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História Cruentamque - A louca


Escrita por: Zyesio

Capítulo 4 - A louca


    Eu não entendo. Enquanto uns tentavam agarrar a menina para aplicar o sedativo, os outros apenas riam e a cientista aparentava apenas um leve ódio da garota. Será que ninguém tinha receio de que ela poderia ser um perigo? Não. Acho que apenas eu sentia medo da garota. Mas não era exatamente medo. Era uma mistura de sensações.

Agora eu estava parado no meio do laboratório, olhando para um ser que não parecia humano. Um ser de cabelos roxos e olhos cheios de dor, raiva e sofrimento. O trauma de ver uma cidade hemorrágica, em que todos os seus amigos e familiares estão presentes deve ser horrível. Não poder fazer nada, enquanto o chão em que você pisa se enche de sangue e os seus ouvidos houvem apenas gritos de dor e desespero. Ao sair de lá você fica com cicatrizes para o resto da vida.

    Mas e agora? Ela não se movia e eu estava em choque. O silêncio reinava mais uma vez (Tum, Tum). Eu nunca tinha conseguido falar direito com uma garota (Tum, Tum). O que eu devo fazer? (Tum, Tum) Então seus olhos se encheram de lágrimas e ela caiu de joelhos no chão com suas mão tampando o rosto. Suas feridas abertas e vermelhas pulsando junto com o choro agonizante.

    Eu não conseguia me mover. O que eu deveria fazer? Consolá-la? Abraçar ela e dizer que ficaria tudo bem? Cada ideia que eu tinha me parecia mais ridícula do que a anterior. E a única certeza que eu tinha era a de que eu não queria estar lá naquele momento. Decidi dar um passo a frente, e o barulho do meu sapato com o chão fez ela olhar em minha direção de novo. Seus olhos não tinham mais raiva, apenas dor e sofrimento e ela gritou:

    — Vá embora! — o som estridente de sua voz fez o meu sangue congelar. O que eu mais queria era ir embora, chegar em casa e descansar, ou então acordar e perceber que tudo isso era um sonho. Mas não era.

    Eu recuei e fui andando até a minha mesa, que ficava do outro lado da sala, sem olhar para trás. A minha cadeira ainda estava do lado da do Roger. Aquele maldito me deixou sozinho com aquela louca. No outro dia ele iria ver. Abri a janela e me deitei nas cadeiras. Era noite de lua cheia e eu podia vê-la daquela posição, branca, brilhante e calma. A louca ( decidi chamá-la assim até saber o nome dela) ainda chorava em prantos. Tentei pensar.

    Para mim, as mulheres ainda eram um mistério. Eu nunca fui um dos mais populares. Para ser sincero eu simplesmente gostava mais de ficar sozinho. Em casa eu ficava jogando videogame e na escola eu andava com um grupinho de meninos que também curtiam coisas de nerd. Na faculdade eu conheci algumas garotas, mas eu não tinha iniciativa nenhuma e sempre acabava decepcionando elas. Resumindo, eu não era o mais indicado para estar ali naquele momento e decidi fazer o que eu sempre fazia com relação à garotas: Esperar. Eu não ia falar com ela, uma hora ela iria dormir.  

    Já eram três horas da manhã quando eu cansei de ficar esperando e decidi dar uma olhada. Levantei da cadeira e ergui minha cabeça para poder olhar o lugar em que eu a vi pela última vez. Ela não estava lá. “Droga”, pensei. A última coisa que eu queria era ter que procurar a louca pelo laboratório. Pensei em deitar de novo, mas e se ela estivesse dormindo? Então fui até lá. Eu havia deixado apenas uma luz acesa para ver se ela dormia mais rápido. Me arrependi na hora. Estava muito escuro e silencioso (Tum, Tum), fui andando até a cafeteira onde ficava o interruptor e acendi as luzes. Ouvi um grito. Eu havia acordado ela, desliguei as luzes de novo e corri em direção à minha mesa, mas sentei no canto da sala e abracei as minhas pernas.

    Por algum tempo eu fiquei naquela posição, sentindo o meu coração palpitar. “Por que essa louca não dorme logo” pensei. Eu estava cansado, só queria acabar aquilo e voltar para casa. Então eu ouvi passos e levantei. Estava pronto para usar a cadeira para me defender caso ela tivesse encontrado uma tesoura no caminho para me atacar. Quando ela apareceu entre as prateleiras a imagem era assustadora, sua mão direita cobria o machucado em seu braço esquerdo e ela andava muito devagar, quase se arrastando. Eu fiquei parado, esperando pelo que viria depois. Ela sentou na cadeira do Roger e falou:

    — O efeito já passou. Eles não podem mais descobrir — eu estava muito confuso.

    — Descobrir o que? — perguntei.

    — Olha cara, você não precisa ter medo de mim, senta ai vai — e foi o que eu fiz — Eu sabia que eles iam me trazer para cá, mas eu não tinha escolha. Era isso ou ser levada pela polícia. Aqui pelo menos eu consegui evitar que vocês recolhessem o meu sangue.

    — Do que você está falando? Isso não faz sentido nenhum.

    — Você é mais tapado do que parece.

    — O-obrigado?

    — Não, é sério. Acho que se eu te contasse como ganhar um milhão de reais você nem ia perceber — Ela falou, com uma voz entediada. Eu não fazia ideia do que responder.

    — Olha, eu preciso de alguém para me ajudar a sair daqui e acho que você é perfeito.

    — Mas você não pode sair daqui. Por favor, deixa eu tirar o seu sangue e ficamos todos bem — Ela me encarou, incrédula.

    — Esquece o que eu disse, cara. Você é um imbecil. Você não entende? A cura não tá no meu sangue, beleza? E se eu ficar aqui outras pessoas vão morrer.

    — Se você sair sou eu que morro.

    — Ótimo, é o que eu mais quero nesse momento. Olha, Eu tenho um plano, você não precisa perder seu emprego, tá?

    — Do que você está falando? eu não posso deixar você ir embora.

    — Mas eu vou, queira você ou não. Você sabe o que é mais legal nos compostos orgânicos?

    — Plástico?

    — Eles explodem.

    Dizendo isso, ela levantou e saiu correndo, pegando dois frascos de uma substância que eu não consegui identificar na hora e os jogou no meio das prateleiras. houve uma explosão e tudo começou a pegar fogo. Ela correu até o elevador e eu não tive escolha a não ser ir também. Ela chamou o elevador enquanto as chamas se espalhavam e eu rezava. Quando o fogo estava chegando aos nossos pés o elevador abriu e ela me empurrou para dentro. Eu cai de costas e ela em cima de mim, então ela começou a apalpar meus bolsos para encontrar o cartão. Quando encontrou ela passou ele pelo painel e apertou o botão do térreo. Eu continuei deitado.

— Você é retardado? — ela perguntou — por que não entrou no elevador logo? — eu me levantei e não respondi, apenas agarrei o braço dela.

— Não vou deixar você escapar —  eu disse, ofegante.

Quando o elevador chegou ao térreo, a louca me deu um chute muito forte entre as pernas e eu caí no chão:

— A propósito, o meu nome é Thais Helena — e saiu correndo.



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