O que ele estava afazendo ali? A sessão já ia começar.
Ele percebeu minha presença e me encarou, passando os olhos pelo meu corpo inteiro sem cerimônia. Me incomodei com isso e cruzei os braços indo em sua direção em passos rápidos.
- O que está fazendo aqui? – Perguntei encarando suas mãos que estavam nos bolsos.
- Estava te esperando. – Senti sua mão levantar meu queixo e me obrigar encarar seus olhos. Eram tão intensos quanto eu me lembrava, eu poderia facilmente me perder naquela imensidão de chocolate. Mas eu não queria, não é mesmo?
- Me esperando, mas... – peguei meu celular e olhei a hora. – MEU DUES A SESSÃO JÁ COMEÇOU. – Gritei correndo para longe dele.
Olhei brevemente para trás vi que ele estava no mesmo lugar, me encarando sem entender, voltei aborrecida com sua lentidão, segurei seu pulso e corri o levando comigo.
- Vamos Justin! Se não perderemos o filme. – Disse enquanto corríamos feito loucos para a sala de cinema.
- Verdade, me distrai. - Ele proferiu risonho, soltando um pouco sua mão do meu aperto e entrelaçando a minha na sua.
Tenho certeza que ele reparou quando meu corpo ficou tenso, era uma sensação estranha, sua mão junto da minha. Meu Deus eu acho que estou suando, ele vai pensar que sou sebosa, meu Deus me ajuda. Antes que eu pudesse me desesperar ainda mais com uma coisa tão besta ele parou e disse que estávamos perto da sala, havíamos parado de correr e começamos a caminhar.
Logo chegamos a sala número 9, já dava para ouvir o som dos atores conversando durante a cena. Bufei imaginando que tinha perdido grande parte do filme. Justin abriu a porta devagar e me chamou com os olhos me dizendo para acompanha-lo.
No entramos na sala escura e eu quase tropecei em meus próprios pés, caindo um pouco no corpo de Justin que estava de costas.
- Desculpe. – Falei vendo que ele havia se virado para mim sorrindo como se dissesse “sem problemas”. No entanto um sorriso daquele homem foi o bastante para me fazer tropeçar novamente e cair em seus braços.
- Meu Deus desculpe. – Eu ainda estava em seus braços, com o rosto fervendo de vergonha. Até que de repente ele me puxou e me abraçou nessa hora e por algum motivo eu gostei.
- Assim eu vou pensar que você está se aproveitando de mim. – Sussurrou em meu ouvido descendo sua mão até minha cintura acariciando a mesma por cima da blusa.
- Quem é mesmo que está se aproveitando de quem? – Falei me referindo ao seu sutil toque. Ele riu nasalmente e num ato rápido encostou de leve os lábios nos meus.
Por meio segundo na verdade, aquilo nem poderia se considerar um beijo, mas sim, ele havia me beijado, de uma forma sutil e quase nula, mas havia sido um beijo.
- Vamos, acho que já perdemos quase metade do filme. – Ele disse como se nada tivesse acontecido, e seguiu andando pela sala.
Subimos algumas escadas até chegarmos onde nossos amigos estavam. Vários murmúrios começaram perguntando onde estávamos e porque havíamos demorado tanto. Depois de algumas explicações voltei minha atenção para o filme, ou no caso tentei. Justin não saia da minha mente, o calor e o toque quente de seu corpo do meu. Não Mary! Parou, ele só está brincando com você. Pare de ser tão estupida.
Minha mente não parava de criar ilusões onde eu e Justin nos beijávamos e coisas do tipo, chegava a me irritar o ponto em que eu podia ser tão iludida e burra para pensar nessas coisas. Afinal essas ceninhas românticas só acontecem em livros de romance ou filmes de cinema, aqui é vida real, não existe príncipe encantado. Por mais que eu queira nada dos contos de fadas é real.
Só que por mais que eu tente acreditar ceticamente nas palavras que digo, minha mente torna a ralhar comigo, dizendo que talvez com ele fosse diferente.
- Mary? Mary. – Chamou uma voz, me tirando de um tipo de transe.
- Oi? – Respondi piscando freneticamente antes de focar em Kathy que estava a minha frente.
- Vamos, o pessoal já está no lado de fora. – Disse a ruiva erguendo sua mão para mim.
No final acabou que todos acabaram decidindo que iriam para a casa de Hanna, ficar conversando, bebendo e outras coisas mais que eu não me importava. Eu só queria minha cama, só queria apagar esse sentimento estranho que estava na consumindo, é tão estranho. Será que eu estou gostando dele? Impossível. Nós acabamos de nos conhecer, ele só meu deu um selinho isso não significa absolutamente nada. Acho que posso classificar isso como apenas um deslize emocional devido aos acontecimentos passados. Isso, so podia ser isso. Eu e Hanna fomos no carro de Justin com Victória, ela que era a única que não iria para a casa de Hanna, alegando estar com dor de barriga, algo que eu sabia bem que não era verdade, afinal era nítido que ela só não queria ficar com a gente. Mas eu não sei nada, até porque eu mal a conheço. Depois de deixarmos Victoria em casa, fomos direto para a casa de Hanna. Em todo o caminho eu não falei uma palavra, as vezes cantava uma música ou outra que tocava no rádio, nada mais que isso, diferente de Justin e Hanna que não paravam de falar por um segundo.
Eu já estava pensando em qual desculpa daria para eles, eu não queria de forma alguma ficar com eles, precisava apenas da minha cama. Não como se eu não os suportasse, mas uma parte de mim era extremamente preconceituosa, afinal eles eram "os riquinhos" não é mesmo?! Mas por outra, eu percebia cada vez mais o quanto estava errada, eles podiam ser legais sim e não ligar apenas para dinheiro.
Desde que perdi minha família eu passei a tomar bastante cuidado com quem confio, não queria acabar como minha irmã. Mesmo ela estando morta agora, por um acidente infeliz, Jane nunca foi uma santa, ela usava todo tipo de drogas e bebia demais. Eu já perdi as contas quantas vezes ela chegou caindo de bêbada em casa e minha mãe tinha que cuidar dela. Uma vez eu fui ao seu quarto, como eu me arrependo desse dia, nunca deveria ter atravessado aquela porta, depois daquilo eu nunca a vi dá mesma forma, Jane estava deitada na cama, fumando maconha com uma garrafa de whisky na mão, enquanto um cara a penetrava com força. Ela sorria e fumava ao mesmo tempo, até que ela me viu esgueirada na porta, Jane arregalou os olhos por alguns segundos, depois os suavizou e mexeu os lábios falando : eu te amo.
Foi a coisa mais horrível que já vi, era nojento, era ... eu tinha 12 anos. Depois disso tudo mudou, ela começou a passar noites fora de casa e quando voltava era apenas para pegar dinheiro da bolsa da minha mãe. Até que chegou o dia em que eu já não aguentei mais, eu só queria gritar com ela, queria que ela parasse de fazer essas coisas, queria que ela voltasse a ser minha irmã .
"Dia 17 de Outubro de 2014
Jane havia acabado de chegar, minha mãe não estava em casa, para minha sorte. Ela fedia bastante eu não conseguia nem dizer a que. Eu nunca senti tanto nojo dela até esse momento.
- O que você faz aqui? - Perguntei conseguindo sua atenção.
- Ue eu vim pra casa Maninha. - Sorriu indo até a geladeira.
- O dinheiro acabou? Ou você simplesmente esta tão arrombada que nenhum cara quer te foder? - Eu disse a encarando com os braços cruzados. Estava sentindo tanta raiva, que não conseguia pensar direito. Jane se virou de repente e me encarou com os olhos arregalados.
- O que você disse Mary? - Disse ainda não acreditando no que eu havia falado.
- Você me ouviu muito bem. - Falei friamente encostando as costas na bancada. - Eu só quero que saiba que não temos mais dinheiro para você.
- Olha aqui garota...
- Não levante a voz para mim, você não tem moral alguma para falar assim comigo. Eu estou cansada de ver mamãe chorar todas as noites por causa das suas merdas.
- Eu sou sua irmã mais velha me respeite.
- Te respeitar? Nem você mesma não se respeita, porque eu deveria?
- Já passou o dia em que eu te via como irmã. Agora você é só uma drogada que vem a minha casa sempre que o dinheiro que rouba de minha mãe acaba. - Não sei quando, mas eu só percebi quando meu rosto virou brutamente para o lado, ela havia me batido.
- Cale a boca, ou eu te mato. - Jane pegou uma faca afiada e apontou para mim com um olhar insano.
- Me mate, me mate e traga mais decepção e dor para mamãe. Vamos isso você sempre fez. - Disse gritando com lágrimas nos olhos. - Eu sempre soube que você era louca, mas nunca pensei que tentaria matar sua irmã mais nova.
- CALA A BOCA! CALA A BOCA, CALA A BOCA MARY! – Jane gritava e gritava fazendo meus ouvidos arderem. De repente, eu me senti mal, eu estava julgando e a xingando, quando sei que nada disso vai ajudar. Nunca ajuda. Era sempre assim, ela vinha aqui em casa e a gente brigava, não mudou nada.
- Eu só quero te ajudar Jane... – Meus lábios tremiam tentando controlar o choro, mas era impossível.
- EU NÃO PRECISO DA SUA AJUDA, EU NÃO QUERO SUA AJUDA! – A morena jogou a faca no canto da parede e atravessou a cozinha esbarrando em mim com força antes de sair.
- JANE! – Foi tudo que eu consegui dizer antes da porta se fechar. ”
E hoje aqui estou eu, sozinha. Em um mundo completamente diferente. Com uma vida diferente. É tão estranho. Como se eu estivesse vivendo a vida de outra pessoa.
O carro foi parando aos poucos até estacionar em frente a mansão onde eu e Hanna morávamos. Assim que o carro parou fui a primeira a sair do carro sem ao menos esperar que os outros me alcançassem, eu não queria que me visem chorar. Cheguei a entrada e apertei a companhia várias e várias vezes até que alguém a abrisse, por que raios eu esqueci essa maldita chave?
No segundo que alguém ia tocar meu ombro uma das empregadas abriu a porta com um sorriso no rosto, a encarei e tentei mexer os lábios, mas não consegui então entrei logo dentro de casa e subi as escadas correndo. Não demorou e finalmente encontrei meu quarto, só consegui me jogar na cama e deixar as lágrimas caírem sem que eu fizesse barulho algum. Machucava tanto lembrar do meu passado, ver o quanto batalhei para manter minha família de pé e de uma hora para outro tudo acaba. E eu fico sozinha. Eu estou cansada de ficar sozinha. Cansada de sofrer ao lembrar que apenas eu consegui escapar do incêndio, mesmo que não houvesse qualquer explicação. Por que? Por que eu?
Ouço batidas na porta rapidamente enxugo as lagrimas dos meus olhos, Hanna entra no quarto de mansinho, com uma feição preocupada. A oira não fala nada, apenas senta na cama tira seus saltos, engatinha pelo colchão chegando a minha frente e me dá um longo e terno abraço.
Ela não sabia o porquê de minhas lágrimas, ou até mesmo soubesse, mas não falou nada e sinceramente, nada precisava ser dito, aquele abraço bastou para que eu entendesse o que ela queria me dizer.
x.x
Mas tarde depois de um belo e prazeroso cochilo eu me levantei da cama, havia dormido a tarde inteira. Depois que Hanna saiu do meu quarto eu dormi feito pedra por horas. Me espreguicei passando em frente ao espelho antes de sair do quarto, estava com um blusão do Batman e uma calça de moletom uns 3 números maior que o meu. Coloquei os cabelos atrás das orelhas e fiz uma careta estranha no espelho antes de sair do quarto, eu sou muito estranha eu sei. Desci rapidamente as escadas ainda bocejando e fui direto para a cozinha, chegando lá a mesma estava completamente vazia, não me importei com o fato e fui para a geladeira tirando da mesma um pote roxo que continha vários docinhos de festa, coloquei alguns na boca me deliciando com o sabor. Cada um melhor que o outro, tenho que admitir. Para acompanhar coloquei um copo de coca cola e o bebi. Afinal estava morta de fome.
- Finalmente acordou Kitty?
Merda. O que raios esse garoto está fazendo aqui?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.