1. Spirit Fanfics >
  2. Crossed Histories >
  3. Winter Bird

História Crossed Histories - Winter Bird


Escrita por: Gigi-do-Malik

Notas do Autor


Ei, vocês sentiram minha falta? Aposto que não... Maaaas, mesmo assim, aqui estou com mais um capítulo de Crossed Histories! Posso adiantar que tem uma coisinha que vocês queriam saber que eu acabei não falando, enfim, sinto muito hahaha Mas também tem outras coisas por aí. E tem *muita* ação chegando por aí...

E, bom, dia 31 eu postei esse capítulo, mas uma semana depois ele foi excluído por motivos que acho que não seja difícil adivinhar e então eu aproveitei para fazer algumas modificações... Gostaria de informar também que a reforma está, oficialmente, encerrada!
Depois de muita luta reescrevendo tudo, temos uma nova cara para CRH! Faltam pequenas modificações, mas nada alarmante.

O aniversário do nosso querido Rupert foi há alguns dias atrás, então vamos apreciar os 28 anos dessa coisinha preciosa szsz

Aliás, viram a capa nova? Gostaram? Eu ameeei <3
Espero que vocês curtam esse capítulo! Enjoy!

Capítulo 22 - Winter Bird


Fanfic / Fanfiction Crossed Histories - Winter Bird

                                     Lânia (Europa)

Ele riu, divertido, assim como Duarte.

— Essa é uma história bem curiosa — disse, e eu assenti, não duvidando nada — Mas tem certeza que quer ouvir? Talvez você prefira esperar mais um pouco, pode ser bastante informação de uma vez só...

Pensei um pouco, engolindo seco e percebendo que Rupert devia ter razão. É melhor não forçar as coisas agora, afinal, essa história ainda está entalada na garganta de todos nós.

— Talvez seja apropriado esperar um pouco — sorri, vacilante — Mas não pense que o senhor vai escapar dessa, Sheeran! Um dia, vou ficar sabendo. 

Eles riram.

— Tudo bem — Edward suspirou — Phoebe, o que acha de voltar para seus aposentos agora? Já está ficando tarde, é melhor não derem sua falta por muito tempo.

— Ele tem razão — Duarte apoiou — Por ora, é melhor não abusarmos da sorte. Nunca dá para saber de que lado ela vai estar pela manhã.

— O.k. — mordi o lábio inferior, despedindo-me dos dois e sendo acompanhada até meu quarto por Edward.

Caminhamos calmamente pelos corredores, passando por algumas pessoas ás vezes, mas claramente Ed não se importou. Também pareceu terrivelmente tranquilo em relação a sua mão em minha cintura todo o tempo, estava tão sereno que pareceu inatingível.

— Está entregue — disse, quando chegamos.

— Obrigada, foi desnecessário ter me trago até aqui.

— Não foi, não — ele sorriu — A noite foi muito turbulenta para os quatro, queria garantir que você chegaria sã e salva até aqui.

— O caminho é curto — dei uma risadinha sem graça e um pouco nervosa — Não irei mudar de ideia, se essa é sua real preocupação.

— Não vai, eu sei — colocou as mãos nos bolsos traseiros da calça, balançando o corpo para frente e para trás num ritmo lento — Na verdade, eu queria te agradecer pela coragem e pelo amor para com Rupert. Poucas pessoas enfrentariam a si mesmas para ajudar um amigo em apuros. 

— Não me agradeça por isso, Christopher — sorri de lado, fitando bem sua face — Poderia ter agradecido lá.

— Prefiro a privacidade que temos a sós. Assim posso fazer coisas que não poderia fazer na presença deles.

— E o que seria? — fiz-me de desentendida.

Ed negou com a cabeça, sorrindo abertamente. Suas mãos se moveram até minha cintura e ele puxou-me cada vez para mais perto de si, até nossos rostos estarem colados, nossas respirações mescladas e os lábios clamando pelo do outro. Sei que ainda hoje estive numa aproximação inadequada para uma mulher solteira com ele, mas cada hora desta noite se arrastou tanto que pareceu uma eternidade desde o último beijo ou o último momento a sós.

Calmamente, com meus olhos fixados no mar azul de Edward, nossas bocas se tocaram e iniciaram um beijo gentil e harmonioso. Minhas mãos foram até seus ombros e seu cabelo ruivo flamejante, alternando em dúvida sobre qual lugar seria o melhor. Ele tentou colar mais ainda nossos corpos, mas imaginei ser praticamente impossível.

Afastamos aos poucos, sem movimentos bruscos. Um sorriso rasgou meu rosto, e logo eu também estava aconchegada em seus braços fortes, apenas sentindo seu cheiro doce e deixando que minhas mãos escorressem por suas costas.

 — A proposta de dormir em meu quarto seria inegável esta noite? — a voz de Ed disse, de repente, e fui obrigada a afastar meu rosto para fitar o seu. Arqueei uma sobrancelha — Ou podemos ficar no seu, já que estamos aqui. Você decide.

Ri nasalmente.

— Acho que estou disposta a negar as duas opções — disse e ao ver sua cara de desapontamento, acrescentei em sussurro — Desculpe.

— Já fizemos isso antes! Qual é o problema, Ebe?

— Estou exausta, somente isso. O dia foi longo, estressante... Acabaria te chateando ficar comigo hoje — dei de ombros.

— Bom, se essa é a sua desculpa de hoje, é equivocada. Sei que posso te relaxar em um piscar de olhos.

Fiz careta diante de sua ousadia, rindo logo depois.

— Sua animação contagia — menti. 

— Pois deveria — ele cutucou meu braço — Não é todos os dias que vamos ter uma oportunidade dessas, Phoebe. Amanhã e nos próximos dias estarei atolado até a cabeça de serviço. Não pode dar-me uma folga ao seu lado antes de que o tédio me atinja? Por favor. Prometo comportar-me e não abusar de sua boa vontade comigo.

— Eu... — abri a boca para respondê-lo, mas fui cortada. 

— Apenas deite-se comigo e adormeça enquanto mexo em seus cabelos. Não passará disso.

— Ed, eu... — suspirei profundamente — Tudo bem. Vamos, entre.

Abri a porta do quarto, encontrando-o vazio e parcialmente escuro, iluminado apenas por algumas poucas velas e pela luz do luar, que vinha da janela aberta. Virei-me para puxar sua mão e encontrei um Ed sorridente e animado, diferente do garoto sério que a pouco estava me implorando um bocado de carinho e atenção.

Ele foi direto para a cama, e enquanto isso eu cogitava as opções de trocar de roupa, colocar uma camisola leve ou deitar-me com esta roupa, igual ao senhor Sheeran. Optei que seria ousadia usar uma vestimenta de dormir em tais circunstâncias, apenas tirando os sapatos antes de caminhar para a cama e aconchegar-me ao seu lado.

Christopher passou um dos braços por trás de minha cabeça e juntei meu corpo ao seu. Ele depositou um beijo em meus cabelos, desejando-me um boa noite rouco e sonolento, enquanto suas mãos passeavam calma e levemente por meus cabelos.

— Boa noite, Edward.

Foi tudo o que eu tive noção um pouco antes de apagar. 

{...}

— Sabe, estamos cogitando a ideia de fazer um fosso em volta do castelo.

Não consegui conter a surpresa ao ouvir suas palavras.

— Por quê? Não estão achando seguro a forma como está agora?

— Bom, no atual momento, as coisas estão estáveis. Mas meu pai e todo o conselho temem que quando eu assumir o trono, as coisas possam sair um pouco do controle até firmarmos todas as alianças novamente.

— Então é uma possibilidade real? — passei meu braço pelo seu e tomamos caminho para a Biblioteca.

— Sim — Ed suspirou — Todos os reinos vizinhos já adotaram essa tática de segurança. Ser a única exceção seria horrível para Cantberg. O que acha sobre isso?

A única coisa que passou por minha cabeça foi ter mais um pedaço de minha liberdade jogada fora, mas decidi não desapontá-lo com esse pensamento. Afinal, as coisas estão muito melhores do que quando cheguei. Também fiquei contente com Edward se importar tanto com minha opinião a ponto de perguntar sobre ela.

— Bem... Isso deixaria a vila exposta, não é? Estamos a uma légua¹ de lá, como proteger o castelo e deixar a vila exposta?

— Este é um dos contratempos que estamos considerando. Não sei de quem foi a ideia, mas foi muito imprudente ter feito a vila tão distante do castelo. Se não fosse por esse motivo, já teríamos certeza sobre construir o fosso.

— Não conseguem estender um muro ou algo do tipo cercando tudo?

— Temo que não... — olhou-me de lado e pude ver a preocupação em seus olhos — Dificultaria a entrada sobre nós, claro, mas teríamos mais perímetro para cobrir. E gastaria muito mais tempo; meu pai quer um casamento o mais rápido do que todos podemos providenciar.

Arqueei as sobrancelhas, sentindo que essa ideia era totalmente desagradável.

— É uma pena ter tanto peso em cima de seus ombros dessa forma.

Ele assentiu.

— É... Mas ao menos não preciso preocupar-me com a escolha da esposa ideal. Sei exatamente com quem quero me casar.

— Isso é bom — engoli seco, evitando seu olhar que recaia sobre mim.

— Falta apenas saber se ela compartilha do mesmo sentimento — sua voz era tão esperançosa que por um minuto imaginei como seria estar no lugar dela. Sei que temos uma relação intima e que Edward já mencionou fazer esse pedido, mas nunca o fez e, além do mais, deve ter milhares de casos românticos por milhares de lugares. Portanto, considerei mais seguro para minha sanidade manter essa fantasia longe.

— Ela deve compartilhar — sorri fraco e fiquei feliz por termos chegado a Biblioteca Real, assim pude mudar de assunto — Estive lendo um livro ótimo esses dias.

A biblioteca estava parcialmente vazia, mas um grupo de homens estava em uma das extremidades mais distantes do lugar, com vários rolos de pergaminho sobre a mesa e conversando baixinho. Ao verem Edward, eles se levantaram e fizeram uma reverência, que foi retribuída por um aceno amigável de cabeça. 

— É mesmo? Qual?

— Bom, é sobre as lendas de Cantberg — confessei baixinho, afim de que os outros não ouvissem.

Ele sorriu de lado.

— Acho que sei de qual livro está falando...

— E eu acho melhor que guarde segredo sobre isso. Sabe que é proibido.

— Sou um túmulo — jurou — E também aprecio como as lendas são tão ricas em detalhes. Quem as escreveu deveria ter uma imaginação incrível.

— Concordo — sorri, soltando seu braço do meu e olhando o título dos livros que estavam empilhados na mesa mais próxima até encontrar um que chamasse minha atenção — Seria mais incrível ainda se todas essas lendas fossem reais, ou tivessem sido um dia. 

— Qual sua favorita? — Ed parou ao meu lado, correndo os dedos por um livro empoeirado de capa grossa azul.

— Não mate-me por dizer isso, mas o da libertação de Cantberg.

Ele riu.

— Não matarei — deu uma piscadela — Aliás, seria fascinante ver nosso povo em uma situação diferente.

— Você pode construir uma situação diferente para eles, Christopher.

Seu sorriso foi triste.

— Não, não posso. Nunca vou governar inteiramente sozinho, o Clero e a Nobreza sempre estarão seguindo meus passos e destruirão meu reinado se eu fizer algo que destrua seus planos. Mas adoraria acompanhar isso vindo de outra pessoa, meus olhos seriam inteiramente curiosos.

— Bom, pode melhorar significantemente as coisas sem passar por cima de ninguém.

— Esse é o grande problema, Ebe. Não pensarão duas vezes antes de passar por cima de mim, rei ou não — engoliu seco — Por ora, não vamos nos preocupar com isso. Temos uma longa e árdua estrada a percorrer até sabermos se as coisas se acertarão.  

Assenti, abrindo um livro verde com traços abstratos em vermelho.

— Este é sobre contos fantásticos, outro assunto que realmente prende minha atenção.

— Este é um livro de aulas de latim. Você sabe falar latim, Phoebe?

— Eu deveria, não deveria? — sorri de lado — Mas não, não sei.

Todas as moças da alta nobreza aprendem a falar latim desde pequenas, mas por algum motivo, comigo não foi assim.

— Deveremos dar um jeito nisso. Como é que você vai ler a primeira escritura sobre a lenda da libertação se não pode entender latim? 

Arqueei as sobrancelhas, com uma onda gigantesca de surpresa.

— Oh, meu Deus! V-você está falando sério? Mas... como?

— Bom, já que você gosta tanto do conto e o castelo mantém o primeiro exemplar guardado, não vejo barreiras.

— O príncipe incentivando a plebeia à rebeldia! Quem diria, não é, Ed? 

— Os instintos são fortes demais para serem negados. E você é nobre, não camponesa.

— Que seja — reviro os olhos.

— Então, vai querer ou não?

— Querer o quê?

Baltazar surge atrás de Edward, tornando tudo lento demais à minha visão e fazendo todos os nossos membros congelarem. Droga, papai. 

.........

Caminhando em meu sono
             Como as árvores nuas 
            Será que eles vão acordar de novo?
           Eles dormem, eles sonham?

Sinta-o como o vento acaricia minha pele
            Eu sou movido pelo frio
            Ouço cantar o pássaro do inverno

Minhas lágrimas estão sempre congelando
          Eu posso ver o ar que eu respiro
          Mas meus dedos pintam um quadro 
       No vidro na minha frente
     Coloque-me junto ao rio congelado
     Onde os ossos passaram por mim
    Tudo que eu preciso é lembrar
     Como era se sentir vivo

Coisas silenciosas, perseguição violenta
            ​Nós estamos dançando novamente
        Em um sonho, à beira do lago

Pressionada contra o meu travesseiro como o sol de inverno envelhecendo
           Acordar todas as manhãs só para lembrar que você foi embora
           Então eu afasto-me novamente
      Para o inverno eu pertenço
        Winter Bird - Aurora

.........

                                     ​Lavern (Europa)

Praças. Grandes praças públicas cheias de pessoas. Uma visão de encher os olhos.

E parece que finalmente conseguimos atingir nosso objetivo principal.

— Vamos, Armie — Bradley apressou-me, e em sua cara estava estampada a excitação.

— Não enche, Max — resmungo baixo — Não posso guardar as coisas mais rápido que isso!

— Jogue tudo dentro dessa mochila, Bailke — revirou os olhos, perdendo a paciência e vindo até mim, tacando todas as coisas de forma desordenada na bolsa — As manias de organização feminina só vão nos atrapalhar agora. Ande, estarei te esperando no andar de baixo para sairmos juntos. 

Bufei, olhando-o torto.

— Tá, tá. Desça antes que eu bata em você!

A verdade é que no modo como Max ou Bradley – que seja – me apressa, só consigo ficar ainda mais apreensiva. Odeio as fugas, pois apesar da adrenalina pura, fico insegura e com medo de sermos capturados. O fato de nos separarmos também ajuda essa teoria, e acabo ficando nervosa em dobro. 

Norman separou nossas duplas para fugirmos semanas atrás, e devo admitir que senti-me mais tranquila sendo o par de Max. Emma ficou com Norman e a Malena com Barbra. E é ruim para nós sermos a única dupla sem uma bruxa para as horas de socorro, mas é reconfortante saber que os outros estão mais seguros, afinal, não importo se algo acontecer comigo. Simplesmente mandarei Bradley correr e conseguir chegar nas bruxas, assim eles conseguirão continuar sem mim. E, apesar de ainda não ter passado por isso agora, sinto que já estou pronta para dizer “Adeus, amo vocês”.

Quarta. Já é a quarta vez que fugimos de uma cidade diferente somente neste mês. O governo parece mais empenhado do que nunca em encontrar os culpados por reascender a chama rebelde, esquecendo quem nós realmente somos. Uma parte do plano, uma ilusão. E eles nunca pareceram uma presa tão fácil como agora. 

Desci as escadas correndo enquanto ajeitava a bolsa larga e pesada nas costas, ao mesmo tempo em que vestia uma fina blusa de algodão por cima e procurava Max com os olhos. Assim que o encontrei, batucando impaciente os dedos na mesa da taverna, fui ao seu encontro.

— Tudo certo? — perguntei, fazendo-o olhar para cima e fixar seu olhar no meu. Bradley se levantou em um pulo e arrumou sua bolsa.

— Tudo. E com você? — apenas assenti e vi-o se aproximar de meu ouvido para sussurrar — As armas reservas estão na mochila? E quanto as de fácil acesso, caso precisemos usá-las?

Assenti mais uma vez e saímos em direção a porta, correndo e nos infiltrando na multidão assustada com a repressão forte do governo. Todas as casas e tavernas de Zargman serão revistas, e se não nos apressarmos logo, ficaremos presos aqui dentro. Uma ratoeira gigante.

— Você sabe uma forma de sair daqui? — murmurei baixo, vendo-o negar com a cabeça e sentindo meu coração falhar uma batida — Céus. 

— Apenas fique perto de mim e longe dos guardas, não deixe-os ver nossas bolsas ou pareceremos suspeitos demais.

— Droga, Littleford.

— Fique calma, Phoebe. Não vá ficar apavorada agora! — suas instruções foram inúteis, pois apertei com mais força as alças da bolsa e percebi que meus dedos tremiam. Tentei manter a expressão neutra, mas tenho certeza de que ainda pareceria assustada mesmo assim. Engoli seco, olhado para os lados a todo instante, mesmo sabendo que isso nos denunciaria. Foi inevitável.

— Brad, já devem ter bloqueado todas as passagens agora! — meu olhar era desesperado. Ficar para trás estava em meus planos há algum tempo, ficar para trás com Max não — O que faremos? Como vamos avisar os outros? 

Ele pensou por alguns instantes, olhando ao redor com motivação no olhar. Imaginei que estivesse procurando uma brecha por entre os guardas, mas ao ouvir o que ele falou, vi que falhei na suposição.

 — Esgotos — sua voz soou esperançosa, transmitindo o mesmo sentimento para mim — Podemos passar pelos esgotos e chegarmos no lugar combinado.

— Você tem alguma ideia de como derrubar aquelas barras de ferro?

Max abriu a boca para responder, mas foi impedido por outra voz:

— Não será preciso — Theo apareceu, e nunca fiquei tão feliz por ver a forma masculina de Emma rondando com sua ironia vespertina cheia de veneno nas ruas — Mas precisamos ir logo se não vamos precisar tomar medidas drásticas. Já vi seu amiguinho rondando por aí, revistando pessoalmente todos aqueles que achou suspeito.

— Oscar?

— Quem mais seria? — ela agarrou meu braço e puxou para a direção oposta à que estávamos indo.

— Bom, tenho vários amiguinhos assassinos. Desculpe se não posso reconhecê-los de imediato — respondi com ironia, e percebi que nós duas reviramos os olhos.

— Aonde estamos indo? — Max perguntou, e senti sua respiração pesada e irregular em meu ombro. Ele respirava com dificuldade e ansiedade, assim como nós duas.

— Há uma passagem ao nordeste que está desprotegida. Não foi por onde entrei novamente, mas é por onde vamos sair. Barbra fez todos os meus cabelos subirem enquanto tentava convencer-me de voltar para buscá-los e acabou achando essa passagem pelos esgotos. Ainda bem que ela não é minha dupla, eu teria ficado louca com aquela loura ambulante gritando no meu ouvido!

Ri baixinho, e um sorriso de lado surgiu no rosto de Max.

— Fazer as pessoas ficarem loucas é a especialidade dela — comentei.

— Bom, tarde demais para avisar sobre isso. 

Viramos a direita e entramos em um beco sujo e extenso que dava em uma viela calma e desprotegida de guardas.

— Sempre há uma falha no sistema de governo deles — Emma disse, orgulhosa — Espero que eles saibam disso. E espero também que você tivesse consciência disso quando estava no controle, vossa majestade.

— Não gostamos de pensar que as coisas não estão conforme o que planejamos — admiti.

— Esse é o maior erro de todos os monarquistas — sua risada veio à tona e acompanhei-a, porém com menos intensidade. Dois anos atrás, eu teria feito uma careta ofendida e perguntado qual era o problema dela, mas agora dependo de falhas como essa para sobreviver e nada consegue me deixar mais alegre do que ver como eles são ingênuos, trancados naquelas fortalezas de pedra, sem contato com o mundo real.

 — Lamento, mas não estou achando esse momento nada engraçado — Max disse — E é melhor que vocês dois não se distraiam até estarmos seguros fora daqui.

Concordei. Nenhum de nós tinha sido deixado para trás até agora, mas parece que a cada fuga e reaparecimento em algum lugar diferente, eles ficam mais furiosos e mais determinados a nos encurralarem. E isso só nos deixa mais tentados a seguirmos em frente, mesmo que implique situações assim. 

— Ei, vocês, parem onde estão! — uma voz autoritária surgiu atrás de nós e todo meu corpo congelou — Joguem as armas que tiverem no chão e coloquem as mãos na cabeça. Rendam-se.

Olhei para trás por cima do ombro, encontrando um homem com a idade aproximada de Norman vestindo o uniforme militar do governo. Sua mão estava repousada na espada embainhada, pronta para sacá-la. Por sorte, também estava há uns bons metros de distância, nos dando vantagem.

— Eu acho que não — Emma disse baixinho e sorriu ao meu lado, sacando uma faca da calça.

— Achei eles! — o homem gritou quando viu a faca na mão dela, olhando para o lugar onde o beco começava, atrás de si. Sua voz reverberou por todas as casas estreitas da vilela, fazendo um eco gigantesco e deixando-me alarmada a correr. E foi isso que todos fizemos — Corram! Não deixem que escapem! Parem em nome da Lei! Parem em nome do Rei Edward Sheeran!

— Quanta ironia — Emma sibilou. 

Senti o familiar frio na barriga, causado pela adrenalina, e todo o meu corpo sofreu espasmos. Minha mente só conseguia pensar em correr o mais rápido possível e não deixar que nenhum dos dois se machucassem de maneira alguma. Não há maneira melhor de pagar uma alma suja com outra – e o que há de sobra em minha alma é sujeira acumulada.

— Não parem de correr por nada na vida de vocês! — ordenei exasperada e recebi um olhar descontente de Bradley, mas ele não teve fôlego para discutir comigo.

Viramos à direita novamente e uma longa escadaria sem saída seguia abaixo, onde uma das grandes de ferro que levavam ao subterrâneo estava solta e jogada para o lado. Na escuridão do buraco, consegui identificar uma cabeleira loira e nunca fiquei tão feliz por conseguir avistar Barbra. 

Ela se inclinou no buraco – que não parecia ser muito fundo – para deixar a grade mais perto e a postos para ser colocada de volta no lugar. Apertamos o passo da corrida e senti minhas pernas começarem a falhar, pouco a pouco. Mais um lance, Phoebe, só mais um.

Deixei que Emma e Max passassem em minha frente, somente para ter certeza da segurança deles, mas não parei em momento algum. Só não contava com a falta de sorte, embora já devesse estar acostumada com ela.

Soltei um ofego dolorido ao sentir algo cortante atravessar minha perna e o tecido da calça ser inundado por algo molhado e frio. Não tive tempo para olhar para baixo ou para trás, verificar o quão perto estavam ou do que era o ferimento. Apenas foquei meus olhos nos companheiros a minha frente quando Emma deu um salto no escuro e Max a seguiu. Foi difícil e uma nova onda de medo atingiu-me, mas pulei da mesma forma.

Fui recebida pelo chão duro e úmido, que deixou minhas pernas e nádegas doloridas com o impacto. Gemi de dor e levei a mão até o ferimento. Logo, ouvi o barulho de ferro batendo e soube que Barbra tinha fechado a passagem.

Braços fortes envolveram-me em um abraço desajeitado e fui suspensa por eles, suspirei aliviada e apoiei a cabeça no peito de Norman.

— Você está bem? — ele perguntou.

— Não sei como estou me sentindo depois disso — digo.

— Vamos logo — Malena apressou-nos — O ferro tem um encantamento que o torna impenetrável e indestrutível, mas temo que não tardaremos a ficar cercados pelos guardas em todos os lugares. É melhor nos apressarmos. Phoebe, acha que consegue andar?

Por orgulho, assenti e fui colocada lenta e cuidadosamente no chão. Apoiei o peso do corpo em uma perna e tentei colocar a outra no chão, mas a dor foi terrível.

— É um ferimento de espada, parece profundo — Barbra disse baixinho, analisando minha mais nova cicatriz de confronto — É melhor carregá-la, Norman.

— Não — protestei, mas não adiantou nada.

— Não se preocupe em como sairemos daqui, Ebe. Apenas feche os olhos e descanse — ele disse.

Mesmo relutante, a dor estava começando a me dominar com uma rapidez absurda. A vista ficou embaçada e meu corpo, sem força. Mal pude distinguir as coisas depois disso. O ferimento latejante estava consumindo todas as minhas forças e por um momento, temi perder a perna.

— Max, pegue a bolsa dela e leva-a consigo — ouvi uma voz dizer.

— Por onde é a saída? — disse outra.

— Venham, por aqui. 

{...}

Sentada num trono de árvore velho e gasto pelo sol e pela chuva que estava caído no meio de uma trilha qualquer, eu olhava para o nada. As copas das árvores nessa parte da floresta ficam mais densas, e tudo o que se pode ver do céu vem das pequenas brechas das folhas. E apesar do som dos pássaros ser constante, não há sinal de nenhum animal. Enfim, a solidão e eu.

As lágrimas caiam grossas e gordas, quentes e cortantes como minha dor. Tão afiada como adagas ou espadas. Dilacerador. Mesmo quando parecia que não havia mais nada a chorar depois de dias horríveis, o corpo ainda surpreendia-me com mais e mais água. Pareceu tão inesgotável quanto a angústia. Deus deveria ter piedade de mim. De nós.

Chorar assim por Valentim já havia virado rotineiro, algo que meu peito já havia se acostumado, uma agonia constante que, com o passar do tempo, acomodou-se ali. Mas eu não estava chorando por Valentim, estava chorando por alguém que nem sequer existia. Alguém cuja existência seria a ruína de todos os Renegados, mas eu queria essa ruína. Uma ambição egoísta, extremamente pessoal.

Poderia ter sido uma menina, desta vez? Qual nome eu daria ao bebê se estivesse, de fato, grávida? Christopher sempre gostou de Judy ou Sophie, mas Aghata sempre foi extremamente lindo aos seus olhos. Para mim, teria de ser Cybil ou Mabel, nomes incrivelmente delicados. Para menino, nós dois concordaríamos com Colin ou Aidan, mas James se sairia igualmente bem.

Nas circunstâncias atuais, eu teria de escolher sozinha. Não teria forças para isso... Talvez tenha sido melhor, afinal. Ou talvez só mais um ponto para minha infelicidade, para a vulnerabilidade e para a estupidez. Teria sido fatal para mim e para o bebê, embora esse fato não seja o mais reconfortante.  

Os cabelos seriam castanhos ou vermelho flamejante? E os olhos, teriam eles o azul marinho de Edward ou o meu verde claro? Sua pele seria branca como a neve ou um pouco mais bronzeada, como a minha? E quanto ao nariz e o sorriso? Seria parecido com o irmão mais velho?

 A cada pensamento assim, as lágrimas se intensificavam e ficavam piores. A dor tomava mais conta de cada mínima parte e parecia impossível suportar até mesmo a respiração. Gostaria que tudo não passasse de um sonho demasiadamente ruim, onde eu acordaria e sentiria meu filho envolto em meus braços como se necessitasse da proteção de mãe que só eu poderia oferecer a ele. Do carinho materno que o faria adorável e a inspiração que ele usaria para moldar sua personalidade. 

O vento bateu forte contra mim e meu emaranhado de sentimentos, coisas que nunca saberei. Um mártir interminável. Ele acariciou minha pele quente com uma rajada fria, sinal de que o inverno se aproximava cada vez mais. Os pássaros resolveram cantar com mais fervor diante da brisa que fez todos os meus pelos eriçarem, e tive a sensação de que as lágrimas que já haviam descido congelaram.

Expirei lentamente, tentando lembrar da última vez que senti plenitude ou compreendi o significado de estar vivo. Eu só precisaria lembrar disso para dar um passo para trás no abismo que estou prestes a cair, mas parece indiferente e superficial. Uma realidade paralela e singela.

São dias silêncios desde que partimos, principalmente dentro da floresta, quando o mínimo ruído pode significar uma ameaça em potencial. Principalmente quando um de nós saí machucado e o outro já esgotou as palavras de consolo que poderiam ser animadoras. A perseguição é extremamente violenta, principalmente quando é capaz de reprimir a nós mesmos e nos afastar das pessoas que deveríamos manter perto por motivos substanciais.  

Pressionada contra mim mesma, envelhecendo centenas de anos por dentro, acordar todas as manhãs para lembrar que estou longe de onde deveria ser minha casa é devastador. Reformulando, lembrar que fui embora mas que também fui deixada para trás, e que há pouca coisa a ser feita para reparar isso deixa uma sensação vazia. Então tenho vontade de dormir novamente, somente para não precisar viver isso. A dor se tornou rotineira, mas ainda é dor. Mesmo que eu não possa voltar a dormir, porque nunca há descanso.

— Sua perna está melhor? — uma voz surgiu atrás de mim e esforcei-me para enxugar todo o meu rosto o mais rápido possível — Consegue se apoiar no joelho agora?

Barbra sentou-se no chão, apoiando o braço no tronco que tinha um grande espaço vazio. Estranhei sua força de vontade sobre não perguntar nada e sorri divertida.

— As ervas de Malena vem ajudando. Em alguns dias não vão precisar se atrasar mais.

Ela revirou os olhos.

— Não estamos com pressa, quanto mais demorarmos melhor.

— Isso não quer dizer que precisem se preocupar com uma manca.

— Droga, Phoebe! Pare de falar como se fosse um peso insuportável para todos nós! Pare com todo esse martírio! Nós não estaríamos aqui se não fosse por você, por sua coragem e bravura, por sua determinação! Ninguém liga a mínima para um machucado idiota; todos percebemos que você ficou para trás de proposito e por isso foi ferida!

 Pisquei, atônita com sua explosão repentina.

— Desculpe — balbuciei.

— E pare de pedir desculpas também! — berrou, puxando os cabelos.

— Desculpe!?

Barbra lançou-me um olhar assassino e bufou, fingindo não ouvir a última palavra.

— Tudo bem — balançou as mãos — Logo o sol irá se pôr, é melhor irmos embora para o acampamento.

Ela se levantou, deu uns tapinhas na calça para limpar a poeira e estendeu a mão para que eu fizesse o mesmo. Suspirei profundamente.

— Você precisa dormir, está com uma cara horrível — eu disse.

— Estou preparando o itinerário. Não posso ter o luxo de dormir mais do que algumas horas. É o necessário.  

— Não, não é.

Ela me espiou pelo canto do olho. 

— Se continuar enchendo minha paciência, serei obrigada a perguntar o motivo de estar chorando tanto nesses últimos dias. Minha curiosidade está flamejando. E não venha nem pensar em dizer que é por causa de um machucado idiota com a espada!

Dei de ombros e, ao ver que eu não falaria nada, ela continuou:

— Sei que tem a ver com quando foi ao castelo. Não sei o que aconteceu, ou porque, mas se não quer contar, imagino que não seja nada bom.

Os músculos ficaram tentos e fechei os olhos por um instante.

— Não é nada que seja altamente relevante na missão. Não vamos tirar o foco do que é importante agora, Barbra. Já fizemos isso antes, e nunca deu certo. Apenas aproveite que estamos todos bem e juntos, e também que iremos encontrar Marcus. Ele vai nos ajudar muito.

— Espero que ele melhore seu humor, dadas as circunstâncias confidenciais — murmurou.

— Ele já está melhorando.

Andamos em silêncio por mais alguns metros até escutarmos um galho se quebrando. Ambas paramos instantaneamente. Outro galho se quebrou e o barulho de passos e folhas se arrastando ficou cada vez mais perto.

— Fiquem paradas, não se mexam — uma voz disse.


Notas Finais


Playlist: https://www.youtube.com/watch?v=FYFNzSTVvJk&list=PLA-tSOmDx5ECxYzB0fMLCCwIQCA88KEmI&index=24

Légua: "medida de distância em vigor antes da adoção do sistema métrico, cujo valor varia de acordo com a época, país ou região; no Brasil, vale aproximadamente 6.600 m." Ou seja, eu quis dizer que a vila está a aproximadamente 6km do castelo.

Bom, o que acharam desse capítulo? Amaram, ficou mais ou menos, odiaram? Falem aí nos comentários...
Sobre o incentivo do Ed sobre a lenda: suspeito, não!? Ele vai ser um dos principais fatores futuros para várias coisas, e isso é tudo o que eu posso dizer. E vocês já tinham se esquecido da suposta gravidez, né? Não foi dessa vez!

Aaaaaah, e façam um favor para mim, em uma escala de 1 a 10, como vocês acham que está a fanfic? Interessante? Chata?

Indicações do capítulo:

Caçada, da @Mrscurly . Bom, é sobre um livro maravilhoso que eu pretendo ler muito futuramente. Essa fanfic é incrível, nossa, ela tem uma escrita tão gostosa e um enredo tão... tão... fascinante?! Sinceramente, não sei o quanto é parecida com o livro, mas eu estou em uma relação de muita paixão com a Mia e o Kisha, meu otp <3
https://spiritfanfics.com/historia/cacada-805369

E Satisfied da @dahiez e @kintaengoo . Não, eu não caí no mundo k-pop ainda ksks Mas eu gostei tanto dessa fic - mesmo não entendendo nada sobre Girls' Generation, que não dá para não recomendar! Então, se gosta ou não, sugiro que leia mesmo assim:
https://spiritfanfics.com/historia/satisfied-5584553

Queria fazer o favor de pedir pra vocês divulgarem CRH pra quem sabe que gosta do Ed, sério, eu vou ficar muito agradecida se puderem fazer isso por mim.

E continua sendo estranho ter as notas pequenas, mas ok, a gente supera....

Até o próximo capítulo, galerinha do mal XxGigi ☪☮ɘ ✡أ☯†


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...