Capítulo 3
Os dias passaram, e Ukitake não estava só evitando se aproximar de Kuroiwa, como até olhar para a menina. Shunsui se manteve quieto esse tempo todo, mas a cada dia que passava estava deixando de reconhecer o amigo. Nesse momento Ukitake e Kyouraku estavam sentados no chão do terraço da escola.
“O que tanto ele olha?” foi então que Shunsui decidiu seguir o olhar Ukitake.
— Ukitake, o que tanto você encara a Kuroiwa-san? – Shunsui franziu o cenho, e só então Ukitake se tocou que não conseguia evitar olhar para a morena, que conversava com as amigas em frente a eles, mas um pouco distante.
— Fala baixo. – Ukitake se mostrou um pouco irritado.
— Tá bom, tá bom. Relaxa cara, eu só quero saber o que está acontecendo, já faz umas duas semanas que está assim, mas não fala nada.
— É. Eu sei. Acho que tenho deixado ser eu mesmo ultimamente, mas simplesmente não consigo evitar. – Ukitake passou as duas mãos no cabelo, os empurrando a franja para trás.
— Fala aí, o que está acontecendo? – Shunsui apertou o ombro do amigo com uma mão.
— Tá, mas que é complicado. Nem eu mesmo sei dizer ao certo. – O olhar sério de Ukitake deixou Shunsui pensativo.
“Nunca vi ele assim”
— Agora você está me deixando preocupado. Fala logo.
— Acontece que… eu sei lá cara. – Ukitake bufou, colocando uma mão sobre os olhos, enquanto encostava a cabeça na parede em suas costas.
— Vai fazer bem se desabafar. – Shunsui estava já agoniado.
— Eu e a Kuroiwa nos beijamos. – Por fim Ukitake falou um pouco nervoso.
— Kuroiwa-san? Há! Eu sempre achei vocês um casal muito bonitinho, desde o dia que ela foi escolhida para ser segunda representante, mas nunca achei que você pudesse gostar dela…. – Claro que Shunsui ficou empolgado.
— Não cara, não é o que você está pensando. Ela só me usou. – Ao falar Ukitake apertou a mão no rosto.
— Te usou? – Shunsui arregalou os olhos, passando a olhar incrédulo para a menina que conversava com sua namorada, Nanao. – Pra que? Pra fazer ciúmes para alguém?
— Não, não foi isso. Ela me usou para ter uma experiência.
— Experiência?! – Agora Shunsui estava em total espanto.
— É, foi o que ela disse, queria ter uma experiência. – Ukitake encarou o amigo, e relaxou o corpo, dando de ombros.
— Nossa, mas foi só um beijo mesmo? – Shunsui perguntou bem sério e Ukitake respondeu positivo com a cabeça. – Se é um só um beijo, porque todo esse mistério?
— Porque não foi um simples beijo.
— Então realmente teve algo a mais? – Shunsui já estava insinuando que ‘aquilo’ havia acontecido.
— Não. Quer dizer… sei lá.
— Cara me explica direito o que aconteceu. – Shunsui estava muito interessado, intrigado, e desacreditado.
“Ukitake sempre é tranquilo. Eu realmente que se um dia fosse beijar alguém seria só na faculdade” o moreno queria muito entender o que aconteceu, pois nunca havia visto o amigo tão estressado, por nada.
— Há alguns dias, quando já havia todo mundo ido embora da sala de aula, não sei porque, Kuroiwa ainda estava lá. Eu voltei pra sala porque esqueci meu celular, e quando vi ela sentada na carteira, fui conversar como fazemos normalmente. Só que do nada ela me puxou, e começou a me beijar de um jeito….. – Ukitake fechou os olhos lembrando “Aquele gosto de uva… que vontade”. – Ela parecia estar com muita vontade, não me deixava se soltar, e… depois de algum tempo eu comecei a achar… gostoso. – Ukitake sentiu o rosto começar a formigar, levemente
— Hmm, gostoso? – Shunsui sorriu, achando interessante o fraco vermelho nas bochechas do amigo.
— Cara ela… ela me agarrou com as pernas dela e me fez sentir…. – Ukitake novamente esfregou o rosto, levando os cabelos para trás.
— Sentir…? – Shunsui cada vez mais curioso.
— Sentir ela, sabe? – Ukitake não sabia como se expressar. – Ela estava de uniforme… saia…
— Ah! – Até que fim Shunsui entendeu. – Sério? – Mas logo franziu o cenho. – Ela fez isso? –“Que danada”.
— Sim, ela me deixou… excitado, tipo… muito excitado, e eu acabei me entregando ao beijo, porque estava gostoso, mas então ela começou a colocar a mão dentro da minha calça, e.
— E?
— E eu fui tirar.
— Sério isso? Porque não deixou?
— Olha Kyouraku, eu sei que você gosta dessas coisas quentes e tal, mas eu não me sinto preparado para deixar alguém me tocar.
— Sim, sim. – “Parece uma moça” Shunsui concordou com a cabeça. – Mas daí?
— Então o Keigo chegou e estragou tudo.
— O Keigo?! Que filho da…
— Daí eu não consegui falar com ela, e mal conseguir dormir aquele dia.
— Hmm, acho que lembro de ter visto você esquisito… noite estranha, algo assim
— É. Então, no dia seguinte eu perguntei o que havia acontecido. – Então o platinado respirou fundo, lembrando do gosto amargo da decepção. – Foi aí que ela disse que era só um experimento. Eu não sei por que eu esperava outra resposta.
— E que resposta você esperava?
— Eu achei que… sei lá… não faço ideia do porque eu pensei que ela pudesse gostar de mim, e que seu beijo poderia ser uma forma de declaração.
— Hmmm… entendi, entendi.
— E agora eu fico observando ela, pensando coisas, e não entendo porque eu fico tão frustrado com isso.
— Que tipo de coisas você pensa?
— Ah sei lá, que poderia ser diferente se ela tivesse me dado uma resposta diferente.
— Hmmm
— Também ando tendo sonhos com aquele dia…
— Você está apaixonado.
— O que?! – Ukitake arregalou os olhos para o amigo. – Não…
— Ah meu amigo, isso não foi uma pergunta, foi uma conclusão. – Shunsui colocou a mão no ombro do amigo, e deu alguns tapinhas.
“Apaixonado?” Ukitake engoliu seco, e ficou pensativo. Logo o sino tocou anunciando o fim do intervalo, e seu olhar acompanhou Kuroiwa, que estava andando em direção as escadas.
— Eu apaixonado? – De repente o que Kyouraku disse, fez todo o sentido, serviu como uma luva, só que no coração de Ukitake.
Então ele ficou mudo por algum tempo, pensando no que estava acontecendo consigo.
— Vamos? Já acabou o intervalo. – Shunsui se levantou.
Ukitake se levantou, e passou a acompanhar o amigo.
“Mas que merda… eu estou mesmo apaixonado?” o garoto perguntou para seu coração pegando forte no peito, e sentiu um disparar incomum em resposta. “Me apaixonei sim, por uma garota que parecia uma santinha, mas agora eu descobri que é uma louca, maníaca por sensações eróticas… isso?” então o menino se encostou de costas para o corrimão, levando uma mão na testa.
— Ah… Kyouraku, eu estou ferrado. – Ukitake finalmente concluiu, depois de pensar mais profundamente, e se tocar que a menina era completamente diferente dele.
— Ah você está sim, mas se quiser conquistá-la eu posso dar uns conselhos. – Ideias começaram a borbulhar na mente de Shunsui.
— Eu não sei… não sei se eu seria um cara que ela iria gostar. – Ukitake desviou o olhar.
— Bom, ela deve ter te beijado por algum motivo.
— Como assim?
— Você beijaria alguém por quem não sente a mínima atração?
— Não.
— Então. – Shunsui deu de ombros. – Acho que ela não faria o mesmo.
— Talvez. Eu não quero me iludir tirando conclusões precipitadas. – Ukitake voltou a caminhar.
— Bom então vamos ver o que sabemos. – Ukitake levou o dedão da mão para o queixo, pensativo.
— Hm?
— Bom, você disse que ela te usou para ter uma experiência.
— Certo.
— Então faça ela ter mais experiências com você.
— O que?! Está louco? Eu não sou rato de laboratório.
— Eu não disse para deixá-la te usar, eu queria dizer para fazer Kuroiwa-san ter mais experiências.
— Como assim?
— Como posso te explicar…. – Então Kyouraku desviou o olhar pensativo. – Já sei, tenha você a atitude, o mesmo tipo de atitude que ela teve, mas vindo de você.
— Eu não vou usar ela para um experimento.
— Não, faça ela sentir o que ela procurou em você aquele dia.
— O que? Eu agarrar ela daquele jeito? – Ukitake estreitou o olhar, não estava gostando muito.
— Isso, já conheci garotas como ela. Aposto que ela vai gostar. – Kyouraku ficou empolgado, passando o braço por cima dos ombros do amigo, e ao mesmo tempo batendo no peito dele com a outra mão.
— Sem chance. – O platinado respondeu sério, e com a expressão fechada.
— Por quê? – Foi possível não sentir o biquinho que Kyouraku fez neste momento.
— Não tem como, eu não sou assim.
— Eu sei, mas…
— Sem “mas”, eu não vou tentar conquistar uma garota, tentando ser alguém que eu não sou. Se for pra conquistá-la, tenho que ser do meu jeito.
— E como é o seu jeito? – Kyouraku soltou o amigo, e cruzou os braços, observando o amigo coçar a nuca, em dúvida. – Você nunca teve um interesse numa garota antes, não é? – Então Ukitake olhou para ele, sem resposta, mas Kyoraku já sabia que não. – Bom, acho que seria mais do seu feitio chamá-la para sair, ir ao cinema, ou algo assim.
— Isso! – Ukitake apontou feliz para Shunsui. – Isso seria uma boa.
“Não sei por que, mas acho que isso não vai funcionar” Kyouraku já estava sentindo dó do amigo.
— Eu posso chamá-la para algum lugar fora da escola, e conhecer um pouco mais da vida pessoal dela. Afinal tudo o que eu falo com ela, é sobre as atividades escolares.
— Ok, você vai tentar do seu jeitinho, mas se não der certo…
Kyouraku voltou a passar o braço por cima do ombro do amigo, e começou a cochichar no ouvido dele, coisas que ele gostava de fazer com sua namorada, e Nanao amava.
“Definitivamente eu não vou fazer nada do que Kyouraku disse” ao chegarem na sala de aula, Ukitake foi caminhando lentamente até o seu lugar, enquanto olhava Kuroiwa, que observava a vista da janela. “Droga… eu estou tão apaixonado assim?” o menino esquivou o olhar no mesmo instante em que ela passou a olhar em sua direção, “Não consigo nem encará-la?”. Então Ukitake se sentou em seu lugar, e passou a olhá-la por cima do ombro, “Qual é? Se acalma” o platinado já estava brigando com as batidas do coração, enquanto apertava o peito, “Só de imaginar indo até ela e a chamando para sair, eu fico assim, nervoso”.
Foi preciso algumas horas para que Ukitake conseguisse se acalmar um pouco. Ele planejou ir até ela no final da aula para chamá-la pra sair. Mas seus planos não deram muito certo, pois logo que o sino anunciou o final da aula, Kuroiwa foi cercada por Rangiku, Nanao e Hisana. Ukitake recuou, pensando em deixar para o outro dia.
— Até mais. – Kuroiwa se despediu de Rangiku, enquanto trocava os wabaki por seus sapatos.
“Ela está sozinha?” Ukitake observou e no mesmo instante sentiu a mão suar frio. “É agora” engolir saliva nunca havia sido tão difícil para esse garoto, até esse momento.
— Kuroiwa. – Ele tomou coragem, mas quase gaguejou.
— Ukitake. – Ela olhou para ele, e fechou a porta do armário.
— Eu estava pensando…. – Já ficando sem saber como fazer o convite, Ukitake desviou o olhar, e começou a coçar a nuca.
—Sim? – Kuroiwa estava abraçando um caderno em seu peito, e deu um passo para se aproximar dele.
“Deus, como ela é linda” Ukitake parou de coçar a nuca, e voltou seu olhar para o rosto dela. “Porque eu nunca havia olhado pra ela assim antes?… Ow Droga! Concentre-se!”
— Kuroiwa, eu estava pensando. – Então o garoto conseguiu encará-la sério, e sem tremedeiras. – Você gostaria de ir comigo ao cinema?
—Cinema? – A menina franziu o cenho.
“Ela não vai aceitar” ele estremeceu, sentindo o coração acelerar, se uma forma que até sua boca secou.
“O que ele está querendo?” a garota inclinou a cabeça para o lado de leve pensativa, “Só tem um jeito de descobrir”.
— Sim.
— O que? – Sem notar ele arregalou os olhos.
— Sim, porque não? – Kuroiwa deixou o garoto totalmente sem reação.
— Mas é só você e eu. – Claro que ele ainda não estava acreditando.
— Não aceitaria se fosse de outra forma. – Ela piscou pra ele, ainda sorrindo, e então se virou, indo em direção à saída. – Até mais.
— Até. –Não havia como não ficar abobado. – Ela disse sim! – Ukitake comemorou quando viu que ela não estava mais por perto.
“Viu Kyouraku, não precisa ser um homem avassalador, é só ter coragem”.
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