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História Crossed Histories - Alive


Escrita por: Gigi-do-Malik

Notas do Autor


Olá, gente! Acho que nem demorei dessa vez, né non?

Quero informar para vocês que, antes do ano terminar, eu ainda quero postar mais um capítulo para dar uma compensadinha básica, okay? Não me abandonem ainda, tem muita coisa pra acontecer nessa história sz

Devido a todos os acontecimentos ruins que esse fim de ano tá trazendo, desejo que Deus abençoe cada um de vocês e que tenham um fim de ano maravilhoso e sem nenhum incidente.

Antes de tudo: não me matem! Esse capítulo não ficou exatamente como eu pensava, mas já foi - e nem ficou tão ruim assim! Espero que vocês curtam e que não fiquem bravas comigo, afinal, eu sou um amor de pessoa <3 Tomara que atinja as expectativas de vocês :3

Boa leitura!

Capítulo 24 - Alive


Fanfic / Fanfiction Crossed Histories - Alive

                                    Lânia (Europa)

Sento no banco da igreja e encaro o cenário vazio e silencioso: centenas de velas acessas, uma imensidão de pedidos mudos para a vida da rainha Adelaide I e seu próximo filho. A capela está vazia, imagino que porque todos já passaram para prestar suas orações e agora estão aguardando ansiosos por notícias. Mas não tenho certeza se estou pronta para saber o que está prestes a acontecer, tampouco se realmente quero saber. 

Ao centro, no meio do emaranhado de velas, está Cristo, em sua cruz, depois de uma abóbada. Encaro sua imagem, seu corpo, sua face e a expressão que a ocupa. Peço, em um pedido mental desesperado, ajuda. Ajuda por Adelaide, por sua criança, pelos príncipes e pelo reino. Peço-lhe vida, salvação, redenção.

Fico ali, sentada, encarando sua imagem e perguntando a mim mesma qual foi o segredo para que ele aguentasse tamanho fardo. Perguntando-me se estou sendo uma boa filha à Ele. Posso não concordar com as medidas da Igreja – o que me torna uma adepta secreta das ideias protestantes –, mas nunca duvidei de seu poder. Nunca duvidei da grandeza ou do amor de Deus para com seus filhos. E, ali, tudo o que lhe pedi foi um milagre.

Depois de alguns minutos, escuto a porta ser aberta num ruído tão discreto que pareceu vergonhoso. Não me viro para saber quem é, espero que a pessoa entre em minha vista, já que estou sentada no último banco da última fileira da capela. Logo, cabelos da cor do fogo vivo sentam-se ao meu lado.  

Ele me olha tímido, de soslaio, e depois segue meu olhar até Jesus.

— Disseram-me que você foi um apoio e tanto lá dentro, Phoebe. Obrigado, de verdade.

— Não foi nada. Tudo o que fiz foi ficar parada, apertando a mão dela.

— Minha mãe estava precisando de alguém que se importasse de verdade.

Finalmente olho para Edward, encaro sua face de perfil, e então ele olha para mim. Encaro seus olhos verde azulados que agora adquirem um tom meio vermelho.

— Está vendo tudo isso? — aponto com a mão para as velas, um movimento quase imperceptível. Mas Edward sabe do que estou falando — As pessoas se importam. E vão continuar se importando, sempre e sempre, Ed. 

Ele dá um sorriso triste; metade de um, na verdade.

— Não, Ebe. É ingenuidade sua — ele pega minha mão e coloca entre as suas. Elas estão molhadas, não sei se por suor ou por lágrimas — Eles se importam com o poder. É tudo que importa a eles. Se minha mãe morrer, sabem que meu pai vai se enfraquecer. Sabem que todos nos enfraqueceremos. O reino ficará fraco e vulnerável. Eles não querem isso.

Fico calada, pensando. Pensando no quanto Edward Christopher precisa ser realista para não se deixar levar por ilusões, falsos amigos e golpes políticos. No quão duro deve ser para alguém da idade dele pensar em tantas maldades de uma só vez. Entender a cabeça dos infelizes que só querem tomar o seu poder; no egoísmo de cada um e até onde isso pode fracassar a vida de outra pessoa.  

— Mas você se importa — ele continua, dando um leve aperto na minha mão — Admiro isso em você. É uma pessoa tão boa, não merece essa vida falsa. Não merece nada de ruim.

— É ingenuidade sua — repito a frase que a pouco foi dita a mim — Uma hora ou outra, todos merecemos o que temos feito, até as melhores pessoas pecam. Mas essas pessoas ruins e gananciosas não irão se dar bem, Ed. Não precisa estar com a guarda pronta todas as horas de todos os dias. Sua mãe vai ficar bem; ela merece isso. Deus se encarrega dos justos e dos injustos, pune a todos do jeito que sabe que deve punir. Ele conhece todos os lados de todas as pessoas e sabe o que é melhor para cada um. 

— Ás vezes, fico pensando se há realmente um Deus lá em cima. Se houver, faria qualquer coisa para saber o que ele pensa de nós. Somos patéticos.

Brinco com seus dedos, escorrendo a ponta das unhas por sua extensão. Tentando entender porque estamos tendo essa conversa e onde ela irá chegar. É um terreno baldio, lamacento, perigoso. 

Decido não discordar. Devemos mesmo parecer patéticos aqui embaixo.

— Não sei onde estamos querendo chegar com essa conversa, Ed, mas o fato é: não pode perder as esperanças. Por você e por todas as outras pessoas que merecem.

 — Não vou — seu braço puxa minha mão para mais perto e assim deito minha cabeça em seu ombro. 

Continuamos calados por um longo tempo, apenas escutando a respiração do outro. A mão de Ed segura a minha com força, aumentando gradativamente enquanto o tempo passa. Fecho os olhos e faço uma oração mental, já que a presença do príncipe me desencoraja a ir até Cristo e me ajoelhar.

Pouco depois, alguém bate à porta e entra. É alguém que nunca vi na vida, mas Christopher parece conhecê-lo.

— Vossa Alteza — ele diz, fazendo uma reverência — Seu pai solicita sua presença e a da senhorita Bailke nos aposentos de Vossa Majestade Real. 

Levantamo-nos, mortos de ansiedade, e nos pomos a caminhar. O caminho leva uma eternidade, o chão parece não acabar nunca – talvez porque tenhamos medo do que venha a seguir. Mas uma hora acaba e a imensa e intimidante porta de madeira com detalhes adornados surge. Prendo a respiração por alguns segundos, incapaz de ter movimentos bruscos. 

— Entrem — ele diz, apontando a porta e se retira. Os guardas, que antes faziam um X com suas lanças, abrem caminho. Edward a empurra com receio e logo uma visão completamente diferente da que tínhamos em mente, dá lugar a uma coisa concreta para nossos cérebros processarem.

— Uau — digo, sem reação. Escuto os passos apressados do Sheeran ao meu lado e em um milésimo de segundo ele está lá, ao lado de seus pais e de Rupert. Adelaide tem um bebê empacotado nos braços.

Mal consigo me aproximar, tenho medo de invadir um momento pessoal demais na vida de toda a família real. Um momento do qual eu não pertenço, sequer deveria participar. Então observo os olhos atentos de todos para dentro do pedaço de pano. No quanto todos parecem impressionados e felizes. Minha rainha tem o rosto encharcado por lágrimas, assim como os príncipes, mas Charles parece somente abatidamente feliz. Sei que há poucos momentos em que ele se permite chorar; sei que quase todos os homens fazem isso. Na verdade, gosto da peculiaridade no fato de Christopher e Rupert não fazerem o mesmo – de não tentarem serem fortes todo o tempo, de conseguirem se expressar perto daqueles que amam. 

Depois de algum tempo somente como espectadora, os olhos de uma das mulheres mais fortes que eu conheço me atingem. Ela abre um sorriso e, com um pequeno aceno de cabeça, convida para me juntar a eles. Vou devagarzinho, com passos curtos e lentos. Admito: ainda estou com medo do que posso encontrar. Mas nada é melhor do que vejo.

Um lindo bebê de pele alva, com cabelos levemente ruivos e os olhinhos inchados. Ele está sujo de sangue e o pano enrola todo o seu corpinho, impossibilitando-me de saber o sexo. 

— É um menino — Adelaide sussurra, seus olhos marejam mais uma vez — Meu décimo menino.

— Ás vezes, penso que só conseguimos fazer garotos, querida — a voz de Charles não passa de um fio rouco, mas vem divertida — Lindos e fortes garotos.

Ela sorri cúmplice para ele. Acho o gesto muito bonito – incrivelmente bonito. Traz a força de quem já passou pela mesma situação dolorosa e embaraçosa mais de meia dúzia de vezes. Dez filhos! 

— É uma graça — digo, tocando levemente seu rosto ensanguentado com a ponta do dedo — Acham que vai ter os olhos azuis esverdeados também?

— Toda a família Sheeran tem — Rupert diz — Depois do cabelo, é o nosso charme.

Pequenas e leves risadas escapam. Calmamente, o bebê vai passando de braços em braços, mas antes que pudesse chegar em mim, uma criada entra com uma bacia de agua morna e diz que precisa lavá-lo. Minha rainha expulsa gentilmente os cavalheiros e ficamos só nós quatro ali.

— Precisa aprender como dar banho em uma criança, querida — Adelaide diz, levantando-se da cama. Ela está fraca e cambaleia para o lado, mas logo se equilibra — Vai ter seu próprio bebê em breve. 

Assinto, fechando os olhos e custando imaginar a cena. É estranho, ainda mais quando se tem um futuro tão incerto. Como não sei quem me desposará, imagino uma criança nos braços de Edward, mas não vou tão longe para imaginar seu rosto ou características. Não sei o quão doloroso isso pode ser um dia ou até onde a imaginação pode ir. Decido ficar na estrada segura e não me perder na floresta das decepções.

— Eu... Isso ainda está longe, Majestade.

— Adelaide, Phoebe. Você sabe que Majestade ou rainha é muito formal, mas lembro bem que você preferia me chamar assim no passado. 

— Desculpe — solto o ar nasalmente — Não tinha muita certeza de como deveria tratá-la, Adelaide

— Assim está melhor — ela sorri, desembrulhando cuidadosamente seu filho. Vou para perto dela e assisto cada movimento meticuloso — Venha, quero que faça isso comigo.

Meus olhos arregalam.

— Estou muito bem só observando, se é que me entende.

Ela ri com gosto.

— Lembro de quando peguei Edward pela primeira vez — ela sorri e seu olhar vaga longe — Eu estava muito nervosa, nunca tinha segurado um bebê antes. Ele parecia tão frágil e indefeso e senti que era minha obrigação defendê-lo com unhas e dentes sob qualquer ameaça. Virei uma verdadeira mãe-coruja; a qualquer movimento, eu já estava alerta — ela ri, negando — Mas foi difícil me adaptar com todas as obrigações de cuidar de uma nova vida. Minha sogra sempre foi muito dura comigo e com Charles, sabe, ela não perdia a chance de uma crítica ou comentário, como se eu houvesse sido treinada minha vida inteira para trocar fraudas e adivinhar as horas certas para amamentar. Mas eu não fui, Phoebe. Foi uma coisa tão inesperada e.... difícil. Gostaria que alguém tivesse me explicado ou ensinado certas coisas antes, e é por isso que estou fazendo isso agora. Porque não quero que passe pelo que eu passei. Porque quero que tenha experiência e se sinta segura com seu filho nos braços, porque é a melhor sensação que vai experimentar em toda vida. 

Quando ela termina de falar, tudo o que posso fazer é sorrir. E, mesmo que minhas mãos tremam bastante, aceno com a cabeça e sigo, ajudando-a.

— Já sabe qual nome vai dar a ele? — pergunto.

— Estive pensando em Afonso de Martim durante a gestação, mas ainda não sei se vou nomeá-lo assim.

— É um belo nome — ergo uma sobrancelha, surpresa onde meus pensamentos me levaram — Ás vezes penso em quais nomes poderia dar aos meus filhos. São tantos que fico confusa.

Ela ri.

— Acredite, querida, acontece com todas as mães. Tive a oportunidade de dar a maioria dos nomes que queria, mesmo que sejam em circunstâncias tão trágicas. E espero que você tenha a mesma chance que eu, mas não na mesma situação. Não desejo isso a ninguém. A dor da perda nunca é igual; sempre fica pior. Mas diga-me, qual gostaria de dar a eles?

— Para uma menina, gosto de Valéria. Para um menino, Tristão.

— Tem bom gosto, senhorita Bailke.

— Obrigada, Vossa Majestade — digo, com um sorriso de lado. 

Primeiro, despimos Afonso e minha rainha o coloca calmamente na água. Ele começa a chorar espernear, mas é só ser virado de bruços que a gritaria cessa e ele fica quietinho. Adelaide, com um sorriso bobo no rosto, diz que devo segurá-lo e o passa cuidadosamente para meus braços.

Não consigo conter o pavor. E se eu estiver segurando errado? E se abaixá-lo demais e ele se afogar? Se ele se mexer e cair? Se estiver usando muita força ao segurá-lo?

— Viu só? — ela diz para depois rir — Sua expressão é de puro pavor. Se fosse com seu filho, seria pior, Ebe. 

— N-não... A responsabilidade de uma criança que não é minha, com certeza é um fardo maior.

—Talvez... Mas ambos são pesados, disso não há dúvidas.

Então, ela pega o sabonete e juntas vamos tirando as finas camadas de sangue. Antes que a água esfrie, tiramos Afonso dali e o enrolamos em uma toalha. Fico com ele no colo enquanto Adelaide e criada tem uma briga sobre o quão fraca ela está e o fato de ainda precisar de repouso.  No fim, a criada ganha e Adelaide fica deitada até que ela volte com um prato de comida. 

— Sabe uma canção de ninar? — pergunto, após um tempo balançando-o em meus braços. Observo todos os seus traços e escorro meus dedos por sua pele deliciada de porcelana. Sinto como se ele pudesse quebrar em meus braços a qualquer momento.

— Algumas, não muitas. Eu costumava murmurar melodias ao invés de cantá-las.

— Gosto de cantar — digo — Mesmo que minha voz seja um completo fracasso.

Ela sorri, terna e nega.

 — Duvido que algo em você seja um completo fracasso.

.

.

.

Algumas horas depois, o Rei Charles anuncia um grande banquete no Grande Salão. Todos comem e bebem, repletos de alegria. Fico ao lado de Edward e Rupert o tempo todo e até Duarte não se mantem longe. Ele e Rup tem uma conversa animada e, se eu não soubesse sobre a situação deles, nunca imaginaria nada alarmante quanto a isso.

Em certos momentos, Edward mostra afeto público, envergonhando-me. Eu sei que as pessoas estão olhando, atentas a qualquer sinal da nova princesa de Lânia. E Ed também sabe. Então, por que raios, ele fica fazendo isso!? É desconcertante. 

Nós já estávamos combinando de subir para visitar Adelaide e o bebê novamente quando algo totalmente inesperado acontece. Uma criada irrompe a porta, aos gritos e prantos, chamando a atenção de todos. Leva quase um minuto para que entendermos o que ela está tentando falar:

— Ele está morto! O bebê está morto! 

.........

     Eu nasci em uma tempestade de trovões
            Eu cresci do dia para noite
           Eu brinquei sozinha
            Eu estou jogando sozinha
          Eu sobrevivi
              Eu queria tudo o que nunca tive
              Como o amor que vem com a luz
                Eu vestia inveja e eu odiava aquilo
           Mas eu sobrevivi

    Eu tinha um bilhete só de ida para o lugar onde todos os demônios vão
             Onde o vento não muda
                  E na terra nada nunca cresce
                       Sem esperança, apenas mentiras
                     E você é ensinado a chorar em seu travesseiro
                    Mas eu sobrevivi
                        Eu ainda estou respirando
                   Eu estou vivo

Encontrei consolo no lugar mais estranho
              Na parte de trás da minha mente
                Eu vi minha vida no rosto de um estranho
               E era o meu rosto
                Você descontou, mas eu ainda estou respirando

Eu cometi todos os erros que você pode imaginar
             Eu engoli, e engoli, e engoli o que você fazia
             Mas você nunca notou que eu estava sofrendo
             ​Eu sabia o que queria, fui e consegui
             Fiz todas as coisas que você disse que eu não faria
               Eu te disse que eu nunca seria esquecida
                 Eu sei que isso é parte de você
         Mas eu estou vivo
                                    Alive - Sia

.........

                                     Lânia (Europa)

Kachirin é conhecida como “a Jaula do Governo”. Além de abrigar a maior prisão de Cantberg – maior até que o calabouço do palácio –, a forma como o todo o terreno foi construído propositalmente costuma fazer delinquentes delatarem a si mesmos de formas bastantes inusitadas. “Não importa para onde corra, sempre vão pegar você”, eles dizem e repetem.

— Vamos esperar para que não aconteça conosco. Mas não subestimem o território, nunca façam isso — lembro as palavras de Malena em minha mente, como venho fazendo nos últimos minutos. 

Tudo bem, o que pode dar errado, Phoebe? Você já passou por Kachirin antes, nas milhares de vezes em que não era uma fugitiva altamente procurada pelo rei. Quando eu e Barbra fugimos, ficamos com tanto medo de atravessar Kachirin que rodeamos as inúmeras cidades e vilarejos em volta somente para não ousar pôr os pés lá. Mas estamos aqui, sem escapatória, enfim. Não podemos nos dar o luxo de muito mais tempo gasto por um medo caprichoso.

Respiro fundo e aperto minhas mãos suadas umas nas outras. Infelizmente, o único jeito de atravessar essa enorme cidadela é por dentro. Teremos de ser muito cautelosos, de um modo que nunca fomos. Menciono puxar o capuz da blusa que estou usando para me cobrir, mas a consciência impede: levantará suspeitas. 

Sozinha e sem alternativas, tudo o que posso fazer é entrar. Todos achamos que seria mais seguro nos dividir para não chamar atenção, no entanto, também não sair da vista dos outros. Se isso acontecer, algo estará errado. Mas agora, pensando melhor, prestes a pisar aqui, começo a achar isso uma tremenda idiotice. Não tenho Barbra para ficar tensa comigo; tampouco Max, para tentar nos acalmar ou Norman, para nos dar sermão por sermos “moles demais”. Ao menos, a forma de Armie Berglund, meu desgastado disfarce, traz mínima segurança. 

E ao entrar na cidade, o vazio me atinge. Kachirin não é eleita a cidade favorita para se morar – menos para a minoria da nobreza, que aproveita da alta segurança para proteger seus bens e viver tranquilamente –, então tudo o que posso ver são ruas parcialmente vazias; até mesmo o mercado é escasso – apenas uns poucos vendedores de grande porte tem suas barracas ou mesas montadas.  

No começo, é extremamente assustador. Gera um medo incrível, como se eles fossem descobrir quem eu sou, a verdadeira Phoebe, somente por estar ali. Como se cada olhar fosse acusador, como se soubessem cada erro que cometi ou os piores segredos que venho guardado. Entendi imediatamente porque faz os delinquentes delatarem a si mesmos. Mas, ao ver Norman um pouco mais à frente, consigo dar um longo suspiro e relaxar os músculos. 

Tento evitar, mas olho para os lados, desconfiada. Faço isso a todo instante. O lugar é infestado de guardas e não é difícil adivinhar que há mais por aí, afinal, eles moram aqui. Deve haver por todos os lugares: na taverna mais próxima, na casa ao lado, na barraca pela qual acabo de passar. Sei que Norman já percebeu minha inquietação e sei que ele reza – mesmo não acreditando em Deus – para que eu pare de ficar nervosa e me concentre.

Para disfarçar, paro em uma barraca que vende pães e frutas e compro um bocado de morangos; depois, vou até outra e olho algumas bolsas e joias masculinas. Repito o ato por mais algumas vezes nas poucas opções que tenho. Na realidade, se eu ainda fosse nobre, odiaria morar nesse lugar: não há lojas, nem pessoas! E tenho certeza que Barbra deve estar pensando a mesma coisa. É a porra de um lugar isolado onde só famílias de oficiais do governo vão viver por vontade própria; todos os outros são prisioneiros enfadados. 

Continuo caminhando até chegar na única praça da cidadela, que fica bem no centro de tudo, e paro para respirar um pouco. Consigo ver Max um pouco mais à frente, de cabeça baixa, sentado na fonte que jorra pouca água, com um medalhão falso comprado da cidade anterior. Ele parece concentrado e nada suspeito. Invejo essa habilidade que ele tem de se camuflar, pois quanto mais fugimos, mais sinto que estou perdendo a prática nas missões.  

Observo tudo ao meu redor e consigo, finalmente, respirar fundo. Pareço mais aliviada, até mais otimista. Mas não dura muito, como nada dura há muito tempo.

Engulo seco e abaixo a cabeça o mais rápido que posso. É um instinto. Tenho vontade de gritar, implorar para que todos recuem e se escondam antes que os guardas percebam também. Como fomos burros, descuidados! Como Malena não pensou nisso? Como eu não pensei nisso? 

Olho mais uma vez para a parede cheia de anúncios de procurados e desenhos de suas supostas faces. Nós estamos ali, em dezenas deles. Tanto nossos rostos normais – menos o de Emma e Malena –, quanto os falsos. É o fim. Não conseguiremos sair dessa.

Tento sinalizar para Norman, já que Max parece muito distraido para perceber qualquer movimento. Os olhos atentos dos dois me atigem, para surpresa e alegria. Sei que tenho o mal hábito de subestimar Max, mas não o faço por querer. Aponto discretamente para a parede a minha esquerda e volto a andar, dessa vez, no sentido contrário. Não quero ficar perto demais para que possam me reconhecer.

Norman segue meu olhar e depois meus passos. Ele tem a face encoberta por algo que eu chamaria de espanto, mas na verdade, sei que são susto e medo misturados. Max fica neutro, não esboça reação nenhuma. Sei que está digerindo o perigo e a melhor forma de lidar com ele.

Passo a mão pelos cabelos, imaginando o quanto Barbra e as bruxas ainda demorarão para entrar. Espero que algo dê errado e que elas fiquem lá, sã e salvas. É tarde demais para cancelar o plano. Mas, como sempre, minhas preces não são atendidas. Barbra surge, radiantemente linda e carismática, com uma bolsa cheia de compras. Ao seu lado está Emma, em sua forma masculina, acompanhando os passos de Tulisa como se ela fosse sua propriedade. 

Tudo fica bem por mais alguns minutos, vamos avançando lentamente pela longa cidade. Consigo ouvir os gritos de socorro vindo das inúmeras prisões, o cheiro podre de miséria e desgraça, o choro e sofrimento. Não penso em como pode ser inevitável que um de nós acabe ali dentro. Sinto medo. Sinto empatia. Um sentimento de semelhança com cada um desses homens presos ali dentro. Vejo nossas semelhanças em meios aos gritos e a cada rosto que se espreme para ver a luz do Sol por entre as grades finas das pequenas janelas. Sou eu ali; é minha vida, meus medos, meus riscos no rosto de vários estranhos num pequeno surto momentâneo.

Mais uma vez, um misto de emoções baila em meu peito como se fosse uma grande festa. Todos os sentidos estão aguçados, pronto para o ataque. É como se meu corpo sentisse necessidade de estar preparado para correr a qualquer momento, a fazer o preciso para viver. E não é como se eu não estivesse acostumada com ele, mas toda vez tenho algo novo a experimentar nessas experiências. Nem sempre gosto do que acabo sentindo. 

Quando tudo já parecia terrivelmente bem e sob controle, quando estávamos mais perto da saída que nunca, os sinos da abadia tocaram. Soaram feitos cães atrás de uma presa. Anunciaram nossa condenação. Apenas a alguns metros uns dos outros, tentamos nos manter imparciais o maior tempo possível, mas tudo vai por água abaixo quando os cães são soltos.

Os mercadores começam a fechar apressadamente as barracas, as poucas pessoas correm e somos obrigados a fazer o mesmo. Corremos como não corríamos a muito tempo, ainda mais depois de percebemos o grande número de policias de um lado para outro, puxando as pessoas com força pelos braços e as revistando. Iríamos para a cadeia somente pelas coisas que carregamos. 

— Droga — murmuro, e depois digo mais alto — Onde está... Kevin?

Eu quis gritar em alto e bom som “Onde está Malena?”, mas felizmente me dei conta do problema que teríamos se o fizesse. Emma olha desesperada para trás, para os lados, assim como os outros. Só então me dou conta de que ela nem sequer apareceu. Por quê? Por quê? Onde ela está e o que está fazendo?

Minha cabeça não consegue entender, fica girando e girando. Os passos param enquanto olhamos ao redor, confusos. 

— Mantenham a calma — Max diz — Seja o que for, Kevin sabe o que está acontecendo. Vamos continuar andando, não podemos parar!

Fazemos o que Max diz, mas não por muito tempo. Meus olhos acompanham quando Barbra, ou Tulisa, é puxada pelo braço para um beco. O próximo é Max, que vinha assustado atrás. E depois nós três entramos por vontade própria.

Damos de cara com Kevin Liboiron e quase posso me ajoelhar e agradecer a Deus. Mas eu não sei se acredito mais em Deus para fazer isso; um Deus tão grandioso que dizem que não fazemos ideia, mas que não evitou nenhum dos desastres que aconteceram na minha vida. É como se Ele nem ao menos existisse, afinal, não é só a minha vida que Ele ignorou e deixou em segundo plano. Marionetes esquecidas, é tudo o que somos.

— É uma distração — ele avisa, puxando grandes quantidades de ar para normalizar a respiração — Vamos sair logo daqui.

Seguimos com cautela pelo beco até uma viela menos movimentada e damos de cara com a saída. Então corremos, corremos para caralho até nossas pernas não aguentarem mais e implorarem descanso. Quando paramos, já é crepúsculo. 

Barbra se joga no chão e apoia a cabeça nos joelhos. Max cai ao lado dela e junta o restante de suas forças para pegar o cantil com água. Ele passa de boca em boca e, quando não é mais insuportável respirar, Emma desfere um feitiço em Malena, atirando-a longe.

— Que droga você foi fazer hoje, sua vadia? — ela grita, levantando do chão — Pensei que tinha sido pega! Você quase botou tudo a perder, Malena!

Malena levanta furiosa e faz a mesma coisa que Emma fez com ela.

— Eu salvei vocês! Vocês teriam sido pegos, não eu! — a voz tem um tom indignado.

— Quê? — pergunto, desorientada. E sei que é melhor continuar assim, a menos que queira ser atacada por duas bruxas putas da vida. 

— Não havia modo de sair de lá sem ser pego, vocês não entendem!?

— Mas Malena... — Max é cortado.

— Não! — ela passa a mão pelos cabelos, irritada.

— Suspeitaram da gente, é isso? — Norman chuta.

— Não! — ela respira fundo — Pouco tempo depois que vocês entraram, percebi que não havia forma de sair de lá sem sermos pegos. Para todos os efeitos, ouvi uma conversa entre dois guardas e eles falavam algo sobre todos serem revistados antes de saírem da cidade. E foi aí que eu entendi: entrar é fácil, mas sair não! Não há maneiras de sair daquele lugar! É por isso que, por melhor que o delinquente seja, ele não sai de lá. Se sair, o único modo será morto.

— Mas... — Barbra tenta balbuciar algo, mas não consegue ir muito além disso. 

— Então essa é a estratégia deles. Por isso sempre dá certo. Todos os dias, tem pontos de revistas diferentes. E é incrível como isso não chegou ao nosso ouvidos... Eu não compreendo — Malena completa o raciocínio e escorre as mãos pelo cabelo, bufando forte.

— Nem eu — Norman admite, seus passos logo se assemelham ao de um perigoso tigre enjaulado   — O sistema realmente é ótimo. Por mais impossível que pareça, isso não deve ter ido a público. Não entendo como também não pensamos nisso, parece óbvio agora.

— Isso... Isso não estava acontecendo quando eu estava lá. Juro que não sabia disso — apresso-me em dizer.

— Claro que não — Emma ruge — Você é mesmo burra a ponto de pensar que eles deixariam o mesmo sistema de quando uma rainha fugitiva e traidora comandava!? Isso colocaria em risco todos os planos deles, então seu queridinho rei mudou tudo! Aquele imbecil... 

— Não, não fale assim dele! — rebato, gritando. Mas faço isso só para me arrepender no segundo seguinte.

Emma Alarcon me olha incrédula durante um longo tempo e depois diz com a voz mais calma, porém totalmente dura:

— Precisa escolher logo de que lado está, Vossa Majestade. Do deles ou do nosso? Vai botar tudo a perder na primeira oportunidade por causa de alguém que te abandonou e está premiando sua cabeça? Porque se esse for o caso, você é ainda mais sem noção do que eu pens...

— Chega, Emma — Max diz, tocando levemente o braço dela — Chega.

— Isso não responde o que aconteceu — Barbra fala baixinho. Ela me olha de lado e nega, falando em palavras mudas que eu não devo dar ouvidos à Emma. Mas eu sei que ela concorda; todos eles concordam. O problema é que nenhum deles entende.

— Bom... Então, eu tive a inusitada ideia de mudar o rumo de toda a confusão, de alarmá-los. Foi perfeito.

— Você tocou os sinos da abadia? — Norman pergunta, surpreso. 

— Não pode subestimar minha capacidade, Reedus — ela pisca para ele — Sou ótima com planos de fuga. Além do mais, nossos rostos estavam bem estampados nos cartazes. Não podemos correr esse risco nunca mais. Devíamos ter sido mais cautelosos. Fomos tolos, burros. Não podemos nos dar o luxo de nos sentirmos tão confiantes, foi isso que arruinou tudo. 

E o silêncio irrompe entre nós. Mas minha cabeça não está silenciosa, muito pelo contrário. Não consigo parar de pensar nas palavras de Emma, no quão duras – e verdadeiras – elas são. Até onde meu amor cego por Edward pode atrapalhar tudo? Mesmo depois de tudo o que ele fez, mesmo com o ódio que sinto, eu trairia a mim mesma por ele?

—É inevitável, Phoebe, precisará fazer uma escolha: você mesma ou o reizinho meia boca — Emma murmura ao passar por mim e esbarra em meu ombro por querer. 

Seguro seu braço e aperto um pouco. Fixo meus olhos nos seus e é bom que ela saiba que estou impetuosa.

— Você deveria saber que o sistema de Kachirin é local. O rei não comanda nada aqui — digo, entredentes — Talvez deva se informar melhor.

Seus olhos faíscam com algo que eu posso jurar ser derrota e passos pesados a levam para longe de mim. E tudo parece dispersar, menos eu. 

Mas ainda estou viva, lembro a mim mesma. Ainda estou viva. Eu sobrevivi a mais um dia. Estou respirando. É só mais um dia no inferno. 


Notas Finais


Playlist: https://www.youtube.com/watch?v=t2NgsJrrAyM&index=26&list=PLA-tSOmDx5ECxYzB0fMLCCwIQCA88KEmI

TEM UMA COISINHA IMPORTANTE AÍ NESSE CAPÍTULO, MAS EU DUVIDO QUE VOCÊS PERCEBAM SKHVA

O que acharam do capítulo? Ficou até legal, né? Mas podem meter o pau em mim, sei que tô merecendo. Aliás, estou em busca de críticas construtivas, quem quiser me ajudar....

Qual é a maldição dos Sheeran em que os bebês sempre morrem? Foi por pouco no presente, não foi? Será que eles ainda vão ser tão descuidados? Vou adiantando para vocês que a chegada do Marcus está próxima e, com ela, a de Jade e a de Edward também.

Me deem muitas ideias aí, nos comentários!

Indicação do capítulo:

Chords of My Life, da minha colega @AnnieMcFly , com o Eduardo Cristiano! Por onde eu começo para falar dessa fanfic tão maravilhosa? Quem sabe pelo fato de eu ter lido todos os capítulos em 3 ou 4 dias. A fanfic conta a história de Annie, uma cantora que está ingressando na música e acaba conhecendo o Ed. Dentro disso, muita coisa legal vai acontecer. LEEIAMMM - só não me troquem por ela kk
https://spiritfanfics.com/historia/chords-of-my-life-6573449

Queria fazer o favor de pedir pra vocês divulgarem CRH pra quem sabe que gosta do Ed, sério, eu vou ficar muito agradecida se puderem fazer isso por mim.

Até o próximo capítulo, bolinhos XxGigi ☪☮ɘ ✡أ☯†
PS: quem ler, POR FAVOR, comenta alguma coisinha, porque além de motivar, me deixa muito - tipo, MUITO - feliz <3


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