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História Contos de Riverstone - Interativa - O Último Trabalho


Escrita por: Avioteto e _iludidap

Notas do Autor


Olá pessoas, como vocês estão?

Bem, antes de tudo eu queria pedir desculpas pela demora. A correção do capítulo não foi me entregue até agora, porém como já estamos entrando na segunda semana sem cap, eu irei postar a minha versão. Então logo peço desculpas por qualquer erro, apenas não queria mais deixar vocês sem capítulos.

Bem, é isso, espero que vocês se assustem com o capitulo, até os comentários ^^

Capítulo 4 - O Último Trabalho


Oh, olá Raquel. Não posso dizer que estou surpreso em lhe ver essa noite. Vamos, sente-se! Aceite uma caneca de cerveja e alguns pães amanteigados que comprei com as moedas das noites passadas.

Admito que nunca vi tanto dinheiro, só espero que a fama não me suba a cabeça.

Mas você não está aqui para ouvir essa ladainha sobre meus negócios, ah, tenho certeza que não. Sabe, quando olham para esse lugar, geralmente pensam nas pessoas inescrupulosas que passam diariamente por aqui, mas são poucas as pessoas que chegam a prestar atenção em quem realmente trabalha neste estabelecimento.

Mas existem uma ou duas figuras que continuam em minha mente, mesmo após o que aconteceu… e hoje irei contar-lhe a história de uma dessas jovens. Eu gosto de chamar essa história de O Último Trabalho.

Rachel, uma antiga atendente desta mesma taverna, a Meio Elfo possuía uma longa cabeleira negra, uma pele pálida e muito atraente, mas o que mais a destacava das centenas de meretrizes que vimos nas ruelas desta cidade eram seus olhos. Ah como aqueles olhos eram únicos! Um era castanho escuro, o outro verde claro tão delicado… admito que já deixei que ela levasse uma moeda ou outra só com aquele olhar.

Porém, diferente da metade dos pobres coitados dessa cidade, Rachel tinha um objetivo. A jovem queria sair da cidade, talvez tivesse se cansado do abuso constante ou simplesmente do cheiro de podre nas ruas, não sei. Mas para alcançar seu objetivo, ela fazia de tudo para conseguir uma boa grana.

Sabe, não que eu tenha alguma fé que um dia essa cidade irá melhorar, mas devo alertar para os jovens que pensam em sair daqui: Riverstone é ciumenta com seus filhos… e sempre que um tentar se afastar da mãe, ela coloca correntes para lhe prender mais perto ainda.

Enfim… Rachel aceitava diversos tipos de trabalhos, dos mais comuns como mercados ou tavernas até os mais… sujos, digamos assim. E esse foi um deles.

Em uma noite, uma figura estranha entrou neste estabelecimento. Ele pediu um vinho caro e se sentou em uma mesa afastada de tudo e todos. A figura era mediana e não muito corpulenta, usava um sobretudo que escondia qualquer curva que pudesse vir a ter, no rosto usava uma máscara branca que escondia as feições e que possuía apenas dois buracos nos olhos.

A garçonete que foi atender a mesa era exatamente a meio elfo de nossa história.
Rachel usava um traje simples e nada discreto, que deixava bem exposta a maior parte de seu corpo.

A jovem se aproximou da mesa, levando em uma bandeja uma garrafa de vinho e uma taça. Porém antes da jovem se afastar, a figura levantou a mão em sinal que esperasse.

Ela parou e viu quando a figura fez sinal para que dividisse a mesa, a garota pensou que talvez fosse alguém que desejasse uma noite com ela, não era atoa o uniforme tão provocativo.

Ela se sentou, cruzando suas belas pernas, ela notou então que o ser mascarado a sua frente não possuía nenhuma abertura para a boca, então cogitou que talvez o vinho fosse para ela.

– Então… - a jovem começou enquanto enchia a taça para ela. – Porque você não tira a máscara pra eu dar uma olhada no seu rosto? - a garota fala enquanto beberica o vinho. Ela estendeu sua mão para tentar tocar nas mãos enluvadas do mascarado, mas a figura simplesmente puxou a mão.

– Desculpe pela falta de cordialidade, mas prefiro manter a máscara onde está. – a figura finalmente disse, sua voz era abafada por conta da máscara, o que a tornava irreconhecível.

– Ah, não me importo com os fetiches, só desejo satisfazer o cliente. – Ela responde de forma manhosa, talvez tentando arrancar logo algumas moedas.

– Por mais que a ideia seja tentadora, não é esse tipo de trabalho que vim atrás. – O mascarado colocou a mão embaixo do sobretudo e de lá tirou uma enorme e pesada bolsa de moedas, mais moedas do que eu ou você iremos ver em toda nossa vida. Não foi difícil de imaginar que a reação da moça foi ficar boquiaberta. – Esperava um trabalho… mais discreto. –

A meio elfo se arrumou na cadeira, abandonando qualquer traço do sexy de antes.

– O que você quer? – Ela perguntou se inclinando para frente, fitando os olhos nas profundezas escuras que eram os olhos da máscara. 

– Um simples roubo. – A figura disse. – Uma invasão seguida por um roubo, não poderia ser mais simples. –

A moça o olhou duvidosa.

– Se fosse um trabalho tão simples, não teria o porque de tanto dinheiro. – Ela falou. – Quem e o que eu estarei roubando? – Ela perguntou com frieza na voz.

– Um quadro, uma simples obra de artes, meu patrão é um grande colecionador de telas e ele está disposto a pagar essa pequena fortuna para completar sua coleção. – a figura disse pausadamente, talvez falar debaixo daquela máscara fosse mais difícil do que parecesse. – Ele pediu para contratar uma pessoa que não possuía-se nenhuma ligação conosco e eu ouvi alguns bendizeres de seus trabalhos. –

A garota o analisou atentamente, a tentativa de amaciá-la com elogios falhou.

– Você ainda não… – ela não teve tempo de terminar e o homem pigarreou.

– Ouvi falar que você tem o sonho de sair dessa cidade. – A figura falou reflexivo. – Imagino que com esse dinheiro possa comprar uma casa fora daqui, uma até que luxuosa para seus padrões atuais. - Ele diz olhando para a garota. - E, se fizer um bom trabalho, posso falar com meu contratante para te dar um… bônus. –

Os olhos da garota quase brilhavam só de imaginar poder não ter que trabalhar como garçonete nunca mais, não precisar se quer trabalhar!

– Eu aceito. – Ela diz por fim, por baixo da máscara pude quase ver o sorriso se formando 

– Ótimo. – A figura diz por fim. Ela tira do bolso uma folha de papel amarelada com um desenho muito detalhado. – Esse é o quadro que você deverá roubar, não precisa trazer a moldura, apenas retire-o com cuidado e o enrole, iremos nos encontrar aqui mesmo no amanhã de manhã. – a figura se levanta.

– M-Mas… onde irei encontrar esse retrato? – a garota perguntou.

– Oh, que cabeça a minha. – a figura voltou a encará-la. – Você irá invadir o castelo do Barão Draco Von Buckhard. –

Ao ouvir o nome, o corpo da garota congelou, suas entranhas se contorceram e uma fina camada de suor cobriu sua testa.

– Dra-Draco Von… Buckhard? – A garota repetiu incrédula.

Aquele nome era bem conhecido por todos que moravam naquela cidade. O barão Buckhard era um homem da elite, conhecido por entre seus amigos pomposos como “A Flor sem Cor” por seus gostos refinados e caros, diga-se de passagem. Conhecido por seus bailes e por sua adoração a obra de artes.

Porém, para os habitantes menos… afortunados da cidade, ele é conhecido como “O Demônio Pálido”. Comprava as jovens mais bonitas das famílias humildes e as levava para seu castelo. Lá elas só teriam dois destinos, ou serviriam de banquete para suas festas ou seriam suas novas esposas. Francamente não sei o pior destino, considerando que as esposas dele não sobrevivem mais de 3 meses antes de serem achadas em alguma vala e… francamente, não consigo nem mesmo descrever as condições das pobres coitadas.

– E-Eu não irei entrar naquele castelo! – a garota disse ainda amedrontada enquanto se levantava da cadeira. Rachel podia não querer admitir, mas percebia pela forma que ela agia quando Mello e seus amigos estavam por aqui que ela não gostava de Vampiros, talvez algum trauma do passado, nada certo, apenas sei que ela possuía um certo… medo dos sangue-sugas.

Porém antes que a morena se afastasse, o homem mascarado retornou, colocando sua mão enluvada no ombro da garota e o apertando com força enquanto empurrava a garota para ela se sentar novamente.

– Infelizmente isso não é mais uma opção. – a figura falou, sua voz agora estava rouca e amedrontadora, o que fez um calafrio percorrer pelo corpo da meio elfo. A figura ficou alguns minutos apenas encarando a moça, até aos poucos enfraquecer a força que segurava a moça. – Meu chefe me disse para não falar do trabalho para ninguém, a não ser para a pessoa que o aceitasse. – Ele disse calmamente. – Se você recusar agora, serei obrigado a… por um fim nessa conversa, e eu não quero isso, além do mais, você é apenas uma garota querendo realizar seu sonho, não? –

A garota permaneceu estática com os olhos arregalados enquanto o olhava.

– E se você não trazer a pintura, meu chefe fará com que você não consiga emprego em nenhum outro lugar, nem mesmo os piores bordéis da cidade vão te contratar. – ele disse com um tom desafiador. – Você entendeu? – 

A garota apenas concordou com a cabeça, mesmo que continuasse sentindo medo até mesmo da menção ao nome do barão, aquela figura à sua frente lhe dava tanto medo quanto. E no momento ela era bem mais tangível.

– Ótimo. – a figura falou dando dois tapinhas no ombro que antes segurava com força. – Eu irei acalmar um pouco seu coração com uma notícia, o Barão não estará na cidade, ele recebeu um convite para uma celebração e não deverá aparecer até amanhã do dia seguinte. Então é só você entrar lá essa noite e tudo ficará bem, claro, devem haver guardas, mas nada com que você não possa lidar –

Aquilo de certa forma aliviou Rachel, porém antes que ela percebesse a figura já se encontrava na porta da taverna, saindo de lá.

A garota ainda suava, permaneceu sentada enquanto pensava nas palavras do homem… ela não tinha escolha. Não gostava de não poder optar, mas sabia muito bem que agora não havia volta.

Rachel saiu mais cedo do trabalho, antes do sol se pôr. Voltou para sua casa, uma espelunca localizada no centro da cidade. Lá ela trocou de roupa, vestiu uma roupa de couro preta e justa, preparou também uma mochila que usariam para guardar o retrato. Amarrou seus cabelos em um coque e partiu a caminhar.

Suas roupas faziam a morena se disfarçar entre as sombras da noite que se iniciava, ela lentamente se aproximava de Edica, uma área nobre da cidade.

Ah sim minha cara, pode ser difícil de crer mas Riverstone possui uma área nobre, bem iluminada, onde não há mortos nem pedintes nas calçadas, uma área onde existem grandes casas, restaurantes finos, bordéis luxuosos e até mesmo guardas para proteger os ricos! Pode parecer um sonho, mas essa utopia guarda mais sangue que qualquer uma das vielas do centro.

Mais afastado ainda, existem 3 castelos, cada um pertence a uma das grandes famílias da cidade, que se consideram os próprios donos do lugar. Gostaria de vê-los dizer isso na minha cara para poder dar uma gargalhada sonora, donos de lixo não são muito importantes de onde eu vim.

Rachel se aproximou de um dos castelos, parando em uma sombra diante do portão, aquele castelo do barão. Era uma estrutura imensa, centenas de janelas, paredes feitas de tijolos de pedra, um jardim descomunal com uma imensa fonte no meio e tudo isso cercado por um muro alto com grades de metal.

A jovem podia ver algumas luzes perambulando, tochas. O mascarado tinha razão, haviam guardas, ela só esperava que ele também tivesse razão sobre o barão. Não haviam luzes no interior do castelo, mas isso não significava muito, vampiros possuem uma visão noturna impecável.

Para a sorte de Rachel, nós meio-elfos também não somos de se jogar fora nesse aspecto.

A morena se aproximou da casa, sempre olhando ao redor para reparar em qualquer aproximação. Ela se aproximou do muro, notou que em uma parede havia uma enorme trepadeira. A garota segurou um dos galhos que se prendiam ao muro e o puxou, testando sua firmeza. Estava firme e parecia seguro.

A morena começou uma escalada rápida até o topo, se agarrando a beirada da grade de metal. Com um forte impulso, ela saltou por cima das barras, caindo em cima de um arbusto que amenizou a queda.

Ela ouviu a aproximação de um dos guardas, provavelmente atraído pelo som nos arbustos. O homem trajava uma armadura pesada, na mão esquerda uma tocha e na outra uma espada.

A garota permaneceu parada, estática. Não sentia medo, apenas não queria entregar sua posição.

– Piff, malditos gatos. – o guarda falou irritado e se afastou, voltando ao seu posto. A garota sorriu, se afastando lentamente em direção ao castelo. Ela não podia abrir as portas, por serem centrais, então procurou uma janela aberta.

Demorou, mas ela logo encontrou uma janela no que parecia ser o segundo andar. Usando uma coluna de pedra para se apoiar, a garota escalou a parede de pedra até alcançar a beirada da janela.

Em minutos ela já estava dentro e ali mesmo, na frente da janela, ela já sentia uma sensação estranha. O ar ali dentro era frio, uma corrente de vento gelada acertou as costas da morena, o que a fez estremecer violentamente.

Ela se sentia vigiada, como se olhos entre os tijolos que construíam a parede a observassem atentamente. Ela olhou ao redor para garantir que estava sozinha.

Rachel andou lentamente, seguia com os passos suaves e tentava ao máximo pisar apenas no enorme tapete vermelho que ficava no chão para evitar qualquer barulho.

A visão parcial que a garota tinha do lugar não lhe ajudava muito, haviam apenas portas no corredor, umas 3 ou 4. Ela continuou andando sorrateira, sempre atenta ao seu redor.

Ela parou diante da primeira porta a sua esquerda, agarrou a maçaneta em forma de “L” e lentamente a girou. A porta se abriu fazendo um pequeno barulho na dobradinha que fez a jovem tremer, ela parou de mover a porta e voltou a olhar para o corredor, mas não havia ninguém ali. Ela suspirou aliviada e entrou na sala.

O lugar estava completamente escuro, não havia tochas acesas nem nada. A garota voltou sua atenção para uma enorme prateleira que tomava toda a parede a sua frente. A sala não era muito grande e a grande prateleira apenas tomava mais espaço ainda.

Ela se aproximou da estante, forçando seus olhos para enxergar as prateleiras de livros. Haviam 2 livros de capa dura que logo chamaram a atenção da moça.

– Ritos de Shub-Niggurath…? – a garota leu em voz alta, mesmo com dificuldade na pronúncia da última palavra, que parecia ser um nome. Ela moveu seus olhos para o outro livro. – A Umbra… – Mesmo menor e sem dificuldades na pronúncia, a garota passou a ponta do dedo sobre a lombada do livro para sentir a textura da capa. Ela passou seu olhar por outros livros, alguns de rituais, alguns de bruxaria antiga, outros até escritos com runas elficas. –Isso são livros ocultistas? – a garota se perguntou amedrontada.

Repentinamente, a vontade de fugir daquele lugar apenas aumentou, ela voltou sua atenção para a porta do corredor, abriu a porta e se colocou para fora daquela pequena biblioteca demoníaca.

Porém, no final do corredor, algo chamou sua atenção.

Ela olhou fixamente, havia algo ali, entre as sombras. Talvez fosse a própria sombra. Ela não conseguia entender o que, mas seu corpo havia paralisado e sua respiração se tornou descompassada.

Havia algo naquelas sombras, algo invisível, mas não insensível, ela sentia um calafrio percorrer por todo seu corpo. As sombras lentamente se aproximavam, como uma muralha de fogo que consumia uma floresta adormecida.

A cabeça de Rachel dizia para ela correr, mas seu corpo não a obedecia. Ela ficou parada, enquanto notava tentáculos de sombra saírem da parede de escuridão e se estenderem na direção da garota.

Ela recuou, talvez finalmente notava que aquilo não era coisa de sua cabeça, deu um passo para trás enquanto as sombras se aproximavam de sua direção. A morena recuou mais dois passos, então notando que aquilo não era MESMO algo de sua imaginação. Ela correu, tropeçou no tapete vermelho, mas não caiu.

Ela continuou se afastando da escuridão, se deparou com uma porta dupla de madeira que estava no fim do corredor. Ela tentou abrir a porta mas estava trancada, ela bateu com seu ombro uma, duas vezes, sem se importar com todo o barulho que fazia.

A garota olhou para trás, se deparando com a escuridão fazendo a curva no corredor e caminhando em seu passo moribundo em direção a ela. Rachel começava a suar frio, sentia suas pernas tremerem até que, no quinto golpe que deu, a porta se partiu.

A garota entrou no novo cômodo, uma espécie de sala de jantar enorme, sentiu uma necessidade enorme de correr, mas quando olhou para trás… nem sinal da sombra de antes.

Ela continuou olhando incrédula em direção da porta recém arrombada. Rachel se apoiou em uma cadeira enquanto sentia seu coração disparado no peito.

Não, aquilo não foi coisa de sua cabeça… ou foi? Talvez a jovem do tenha ficado impressionada com os livros que encontrou na biblioteca… certo?
Ela não sabia, só sabia que não queria mais ficar naquele lugar. 

Foi então que a garota reparou na mesa a sua frente, com lugar para quarenta convidados, provavelmente. O mais estranho não era a extensão da mesa, mas sim que ela estava servida!

Cordeiros, bolos, tortas e mais uma enorme variedade que cobria quase toda a extensão da mesa. Ela nunca havia visto tanta comida assim antes!

Mas… porque a mesa estava servida?

O barão não estava no castelo e mesmo que estivesse, vampiros não comem.

Os guardas? Não seria difícil de se acreditar que sim, mas ela ainda não havia visto nenhum sequer dentro do castelo.

A garota sentiu seu estômago se manifestar com a fome, mas a morena ignorou, queria sair logo daquele lugar e pra isso precisava encontrar a pintura. Haviam duas portas, fora a que ela havia entrado, uma ao sul, provavelmente a cozinha, e outra na parede oposta à porta quebrada, foi nessa que a garota foi.

A porta levava a um segundo corredor, também completamente escuro, porém dessa vez havia apenas uma porta à direita, ela se aproximou e entrou.

O cômodo era um tipo de sala de repouso para funcionários, vários armários cheios de uniformes. Nada muito útil, mas em cima de uma mesa havia algo que chamou a atenção de Rachel. Uma pequena lamparina estava descansando a bastante tempo, já que o vidro estava coberto por uma camada fina de poeira.

A garota pegou a lamparina, acendeu a mesma e logo aquela pequena chama iluminou o quarto. Ela se sentiu mais protegida por algum motivo, talvez fosse o calor daquela pequena chama em um ambiente tão frio.

Mas aquela sensação durou pouco tempo, pois um forte estrondo na porta acabou com qualquer paz. Rachel arregalou os olhos em direção a origem do barulho. Guardas? Talvez… ou pior.

Os estrondos permaneceram mais fortes, um golpe após o outro, a garota começou a estremecer conforme as batidas se intensificaram. Ela olhou ao redor, havia um armário vazio ali, ela correu para dentro do mesmo, fechando a porta e em seguida fechando seus olhos, os quais já escapavam algumas lágrimas.

As batidas continuaram, uma, outra e uma terceira, no quarto golpe a porta se rompeu, a garota se arrepiou, sentindo um frio a percorrer. A chama que segurava não lhe trazia mais nenhuma calma, nenhuma paz, talvez apenas uma pequena vontade de sobrevivência.

A porta do armário lentamente se abriu, o que fez a garota prender o ar. A pequena fresta que se abriu permitiu que ela olhasse para o lado de fora… as sombras consumia quase que completamente o cômodo.

Aqueles tentáculos novamente, subiam e desciam pela mesa de centro, adentravam os armários e ela quase teve a impressão deles agarrem as peças de roupa. Ela fechou os olhos, repetia em sua mente. “Isso não é real, isso não é real”

Quando abriu seus olhos novamente, as sombras haviam desaparecido. A garota sorriu fraco de felicidade, abrindo a porta de seu esconderijo e saiu de lá. Levantou a lanterna olhando ao redor, voltando sua atenção para todo o cômodo.

Porém… algo permanecia estranho, a temperatura continuava estranhamente baixa. Quando ela voltou seu olhar para cima do armário, seus olhos se arregalaram.

Havia uma espécie de mancha na parede, escura e singular, que se remexia e que borbulhava como óleo quente. Pequenas fissuras se formavam como pequenas bocas com dentes serrilhados que abriam e fechavam como um peixe dentro d’água. 

Por mais bizarro que a imagem parecesse, o que chamava a atenção de Rachel era na verdade um olho que ficava localizado no meio da mancha, um olho solitário que visava vidrado a morena, linhas avermelhadas seguiam como manchas de sangue naqueles olhos negros.

A garota ficou paralisada enquanto olhava a mancha viva, aquele estranho aglomerado começou a escorrer para fora da parede como tentáculos que pingavam enquanto se esticavam em sua direção, de repente as bocas deformadas da mancha de abriram e de lá começou a sair uma fumaça espessa como uma nuvem de fuligem. Essa fumaça começou a se assimilar com o ar e começou a se tornar como aquela sombra do corredor.

A garota tremeu onde estava, suas pernas falharam, ela se virou perturbada. Os tentáculos chicotearam o ar e acertou a bochecha da morena, que gritou de dor enquanto sentia seu rosto queimar e arder onde havia sido atingido.

Ela correu para fora da sala, batendo a porta com força, ela voltou a correr, a lamparina em sua mão tremia, fazendo a chama oscilar.

Rachel olhou para trás, se deparando com a imagem da sombra novamente atrás dela, porém dessa vez os tentáculos eram mais vivos e eles chicoteavam os móveis e vidraças que ocupavam o corredor.

A garota correu, levando uma mão para proteger a cabeça enquanto a outra segurava firmemente a lamparina. Ela não conseguia ver nada a sua frente, parecia que o corredor não possuía fim. Hora e outra olhava para trás, notando que cada vez mais a sombra se aproximava mais.

As lágrimas já começavam a escorrer violentamente pela pele alva da garota, ela parou de olhar para trás, talvez por não se importar mais se a sombra estava próxima ou talvez por simplesmente ter medo de ver a sombra novamente.

Foi então que uma parede finalmente foi vista, juntamente com uma porta bem esculpida.

Ela atravessou a porta, vendo um relógio grande que ficava ao lado da mesma e o jogando na frente para bloquear a passagem. Ela não tinha certeza se aquilo funcionaria, mas precisava tentar.

Após bloquear a porta, ela se afastou, desabando no chão e caindo de bunda. Ela continuou chorando, não conseguia parar. Não queria mais saber de quadro nenhum, nem se importava com o que o homem do bar faria com ela se ela fugisse sem o quadro. 

Ela olhou ao redor, era uma espécie de sala de reuniões, uma mesa grande de madeira ocupava o meio da sala, com uma cadeira de um lado e duas do outro. Havia um armário, algumas coisas penduradas na parede… e uma janela!

A garota não pensou duas vezes, aquela seria sua saída. Ela deixou a lamparina em cima da mesa e agarrou uma das cadeiras com ambas as mãos. Ela era pesada, mas o desespero da morena a deu força para tirar a cadeira do chão e acertar em cheio a janela.

Rachel esperou pelo som de vidro se partindo, mas este nunca veio. A garota olhou para a janela. Havia realmente uma rachadura nela, porém ela reparou que aos poucos a janela se recuperou sozinha do dano, como uma fera se curando das feridas.

A garota girou a cadeira mais uma, duas vezes, quando a cadeira se partiu ela agarrou uma das pernas da cadeira e acertou mais cinco vezes. Sem resultados, toda vez que a janela se quebrada, ela voltava em poucos segundos a ser como era antes.

Ela chorou mais e mais, porém não parou de bater com a perna da cadeira no vidro, após alguns golpes, a madeira começou a quebrar e fazer com que fosse mais difícil ainda quebrar a janela. No final ela apenas arremessou o pedaço que sobrou mas nada aconteceu. 

A garota estava devastada, ela reparou que as sombras invadiam lentamente o cômodo pela fresta da porta. Ela se jogou contra a parede mais distante da porta, até sentir algo bater em seu ombro.

Levantou seu olhar para o que era e seus olhos se encheram de lágrimas novamente.

Era o quadro, lembrava-se bem do desenho que o homem havia lhe mostrado, era aquele mesmo. A garota começou a rir, primeiro baixo, mas então aumentando de intensidade a ponto de ressoar por todos os corredores do castelo. Uma risada em que se ausentou qualquer lucidez.

Ela agarrou a pintura, maldita pintura que custara sua vida, ela bateu com a pintura na mesa, quebrando a moldura, ela via a sombra se aproximar mais e mais, já via os tentáculos agarrando a madeira da cadeira que ela havia quebrado. A lamparina que estava na outra extremidade da mesa foi consumida lentamente e a chama simplesmente desapareceu em meio à escuridão.

Com o retrato em mãos, ela rasgou a figura em várias partes, extravasando a raiva naquele objeto frágil.

Não havia para onde fugir, as sombras consumiam quase toda a sala, ela estava encurralada entre as paredes, seu olhar não trazia mais medo.

Medo ela sentiu antes, agora ela sentia apenas muita raiva.

A garota encostou suas costas na parede, evitando ao máximo as sombras. Os tentáculos se esticaram e lamberam o rosto da moça, deixando para trás uma substância escura e fétida que queimava o rosto de Rachel, ela sentia bolhas se formando e estourando fazendo uma dor inigualável. Aqueles braços escuros agarraram os braços da moça, o puxaram para mais perto, por mais que ela tentasse se livrar.

Ela foi lentamente consumida pela escuridão, sentia seu corpo todo formigar, ela não mais gritava pois sua garganta não conseguia mais emitir nenhum som. Por um breve momento era como se ela estivesse apenas flutuando no vácuo.

Havia apenas uma coisa em toda aquela escuridão. Um sol negro e vermelho que mirava na morena, um sol repulsante e que sugava qualquer sanidade que restava… mas aquilo não era o sol. Era um olho.

A garota acordou em um cômodo escuro, seus braços, ou melhor, o que restava entre bolhas e carne viva. Ela balançou a cabeça tentando recobrar o resto de consciência, sentia que seu rosto também estava queimado, sentia as bolhas do rosto estourado e o pûs escorrendo.

Seus olhos estavam quase completamente fechados devido as deformidades no rosto da moça, mas ela podia enxergar um pouco ainda. Seus olhos aos poucos se recuperavam daquela visão e passaram a ver a cena presente.

Haviam figuras ali com ela, todas usavam um sobretudo preto e uma máscara Branca… exatamente igual à do homem na taberna. 

Apenas nesse momento ela notou que as figuras de movimentavam em um círculo, rodeando a moça acorrentada e cantando uma espécie de canto fúnebre em uma língua que ela não compreendia.

Aquele canto era estranho, sombrio, aos poucos a morena também começou a notar nas sombras que os cercavam, nos tentáculos que saiam das frestas das paredes, as centenas de fissuras dentilhasas que abriam e fechavam conforme as palavras do canto eram pronunciados. 

Uma figura tomou a frente no círculo, andando dois passos em direção a jovem e parando na sua frente e cruzando os braços atrás do corpo.

Rachel tentou xinga-lo, mas sua boca não era capaz de produzir qualquer som no estado em que estava. Não sabia nem mesmo dizer se ainda possuía uma língua.

A figura levou a mão até a máscara e a retirou, revelando um rosto pálido, porém muito bonito, junto a uma cabeleira branca até a altura dos ombros e olhos de cor celeste, um rosto conhecido e temido pela moça.

O barão olhou a garota de cima a baixo, mas não com pena ou sequer prazer, apenas como quem analisa uma mercadoria.

– Você é uma jovem muito importante para nós essa noite, Rachel. – o homem falou de onde estava, sua voz era tão avassaladora que conseguia até mesmo quebrar a neblina que a mente da garota estava presa. – Você será nosso presente, nosso maior presente. –

Conforme o homem falava, os outros ao seu redor cantavam mais e mais, acelerando o ritmo da canção. Os tentáculos e as bocas na parede começaram a se agitar.

– Precisávamos de alguém que entrasse em nosso lar de bom grado. – Ele falou com um sorriso sínico no rosto. – Precisávamos de alguém que visse as sombras, me perdoe se elas foram cruéis com você, mas tudo isso foi necessário. –

O homem se aproximou mais, se ajoelhando para tocar o rosto deformado e ferido da moça.

– Precisávamos de alguém… que visse a Umbra como nem mesmo nós vimos. – o homem se levantou abruptamente. – Por sorte, agora nós temos você! Ela ficará tão satisfeita! – O homem começou a gritar estupefato, como se houvesse feito uma grande descoberta.

Os cânticos continuaram acelerados, de repente um enorme olho avermelhado se formou na parede atrás do círculo.

– Me disseram que seu sonho era fugir da cidade, sintasse honrada… - o barão disse com um breve sorriso. – Você irá ser uma das poucas pobres coitadas que conseguiram realizar seu sonho. –

Aquele olho na parede se dividiu, abrindo uma porta oval, do outro lado da porta… aquilo sim era uma criatura indescritível.

Tentáculos, bocas, corpos contorcidos, seios, tudo em uma massa misturada descomunal. A criatura gutural não possuía olhos, porém ela sabia o que estava acontecendo, ela sentia o cheiro.

Lágrimas não escorriam do rosto da morena, mas ela queria muito que pudessem. Talvez quisesse dizer também suas últimas palavras, mas tudo o que pode fazer foi ouvir o guincho daquela criatura, uma mistura de um relinchar com um rugido ensurdecedor.

Os tentáculos agarraram a garota pela cintura, as figuras mascaradas aplaudiram a cena da morena ser rasgada em pedaços, ser levada até cada uma das bocas que compunham o corpo da criatura deforme.

Quando se saciou, a deusa cuspiu de volta uma criatura bizarra e reformada, coberta em uma gosma expressa negra no meio do salão 

A canção acabou… O portal se fechou…

 

Tudo voltou a ser apenas silêncio novamente enquanto os cultistas recebiam seu novo irmão.

Dias depois, a história do roubo se espalhou por toda nossa cidade e os boatos correram soltos.

Alguns diziam que era tudo mentira e que juravam ter visto Rachel fugir em cima de um cavalo com um cavaleiro qualquer. Outros dizem terem visto a jovem invadir o castelo e sair com a pintura.

Outros… preferem se manter em silêncio, acreditando ser perigoso falar sobre qualquer coisa que envolva o barão.

A única coisa que sabemos é que Rachel nunca mais foi vista desde aquela noite.

O que você prefere acreditar?

Bem, chegamos ao fim de mais uma história, espero que tenha lhe feito apreciar o tempo aqui e se lembre… nunca confie em alguém que diz querer tornar seus sonhos em realidade, geralmente essas pessoas têm suas próprias formas de fazer isso acontecer.

E então? Quantas moedas eu mereço por essa história?


Notas Finais


Espero que tenham gostado da história ^^

Cometem o que acharam e oq esperam no próximo ^^


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