História Dark Hut - Colecionador de cadáveres

Ponto de Vista Shawn:

Minhas pernas doíam, eu não podia movimentá-las. Minha cabeça latejava a cada momento que eu tentava abrir os olhos. Levantei a cabeça com dificuldade e abri lentamente os olhos, eu ainda estava preso àquela droga de cadeira e as luzes estavam apagadas.

Minha perna estava queimada, minha barriga estava semi-aberta pelos ratos e em meu queixo havia sangue seco que escorreu do topo da cabeça. Eu estou imóvel, sujo e fedendo nesse lugar e até agora nem um copo de água aquele miserável me trouxe.

A alguns metros de distância, ao lado da porta de madeira está um relógio antigo, sua hora é marcada por uma luz vermelha e essa é  única coisa que consigo enxergar. Duas e vinte e oito da madrugada.

Eu ouço barulhos, eu sinto que os ratos estão aqui, sinto que estão muito próximos às  minhas feridas. Sei que isso não é nada, os ratos, a sujeira, o sangue seco... Essas coisas não significam nada se comparar á toda dor, á todo sofrimento que passei na noite de ontem. Não sei porque ainda estou vivo e o porque Justin ainda me mantém aqui, as vezes eu só desejo que ele pegue uma arma e atire em meus neurônios, essa dor está me consumindo, está me matanto aos poucos e eu só rezo para que tudo isso acabe logo. Eu fui um covarde, eu sei disso, e a todo momento eu ouço a voz de Justin me dizendo isso, sua voz ecoa em minha mente e além de física, sinto que ele está me torturando psicologicamente.

Ouço passos e uma luz se acende do outro lado da porta, escuto claramente Justin falar ao telefone e ele parece se aproximar, os cadeados são abertos um a um, e abaixo a cabeça rapidamente simulando que estou durmindo.

- Droga, eu já te disse Ryan, eu não estou envolvido em nada grande... -Com os olhos fechados ouço Justin falar ao telefone e mexer em algumas tesouras. - Não é nada demais, tenho uma striper no quintal, um coreano e acredito que vou enterrar mais um amanhã cedo, o garoto não vai aguentar muito tempo... -Sinto meu corpo estremecer e queimar por dentro, Justin é um maníaco colecionador de corpos e amanhã enterrará o meu. Estou nervoso, e mesmo com os olhos fechados sei que Justin olha para mim, eu preciso que isso termine logo e se for para morrer dessa forma, que pela manhã eu receba um tiro antes de acordar. Qualquer coisa é melhor do que viver aqui.

Ponto de Vista Justin:

Ryan me acordou pela madrugada às duas horas da manhã. Seus informantes relataram que a polícia de Nova Jersey abriram mais uma vez as investigações arquivadas a dois anos atrás, quando assassinei um dono de uma boate.

 Esse não foi um dos meus melhores casos, já que não foi necessariamente uma vítima minha. Na época, Ryan e eu havíamos acabado de sair do orfanato e precisávamos de dinheiro para começar a organizar as coisas do lado de fora dos muros. Eu ganhei uma quantia alta pelo serviço e desde então a polícia local vem investigando sobre alguns possíveis suspeitos, eu não sei o porquê, mas meu nome entrou na lista e desde então os agentes tem seguido todos os meus passos. A um ano atrás, um homem se entregou à polícia afirmando ter sido ele o assassino, a polícia constatou a pouco tempo que ele na verdade, foi pago para dizer essa versão. Desde então, a polícia voltou ao caso e voltaram a investigar a lista de suspeitos, eles ainda não sabem meu paradeiro, mas Ryan teme que isso logo ocorra. Por isso resolveu me ligar, exatamente às duas da manhã, pra me deixar mais nervoso.

Ligação: - Escuta, Eu ouvi que eles estão indo atrás de todos os suspeitos, cuidado Jus, eles podem ir atrás de você irmão.

- Fica tranquilo Ryan, eu não vou ser pego de novo.

- Eu ouvi que você está envolvido em coisas grandes Bieber.

- Seus contatos falam demais cara. Fica tranquilo, eu não vou ser pego. -Me levantei da cama indo até a cozinha, beber um copo de água.

- Eles vão te procurar, se perceberem que você não está em Nova Jersey podem emitir uma busca para todos os Estados, por isso, não se envolva em coisas grandes. Tenha cuidado. - Ryan disse preocupado.

Eu fui até a entrada do pequeno quartinho e destranquei os cadeados, fui assegurar de que Shawn permanecia no mesmo estado.

- Droga, eu já te disse Ryan, eu não estou envolvido em nada  grande... -Eu disse a Ryan assim que entrei no quartinho. - Não é nada de mais, tenha uma striper no quintal, um coreano e acredito que vou enterrar mais um amanhã cedo, o garoto não vai aguentar muito tempo. -Eu olhei para Shawn, o vendo de cabeça baixa, aparentemente dormindo depois da tortuosa sessão de ontem.

Saí do quarto o trancando por completo novamente e fui em direção à minha cama.

- Eu agradeço a preocupação irmão, mas aqui continua tudo sob controle. Obrigado por se importar dude. Até mais.

Desliguei o celular e tentei adormecer, a conversa sobre o departamento de Polícia de Nova Jersey me deixou apreensivo, as vozes me diziam que algo não estava certo, e eu espero que elas estejam erradas.

Acordei exatamente às sete e quarenta e sete da manhã. Hoje é manhã de segunda-feira, mas não perderia o prazer de passar a manhã com Shawn, por nada. Acordei cedo, as vozes estiveram em minha mente por toda a madrugada e a ansiedade de ver o sol nascer para cuidar de Shawn me corroeu por inteiro. Levantei-me da cama ainda sonolento e coloquei os chinelos que estavam próximos à cama, lavei o rosto na água fria da pia do banheiro e caminhei lentamente até a cozinha preparando um café rápido.

 Depois de terminar, fui até o quartinho e abri os cadeados, acendendo a lâmpada para que a luz adentrasse no pequeno lugar fechado.

- Ainda está dormindo Cinderela? -Joguei um copo de água fria no rosto do jogador.

- Estou com sede. -Shawn murmurou levantando a cabeça e olhando em meus olhos.

- Você está com o quê? -Eu sorri vendo seu semblante arrasado.

- Sede Bieber. -Ele forçou para abrir os olhos, mas Shawn estava fraco, e abaixou novamente a cabeça.

- Você está com sede? Hun, deixa eu pensar no que posso fazer para te ajudar... -Eu disse revirando alguns utensílios do quarto e avistei o balde de alumínio. - Aqui ... -Levei o balde até a cozinha e o enchi de água, até o líquido transbordar. 

Entrei no quarto e coloquei o balde sobre as pernas de Shawn.

- Vou matar sua sede. -Eu segurei a cabeça de Shawn e empurrei fazendo com que o garoto tentasse lutar contra a água  que agora invadia suas narinas e impedia sua capacidade de respirar.

Puxei o cabelo do garoto fazendo sua cabeça levantar e ele puxou com toda a força o ar para dentro de seus pulmões.

- A água estava boa querido? -Eu o olhei com um sorriso sarcástico nos lábios. -Era explícito o quanto Shawn estava fraco e debilitado, ele já não olhava mais em meus olhos como antes e eu podia sentir o medo que percorria por cada canto de sua pele.

Tirei o balde das pernas de Shawn, arrastei uma cadeira e sentei-me a sua frente.

- Cara, você deveria se olhar agora. -Eu olhei fixamente em seus olhos. - Aposto que as vagabundas do colégio teriam nojo de você se te vissem assim. Está repugnante Shawn. -Eu sorri para ele.

- Eu vou sair daqui e será tarde demais pra você Justin. Eu vou contar para todas as pessoas o monstro que você realmente é. -Shawn sussurrou para mim e eu me virei rapidamente para olhá-lo.

- Ah, você  vai? -Eu alcancei um saco plástico que estava sob a mesinha e coloquei sobre a cabeça de Shawn, segurando com as duas mãos até que nenhuma corrente de ar pudesse passar pelo saco, fazendo Shawn se debater em busca do oxigênio. - Fala Shawn! Você vai sair daqui? E quem vai vir atrás de você? -Eu gritava enquanto sufocava o garoto, que a essa hora já não tinha forças o suficiente para tentar encontrar oxigênio. - Entenda que você não vai sair daqui.  -Eu retirei o saco da cabeça de Shawn e o vi recuperar seus sentidos.

- Não me deixei aqui. - Shawn sussurrou quando me viu caminhar até a porta de saída do quarto.

Shawn fedia, os ratos caminhavam centenas de vezes ao redor do machucado da perna e as moscas pousavam sobre o sangue seco. O estado de Shawn era repugnante e cada vez que eu entrava naquele lugar meu corpo clamava para vomitar tudo que eu havia ingerido durante o dia.

Os cartazes de Shawn já haviam sido espalhados pela cidade e, se caso algum vizinho ouvisse os gritos que ecoavam do quartinho isso poderia ser prejudicial para mim. Eu teria que acabar logo com Shawn, o garoto já  não tinha mais forças para nada e mantê-lo ali por mais algum tempo seria um erro grotesco.

- O que você diria se essa fosse a sua última palavra Shawn? -Eu o olhei firme.

- Vai pro inferno Justin. -Ele cuspiu as palavras  contra mim e eu apertei rapidamente o botão da cadeira elétrica, a linda cadeira elétrica de Ryan. - Não antes de você Mendes. -Eu gritei o vendo se contorcer ao sentir a eletricidade percorrer cada canto de seu corpo e o fazer sentir uma dor inadmissível.

O corpo de Shawn estava rígido e seu rosto esboçava grande dor, eu podia ver os raios da corrente elétrica percorrer suas veias e a sensação de prazer transitar por minhas artérias. Aquela cena era incrível e eu queria guarda-la em minha mente.

Desliguei o botão da cadeira e assim que Shawn  parou de se movimentar senti um cheiro forte de queimado invadir minhas narinas, a corrente elétrica se alastrou até seu cérebro e o cheiro de carne queimada vinha de lá. O coração de Shawn já não batia mais e o semblante de desespero ainda ocupava sua face.

Esperei até que o corpo de Shawn esfriasse e o desamarrei da cadeira, peguei um carrinho de mão no jardim e coloquei o corpo do jogador sobre ele, grande parte do corpo de Shawn estava queimada e cortes fundos estavam sobre sua perna e barriga. Levei Shawn até uma pequena cova no jardim, ao lado da cova aberta estava a de uma striper e a de um coreano, ambos enterrados a algum tempo atrás.

O quintal no fundo da cabana era cercado e apenas do ponto de vista de algumas casas era capaz de ver o que eu estava fazendo naquele exato momento. Olhei várias vezes certificando de que nenhum vizinho estaria ali e com certa dificuldade joguei o corpo de Shawn na cova, que tinha cerca de seis metros de profundidade. Com o auxílio de uma pa e um enxada tampei todo o buraco com terra e entrei para a cabana, a fim de fazer um lanche.

Coloquei três torradas sobre um prato raso e peguei um copo de suco de laranja na geladeira, quando fui dar a primeira mordida o celular tocou.

- Mas que droga. -Era Ryan.

Ligação: - Presta atenção no que eu vou te dizer e faça tudo o que eu mandar. Exatamente agora tem três viaturas no lado esquerdo da sua rua e duas viaturas no lado direito, eles estão fechando toda a rua. Tem dois policiais com cães a cinco casas da sua e eles sabem que você está na cabana, eles sabem quem é você. Você até poderia cuidar sozinho dos dois policiais, mas há dois cães indo junto, e sozinho não há chances de lutar contra os quatro. Deixe suas torradas e seu suco em cima da mesa e vá até o quarto, pegue uma mochila com qualquer roupa que você tiver e entre embaixo da cama. Isso mesmo, entre embaixo da cama. Lá você vai ver uma espécie de portinha, e quando você vai abri-la você vai pular.

- Mas o quê? -Eu perguntei incrédulo sem saber o que de fato estava acontecendo e como Ryan sabia de tantas  coisas,  logo ouvi o barulho das sirenes.

- Cara, me escuta. Embaixo da cama tem uma porta e quando você abri-la você vai se jogar. Ela tem por volta de oito metros, mas você vai ficar bem. Quando cair, você vai cair em um esgoto. Eu não estou brincando Justin, eles estão indo atrás de você e acho melhor você andar logo.