História Cruentamque - O laboratório

Eu estava feliz com a promoção, mas eu não estava muito confortável com toda essa situação. Como eu poderia ser útil nesse tipo de função?

O laboratório superior tinha esse nome porque ficava no último andar. Era preciso um cartão especial que Seth me entregou para acessá-lo pelo elevador. Eu não fazia ideia do que se pesquisava lá. Com o cartão não era preciso digitar o número do andar e eu só podia usar se eu estivesse sozinho no elevador ou com outros que trabalhavam lá.

A ansiedade começou a me atingir. Cada vez que os números na tela do elevador mudavam eu sentia o meu coração palpitar.

10, tum

11, tum

12, tum

Parecia que o elevador estava desacelerando

18, tum, tum

19, tum, tum

20, tum, tum

Ou eram as batidas que aceleravam

23, tum, tum, tum

24, tum, tum, tum

Quando cheguei no vigésimo quinto andar, o som dos cabos de aço parou e o silêncio reinou por um instante (tum), a porta abriu e, para ser sincero, eu era um pouco ansioso demais. Não tinha motivos para ficar tão nervoso. Eu tomava remédios para controlar isso. Parecia um laboratório normal, mas ocupava todo o andar. Eu dei um passo para sair do elevador e quando as dez pessoas viram quem era, houve silêncio (Tum, Tum, Tum). Não havia ninguém com a minha idade, o mais novo deveria ter quarenta anos. O que eu menos queria era me sentir como um intruso. Falhei miseravelmente. Finalmente, o único homem que não olhava pra mim e não parecia tão velho pegou o seu copo de café recém coado e se virou na minha direção:

— Stolz! — gritou, abrindo um sorriso — chegou na hora, vou te apresentar tudo! — e veio andando na minha direção. A sua aparente alegria em me ver me incomodou mais do que as nove cabeças que pararam de me encarar assim que ele gritou o meu nome.

— Prazer, meu nome é Roger Dussel, Meu pai era alemão, acredito que você também tenha algum alemão na família? Esquece, é melhor eu te mostrar tudo logo — e foi para o meio do laboratório fazendo sinais para que eu o seguisse.

— Aqui do meio eu posso te apontar tudo sem sair do lugar — falou. Eu quis fazer um comentário do tipo: “nossa, como você é esperto”, mas não quis parecer rude no meu primeiro dia e ele parecia ser o único confortável com a minha presença — Ali é a sua mesa — Falou, apontando para o canto direito da parede oposta ao elevador. Era próximo das janelas, isso era bom. Quando eu queria pensar era bom olhar para a janela, era melhor do que ficar olhando para o teto e parecia menos estúpido do que ficar encarando a parede.

— A minha mesa fica logo ao lado da sua, à esquerda — ele disse, eu já sabia que teria de me acostumar com a presença dele — Acredito que você vai conhecer os outros melhor depois — Só lembro o nome de três, os outros eram tão sociáveis quanto eu, cientistas nerds que só pensam no trabalho e não conseguem conversar com mulheres.

— Ali tem uma cafeteira, um frigobar, uma fotocopiadora e papel. Aqui no meio tem todas os compostos químicos que você imaginar, nessas prateleiras eles ficam armazenados e podemos usar à vontade. Ali perto do elevador ficam os microscópios e as vidrarias e nem eu sei tudo que fica no canto esquerdo oposto ao elevador, mas se você precisar de algo eu sei que você vai encontrar — parou um pouco para tomar fôlego e disse — Bom, acho q o mais importante eu já te mostrei, agora vamos para as nossas mesas que eu preciso te falar sobre o nosso projeto. Isso vai mudar o mundo! — Gritou tão alto que todos olharam para ele, e depois para mim — Desculpe, podem voltar ao que estavam fazendo — e se virou para mim — é meio difícil conviver com tantos nerds em um lugar, ninguém se diverte aqui. Stolz, talvez alguns deles se sintam mal porque precisaram esperar vinte anos para conseguir esse posto que você conseguiu em cinco, mas não dê bola para eles, eu estou contigo.