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História Crawling Into the Unknown - Estranho Comportamento


Escrita por: lanastoltz e elevar

Notas do Autor


Olá, crianças! Tudo bem, tudo bom? Aqui vai mais um capítulo pra vocês.

Boa leitura, meus pequenos.

Capítulo 3 - Estranho Comportamento



EMILY'S POV


- Eu já disse, tia Anna, eu estou bem. – Falei pela centésima quarta vez naquela manhã que eu estava bem, que não sentia dor alguma, mas aqueles dois insistiam em tentar me manter presa naquele hospital cheio de gente vomitando. Se eles querem tanto se livrar de mim assim, não precisava me deixar presa ali, eu mesmo arrumaria minha tipóia e fugiria pro interior do Oklahoma. Pelo menos ninguém me acharia lá.
- Mas você bateu a cabeça e teve uma vertigem. Precisa ser medicada pra saber se não houve nada sério. – Tia Anna, que estava sentada ao meu lado no sofá de dois lugares da sala de espera do hospital, falava enquanto com uma mão acariciava levemente o pequeno inchaço em minha testa, rente à sobrancelha direita, e a outra mão segurava minha mão direita. Eu apenas gritava internamente para sair dali. Mike estava sentado num outro sofá, também de dois lugares, de frente ao que estávamos sentadas. Ele estava curvado para frente, seus cotovelos estavam apoiados nos joelhos e seus dedos tocavam distraidamente seus lábios. Seu olhar era vago, fixo em algum lugar no chão, perto dos meus pés. Parecia estar perdido em pensamentos. Olhei para Anna, que ainda se encontrava com uma das mãos segurando umas das minhas, e finalmente parei de insistir em tentar sair dali. Seria mesmo que bosta se eu continuasse com aquilo, mas a vontade permaneceu.
- Tudo bem, tia Anna. – Anna sorriu e deu um beijinho em minha testa, quase perto do inchaço. Sorri com o carinho. Ela seria uma ótima mãe. Sorte daquele ou daquela se um dia sair do ventre dessa maravilha de mulher. Após o pequeno gesto de carinho, Anna soltou minhas mãos delicadamente e sentou corretamente no asento do sofá. Olhei para o meu tio involuntariamente e comecei a raciocinar sobre o que aconteceu naquela manhã. Eu teria ido dormir tarde após fazer uma enorme lição de matemática que havia pedido à um menino da minha turma, já que eu estava suspensa por três semanas e como eu não queria ser reprovada no final do ano, estou tendo que fazer todos os conteúdos passados durante esse período de suspensão. Se o menino não fosse caidinho por mim, não estaria me ajudando com todos os conteúdos. Ele é um doce de menino. Droga! Por quê, Deus, eu não consigo sentir atração, nem que fosse um tiquinho, por garotos da minha idade? Que castigo foi esse que o Senhor reservou para minha pessoa? Voltando ao que houve naquela manhã mais cedo... Eu levantei e desci para tomar café do jeito que eu estava, – com certeza um horror – dei um bom dia para meus tios e sentei numa cadeira. Tudo o que lembro depois disso foi uma conversa entre meus tios, algo sobre o feriado do dia de ação de graças. Devo ter cochilado depois disso, pois a única coisa que lembro nitidamente foi meu cotovelo escorregar pela borda da mesa e meu corpo cair bruscamente para o lado, fazendo minha cabeça bater sobre a quina do móvel e eu ir de encontro ao chão. Apesar da dor na cabeça e a visão estar embaçada, também ouvi uma voz preocupada me chamar. Lembro de ter abrido os olhos uma segunda vez e ter uma vertigem, mas não lembro de mais nada depois disso. Quando acordei, estava no banco de trás do carro em movimento do meu tio com Anna ao meu lado, tentando fazer eu permanecer acordada. A sensação que eu tive naquele momento foi de que eu permaneci acordada o tempo todo, mas inconsciente, como num sonho. Agora estou aqui, nessa sala de espera, ouvindo um garoto tossindo, uma senhora perguntando à um rapaz que horas eram, uma música irritante de um jogo qualquer que vinha do celular que uma garotinha estava jogando, – que supostamente era do homem que, supostamente, era seu pai – um homem gritando, uma mulher tentando fazer ele se acalmar... parecia até um hospital do gueto. Os gritos foram se tornando mais nítidos, o que me acordou do meu transe e meus olhos focaram na cena do outro lado da grande janela de vidro da sala. Mike estava do lado de fora da sala de espera, gritando para que alguém nos atendesse logo, enquanto Anna o puxava pela sua jaqueta jeans anil. Eu estava tão perdida em pensamentos que nem percebi quando Anna saiu do meu lado. 
- ... e é pra isso que eu pago impostos? Pra ficar quase duas horas numa sala de espera de um hospital de merda que não tem nem um médico filho da puta pra atender um paciente sequer? – Mike estava completamente fora de controle. Todos ali presentes o olhavam com espanto, afinal, não é todo dia que um Mike Shinoda completamente enfurecido faz barraco num hospital particular.
- Que porra de hospital é esse? – Algumas mães colocavam as mãos nos ouvidos dos seus filhos para privá-los das baixarias que saiam da boca do meu tio. Eu o observava com os olhos arregalados, atônita demais com aquela cena inédita na minha vida. Eu nunca, jamais vi Mike ou alguém da minha família perdendo o controle daquele jeito. Já bastava eu, a doida da família. Agora sei a quem mais puxei. Como diz aquele ditado: “Os mais quietos são os piores.”
- Michael, por favor, para com isso! Aqui é um hospital, pelo amor de Deus! – Anna implorava para que Mike parasse com a gritaria e a baixaria naquele lugar. Ela estava tão nervosa quanto ele. Mike a olhou, ofegante e vermelho de raiva, e colocou as mãos nos cabelos, os puxando para trás. Ele se virou para os enfermeiros de plantão que assistiam àquela barbaridade e diz apontando o indicador aos mesmos:
- Querem saber? Vão pra puta que pariu. – Mike vira novamente e passa por sua esposa sem nem ao menos olhar para ela e entra na sala de espera, sentando no sofá de antes ainda furioso. Calmo, mas furioso. Ele apoiava a cabeça nas mãos enquanto seus cotovelos estavam nos joelhos. Eu o olhava pasma com o que acabara de presenciar, assim como todos que estavam na sala.
- Eu sinto muito por isso. Não sei o que deu nele. Desculpem mesmo por isso. – Ouvi Anna dizer para as pessoas da recepção e a porta abrir e fechar novamente. Ela entra no meu campo de visão ao sentar ao lado do marido.
- Michael, pelo amor de Deus, o quê que foi aquilo? – A mulher perguntou um tanto quanto envergonhada com tudo aquilo. Dava para perceber pelo tom baixo de sua voz. Mike não respondeu, apenas passou o indicador e o polegar nas sobrancelhas para secar alguns pingos de suor que escorriam devido a adrenalina. 
- Mich—
- Olha, eu não tô com cabeça pra dar explicação de nada agora, ok? – Mike a interrompeu, fazendo um gesto com as mãos para que Anna não falasse mais algo. Ela apenas o olhava fixamente, inconformada com sua atitude. 
- Ok. Conversaremos quando chegarmos em casa. – A mulher levantou e veio sentar ao meu lado. Olhei rapidamente para minhas mãos quando ela levantou, antes de sentar.
- Desculpa pelo que houve, querida. Não sei o que deu nele. – Anna se desculpou com voz baixa e a olhei.
- Está tudo bem, tia Anna. É um Shinoda. E os Shinodas são meio malucos mesmo. – Dei um sorrisinho forçado, apenas para quebrar aquele clima tenso que ficara após o surto inesperado do meu tio e Anna sorriu sem vontade alguma.
- Vou ver se acho um médico. – Ela passou uma mão em minha bochecha corada antes de levantar. Ela deu um olhar impassível para o marido e saiu da sala. Eu sei que se eu não estivesse morando com meus tios, nada disso teria acontecido. Culpa do meu pai. Aquele miserável. Como será que ele deve estar lá em Bruxelas? Será que está dormindo? Ou sentado numa poltrona tomando o vinho tinto mais caro da Belgica, observando a noite pela enorme parede de vidro da suíte mais cara, do hotel mais caro da cidade? Sorri levemente ao imaginá-lo naquela situação. Tão bonito, tão bom, tão Shinoda, tão meu pai. Senti um pouco de remorso por tratá-lo com tanta arrogância e rudeza, afinal, ele não é um homem ruim. Bem, eu apenas o trato desse jeito pelo fato de nunca estar presente na minha vida, sempre viajando à trabalho. Maldito trabalho de administração empresarial! Por quê, de repente, estou pensando no meu pai? Saudade, talvez? É, com certeza, sim. Eu estava tão distraída pensando em como estaria meu pai no outro lado do planeta que nem percebi que eu estava olhando distraidamente para olhos negros à minha frente. E que esses mesmos olhos me olhavam de volta. Meu sorriso desprendeu-se do meu rosto quando me dei conta quem era o dono daqueles olhos. Sua expressão era indecifrável e só se tornou pior quando ele estreitou os olhos. Parecia, no mínimo, estar tentando ler minha mente. Quando fiz menção de questionar o motivo de me olhar como se eu fosse a pior pessoa do mundo, a porta da sala se abre e um homem de jaleco branco entra segurando uma prancheta seguido por Anna. Era um médico. 
- Sr. Shinoda, sou o Dr. Philips. Sinto muito pela demora. – Mike levantou enquanto o médico falava e esticava uma mão para cumprimentá-lo. Mike o cumprimentou de volta sem nenhuma vontade.
- Me acompanhem, por favor. – O Dr. Philips indicou a porta e Anna veio em minha direção para me ajudar a levantar. Como se eu precisasse. Ela pegou a jaqueta que havia posto em mim  Seguimos o médico – que era alto com cabelos levemente dourados penteados para trás – e Mike veio logo atrás. As pessoas nos olhavam torto, mais precisamente para Mike, pois o mesmo teria feito um mega barraco há poucos minutos. 
- Eu sinto muito pela confusão mais cedo. Eu estava fora de mim. – Mike pediu desculpas ao médico enquanto andávamos detrás do homem e entrávamos num elevador.
- Não precisava daquilo, Michael. Ficou doido? – Anna, que me segurava pelos ombros, falou controlando sua voz para não se alterar e chamar mais atenção enquanto o médico apertava o botão do 4° andar e a porta do elevador fechava. Mike a olhou e olhou para cima, impaciente. 
- Eu tive motivos pra endoidar. É injusto estar doente ou ferido de um acidente e ter que esperar quase uma vida num hospital em que não haja nem um médico sequer pra atender. Desse jeito, o indivíduo morre antes mesmo de ser atendido. – Mike ergueu as sobrancelhas enquanto falava a última frase. Anna revirou os olhos e o olhou.
- Não exagere, Michael.
- Não, ele tem razão. – Dessa vez foi o médico que falou, dando uma pequena virada em nossa direção.
- É realmente injusto chegar em um hospital – qualquer hospital – e esperar mais do que o necessário pra ser atendido, mesmo estando  apenas resfriado. – Dr. Philips, assim como nós três, olhou para a porta do elevador quando foi aberta e saiu do mesmo, sendo seguido por nós. Mike sorriu vitorioso para Anna e a mesma revirou os olhos e olhou para outra direção que não fosse para o marido.
- Mas a sua atitude, Sr. Shinoda, não foi a das mais decentes. Você teve motivos pra agir daquela forma, mas mesmo assim aqui é um hospital. O senhor não tinha direito algum pra surtar. – Anna, Mike e eu nos entreolhamos, surpresos com o que o médico dissera. Percebi um sorriso vitorioso se alargar lentamente no rosto de tia Anna enquanto ela encarava tio Mike com um olhar de “bem feito”. Mike estreitou os olhos e lançou um pequeno olhar para mim quando sua esposa parou de pentelhá-lo e voltou a olhar para frente. Sua expressão mudou quando seu olhar cruzou com o meu. Como há alguns minutos atrás, seu olhar era indecifrável. Será que eu fiz algo inaceitável para ele me olhar desse jeito? Bem, se eu tivesse feito ou dito algo irrelevante que não fosse agradável, ele teria me dado uma bronca e me deixado de castigo como das outras vezes. Se bem que eu sempre quebrava o castigo e nem dava a mínima para seus sermões, mas seria bem melhor do que esse olhar agonizante e esse mistério assustador. Para de me olhar assim, seu filho da puta gostoso do cacete! Já estou ficando excitada. Desviei meu olhar para frente e percebi ele fazer o mesmo. Isso após uns longos cinco segundos.
- Por favor, entrem e fiquem à vontade. – O Dr. Philips abriu uma porta – que supostamente seria seu consultório – e entramos, sendo eu a primeira, Anna atrás de mim e Mike depois. O doutor entrou por último, fechando a porta em seguida. 
- Sentem-se. – indicou duas cadeiras que haviam na sala para meus tios e eles sentaram.
- E a mocinha sente-se aqui. – indicou uma cama/maca para eu sentar e  foi aí que me dei conta de que sala era aquela. Olhei em volta e vi ursinhos, girafas, hipopótamos, elefantes e outros animais nas paredes do lugar. Além de vários bichinhos de pelúcia em uma estante do outro lado da sala. Olhei para o médico – que estava à minha frente com um sorriso sem mostrar os dentes – e baixei meu olhar para seu crachá. Dr. Benjamin Philips, pediatra. Pediatria?! Pediatria?! Eu tenho dezessete anos, não sou mais criança. O que aqueles dois tem na cabeça para pensarem que ainda sou uma criança? Crianças não fazem o que eu faço. Crianças não fazem sexo. E o retardado do médico ainda me olhava com aqueles olhos azuis brilhantes. Espera aí! Seus olhos são azuis? Como não percebi isso antes? É, realmente eu não estava muito bem depois daquela pancada na cabeça. 
- Emily? – Pisquei algumas vezes ao ouvir a voz de minha tia me chamar e a olhei por cima do ombro do doutor. Sua cadeira, assim como a de meu tio, estava no meio da sala, de frente à mesa do doutor, e a cama/maca onde eu me encontrava tinha os pés virados para o lado oposto da porta, o que deixava sua lateral encostada à parede.
- Você está bem? – Aquela pergunta de novo. Não, eu não estou bem convivendo com teu marido e resistindo à tentação que é a vontade de voar em cima dele toda vez que estamos sozinhos em casa quando tu sai com tuas amigas.
- Sim. Estou bem sim. – Falei retardamente olhando para o médico, que agora examinava meu inchaço. Ai! Isso dói! 
- Ainda bem. Pensei que teria tido um branco. – Não, mas estou pra ter um com esse pediatra lindo na minha frente... E esse homem gostoso que não para de me olhar aí do teu lado. Ele estava olhando para mim de novo? E com o mesmo olhar de antes? O quê que está havendo com esse homem?
- Olhe para a luz. – O médico pediu, apontando uma pequena lanterna em meus olhos, e obedeci. Ele movimentou o objeto de um lado para o outro lentamente e eu o acompanhei com o olhar. Isso cega, meu chapa.
- Bem, está tudo bem com a pequena Emily. A pancada não afetou nada no cérebro, apenas a parte interna da pele acima do músculo, mas nada sério. – Disse, desligando a luzinha da lanterna e a guardando no bolso frontal do seu jaleco, despreocupado e com um sorriso lindo nos lábios. Ah, eu quero esse homem pra mim!
- Então já podemos ir. – Disse meu tio, levantando da cadeira, o que fez minha tia fazer o mesmo. Desci da cama/maca e fui até Anna, que tocou meu rosto com as duas mãos e deu um beijo em minha testa. Aquela mulher deve gostar muito de mim, apesar do meu jeito de ser. Também gosto muito dela. Ela é a mãe que eu nunca tive. Às vezes me sinto mal em desejar o homem da sua vida. Não porquê ela seja casada e vive com ele, e sim pelo modo que ela sempre me tratou. Como uma filha. 
- Cartão ou cheque? – Mike perguntou ao médico, que anotava algo num papel sob a mesa. Se não fosse o jaleco, daria pra ver o volume da sua bunda.
- Não se preocupe com isso, Sr. Shinoda. – Disse, terminando de anotar – Isso é como recompensa pela demora lá em baixo.
- É minha obrigação, doutor. Não insista pois não vai colar. – O médico o olhou e sorriu. Pegou o papel sob a mesa que estava rabiscando e pegou um talão de cheque que também estava sob a mesa.
- Se é assim, não vou insistir. – Falou, caminhando em nossa direção e entregou o talão para Mike. Na outra mão estava o papel de antes, que logo estava na mão de Anna. Olhei para o conteúdo escrito e fiz uma careta engraçada por não conseguir entender o garrancho que era aquilo.
- Isso é um analgésico pra dor e outro pra desinchar. Um pouco de gelo no local também ajudará a desinchar mais rápido. – Sorriu e olhou para mim. Sorri de volta.
- Pronto. Agora estamos indo. – Mike entregou o talão para o Dr. Philips e o mesmo agradeceu com um aperto de mãos. Olhei para as mãos dadas e suspirei levemente em decepção quando vi uma aliança no dedo médio do doutor gostoso. É lógico que ele era casado. Quem deixaria um homem daquele solto por aí? Saímos da sala e fomos para o elevador acompanhados por Philips. Chegamos ao térreo e nos despedimos. Passamos pela recepção, enquanto o Dr. Philips seguia para a sala de espera atender mais algum outro paciente. Saímos do prédio e fomos até o carro.
- Meu celular está por aqui, tia Anna? – Perguntei, após apertar o cinto e Anna bater a porta.
- Está na minha bolsa. Só um minuto. – Ela apertou o cinto e pegou sua bolsa, a revirando.
- Está aqui. – Anna virou-se no banco e, com um sorriso sem mostrar os dentes, me entregou o aparelho. Recebi com um sorriso igual.
- Obrigado. – Cliquei na tecla de desbloqueio e visualizei a hora. Dez e vinte e um. Passamos duas horas e dez minutos naquele lugar, sem contar que meu estômago estava soltando grunhidos de tanta fome. Com certeza, não havia terminado de tomar café. Já estávamos no meio do caminho, quando alguém chama minha atenção. 
- Está com fome, Emily? – Como se lesse minha mente, Anna perguntou mexendo em algo no celular. Eu, que estava lendo as últimas notícias da minha banda favorita, olhei para frente bruscamente e logo respondi:
- Morrendo. – Falei fingindo um drama exagerado, arrancando risadas por parte de minha tia. O que me fez rir da minha própria idiotice. Às vezes eu não sou eu.
- Só não morre aqui, por favor. – Anna disse em meio a risadas e fingi morrer, caindo no banco e depois “despertei” lentamente, passando os braços pelas laterais do encosto de cabeça do banco do passageiro e me inclinei para frente, agarrando minha tia pelos ombros. Estava fingindo ser um zumbi.
- Menina! – Anna exclamou, assustada e começou a dar gargalhadas. Continuei a tocando e arrancando mais e mais gargalhadas dela, até uma voz grave se intrometer.
- Senta e põe o cinto, garota. Não estou afim de voltar àquele hospital tão cedo. – Mike disse sério, tão sério que, por um momento, pensei que levaria uma surra dele. Ou foi apenas impressão minha. 
- Michael, estamos só nos divertindo. – Anna disse após seu ataque de risadas passar aos poucos. Sentei corretamente no banco e pus o cinto sem falar nada. Mike estava muito estranho hoje, então eu prefiro não piorar as coisas.
- Eu sei, mas se eu batesse o carro, ela sairia voando pelo para brisa. – Mike falou virando em uma outra avenida. 
- E você bateria o carro? – Anna perguntou arqueando uma sobrancelha e Mike travou em suas palavras. Quando ele finalmente encontra algum argumento para a pergunta da esposa, ela logo o interrompe sem nem ao menos o homem começar a falar.
- Amor, foi só uma brincadeira. E você tem toda a razão do mundo em se preocupar. Prometemos que nunca mais faremos isso de novo. Não é, Emily? – Anna elevou a voz ao se referir à mim. A olhei rapidamente.
- Sim, tio Mike. – Voltei a olhar para a tela do meu celular, onde passava um vídeo ao vivo de Between Angels And Insects.
- “Sim, tio Mike” o quê? – Perguntou e ergui apenas o olhar, o estreitando, para o encosto da cabeça do banco do motorista. 
- Sim, tio Mike, – dei ênfase no “tio Mike” – que nunca mais faremos isso de novo. – Continuei olhando para o encosto, depois olhei para o motorista.
- Boa menina. – Pude ver um sorriso pelo canto direito do seu rosto e revirei os olhos, voltando a assistir ao vídeo em meu celular. Algum tempo depois, paramos num fast food e pedimos a mesma coisa: Sundae, Coca e uma porção de batatas fritas. Comemos calmamente no estacionamento de um supermercado próximo ao local do fast food ao som baixo, porém apreciador, de Shinedown
- Staying up all night, drinking more than we should, getting way too high – Cantarolei distraidamente junto com o cantor enquanto jogava Candy Crush. Até que uma segunda voz se junta à minha, me fazendo parar de cantarolar por um instante e depois volto a cantar junto à pessoa em um dueto.
- When the sun came through, I watched you laugh, I saw you cry – Uma terceira pessoa apenas nos observava atentamente, impressionada com o que presenciava.
- ‘Cause the world has a way of tearing you down, keeps you tied to the surface, paints you up like a clown – Por incrível que possa parecer, eu não estava desafinando. Talvez seja o efeito que o som de nossas vozes sincronizadas estava causando em meu ser.
- But I'm right here, day after day, year after year, come out, come out, wherever you are, I know you're there, I know you are – Eu já sentava corretamente no banco enquanto a outra pessoa sentava de frente à terceira pessoa, sendo esta que tinha um sorriso bobo nos lábios.
- They called us crazy ‘cause we never fit in, we never thought of keeping up with their trends, it didn't matter that we weren't on the list, ‘cause we were misfits, we were misfits – A dona da segunda voz se aproxima da terceira pessoa e toma suas mãos. Meus olhos marejam.
- ‘Cause we were misfits, we were misfits, and after all we never played by the rules, we broke the mold and found our own kind of cool, it didn't matter that we weren't on the list, ‘cause we were misfits, we were misfits – Deixamos a música rolar sozinha, já que os dois começaram a se beijar calmamente, ignorando completamente minha presença. Anna e Mike são infinitamente apaixonados um pelo outro. São perfeitos juntos. Confesso que tenho inveja dos dois. Eles pararam de se beijar e riram bobamente um do outro. 
- Vocês me tiraram o fôlego com essas vozes. Bem, a sua eu não conhecia, Emily. – Anna estava impressionada. Ela tinha um sorriso de orelha a orelha. 
- Deveria ser cantora. – Disse e sorri timidamente.
- Não, que exagero, tia Anna. – Disse e peguei o celular, voltando a jogar.
- Você se subestima demais, menina. – Parei de jogar por um instante e logo voltei quando tio Mike tirou o CD que havia terminado e colocou na rádio, cuja música que tocava era Through It All. Algo estava me incomodando bastante durante a viagem. Eu tentava várias vezes fazer o Tom empilhar os bolos em Torre de Bolos, mas estava sendo impossibilitado por algo extremamente incomodador. Suspirei frustrada e cliquei da tecla de bloqueio, desligando a tela do celular. Recostei a cabeça no encosto do banco e olhei para detrás da cabeça de tia Anna. Ela estava tirando um cochilo. Eu deveria fazer o mesmo, mas o incômodo estava tão grande que nem nisso eu conseguia me concentrar. Sim, eu tentei. Olhei para a rua à frente e pensei comigo mesmo sobre o quão demorado está sendo chegar em casa. Que hospital longe foi esse que me levaram? Involuntariamente, olhei para meu reflexo no retrovisor e me deparei com Mike me encarando pelo objeto.
 


Notas Finais


Música 1: Papa Roach - Between Angels And Insects (live) https://www.youtube.com/watch?v=kO-4mDqLm6k

Música 2: Shinedown - Misfits https://m.letras.mus.br/shinedown/misfits/traducao.html

Música 3: From Ashes to New - Through It All https://m.letras.mus.br/from-ashes-to-new/through-it-all/traducao.html

O médico escândalo: https://pbs.twimg.com/profile_images/739972035011448832/--MEsmqD.jpg

Até o próximo, meus pequenos!

Ps: Deem uma olhadinha na playlist oficial da história http://8tracks.com/roacher/crawling-into-the-unknown


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