidade, o loiro notou que havia sido roubado. Todo o dinheiro que ganhou na noite passada sumiu, mas não se preocupou. Sabia que iria recuperar todo durante a noite. Mello se levantou, o dia era um dos poucos ensolarados em Riverstone, fazendo-o andar com cautela entre as vielas das casas.

Passando em frente a uma vitrine de uma loja de bonecas, o vampiro parou alguns segundos para observar a bela vendedora. Mas notou algo estranho, quando ao vê-la seu estômago lhe avisou da imensa fome que sentia. Isso preocupou o jovem por um segundo, até que ele encontrou um mendigo e, sem pensar duas vezes, atacou o pobre homem, roubando até sua última gota de sangue. Ao limpar o sangue de sua boca com a manga da camisa, sua fome havia sido aliviada.

A noite do loiro se resumiu a apostas, sexo com prostitutas e mulheres casadas e bebida, principalmente esta última. Porém, seus pesadelos também pioraram. Gritos e choros eram ouvidos, o lugar parecia o próprio inferno e no céu havia algo brilhante, dourado como o sol.

Ele foi acordado com um grito feminino. Assustado, o vampiro caiu da cama. Ao olhar a mulher, ela o encarava com o pânico e medo entalhado no rosto.

- O que houve, mulher?! - o vampiro questionou em grito, irritado.

Foi então que a mulher, eufórica, lhe descreveu a aparência: seu rosto estava tão magro as olheiras haviam se transformado em duas enormes esferas negras que circulavam todo o olho do jovem, seu rosto ficara mais pálido ainda e era possível ver claramente os ossos da face do garoto por cima da pele. Os lábios estavam azuis, como se faltasse sangue em seu corpo. Sem pensar duas vezes Mello pulou em cima da mulher, rasgando sua garganta e sugando vorazmente seu sangue.

Após se alimentar, ele não se sentia bem por completo. Sua pele voltou apenas um pouco à juventude, mas o vampiro não podia ver-se. Então, o que o preocupou foi a fome que não ia embora.

O loiro se sentou na cama, com o cadáver da mulher aos seus pés. Aquele desgaste de seu corpo não era natural. Quem o visse naquele momento, notaria que seus cabelos estavam brancos na raiz e, olhando de perto, era possível ver algumas rachaduras em sua pele.

O garoto levantou-se para sair e, num impulso de raiva, socou o espelho, cortando a mão com os cacos de vidro que caíram. Tudo havia começado na noite com a cigana. Mello então decidiu procurar uma vidente, e ele sabia exatamente aonde ir.

O loiro saiu da casa da mulher e se dirigiu para uma casa afastada de Riverstone, onde morava Lady Mira, uma vidente que era conhecida por suas adivinhações e conhecimentos sobre o místico.

Mello bateu duas vezes na porta, que abriu lentamente. Sem pestanejar, o jovem entrou, deparando-se com um interior repleto de escuridão. Havia apenas uma luz, que saía de uma bola de cristal, a qual encimava uma mesa coberta por um pano roxo.

- Sente-se, Mello. - O loiro ouviu, se aproximou e sentou na cadeira mais próxima.

Do outro lado da mesa, a pequena figura esquelética apareceu. Sua pele era morena e cheia de rugas, o cabelo negro era cheio de fios brancos. Trajava um vestido roxo, que combinava com o pano de mesa.

- Vejo que algo lhe perturba, meu jovem. - a mulher se faz ouvir com sua voz fraca e misteriosa.

- Você é a vidente, me diga você. - Mello se inclinou na direção da bola de cristal. - O que você vê?

- Arrogante, como sempre... - Mira disse. - Não preciso ver seu futuro, apenas olhar seu rosto... - Um sorriso sem dentes surgiu no rosto da velha.

Com raiva, o garoto deu um murro na mesa, fazendo a bola de cristal pular em seu suporte.

- Me diga o que está acontecendo e quem é culpado! - Ordena.

A velha deixou de encarar o mais novo e passou a observar a bola de cristal. Os olhos escuros da idosa passaram para brancos enquanto as mãos dela voavam por cima da bola.

- Vejo... Uma mulher... Raiva, ódio... - a velha começou a falar. - Você causou um mal grande a essa mulher... Ah, vejo que o culpado não é ninguém a não ser você mesmo...

No momento, a figura da cigana veio em sua mente.

- Vejo também... Um objeto... Pequeno como um pingente... Ou... -

- Um cordão - o loiro balbuciou pensativo.

- Isso... Um cordão... Mas... Tem algo esse cordão... Algo dourado... Esse objeto... Esse objeto é marcado pelo ódio... Pela... Pela... - a cada palavra, as coisas penduradas nas paredes da cabana começaram a se mexer. - Uma maldição... Esse objeto carrega uma maldição...

- Maldição? - Mello repetiu enquanto olhava as coisas ao redor. - Que tipo... De maldição? -

Nesse momento os olhos da vidente se fecharam e a bola de cristal voou, se partindo em milhões de pedaços na parede.

A atenção do vampiro na bola de cristal quebrada era tanta que ele não reparou quando a vidente abriu lentamente seus olhos, os quais agora estavam de volta à sua cor normal.

- Meu pobre rapaz... - a vidente sussurrou enquanto recuperava o fôlego. - Você fez o mal... E agora receberá o mal... - em um piscar de olhos, a velha apareceu do lado do garoto, agarrando o colar com força. - Esse colar... Irá ser o pior carrasco que você enfrentará... -

- E tem alguma forma de me livrar dessa maldição? - Mello falou enquanto, com cuidado, se afastava da senhora.

- Ah apenas um jeito... Devolva esse colar para seu dono, apenas assim ele irá deixa de lhe atormentar. 

- E aonde eu posso encontrar a cigana? - o loiro perguntou enraivecido.

- O acampamento dos ciganos fica logo depois da antiga ponte de Pontustock. - a velha falou. - Mas se apresse... A maldição que cerca este colar é de puro mal, se alimenta da vida daquele que usufrui de sua magia... E agora que você sabe a verdade, ela não te deixará viver mais que... - a velha falou com sua voz decrépita, conforme as palavras saiam da boca da senhora, as sombras cresciam, aos poucos engolindo-a. - um dia. - conforme as últimas palavras foram pronunciadas, as sombras  a engoliram por completo. Nem mesmo o cheiro da mulher poderia se sentir.

Agoniado, o vampiro se pôs a correr, mas quando chegou na beira de um riacho, ele se obrigou a parar. Pela primeira vez em sua vida de vampiro, ele sentia a fadiga de um mortal. A princípio ele ignorou, mas então percebeu as palavras da velha se concretizando, agora que ele sabia da verdade por trás do colar, o objeto sugava com voracidade sua energia, ele era até mesmo capaz de sentir a moeda presa no colar puxar suas forças.

Em um ato de desespero, Mello arrancou o colar do pescoço, se virando em direção ao riacho com o mesmo em mãos e o lançou com todas as forças que ainda tinha.

Pensou por poucos segundos que havia dado certo, mas então logo sentiu algo em seu pescoço... E quando observou por baixo da blusa, lá estava o colar. Com um grito de fúria, o loiro repetiu o processo uma, duas, três vezes, obtendo o mesmo resultado em todas elas.

Então, já no limite de sua sanidade, o vampiro continuou a correr em direção a cidade, invadindo uma oficina de ferreiros.

O dono do estabelecimento gritou e ameaçou o vampiro com uma espada em brasa, mas o mesmo apenas lhe ignorou. Retirou de seu pescoço o colar e o lançou dentro da fornalha do local.

Viu o ouro derreter, e se Mello fosse um humano, lágrimas de felicidade teriam escorrido por seu rosto. Mas... Logo ele sentiu uma forte queimação em seu peito, capaz de queimar a camisa que usava. Com um grito de dor, Mello viu o colar surgir de seu peito, como uma planta brota do chão. O colar saiu do peito do vampiro queimando a pele e deixando-lhe uma marca permanente.

Com um grito de fúria e alguns resquícios de dor, o vampiro desistiu de suas tentativas inúteis de se livrar do colar. Agora ele apenas podia ouvir as palavras da velha e encontrar a cigana para devolver-lhe o objeto maldito.

Andando o mais rápido que seu corpo ferido e desgastado física e mentalmente lhe permitia, o vampiro logo chegou na ponte de Pontustock. A ponte era conhecida por ser a única ponte que ligava as fronteiras da cidade com as estradas para os reinos vizinhos.

Não precisou de muito esforço para ver o acampamento, pois a fogueira estava acesa e era possível ouvir os ciganos cantando e dançando ao redor dela. Mello pensou em acelerar o passo, porém sentiu uma forte dor em seu braço, fazendo-o cair de joelhos sobre a madeira velha da ponte. Seu braço começava a borbulhar, como se fosse mergulhado em água fervente. O grito de dor e agonia do mesmo poderia ser ouvido de longe se a música não o abafasse. Então o braço de Mello parou de borbulhar, e em uma forte reação contrária, ele atrofiou. Onde antes havia músculos, agora se tornara apenas um saco de ossos preso pela pele pálida do vampiro. O suor frio começou a escorrer por suas costas e suas entranhas se movimentavam por dentro, lentamente atrofiando. Seu tempo estava se esgotando e ele não poderia fraquejar agora.

Levantou e andou em direção ao acampamento, sentindo suas pernas trêmulas e sua roupa pesadas por conta do suor. Chegou às margens do acampamento, mas sem se aproximar da fogueira, apenas observando os homens e mulheres dançando, bebendo e festejando algo. Por um momento, as memórias das noites de festança do jovem passaram por sua mente. Suas bebedeiras, as mulheres conquistadas...  E Mello, por um momento de loucura, pensou em esquecer tudo e apenas entrar na festa.

Porém ele viu algo. Uma mulher. E não uma mulher comum, aquela mulher era inesquecível para qualquer um que já a houvesse visto. A cigana que ele procurava adentrou uma cabana do outro lado do acampamento. Se movendo pelas sombras sem ser visto, Mello chegou na parte de trás da cabana. Com sua mão útil, ele abriu um rasgo na tenda para poder adentrar.

Quando observou, a cigana trocava de roupa, colocando uma roupa semelhante a da primeira vez que eles se encontraram. Mello adentrou a cabana sem silêncio, mas sentiu uma forte dor na perna, vendo ela se atrofiar lentamente como seu braço.

Com o lamento de dor, a mulher ficou alerta e se virou. Assim que viu o homem, ela sorriu com satisfação.

- Então, foi você... O doente que me tocou. - a morena se aproximou do vampiro, que tinha seu rosto coberto pelo suor frio que a dor lhe proporcionava. Sem dizer uma única palavra, ele retirou o colar e estendeu para a morena.

- Isso é seu… Fique! - Mello tentou manter a calma, mas a dor lhe era agora algo insuportável.

- O que lhe faz achar que esse colar é meu? - a cigana se curvou, olhando no fundo dos olhos do vampiro e lhe dando um sorriso de deboche. Mello poderia arrancar a garganta de qualquer um que lhe desse esse sorriso, mas não agora... Onde boa parte do seu corpo já não passava mais de peso de papel.

- Estava... Estava nas suas roupas! - o vampiro falou irritado, fraco e confuso.

- Ora, seu idiota! - a cigana falou, se afastando alguns passos do mesmo, porém sem tirar os olhos do mesmo. - Esse colar... Esse pedaço de metal forjado pelos demônios, e só é considerado como dono um inseto que pensa em usá-lo para o seu bel-prazer. - a cigana falou soltando uma gargalhada que fazia a cabeça do loiro girar e girar.

- E... Onde está o dono dessa coisa?! - agora a ira falava mais alto, o vampiro gritou enquanto agitava o colar na mão, enquanto sentia seu braço aos poucos perder a força.

- O último que usou esse colar? - a cigana colocou a mão no queixo como se fingisse pensar. - Ah sim, me lembro! Ele está em Dagoon, um reino bem distante... Neste momento os corvos devem estar se deliciando do que sobrou dos órgãos do sujeito. - então ela se aproximou, empurrando o vampiro, que sem forças caiu de costas no chão. Seu braço aos poucos se decompunha e sua perna boa estava encarregada de manter todo o corpo do homem em pé, mas ele não tinha forças mais para se sustentar. - Eu porém pretendo acompanhar os seus últimos momentos... Ver a dor de ter seus órgãos comidos por dentro de você e sua vida saindo de seus olhos, e quando você estiver próximo a deixar esse mundo e viver sua eternidade no inferno, eu irei olhar nos seus olhos e te darei um sorriso igual ao que você me deu quando me usava como uma escrava!

Talvez por não estar prestando atenção, talvez por conta da dor, agora Mello percebia que a música havia acabado e que haviam outros homens na barraca.

- Amarrem ele lá fora. - a mulher falou para os outros que estavam lá.

Poucos minutos depois, ele estava amarrado a um tronco de árvore e posto no meio da fogueira. O fogo baixo queimava lentamente os bastões finos que eram suas pernas agora. O vampiro não sentia a dor, talvez por não ter mais nenhum nervo na perna, ou talvez porque agora a única dor que sentia era a de suas entranhas, que se contorciam e eram esmagadas por uma força invisível. Diante dele, os ciganos apenas observavam o vampiro gritar e gritar de dor.

Logo de manhã, o corpo do vampiro foi encontrado pendurado no tronco, escondido nas sombras, por um mendigo. Mello não passava de ossos organizados dentro da pele. Quando abriram seu corpo, mais por curiosidade do que por medicina, devo admitir, não havia nada além dos ossos, nem mesmo uma gota de sangue. O cabelo estava completamente branco e os olhos se perderam dentro da imensa órbita.

Nunca mais o colar dourado foi visto. Alguns dizem que os ciganos o levaram para longe, outros, que alguém encontrou o corpo antes do mendigo e levou o cordão embora. O que eu acho?

Eu acredito que esse colar pode estar em qualquer parte do mundo... Inclusive aqui.

E esse foi o fim de nossa história. E então, Ana?

Quantas moedas você me dará por ela?


Notas Finais


E então? O que acharam da história de nosso contador?

Espero que voltem, e não se esqueçam de trazer outros visitantes, podemos ser bem receptivos quando nos convém.


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