O resto da semana passou sem nenhum evento importante. Voltei a trabalhar no mesmo lugar de antes e às vezes alguém me perguntava o que havia acontecido naquela segunda-feira, mas eu apenas dizia que houve um incêndio e eu não fazia ideia de como aconteceu. Alguns dos que trabalhavam no laboratório superior perguntavam como eu estava e diziam que lamentavam muito. Tirando isso minha rotina não mudou muito.
Quando chegou o final de semana eu não estava a fim de fazer nada. Fui ler algumas notícias. Houve outro ataque de Cruentamque em uma cidade próxima a Sahana. Fiquei imaginando qual o fim que essa guerra sem sentido teria.
O interfone tocou, quem poderia ser? Normalmente ninguém aparecia para me ver.
— Senhor Joseph Stolz? Tem uma mulher chamada Thais querendo subir — disse o porteiro.
Meu sangue congelou por um instante. Meus batimentos aceleraram.
— Ah, tudo bem. Pode mandá-la subir.
O que ela estava fazendo aqui? Como ela sabia onde eu morava? Saí correndo, coloquei uma camisa azul e tirei todas as cuecas que estavam no chão do quarto e do banheiro. Então a campainha tocou. Ajeitei me cabelo e abri a porta.
Ela estava com uma camisa branca, um short jeans e um par de tênis azuis. Seu braço esquerdo estava enfaixado e o seu cotovelo direito e sua mão direita estavam sangrando. Ela estava bem diferente de quando eu a vi pela primeira vez. Sua cabeça estava baixa, ela parecia cansada e triste. Então ela levantou os seus olhos, úmidos, e perguntou:
— Será que eu posso entrar?
— Claro — falei.
Ela estava mancando. Eu tentei ajudá-la, mas ela fez um sinal de que estava bem e sentou no sofá, que ficava perto da porta de entrada.
— Me desculpe por te incomodar desse jeito, mas aqui é o único lugar que me restou para ficar. Se quiser eu saio — ela disse, com a cabeça baixa.
Se fosse uma armadilha eu estava caindo direitinho.
— Não precisa se desculpar, precisamos limpar essas feridas, eu vou buscar alguns remédios — respondi.
Ela acenou com a cabeça. Eu fui até o banheiro, lavei minhas mão e peguei gazes, esparadrapos, um tubo de soro, antisséptico e analgésicos que eu deixava em uma gaveta. Depois fui até a cozinha, peguei uma bacia e coloquei tudo dentro; enchi um copo de água e fui até o sofá. Depois de dar os analgésicos e começar a limpar e tratar os seus ferimentos ela falou.
— Você deve ter muitas dúvidas, não é mesmo?
— Você nem imagina — respondi.
— Eu queria te proteger e não ter que te envolver em tudo isso, mas já não sei se eu tenho escolha. Eu vou te contar tudo. Qual é o seu nome mesmo? acho que não nos apresentamos direito.
Me proteger? Do que eu precisava ser protegido? Por que eu sempre era a última saída?
— Joseph Stolz — respondi.
— Bonito nome — ela sorriu — você tem lindos olhos verdes, mas não parece muito alemão.
— Meu pai era alemão e minha mãe é descendente de japoneses.
— Era?
— Ele estava em Bressen a trabalho… — não consegui terminar a frase.
Bressen foi atacada pelos terroristas no dia em que meu pai ia voltar para casa, três meses antes. Minha mãe foi morar na casa de minha avó e ainda não havia se recuperado. O corpo dele ficou lá por causa do vírus.
— E-eu sinto muito — ela disse, e por um momento não falamos nada
— Bem... como eu te disse — ela falou, quebrando o silêncio — a cura não está em meu sangue, mas ela existe, e eu sou uma das poucas pessoas que sabe como fabricá-la. Por isso eles estão atrás de mim. O único familiar que havia sobrado para mim era o meu tio. Ele trabalhava na mesma empresa que você. Foi assim que eu consegui o seu endereço. Agora a pouco eu estava na casa dele, mas eles sabiam que eu podia estar lá. Eles invadiram a casa do meu tio e eu tive que pular do segundo andar para conseguir fugir.
— E o seu tio? — perguntei.
— Ele está morto. Eu ouvi o tiro quando estava me levantando depois da queda.
— Eu sinto muito — falei.
Houve silêncio mais uma vez. Eu já havia terminado de limpar os ferimentos.
— Você precisa descansar — falei — Pode dormir no meu quarto.
Ajudei ela a levantar e a deitar em minha cama. Ela sorriu. Eu desliguei a luz e fechei a porta. Depois deitei no sofá. Eu ainda tinha muitas perguntas para serem respondidas.
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