Não valia fazer nada no dia de preguiça, com exceção daqueles beijos na boca
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Embora o celular estivesse programado para tocar numa hora específica nos primeiros momentos rotineiros de uma manhã, Sehun já estava acostumado a acordar bem cedinho, junto dos primeiros sinais tímidos de um dia marcado por luminosidade calorosa ou de um dia marcado por cinzas insensíveis espalhadas pelo manto bipolar do céu, antes mesmo do celular cantarolar ao lado no criado-mudo. Depois de tantos anos seguindo esse ritual religiosamente, especialmente na época da faculdade onde era tão complicado reunir forças para deixar a cama aquecida para trás, Sehun, assim que mais velho, tinha se familiarizado com o fato de que precisava estar de pé antes de qualquer outra pessoa.
Levantava-se num pulo só, partindo para uma chuveirada morna que acordasse o restante da sua consciência teimosa que ainda insistia em voltar para o quarto, caindo de volta na cama de calor gostoso e se aconchegando perto do híbrido solitário que tinha se agarrado a ele tão forte durante a madrugada e choramingado no instante em que ameaçou levantar para tomar banho. Sehun precisava ser muito forte em não cair na tentação, o que nem sempre acontecia, já que acabava voltando rapidinho ao quarto antes de sair de casa e dava carinho ao híbrido que olhava como se pedisse para que ele não se fosse daquela vez.
Havia uma espécie de aperto no peito de Sehun ao ver Baekhyun encolhido no meio das cobertas, as orelhas negras caídas na cabeça pela sonolência e a cauda enrolada em uma das pernas, os olhos felinos fitando seu humano com carência estampada. Sehun ficava se remoendo por não ser possível ficar com o híbrido um tantinho a mais que fosse, já que ele necessitava daquele bocado de atenção e ainda era pequeno demais em comparação a qualquer outro. Se comparado com um menino humano, Baekhyun tinha o tamanho de um à beira dos seis a sete anos, se comparado a um híbrido da sua idade, dez anos, Baekhyun era minúsculo.
Kyungsoo dizia que um fator agravante pela falta de crescimento do híbrido se devia ao tanto de maus-tratos que recebera quando mais novo, limitando assim o desenvolvimento do seu lado felino e também humano. O veterinário mais velho instruía Sehun para que ele esperasse a adaptação de Baekhyun calmamente, que fosse lhe dando atenção, carinho e proteção, tudo aquilo que o híbrido não tivera antes, e que logo haveria sinais do seu avanço físico e social, pois além do círculo sucinto de pessoas que via frequentemente – Kyungsoo, Chanyeol e Yixing –, Baekhyun não apresentava modos sociáveis com outros híbridos da sua idade ou outros humanos, tinha um quê forte de extroversão e a tendência a mostrar as garras afiadas e silvos como boas-vindas.
Certa vez, enquanto lavava as louças do jantar e Baekhyun ia secando os pratos do seu jeito lento como ajuda, Sehun pôde ver o medo que o híbrido sentia em ser abandonado por ele.
– O que foi? – Sehun questionou alto, fechando a torneira da pia que enchia a cozinha de barulheira, e olhou para um Baekhyun cabisbaixo que apertava o pano úmido nas mãos e mandava olhares ao maior a cada segundo.
Baekhyun mordeu o lábio e fitou Sehun profundamente, dando a entender que aquilo era sério.
– Se eu não crescer, você vai me mandar embora?
Sehun arregalou os olhos e se abaixou, secando as mãos molhadas no jeans no processo para que pudesse tocar o híbrido.
– De onde tirou essa ideia absurda? – questionou, mas logo soltou um suspiro sabendo o motivo daquela pergunta, Baekhyun deveria ter ouvido sua conversa com Kyungsoo mais cedo, na festinha de aniversário que fizeram a um membro do hospital veterinário, e chegado àquela conclusão maluca. – Eu não vou te mandar embora. Jamais – falou. – Sua casa é aqui agora, comigo. – Sehun abriu um sorriso. – A não ser que um dia você queira ficar com outra pessoa.
Baekhyun franziu o cenho ao ouvir a última parte.
– Por que eu iria querer outro dono? – soltou indignado e tratou de se corrigir, pois sabia que Sehun não gostava de ser tratado daquele modo. – Quer dizer, outro humano? Gosto de você como meu humano, não quero mais nenhum. – Sehun soltou um riso desconcertantemente bonito, ao mesmo tempo que puxava o híbrido para seu colo.
– E por que eu iria mandar meu gatinho embora? – ouviu.
Depois disso, Baekhyun não teve nenhum pensamento sobre ser abandonado, uma vez que Sehun tentava ser bem claro no que dizia respeito de querer o híbrido consigo a qualquer custo. E no decorrer do tempo, a cada dia e anos compartilhados juntos, a convivência se tornava sólida.
Sólida o bastante para que Baekhyun exigisse de Sehun – assim que mais velho e mais crescido tanto na sua parte humana quanto felina, na idade híbrida de quatorze a quinze anos já podendo ser considerado como um adulto na sua espécie, com a altura mediana, o corpo bem estruturado –, que não se importaria em ver aquela garota bonita da época da universidade, a que ele costumava sair frequentemente, beijando a boca do seu humano de vez em quando, desde que fosse beijado na boca também, coisa que levou Sehun a ter uma crise de tosse por quase se engasgar com o café orgânico ao digerir o que tinha acabado de ouvir.
O híbrido ficou uma semana ronronando no pescoço de Sehun, arranhando com carinho a pele do mais velho, subindo em seu colo quando tinha oportunidade e lhe pedindo manhoso o seu beijo, até que, derrotado e cansado de mandar Baekhyun aquietar ou se comportar, Sehun cedeu, deixando que o híbrido tivesse o que queria. No início, Baekhyun somente encostava sua boca na de Sehun, largando ali um selo simples, de modo puro e úmido, com direito a um estalido adorável no fim da noite. Com o passar de um tempo, os selos foram evoluindo para além disso – língua, toques, suspiros –, surpreendendo Sehun.
– Só mais um – Baekhyun insistia todas as manhãs, prendendo suas pernas nos quadris de Sehun quando este se abaixava para acarinhar sua cabeleira escura. – Na boca.
Suspirando, Sehun fechava os olhos e deixava que o híbrido mordiscasse seu lábio para, em seguida, exigir língua com língua naqueles minutos que prendia o humano contra si, fazendo beicinho assim que Sehun lhe beliscasse a barriga fracamente, alertando que precisava ir. Seguia o outro até à sala, jogando-se no sofá e ficando por ali até a volta de Sehun.
– Nada de bagunça na casa, ouviu? – Sehun dizia com um pé preso à porta, dando uma olhadinha ao híbrido encolhido no sofá. – Talvez eu chegue mais tarde.
– Vai sair com aquela fêmea de novo?
– Não seja ciumento. – Sehun voltava para dentro, abaixando-se novamente para beijar a testa do híbrido. – Trago sobremesa.
A rotina que levavam era sempre a mesma, com pequenas alterações aqui e ali, nada que pudesse atrapalhar alguma coisa. Nos dias de folga, no entanto, ou mais conhecidos como dias de preguiça por Baekhyun, por mais que não fosse trabalhar, Sehun acordava cedinho, antes mesmo do cantarolar do celular programado para aquela manhã, e se deparava com o híbrido colado ao seu corpo de forma amável.
Baekhyun se encontraria enroscado em seu peito, dormindo com a cabeça escondida em seu pescoço, a respiração quente chocando-se na sua pele sensível e causando arrepios gostosos na região. Sehun tinha o costume de afagar a cabeça alheia, deixando um carinho a mais nas orelhas felpudas, e, às vezes, acarinhar o rosto do híbrido com os dedos. Era só um pouco incômodo quando Baekhyun se remexia em cima de si por causa dos carinhos; Sehun era um homem jovem no fim das contas e seu corpo, nas manhãs, costumava ter vontades próprias. Ainda sonolento, Baekhyun ronronava contra a orelha do outro, evidenciando que queria mais daquilo e que não era para parar.
Ficavam dessa maneira até Baekhyun arriscar um beijo com gosto forte do hálito matinal, rindo assim que Sehun lhe desse uma leve palmada no traseiro por se remexer demais em um lugar que não deveria. Por fim, após ir ao banheiro devido as necessidades, Sehun botava o híbrido ao seu lado, espremido num abraço esmagante e dormiam um bocado, quase passando da hora do almoço, no qual comiam um lanchinho qualquer na cozinha e iam, dessa vez, assistir televisão no sofá da sala.
Sehun evitava marcar encontros com a garota que saía frequentemente para esse dia, ou de até mesmo ir ver Yixing um pouco para jogar papo furado, porque segundo as regras silenciosas de Baekhyun, naqueles dias de preguiça seu humano não devia fazer nada além de beijar sua boca pelo resto da tarde, pedaços da noite e na hora de cozinhar o jantar, lhe dando carinho aos montes, sendo completamente seu.
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