Ponto de Vista Elisa:
Eu lutava contra minhas próprias forças, meus olhos pesavam toneladas e eu já não conseguia movimentar meus membros. Em meio a escuridão, um flashback passou entre minhas memórias e pude ver claramente uma poça de sangue em meio às folhas secas, agora sei exatamente o porquê estou aqui, e porque sinto pessoas tentarem desesperadamente me acordar de um desmaio. Eu queria sair desse lugar, queria tomar todo o fôlego que as árvores me ofereciam e sair correndo, chamar pelo nome de Nicholas e encontrá-lo o mais depressa, mas estou fraca, mal posso abrir os olhos e tentar correr agora não seria uma boa alternativa.
Sinto algo gelado em meu nariz e aos poucos meus sentidos tornam-se mais fortes, meus olhos já não pesam como antes e ao abri-los vejo todas aquelas pessoas a minha volta e meus braços já respondem por si.
- Liz, você está bem? -Vejo Milan olhando fixamente em meus olhos, segurando um pano embebido com álcool.
- Eu acho que sim. - Seguro a mão de Josh que estendeu para mim e me apoio nele para levantar, minha cabeça dói e ouço forte zumbidos em meus ouvidos.
- Precisamos continuar, está ficando tarde. -Uma voz desconhecida apontou a lanterna para uma trilha da floresta e começou a caminhar na frente do grupo.
- Nós vamos achar ele. - Mayla me abraçou e continuamos seguindo o tortuoso caminho da floresta, que agora parecia sombria e já não permitia que a luz do luar adentrasse em suas árvores.
Ponto de Vista Justin:
Eu recebia as diversas pontadas a cada passo que dava á procura do garoto, as vozes atordoantes gritavam em meus ouvidos e á essa altura nada do que eu ouvia parecia fazer sentido.
Eu sempre fui dessa maneira, nunca me permiti fazer minhas vontades e as vozes sempre estiveram ali para me dar as ordens. Ao longo de toda a minha vida já fiz coisas terríveis e repugnantes para a maioria das pessoas, se eu fosse julgado por todos os meus crimes eu não sei se sairia vivo de lá. A tentação e o arrependimento caminham juntos, e, por mais que às vezes eu me lamente por ter feito certas coisas, eu me arrependo por não ter feito mais coisas em alguns casos. Eu já fui uma criança, sei como funciona a inocência de uma, e por mais que minha mente me diz para ir atrás dele, algo me diz que não é a coisa certa a se fazer. Nunca tive pena das pessoas, pelo contrário, se algum adulto tivesse se importado comigo e com a situação em que me mantinham, talvez hoje eu seria uma pessoa melhor, eu era uma criança e não tive culpa do rumo que minha vida tomou. As crianças são um sinal, um sinal de alguma força sobrenatural de que a humanidade deve continuar, e que não precisam se transformar em pessoas como eu. Eu não posso machucá-lo.
Um choro forte adentrou meus ouvidos enquanto caminhava lentamente por dentro da floresta, eu parei a fim de localizar por onde o som havia emergido e ouvi barulhos altos de cães que vinha do lado esquerdo de meu corpo.
Com o canivete em mãos corri o mais depressa, até ouvir os latidos cada vez mais perto, ouvi um choro e por trás das árvores pude ver Nicholas, pendurado, tentando subir em uma pequena árvore e dois cachorros ao seu redor, esperando ansiosamente para que ele caísse dali.
- Eeei! - Eu gritei, fazendo com que os cães virassem a atenção para mim. - Não desça daí garoto. -Eu olhei para Nicholas, que agora me olhava com um olhar desesperado.
- Venham, venham. -Eu corri e senti os cachorros correrem rapidamente em minha direção.
Me escondi atrás de uma das árvores e ao sentir o cão farejar meu cheiro enfiei o canivete em sua cabeça, fazendo com que o primeiro caísse ao chão e agonizasse.
O segundo cão, que agora rosnava pra mim aproximava-se devagar, como se fosse pular em cima de mim a qualquer instante. Segurei fortemente o canivete nos punhos e quando o cão avançou em meus braços eu finquei o canivete em sua barriga e a puxei, fazendo o cão cair ao lado do outro e os dois terminarem suas caçadas ali.
Senti algo quente em meus braços e ao olhá-lo vi o sangue escorrer, a mordida parecia ser funda e meu braço começou a formigar. Eu inclinei a cabeça e olhei para trás, a fim de ver o menino, e ele continuava pendurado no galho da árvore, sem se movimentar. Ele poderia ver os dois cães mortos ali, e eu não queria que um garoto de três anos visse aquilo. Levantei meu corpo sentindo uma tontura e caminhei por cerca de vinte metros, até avistar uma grande vala, que parecia estar vazia a muito tempo. Coloquei os cachorros sobre os ombros e os joguei dentro do buraco, e logo depois recortei com o canivete um pedaço da camiseta que eu vestia e coloquei sobre a mordida, tentando estancar o sangue.
Caminhei lentamente até Nick, que choramingava baixinho pendurado no galho.
- Oi garotão, vem aqui. -Segurei nos braços do garoto e o tirei da árvore. - Parabéns, você foi muito corajoso. -Ele me olhou e escondeu o rosto em meus ombros e senti seu corpo estremecer pelo frio. - Você não precisa ter medo. -Eu o coloquei no chão e ajoelhei em sua frente. - Você está com frio, veste isso aqui. -Tirei minha jaqueta de couro e a enrolei entre ele.
- Perdi minha bolinha. -Ele me olhou e eu sorri.
- Então vamos encontra-lá. -Ele segurou minhas mãos e nós caminhamos em direção a mata.
Ponto de Vista Elisa:
Meus sentidos já haviam voltado e o pânico habitava todos os meus pensamentos, Minhas pernas estão fracas e eu não sei por mais quanto tempo posso andar. A poça de sangue ficou para trás a muito tempo, mas sua imagem ainda reflete a cada passo em minha mente.
Ouço barulho de folhas secas e meu peito se enche de dor, sinto que estou perto de saber o que realmente aconteceu com meu irmão e olho em todas as direções, tentando encontrar algo que seja visível, se não fosse pelas grandiosas árvores que encobrem toda a luz do luar. Está frio e tudo que anceio nesse momento é encontrar meu pequeno homem e voltar para casa.
- Precisamos nos separar, desse jeito nunca vamos encontrar o garoto. -Um dos homens que segurava a lanterna parou em meio ao caminho e nos olhou.
- Você tem razão. Já está tarde e ainda não encontramos ele. -Milan se virou para nós.
- Vamos nos separar. Eu, Mayla e Vincent vamos para um lado. -Eu me pronunciei, pegando a lanterna que ocupava as mãos de Vincent.
Seguimos na direção norte e o som das corujas nos seguiam, depois de alguns minutos de caminhada ouvi uma risada, uma gargalhada que eu não ouvia a muito tempo.
- Nicholas!!! -Eu gritei apontando a lanterna para o pequeno vulto que passou em minha frente e avistei meu pequeno loiro, que correu assim que me viu.
- Liz! - Ele agarrou em minhas pernas e quando me abaixei colocou os braços ao redor de meu pescoço.
- Onde você estava? Não faz isso comigo denovo Nick, por favor. -Eu o abracei como se nunca mais quisesse soltá-lo. - Você está bem? Você se machucou? Ah Nicholas eu pensei que você estivesse machucado, eu vi aquela poça de sangue e eu achei que havia te perdido, não faça isso de novo. -Eu disse olhando em cada pequena parte de pele que cobria o corpo de Nicholas, ele estava sem nenhum machucado aparente e eu não posso acreditar como isso foi possível.
- Tinha dois cachorros desse tamanho assim ó. -Ele abriu ao máximo os pequenos braços. - Aí meu amigo chegou e me salvou e depois ele me ajudou a procurar a bolinha vemelha. -Nicholas pronunciou de forma rápida e embaralhada as palavras, mas pude ouvir de alguém que o ajudou.
- Seu amigo? - Eu indaguei.
- Oi Liz. -Um garoto alto saiu de trás das árvores segurando a pequena bolinha nas mãos. - Acho que encontrou quem estava procurando. Vi o pequeno na floresta quando dois cães tentavam pegá-lo. Está entregue.- Oh céus, eu não podia acreditar no que via em minha frente. Era Justin, Justin havia encontrado e salvado Nicholas. Eu não posso acreditar. Justin estendeu a bolinha de Nick para mim e pude ver uma faixa de pano que cobria uma grande parte de seu braço. Justin havia se arriscado para salvar meu irmão, mesmo sem conhecê-lo e eu não poderia deixa-lo ir embora dessa forma.
- Bieber espera. -Ele parou e virou-se para mim. - Muito obrigado por tudo. -Eu o abracei e senti meu corpo suplicar por um contato mais íntimo com Justin.
Em um ato inesperado eu selei meus lábios com os de Justin e imediatamente o loiro me correspondeu, me fazendo sentir um beijo cercado por desejo. Senti o olhar de Mayla e Vincent, e até mesmo do pequeno Nick, mas a essa hora eu não estava me importando com exatamente nada á minha volta, queria aproveitar cada instante do beijo quente que me consumia e finalmente me entreguei aos encantos do loiro.
A língua de Justin pediu espaço para adentrar em minha boca e eu sedi, sentindo todo o gosto de Justin. Senti as mãos de Justin apertar minha cintura e arfei em meio ao beijo. Uma falta de ar nos consumiu e tive que me separar dos lábios do loiro. Justin encostou sua testa na minha e sorriu olhando em meus olhos.
- Obrigado Bieber. - Eu o olhei e ele sorriu.
- Liz, precisamos ir. -Vincent fez questão de atrapalhar nosso momento. - Os outros grupos precisam saber que encontramos o pequeno.
- Te vejo amanhã? -Justin segurou em minhas mãos.
- Sim, nos vemos amanhã. - Eu o olhei e dei um beijo em suas bochechas.
- Boa noite Bieber.
- Boa noite Rapunzel.
Depois que encontramos Nick fomos direto para casa, todo o grupo estava exausto por procurar o garoto e uma longa noite de sono seria essencial para cada um de nós.
Quando os grupos se encontraram, ouvi Mayla dizer a Shawn o que houve entre eu e Justin, e desde então Shawn tem perguntado a todo momento sobre o que Justin e eu temos.
Cheguei em casa depois de pegar uma carona com Josh, tomei um banho longo e me joguei em cima dos edredons macios. O celular vibrou e uma mensagem chegou na tela, a princípio imaginei ser Justin, mas quando desbloqueei o celular tive uma surpresa ao ler o que havia acabado de chegar.
"Boa noite Liz. Eu demorei muito para te dizer isso, mas acho que agora é realmente necessário. Tenho visto como você está se aproximando muito de Justin e gostaria que analisasse se isso é realmente o que você quer. Sempre gostei muito de você como uma amiga e eu não confio nele. Fique longe dele Liz, ele pode não ser o cara que você acredita ser. Qualquer coisa estarei aqui, como sempre estive."
Eu mal podia crer no que acabei de ler. Desde que tudo aconteceu com Shawn eu sempre estive ao seu lado, e no primeiro dia que não pude vê-lo ele simplesmente começou a ficar com Mayla e não se importou com nada do que fiz por ele. Shawn é um imbecil, que acha que tem todas as garotas aos seus pés sempre que estala os dedos, Shawn pode ficar comigo e com minha melhor amiga, mas fica zangado quando eu me relaciono com algum garoto da escola.
"Escuta Shawn, estou farta de você, farta de suas escolhas e farta de acreditar que alguém como você um dia irá mudar. Isso está em você, isso é quem você é, e se você não é capaz de amar alguém e valorizá-la como deve ser, eu não estou disposta a parar minha vida por você. Em um pequeno espaço de tempo você se tornou minha prioridade em tudo, eu deixava de ir ao colégio e na primeira oportunidade você me traiu, você ficou com minha melhor amiga na primeira chance que você teve. Você é um moleque Mendes, e deveria ficar sozinho."
Enviei a mensagem para Shawn e bloqueei o celular, colocando em cima da escrivania e fechando os olhos, tentando adormecer.
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