Justin Bieber
Já estávamos há tanto tempo debaixo do chuveiro que os nós dos meus dedos começaram a ficar enrugados. Conversamos por algum tempo sobre assuntos aleatórios no chão da box. A água percorria nosso corpo, mas não nos banhava. Nem sequer tocamos no sabonete, apenas ficamos ali, sufocados pelo ar abafado. Me peguei em silêncio fitando o azulejo por sobre o ombro de Alaska. Ela estava com seus cabelos loiros para trás do ombro, batendo incansavelmente as unha no piso. O assunto sobre comida preferida havia ido embora, havíamos conversado sobre isso durante um bom tempo. Me amaldiçoei por continuar ali, e não mandar desligar o chuveiro pois a conta ultimamente anda vindo um absurdo de caro, entretanto, aquilo estava tão reconfortante que me entreguei por completo.
— Por que bate as unhas assim? — perguntei, desviando meu olhar para ela, que não retruca.
— Ah... — suspirou.
Fico aguardando ansiosamente sua resposta. Ela permanece em silêncio, jogando suas palavras contra o vento. Faço uma concha com a mão, enchendo-a de água e jogando no rosto dela, que recua rindo.
— Seu babaca — ela empurra o meu peito — Não posso mais não querer contar algo que você jogar água no meu rosto?
— Nós já estamos molhados — rebati.
— Não diz respeito — sorriu, e eu sorri também.
— Vai molhar sua chapinha, princesa? — deixei um sorriso se espalhar pelos lábios — Ah, esqueci. Você comprou o seu cabelo. Aposto que é peruca — comecei a rir ao imaginá-la careca.
— Claro que não — sua voz afina.
— Se ofendeu, ou seja, é verdade — começo a rir alto, e ela soca meu peito.
— Nem sei porque estou aqui — abriu a porta do box, pegando a toalha em cima da privada.
— Não vai embora — parei de rir no mesmo instante, sentindo o impacto do vento gelado com o quente da água.
— Calma, eu só vou me trocar. Estou me sentindo uma velha de cem anos depois desse banho quente — calçou o chinelo próximo a privada, voltando a olhar para mim — Olhe meus dedos! — ela levanta a mão balançando os dedos freneticamente, e eu observo as pontas.
— E assim mesmo, baby. Quando se está com Justin Bieber, sempre estará molhada — uma linha dura se forma em seus lábios, e aquilo me satisfez. Comecei a rir, fechando o box.
Ouço seus passos se distanciando e a porta sendo batida. Decido me ensaboar para sair logo dali. A quentura havia passado de relaxante para torturante, o ar queimava meu rosto, portanto, decidi deixar um pouco mais gelada a água, até desligá-la e sair.
Ao entrar no quarto, observo Alaska sentada na frente do espelho, com uma blusa que vai até os joelhos e seus seios vantajosos empinados para cima, sem sutiã; que eram demarcados pela finura do tecido. Com os cabelos úmidos jogados apenas em um ombro, elas os penteia como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, como se carregasse consigo uma joia rara. Seus olhos, como de costume, desfocados; ela estava tão submersa em pensamentos que nem me viu entrar ali, se deu conta quando comecei a vasculhar minha gavetas a procura de uma roupa.
Seu rosto se virou parcialmente para me olhar, percebo que ela mede meus músculos e então, rapidamente, corre para a cama de casal ficando de pernas de índio. Me inclino um pouco para trás pois sentir o seu olhar sobre mim era um tanto constrangedor. Alaska estava silenciosa demais, fitando cada traços dos desenhos em meu peito.
— Quantas você tem ao todo? — indagou, curiosa.
Pego uma cueca box e uma calça de moletom, fechando a gaveta com a cintura.
— Parei de contar quando cheguei ao vinte e cinco — dei de ombros, andando em direção a porta.
— Onde você está indo? — senti um desespero na sua voz.
— Aposto que você vai pirar se eu me trocar na sua frente... — soltei um risinho — Gostaria que fosse do jeito bom, mas temo que seja do modo ruim.
— Durma comigo esta noite — soltou, assim como todo o ar de seu pulmão.
Fiquei em silêncio, segurando a ponta da minha toalha no quadril. Ela começa a mexer nas pontas do cabelo nervosamente, porém não transmitia vergonha. Quando percebeu o clima que criou se empertigou, soltou as mechas e deu de ombros, começando a se envolver nos cobertores.
— Mas só se quiser. Tanto faz. Só fico com dó de você dormir na sala — Alaska se cobre até o pescoço virando-se de costas para mim.
O quarto se silenciou, e, por algum motivo não sabia o que fazer a partir de agora. Dormir com garotas sem ter uma transa anterior é totalmente estranho e novo para mim. Nunca me pus nessa situação e jurei a mim mesma ficar longe disso, porém parece tão... reconfortante. A única mulher com quem dormi junto fora minha mãe, enquanto ela chorava baixinho por conta de seus ferimentos.
Aproveitando que ela não me olhava no momento, tratei de largar a toalha no chão e vestir a box seguida pelo moletom cinza. Sequei os cabelos com a mesma toalha largando-a em cima de uma mesa. Antes de entrar cuidadosamente ao lado de Alaska bati o dedo no interruptor. Ao sentir o colchão contra minhas costas tentei relaxar, mas com o perfume embriagador dela me parecia uma tarefa impossível. A respiração lenta de Alaska ficou desregulada; olhando para o teto, sinto o corpo pequeno comparado ao meu se mover. Ela fica virada para mim enlaçando os braços em minha barriga desnuda. Sinto sua bochecha morna tocar minha pele gelada, e, sem pensar duas vezes, passei meu braço em volta do seu pescoço para puxá-la pra mais perto.
— Espero que amanhã eu não acorde com uma louca desvairada gritando para eu sair do quarto... — brinquei, e sua bochecha se enruga quando ela sorri.
— Prometo que não irei, se você prometer conter seu amigo...
Sua mão toca rapidamente no meu pau, apertando-o com calma. E foi aí que eu percebi que estava de pau duro e nem havia percebido, e ela tocando ali só piorou. Ele estava ereto, e sem condições de mudar de estado. Ela sorri mais profundamente e eu solto um suspiro sem perceber. Ouço sua risadinha abafada e sua mão se apertando em minha caixa torácica. Mantenho os olhos fixados no teto, sem movimento algum. Como se todos meus membros estivessem congelados, e eu não conseguisse transmitir quaisquer ação de afeto. Estar ali, enlaçado com Alaska me corrói por dentro. Ela consegue me fazer sentir vontade de comê-la e depois leva-la para casa a salvo. Como se minhas palavras e cantadas ficassem entaladas na garganta e ela conseguisse olhar através de mim.
Eu queria continuar o assunto, queria dizer algo para fazê-la rir, mas a única coisa que saiu da minha boca foi:
— Boa noite, baby-doll.
E ficou por isso. Ela se afagou em meus braços e tentou relaxar o corpo, mas estava óbvio que nenhum de nós estava dormindo. Meus músculos estavam tão tensionados que cheguei a temer que dessem cãibra. A respiração rápida de Alaska aos poucos de acalmou, suas pálpebras se fecharam, e o corpo desfaleceu. Ela havia dormido, e foi aí que toda a paz do mundo se focou nela. O cansaço havia tomado conta, e a tranquilidade habitava no meu. Todos os problemas familiares, e ocorrências desapareceram. Era só ela. Eu e ela. Ela e eu.
Desperdiçar meu tempo pensando sobre como me sentia sobre ela me levava a loucura. Mas desde o momento que eu conheci Alaska, descobri que na verdade, ela é a loucura, e eu não conseguiria escapar tão cedo, por mais que eu tentasse.
Então, quando me dei por percebido, estava acabando com o terceiro maço de cigarro na varanda, enquanto observava o ar denso e gelado dar boas-vindas aos raios tênues de sol, tentando esquecer que Alaska dormia no quarto ao lado, e eu não voltaria para perto dela tão breve.
•••
Alaska
— Arabella’s got some interstellar-gator skin boots — virei a massa na frigideira gerando um barulhinho satisfatório.
Nada melhor do que começar a semana com uma bela panqueca com calda de morango. Essas eram minhas preferidas quando menor, a dona Nan fazia, anos depois, de tanto amar a receita, acabei tendo de implorar de joelho para que me desse o passo-a-passo. Logo após dela morrer me tornei famosa por fazê-la, e fazê-la tão bem. Admito que o gosto não é parecido, mas chega bem perto. A música tocando ao fundo já não é mais segredo, sempre faço isso quando acordo de bem com a vida, por isso, nestes dias, tento tratar todos com a maior doçura do mundo, para quem sabe eles retribuam, mas isso nunca acontece. Nas segundas-feiras nós fazemos panquecas.
Balanço meu quadril em sintonia com as notas; mesmo a música sendo um tanto melancólica ao fundo, usualmente tenho tendência a gostar de coisas triste, por isso não me importo muito. Consigo sentir o gosto de cada intensificada na voz, em cada solo que o contrabaixo faz, ou as mulheres no fundo como vocal. Seria impossível não querer cantar junto, embora eu não cantasse fazia tempo. A música é a única coisa que um dia posso chamar de meu, algo que me conforta e que não me faz querer fugir para bem longe. Sortudo seja quem passe pela minha vida e marque-a com tanta precisão, eles sempre ganham um espaço especial no meu caderninho de letras que nunca irei lançar. De qualquer modo, ter o sentimento de feito já é satisfatório o suficiente para que eu fique dois, talvez três dias sem beber coisas alcoólicas.
— Takes a sip of your soul and sounds like...
O solo começou, e eu não me conti. Coloquei a última panqueca feita no prato, e a frigideira se tornou uma guitarra. Fingi estar tocando ela enquanto sacolejava meu corpo para todos os lados. Deixava escapar dos meus lábios alguns ‘tanãnãnã’ para acompanhar gentilmente o som. Meus cabelos cobriam minha face, e deixar meus olhos abertos seria impossível; eu precisava daquele momento musical. Minha vontade foi de gritar muito alto, não de tristeza, nem de felicidade, apenas gritar para tirar esse ar preso dentro de mim. Tão envolvida, nem me dei conta que Justin estava apoiando seu corpo inteiramente na bancada, observando-me com aqueles olhos castanhos-mel.
Sua clavícula se destacando na pele morena desnuda e os músculos me mostrando suas tatuagens infinitas que descem de seu ombro até o final do braço. Ele é incrivelmente sexy e tentador, porém uma pontinha minha diz que não é certo, e essa pontinha grita alto um ‘saia fora dessa’ ou ‘não caia nesse joguinho’. Eu iria sair dessa casa sem ter algum contato físico com ele, e assim por fim, não me machucaria com caras babacas; sou sempre eu que os machuco.
Bieber pressiona um lábio ao outro, formando um sorriso em linha. Ele apoiou seu cotovelo no mármore em seguida apoia o rosto na mão, empinando seu corpo para trás.
— Parou por quê? Estava tão bonitinha. — ele cutuca a pilha de panquecas tirando um pedacinho levando a boca.
— Não coma as panquecas antes da calda! — bati na sua mão, soando um estalo.
Minhas bochechas ardiam e eu me virei de costas para ele enquanto segurava o prato em minhas mãos. Fiquei estática, fitando a torneira da pia. A quentura que se instalou na maçã de meu rosto era pertinente, e o incômodo se tornou constante por mais que eu tentasse forçar aquilo a parar.
— Não fique envergonhada, baby-doll. Você estava linda dançando daquele jeito — deixei com que um sorriso relutante se espalhasse pelos meus lábios — E totalmente gostosa. Damn, onde comprou essa blusa? Suas curvas se destacam muito e...
Sem pensar duas vezes arremessei em seu rosto uma de minhas belezuras. A massa pronta bateu em seu rosto e ficou parada ali. Me arrependi por ter feito aquilo, estive fazendo-a por tanto tempo que jogá-la assim sem importância me parecia muito impiedoso.
— Seu babaca! — gritei.
Aquele sorriso idiota se formou novamente, o que me frustrou mais ainda.
— Sem panquecas para você! — andei até a mesa de jantar, que parecia não ser usada há tempos.
— Não ligo. Enfim, tenho que ir trabalhar — deu de ombros. Antes de me deixar sozinha na cozinha novamente, ele pega a panqueca do rosto, e dá um mordida. Ele percebe a minha atenção, portanto, me lança uma piscadela.
Sinto uma pontada no coração, pois bem lá no fundo queria que ele experimentasse com calda. Por sorte, hoje cedo, o Chris me ajudou a encontrar as coisas da casa para executar essa delícia dos deuses, e prometeu que iria comer assim que saísse do banho, e creio que já esteja por vir.
Vasculhei os armários incisivamente, competente. Nas pontas dos pés eu procuro a calda que Alex disse que estaria ali. Dentro do pequeno lugar havia apenas caixas de cereais abertas que pareciam não ter sido comidas há tempos, e barrinhas de morango Whey. No fundo, consegui tocar na embalagem com as pontas dos dedos, senti o melado lambuzar minhas unhas, porém mesmo assim eu não conseguia pegá-lo. Até que um corpo imenso me empurra um pouco para o lado, e o cheiro do perfume me entregava quem era.
— Você não tinha ido se arrumar? — resmunguei, olhando ele agarrar a calda.
Seu calor próximo ao meu corpo quase me fez desfalecer e entregar-me a aquele desejo de tocar o seu pescoço, contudo, me conti. Naquele jogo, o mais resistente sairia vencendo. Seus olhos caem sobre mim, e nossos rostos tão próximos me fazem sentir sua respiração calma e controlada. Ele estava, de algum modo, no comando. Na desvantagem eu me encontrava com as costas contra a bancada, e ele, se aproveitando da situação, colocou as duas mãos dos meus lados, impossibilitando minha saída.
Ele se aproximou de meu rosto, tocando nossos narizes.
— Você vai perder, Justin. — murmurei, confiante.
— Ah, então isso é uma declaração de guerra? — sorriu, tão próximo dos meus lábios que sinto vontade de aproximar-me mais ainda.
— Você quer que seja uma? — inclinei-me para frente, tocando meus lábios em seu pescoço enquanto falava. Percebo que ele fecha os olhos. Sentir sua pele quente em minha boca seca me dá vontade de deixar-lhe um chupão.
— Se eu perder, o que você fará? — levo um susto quando suas mãos firmes agarram minha cintura.
— Irei embora. Estarei livre desta aposta. — mordi de leve sua pele tênue do pescoço.
— Isso não vai acontecer, baby — ele sussurrou tão aproximo do meu ouvido que me arrepiei.
Quando me dei conta, Justin já havia se afastado, com aquele sorriso de sempre. Ele mastiga um chiclete, me mostrando seus caninos enquanto ria. Bieber já estava vestido adequadamente para ir ao trabalho; cruzei os braços, revirando os olhos. Chris e Alex observavam a cena atentamente, mas naquele momento meus olhos estavam vidrados em Justin, que fazia o mesmo comigo.
— Você é um babaca, Justin Bieber! — grunhi.
— Ah, se eu ganhasse um real por cada mulher que dissesse isso... — seu sorriso idiota se alargou, e a única coisa que consigo fazer é pegar mais uma panqueca do prato e arremessar nele.
— Vai trabalhar! — gritei, irritada com seu joguinho.
— Você ainda vai ser minha, baby-doll... — disse, girando os calcanhares — Você ainda vai estar na minha cama...
Coloquei as mãos na cintura, indignada. De todos os cara com quem dormi, nenhum fora tão idiota assim. E olha que nem me atrevi em estar dentre os lençóis com Bieber. Ergui uma sobrancelha. Se eu dormir com ele, estarei livre dessa aposta idiota, mas junto com minha viagem de volta para a casa, minha sanidade iria.
— Entenda, nem por um milhão de anos serei sua!
— Normalmente, eu sempre digo verdades, pois sei que estou certo. Portanto, se você tem tanta certeza que está com razão, então deixarei você pensar assim, para que a briga se cesse e você durma sabendo que ganhou a briga, mas no final apenas uma resposta estará correta e ela virá a tona, e nós sabemos de quem será. — ele aponta para o próprio peito, fazendo apenas um movimento com a boca ele diz ‘eu’.
— Idiota! — gritei — Nunca dormirei com você, seu babaca!
— Tá bom. Você está certa — sorriu novamente, saindo pela porta.
Um ponto para você, Bieber.
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