História Daddy's kitten - Dias do eu e você

 Enquanto algumas pessoas procuram por amor, o de Sehun já é de Baekhyun

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Sehun não gostava de um monte de coisas. Não gostava de chocolate. Não gostava de dias frios. Não gostava de dividir sua cama. Não gostava de fazer a faxina da casa. Nem de gatos pensava gostar. Quer dizer, em comparação a todos os animais que já havia cuidado ou levado para casa com tanto carinho – aquela galinha, vários filhotes de cachorro, um porquinho, uma iguana, um porquinho da Índia, catatua, papagaio, colibris, um hamster, até mesmo um esquilo –, gatos eram do tipo que Sehun evitava. Não se dava bem com eles. Tentava se aproximar de alguns, como os que moravam nas ruelas próximas ao seu prédio, mas para Sehun parecia que eles só gostavam da sua companhia quando trouxesse comida. Se não tinha isso, fosse embora, não ia ganhar ronronados ou qualquer tipo de atenção além de um arranhado na fuça.

Na clínica, quando gatos apareciam, todo mundo sabia que Sehun mantinha uns três mil passos de distância e só se aproximava se o animal estivesse precisando muito de seus cuidados ao ponto do medo e qualquer sentimento contrário impedirem seu amor por aquela profissão. Saía com uns arranhões a mais, mas sobrevivia feliz ao ver uma pessoa ir para casa com seu fiel companheiro de anos.

Adotar um híbrido de gato foi uma das coisas que Sehun nunca se imaginou fazendo. Muito menos passar a tolerar, depois aprender a gostar das coisas que antes não gostava. Comer chocolate na companhia de alguém. Ter alguém lhe esquentando em dias frios. A cama espaçosa com um corpo a mais ao lado do seu, a respiração contra seu peito. A faxina mais divertida quando aquele alguém estivesse por perto. Um híbrido de gato ronronando em seu colo, as orelhas felpudas raspando em seu pescoço. Todas as coisas que Sehun simplesmente não conseguia mais viver sem.

Sehun achava interessante isso, de mudar todos os seus gostos por causa de alguém. Era bom, de certo modo. Um pouco ruim também, porque novos hábitos criavam-se na convivência ao ponto de, um dia, não ter a capacidade de abandoná-los. Por isso, no meio da noite, Sehun pensava sobre as coisas novas que aprendeu a gostar ao conviver com Baekhyun e de como não conseguiria deixar de tê-las se talvez deixassem de viver juntos. Ele via que, infelizmente, era difícil enxergar uma vida onde seu híbrido não estivesse por perto. Algo normal. Todo mundo fazia isso, não? Gostar tanto de algo que às vezes não conseguia se ver sem?

Sabia que tudo tinha um fim. Quantos animaizinhos viu morrer na clínica? Ou quantas pessoas perdeu por irem descansar em sonhos infinitos? Tinha em mente a possibilidade de, um dia – o mais distante possível, por favor – acontecer. Enquanto isso, ele ia vivendo uma manhã de cada vez com Baekhyun. Depois as tardes. Depois as noites. Semanas. Meses. Anos. Mais anos.

E era bom que, embora o tempo passasse, Baekhyun e Sehun continuavam os mesmos.  

Baekhyun continuava o mesmo híbrido manhoso para acordar. Dorminhoco. Meio preguiçoso. E Sehun continuava sendo o primeiro a estar de olhos luminosos nas manhãzinhas frescas, vendo o rosto amassado de sono de Baekhyun contra suas costas nuas. A cabeleira escura esparramada no lençol, uma das pernas sobre os quadris de Sehun, sua cauda caindo fora da cama, as orelhas baixas em posição adorável. Baekhyun dormia bonito, o mundo dos sonhos cheio das coisas que ele mais gostava. Então, Sehun brincava com as mechas dos cabelos dele, enrolando nos dedos até formar caracóis negros. Passava a pontinha do dedo nas orelhas sensíveis de Baekhyun, às vezes acariciando a cartilagem quente do lado de dentro bem devagar, vendo Baekhyun fazer biquinho.

Continuava brincando em silêncio, um riso ou outro escapando sem querer, tentando acordar Baekhyun para mais um dia juntos, o que terminava numa manhã passada aos beijos doces na cama, seguido dos chiados e resmungos de Baekhyun para que o deixassem dormir – agora me deixa dormir mais um tantinho, seu humano idiota. 

Continuavam os mesmos nos banhos. Sehun ensaboando os cabelos de Baekhyun, tomando cuidado para que nada entrasse em suas orelhas. Baekhyun acabando por abraçar seu humano em meio ao banho, reclamando de frio. E depois, dividindo o mesmo roupão – Baekhyun enfiava-se dentro do roupão de Sehun, dizendo que assim ficariam mais quente rápido –, o corpo secaria com o ar enquanto trocavam carinhos gentis no quarto. Seria a mesma coisa nos dias frios. Ou na hora de assistir televisão, colados no sofá. A mesma coisa na hora de dormir, vendo o rosto um do outro antes de cair no buraco dos sonhos, onde se veriam de novo até mais um dia começar.

Uma vida bem simples ao lado de quem se gosta, com gotas abundantes de felicidade e um monte daquilo que Sehun carregava no peito – o amor de quem Baekhyun sempre foi dono e que sempre continuaria sendo.