História Crossfire - Stronger

“O que não te mata, te deixa mais forte

Te deixa no topo

Não significa que estou só quando estou sozinha

O que não te mata te faz um lutador

Deixa os passos mais leves...”

Sara

Não sei quando tempo dormi, acordei sentindo meu estômago roncar. Só então me lembrei que não havia almoçado. Eu abri os olhos e me espreguicei, era tão bom estar em casa. Aqui deitada na minha cama, dava a impressão de que tudo o que aconteceu não foi real. Quem dera se tivesse sido um sonho ruim, mas não foi. Eu comecei a chorar incontrolavelmente. Pessoas haviam morrido, jovens da minha idade, cheios de vida e com um futuro todo pela frente. Isso não era justo...

Juntei minhas forças e me levantei. Fui até o banheiro e lavei o rosto. Resolvi descer e comer alguma coisa. Precisava de forças para falar com minha mãe, eu queria saber de tudo!

Quando desci, passei pela sala e vi que a TV estava ligada. Fui direto para a cozinha procurar algo para comer.

– Tem pizza no forno! – ela gritou da sala.

Eu peguei uma fatia tão grande quanto a minha fome e esquentei. Depois peguei um suco e fui para a sala.

Eu sentei no sofá ao lado de minha mãe e dei a primeira mordida na pizza. Olhei para a TV e meu queixo caiu quando eu vi o que estava passando. Eles estavam falando sobre o seqüestro, o que tínhamos feito pra salvar a escola e a prisão de Daniel.

– “O mundo inteiro parou para assistir a façanha destes jovens que conseguiram enganar perigosos terroristas e salvar a escola inteira. Estes jovens resolveram agir porque as autoridades até o momento não tinham tomado nenhuma atitude para proteger suas vidas e colocar esses assassinos na cadeia.”

A repórter disse isso e depois passou uma imagem da Rose saindo carregada numa maca e sendo colocada na ambulância.

– “A jovem de 18 anos Rosane Harrisson foi baleada quando defendia dois amigos: Pedro Bittencourt e Sara Samers. Pedro, segundo testemunhas ficou para trás porque sua namorada havia sido levada por Daniel e ele foi atrás para salvá-la, como um príncipe salvando uma donzela em apuros. Isso não é ficção minha gente é realidade!”

Depois mostraram Daniel saindo algemado e o povo começou a gritar coisas como:

– Assassino!

– Vai morrer na cadeia, seu desgraçado!

– Vai pagar pelo que fez aos nossos filhos!

Mostraram ele sendo levado para a viatura e depois cortou para a imagem minha e do Pedro saindo do metrô abraçados.

Nossa! Minha cara estava horrível!

– Quer que eu mude de canal filha?

– Não mãe, pode deixar aí.

– “O plano desses jovens teria sido perfeito se não fosse pela trágica morte de um deles. O aluno Miguel O’Brian de 18 anos foi ferido e infelizmente não resistiu. Ele será enterrado amanhã às 10:00 AM. Ainda não conseguimos ouvir os relatos das testemunhas que até agora não quiseram dar entrevistas.”

“Daniel irá depor e depois irá a julgamento. O povo espera que seja feita justiça e ele seja condenado à morte.”

Aquilo já era o bastante pra mim e eu desliguei a TV.

– Mãe, tem uma coisa que eu preciso te contar.

Eu disse largando o prato.

– Eu sou toda ouvidos filha!

Eu respirei fundo e comecei a contar tudo o que havia acontecido na escola. Quando terminei de contar a história de Daniel, minha mãe ficou apavorada.

– Meu Deus, filha! Eu sabia que Ryan havia morrido, mas não sabia que ele era alcoólatra, nem que havia tido um filho. Tudo isso, tantas vidas perdidas e essa menina a Rosane, coitada!

Minha mãe me abraçou e começou a dizer entre lágrimas.

– Poderia ter sido você filha, no lugar dos que morreram, no lugar da Rosane...

– Calma mãe! Tá tudo bem agora.

– Você vai ter que contar essa história do Daniel para a polícia. Vai ser relevante no julgamento...

– Eu sei mãe. – disse desanimada com a idéia de repetir tudo de novo pra polícia.

Nesse momento meu celular tocou. Era Pedro.

– Oi.

– Sara, como você está?

– Eu estou bem. Passou na TV o horário do enterro do Miguel, vai ser às dez horas.

– Eu vi. Eu estava pensando em passar aí e pegar vocês pra irmos juntos. Pode ser?

– Claro. Vamos só a mamãe e eu. O Felipe está viajando e só chega amanhã à noite. Teve notícias da Rosane?

– Sim, o Emerson ligou agora a pouco. Ela já está em casa, o ferimento não foi muito grave. Ela teimou que quer ir amanhã se despedir do Miguel, então ele vai levá-la.

– Legal da parte dela fazer isso.

– Eu disse isso pra ele. Também fiquei feliz com a atitude dela. Falou com a Jess depois que a deixamos em casa?

– Não, estava pensando em ligar pra ela agora, mas já está tarde. Vou esperar pra falar com ela amanhã. Ela já deve estar dormindo.

– Eu vou deixar você dormir também. Boa Noite amor!

– Boa noite. Te amo. Beijo.

– Também te amo.

*

No outro dia, Pedro veio nos pegar para irmos ao enterro do Miguel.

Estavam todos lá. Nós cumprimentamos todos e depois eu fui ficar com a Jess que ainda chorava muito. O caixão estava fechado e havia uma foto encima dele. Eu também não pude conter as lágrimas e chorei. Quando olhei em volta a maioria das pessoas estava com lágrimas nos olhos, até os meninos. O padre fez um discurso muito bonito que falava sobre as obras que os homens deixavam na Terra e que nunca eram esquecidas por Deus.

No fim, nós depositamos as flores. A maioria da escola também estava presente e havia muitos pais daqueles que nós salvamos e dos alunos que haviam morrido. Eles estavam consolando e agradecendo os pais de Miguel por ele ter sido tão corajoso em fazer tudo aquilo. Eles vieram nos agradecer também, assim como muitos alunos e professores.

Eu fui falar com Rosane e ver como ela estava.

– Eu vou sobreviver – ela dizia apoiada numa muleta e no ombro de Emerson – pelo menos aquele canalha vai ter o que merece!

– Ainda é cedo pra dizer Rosane, ele nem foi julgado... – contestou Jacson.

– É, mas se Deus existe ele há de pegar a cadeira elétrica ou a câmara de gás.

– Ainda assim é difícil, embora o crime dele seja grave. – concluiu Eric.

– Tem mais uma coisa que vocês não sabem. – falei.

Eu contei a história do Daniel pra eles que ficaram tão boquiabertos quanto eu.

– Eu sabia que aí tinha coisa, era muita implicância com você. – falou Pedro.

– Acho que era um pouco de cada coisa, eu também não dava ponto sem nó! Agora é esperar pra ver o que acontece. – falei.

As aulas voltaram ao normal uma semana depois. Nós fomos chamados para depor e contar tudo o que aconteceu. A imprensa e o povo continuaram fazendo pressão para que Daniel fosse condenado e pegasse no mínimo prisão perpétua. Algumas pessoas eram contra a pena de morte. Eu era uma delas.

– Pra que um assassino merece viver? Pra poder sair e matar mais inocentes?

Rosane discutia comigo no almoço, agora sentávamos todos juntos e não nos desgrudávamos. Já haviam se passado três meses depois do seqüestro. O julgamento de Daniel seria no dia seguinte.

– Ninguém pode condenar alguém à morte Rose, só Deus dá a vida e só Ele pode tirá-la!

– Desculpe Sara, mas eu não penso como você!

Rose, Emerson, Jacson e Pedro eram os únicos que conseguiram autorização do psiquiatra e haviam concordado em testemunhar contra Daniel. Os outros e eu não conseguimos passar no teste que os médicos fizeram conosco. O teste consistia em responder às perguntas que o promotor nos faria no tribunal sem choro ou xingamentos ao Daniel. Não é nenhuma surpresa que eu não consegui passar, mas eu não entendia como a Rosane tinha conseguido tal façanha. Talvez porque ela estava tão determinada em garantir que Daniel não se safasse dessa.

– Vamos parar de falar nisso e vamos falar do Baile. É esse fim de semana e nós nem compramos vestidos ainda! – disse Mandy.

Por nós não precisava de Baile esse ano, mas Mandy insistiu dizendo que só fazíamos Colegial uma vez na vida e tínhamos que aproveitar tudo.

– Nós podemos ir depois de amanhã. – disse Rose.

– Por mim tudo bem se tiver também para as meninas. – concordou Mandy.

– Pode ser. – respondi. A única coisa que me animava nesse baile é que eu iria com Pedro. Mandy iria com Jacson, Rose com Emerson, Ângela com Bruno e Eric estava tentando convencer Jess a ir com ele.