História Dark Hut - Dallas

Já haviam se passado dois meses. Dois longos meses desde que Shawn havia falecido. As coisas mudaram muito por aqui, pessoas novas entram todos os dias no colégio e lentamente, o time de basquete tenta se recuperar da grande perda.

Naquele dia o time não perdeu apenas um jogador de basquete, perdeu um amigo, perdeu um companheiro e as vezes eu me pergunto o que eu perdi, não sei ao certo dizer, mas a cada dia sinto que perdi muito.

Nunca mais vi Justin, desde o dia do enterro. Sinto a falta dele também. O diretor alegou que a mãe de Justin está com problemas em Michigan e por isso Justin teve de ser transferido às pressas.

A cada novo dia é um novo desafio, os alunos andam pelos corredores com as cabeças baixas e nunca tocam sobre o assunto do óbito de Shawn, é como se isso não tivesse acontecido. Mayla não vai a aula a duas semanas, desde que a polícia encontrou mais algumas partes do corpo de Shawn, dessa vez na outra floresta da cidade. Assim fica realmente difícil saber o caminhar das investigações, cada dia uma notícia diferente, mas nunca de que acharam o culpado, ou todo o resto do corpo.

É como se tudo o que conheço tivesse se afundado em uma enorme tristeza desde que tudo aconteceu. Os campeonatos foram adiados, os garotos não se entusiasmam mais com nada e temo que Mayla esteja no início de uma depressão. Realmente não é fácil quando você ama alguém e ela simplesmente vai embora. Eu sinto a falta de Justin, aliás, sinto a falta de muita coisa ...

Hoje é manhã de uma segunda-feira, minha preguiça não me deixa abrir os olhos e pela terceira vez ouço o celular despertar. Arrasto minha mão até o criado-mudo ao lado e bato inúmeras vezes no aparelho barulhento que em instantes se desativa.

- Anda Liz, o pai vai sair em vinte minutos. - Escuto meu irmão bater na porta.

- Já vou. - Revirei os olhos me levantando e vestindo a roupa do uniforme, estou  atrasada o suficiente para não poder tomar um banho.

Coloquei a roupa e arrumei os fios ruivos em um coque despojado. Desci as escadas indo direto para o carro, já que todos os outros estavam a postos me esperando.

Logo na entrada do colégio fui surpreendida pela sr. Genett, uma das coordenadoras que davam as ordens naquele lugar.

- Mayer? - Ela atravessou em meu caminho enquanto me dirigia até o pátio. 

- Bom dia sr. Genett, algum problema? - Eu lancei um sorriso sem mostrar os dentes e continuei a caminhar, sendo seguida por ela.

- Os últimos dois meses não estão sendo fáceis para ninguém Elisa, mas você e os garotos do time precisam superar tudo o que aconteceu. - Eu parei de andar e a olhei nos olhos. A morte de Shawn não era algo agradável de se falar nas primeiras horas do dia.

- Eu não sei do que está falando sr. Genett, desculpas mas estou atrasada para a primeira aula. - Eu a olhei e continuei andando.

- Cameron Dallas. - Ela gritou quando me afastei um pouco. Parei de andar e olhei para trás, tentando entender que diabos eu tinha haver com esse nome. - Hoje Cameron Dallas vai iniciar as aulas aqui. Quero que mostre o colégio a ele, vai ser bom você ocupar sua mente com algo. Boa sorte. - Ela cinicamente me lançou um sorriso e continuou andando.

Agora vou ser babá de alguém?  Ah que ótimo! Me apressei para entrar no pátio e segui em direção à minha sala, quando parei na porta vi ele, era um aluno novo, muito bonito e se sentava na primeira carteira, em frente ao professor. Ah, com certeza ele era aluno novo, quem em sã consciência sentaria bem à frente do sr. Roberts sabendo de toda a saliva que ele colocava para fora durante suas explicações malucas de ciências.

- Com licença? - Dei uma batidinha na porta e sr. Roberts concordou com a cabeça, me dando permissão para entrar. 

- Já viu que deus grego? - Alexis sussurrou enquanto eu me sentava em minha cadeira. Revirei os olhos e fiz sinal para que ela ficasse  quieta, antes que tomassemos alguma advertência.

Mais uma aula cansativa e entendiante, debrucei a cabeça sobre a mesa enquanto o professor dava algumas explicações e comecei a folhear o caderno, a fim de fazer algo que não fosse prestar atenção nas explicações.

Parei quando vi um pequeno bilhete escrito de tinta roxa.

"Você deve estar se perguntando quem está te escrevendo isso, certo? Talvez nesse exato momento mil nomes vaguem pela sua mente e você só esteja tentando encontrar uma grafia parecida, alguém que tenha a mesma tinta de caneta...

Saiba que mesmo longe eu acompanho cada passo do seu dia, cada movimento seu e cada lágrima que derrama quando pensa em Shawn ... Eu estou sempre lá."

Fechei o caderno rapidamente e olhei em todos os lados, todos daquela sala olhavam atentos a cada movimento que o professor fazia na frente da turma.

 Me levantei da cadeira e fui direto para o banheiro. Me perdi em meus medos e minha  mente só tentava decifrar quem era a pessoa por trás daquele bilhete. Talvez uma brincadeira? Talvez alguém que realmente esteja me seguindo? Entrei para dentro do banheiro e escutei os sinos do intervalo tocarem do lado de fora.

Terminei de ajeitar a maquiagem e saí de dentro dele vendo o tal garoto novo encostado na porta do banheiro masculino, desviei o olhar dele e segui em direção ao refeitório, onde Mayla me esperava sentada sozinha, como estava sendo a dois meses atrás.

- Saiu da sala às pressas, o que foi? - Ela me olhou tentando forçar um riso.

- Ah ... Nada .. Estava com sono e fui jogar uma água no rosto. Só isso. Vou pegar os lanches, já venho. - Disse me levantando e indo em direção à cantina, precisava me destrair com algo que não fosse o maldito bilhete no caderno.

Peguei nossos lanches e ao me virar dei que cara mais uma vez com o garoto novo, que olhava fixamente em meus olhos. Desviei o olhar e me sentei a mesa, imaginando o que aquele garoto queria comigo. Talvez seria ele o maníaco do bilhete? Meus neurônios realmente não estão funcionando direito.

- Vincent está me chamando,  parece que quer ajuda com aquele dever de novo, eu já venho. - Mayla disse levantando da mesa e me deixando ali sozinha.

- Oi! - Vi quando o garoto dos cabelos castanhos se sentou a minha  frente da mesa, onde Mayla estava.

- Você está me seguindo? Está querendo alguma coisa? - Eu o encarei friamente.

- Não... Hum, quer dizer sim. Espera, eu não estou te seguindo. Sr. Genett pediu para que eu te peocurasse. Meu nome é Cameron, Cameron Dallas. - Ele disse completamente embaralhado e estendeu a mão.

- Ah, você é o aluno novo? O que pediram pra eu ser sua babá até se adaptar à nova escola? - Disse rude e ele apenas me olhou. - Desculpa. - bufei. - Vou te apresentar o novo colégio, vem comigo.

Cameron prestava atenção em cada detalhe enquanto eu mostrava toda a extensão do colégio. A biblioteca, a quadra, o laboratório, as salas, os armários e por último, os vestiários.

- Eu não poderia estar entrando aqui, mas vamos logo. Esse é o vestiário masculino, acredito que com seu físico logo estará inscrito em algum dos esportes do colégio. Vários homens pelados fazendo brincadeiras de mal gosto e falando das bundas das garotas do colégio, o vestiário masculino sem dúvidas é a pior parte da escola.

- E aquele armário ali? - Cameron se aproximou do maior armário do vestiário, que agora se destacava por estar pintado de branco, enquanto os outros ainda tinham suas cores azul-marinho enferrujado.

- Não toque nesse armário. - Eu o adverti quando ele ia tentar abri-lo. - Ele pertenceu ao capitão do time, assassinado a dois meses atrás, os jogadores guardam todos os troféus da equipe e as roupas de basquete dele aí dentro, ninguém está permitido a abrir, provavelmente o seu armário vai ser aquele ali, do lado de Matthew, um dos jogadores de Handebol. - Cameron olhava a cada minucioso detalhe do vestiário.

- O intervalo terminou, você já conhece o colégio. Boa sorte novato.

Cameron teve algumas dificuldades com as novas matérias e para meu desprazer fui designada a ajudá- lo até que ele consiga recuperar toda a matéria perdida e consiga nos acompanhar. Uma tarefa difícil, já que Cameron era um garoto tímido e raramente abria a boca para dizer algo.

As aulas finalmente terminaram e pude sair de dentro do colégio, seguindo sozinha em direção à minha casa.

- Ei, posso te dar uma carona? - Cameron sorriu simpático dentro de seu carro.

- Porque quer me dar uma carona? - Eu o olhei sério e logo sorri.

- Você foi legal comigo, quer dizer, a única daquele lugar a ser legal comigo. Acho que te devo uma carona. Posso? - Cameron sorriu e lançou um olhar convincente.

- Tudo bem, mas só hoje. - Eu entrei no carro  deixando que o garoto me levasse até em casa.

No caminho de casa fui surpreendida por um Cameron  diferente do aluno tímido do colégio, o garoto me mostrou um jeito diferente e fez eu me perder em sua risada, que além de simpática era contagiante.

Assim que me despedi de Cameron e vi seu carro virar a esquina, recebi uma ligação e ao desbloquear o celular vi que se tratava de um número desconhecido. Ouvi um ruído forte do outro lado da linha e esperei até que alguém se indentificasse, ouvi mais uma vez um barulho de ruído e a ligação foi encerrada. Senti um frio embrulhar meu estômago e continuei seguindo até a entrada de casa. Depois de subir os três degraus que davam acesso á varanda vi um papel jogado na porta da entrada e ao ler, senti meu corpo se  enrijecer por completo.

"Fez amigos novos? Eu te disse que acompanho cada passo seu. Vai precisar ter mais um sangue jorrando em suas mãos para ver que eu não estou brincando?"