História Dark Hut - Um grande jogo

Ponto de Vista Elisa:

- Bieber? - eu o encarei e notei que o sobrenome me soava estranho, provavelmente ele era um aluno novo. - Preste mais atenção por onde anda, você não é o único que anda no corredor.

O louro nada me respondeu, apenas mediu-me por inteira e virou-se, sem dizer uma única palavra.

Mas que garoto estranho.

Não pude deixar de reparar que o louro tinha uma linda feição, como se ele tivesse sido detalhadamente esculpido e posso arriscar dizer que era até perfeito demais. Os seus cabelos dourados estavam escondidos pelo capuz e seu olhar castanho me transmitiu certo incômodo. 

Voltei rapidamente á sala de aula e tentei esquecer de toda a cena confusa.

[...]

Já havia dado o horário do intervalo, as aulas passavam-se lentamente e Mayla não parava de falar sobre algo que eu realmente não estava interessada em saber.

- Caramba Elisa, você tá me ouvindo? - ela cortou meus pensamentos, parando ao meu lado e cruzando os braços.

Mayla fez uma cara feia.

- Desculpa Mayla, hoje tô com os pensamentos longe.

- Ah, que seja, vamos! O Vincent tá acenando pra gente se sentar na mesa com ele.

Vincent Diaz era um deslumbrante ruivo de sorriso engraçado que fazia parte do time de basquete da escola. Ao contrário de Shawn, Diaz conseguia lidar muito bem com sua popularidade e por isso estava sempre rodeado dos diversos grupos de pessoas. Todas as vezes que nós dois estávamos juntos éramos o centro das atenções, talvez por sermos os únicos ruivos que estudavam nesse colégio.

O intervalo era o mesmo todos os dias. Eu e Mayla nos sentavamos com parte do time de basquete. Vincent Diaz, Milan Kewon,  Josh Cooper e a líder de torcida Alexis Cox, uma linda loira de olhos azuis que estava tendo algo com Milan à algum tempo. Shawn sentava-se do outro lado do refeitório com a outra parte do time, porque apesar de flertarmos em algumas ocasiões, nós nunca nos tornamos próximos o suficiente.

É, eu sei... parece estranho.

Hoje o refeitório estava especialmente barulhento.

Os meninos comentavam euforicamente sobre um jogo importante que aconteceria contra outro time municipal. Toda aquela longa conversa estava entediante, então rapidamente me distraí com o vulto de um garoto misterioso de olhos castanhos que entrou no refeitório, segurando sua bandeja.

Esperei que ele se sentasse com a outra parte do time de basquete, já que tinha um bom físico para isso, mas ele não o fez, ao invés disso sentou-se em uma mesa que estava vazia atrás de Josh, ficando de frente para mim. Ele estáva sozinho na mesa, se alimentava com a cabeça curvada e ao erguer o olhar eu pude reparar bem em seu rosto.

Seu topete louro estava perfeitamente penteado e ele usava roupas pretas e folgadas  no estilo badboy que o deixavam extremamente sexy. Ele tinha um rosto lindo e mantinha o semblante sério com o maxilar travado.

Algo me disse que eu o conhecia de algum lugar e quando olhei com atenção notei que era ele... o louro mal educado do corredor. Quando me dei conta de que eu estava o encarando percebi que ele olhou fixamente em minha direção e nossos olhares se cruzaram.

Senti uma tensão em meus músculos e uma onda de arrepios tomou conta de mim.

Droga, ele deve ter me visto!

Desviei rapidamente o olhar para Josh que ainda falava sobre o jogo de hoje e ao olhar na direção do louro novamente, ele havia sumido. Não havia ninguém sentado à mesa, não haviam vestígios de que alguém estava sentado ali, tudo permanecia devidamente limpo e organizado como a meia hora atrás. 

Devo estar ficando louca!

Alexis e Mayla chamaram minha atenção e acabaram me entrertendo em qualquer outra conversa paralela e o intervalo acabou por ali. Ao voltarmos para a sala de aula ouvimos pelo alto falante que os meninos do basquete hoje participariam de um campeonato e a escola toda seria convocada a estar presente para os prestigiar. Nos dirigimos preguiçosamente para a enorme arquibancada que tinha na quadra e nos sentamos na última fileira de cadeiras,  já que éramos a primeira turma a entrar no campo.

Shawn e os meninos do time estavam no vestiário fazendo os últimos preparativos para entrar em campo, enquanto Alexis e as meninas da torcida esperavam à postos para iniciarem a coreografia quando o juíz assoprasse  o apito que iníciava o jogo.

As turmas entravam na quadra e sentavam-se lentamente nas arquibancadas. De longe pude ver ele, o garoto do capuz entrar no estádio junto à sua turma, porém um pouco atrás, completamente sozinho.

- Posso saber o que você tanto olha? - Mayla me perguntou curiosa, olhando na mesma direção que eu, tentando ver algo.

- Aquele garoto ali... - eu apontei na direção de Justin. - Eu nunca vi ele aqui antes, será que é novo? Parece sozinho.

- Deve ser, eu também nunca vi ele aqui. O Milan estava falando com o Josh sobre ele no intervalo, se tornou vizinho dele à uma semana,  veio de Michigan para a Califórnia faz pouco tempo. - ela disse, o olhando.

- Não deixa de ser estranho... o nosso colégio não aceita alunos novos no meio do semestre. - eu disse, me perguntando o porque de ele ter certa preferência. 

- Pensei nisso também, mas o que importa é que ele é um xuxuzinho e eu já tô cansada dos mesmos garotos de sempre. - Mayla sorriu sapeca e eu a dei um beliscão. 

- Para de ser oferecida garota, o Vincent tá logo ali na frente. 

- O Vincent e eu não temos nada Liz, tu sabe muito bem disso. Sabe também que as chances de acontecer algo entre a gente é bem perto de zero. - ela respondeu cabisbaixa e eu apenas assenti, voltando a atenção no jogo.

Apesar de gostar do ruivo desde os nove anos, Vincent sempre a viu como uma grande amiga. E era isso que ela provavelmente sempre seria...

O jogo foi um sucesso e os meninos ganharam por cinco pontos de diferença. Foi uma grande confusão na hora de retornar a sala, pois todo o colégio estava eufórico.

Todos saímos das arquibancadas em sentido às salas e Bieber caminhava apressadamente à minha frente. Levantei sorrateiramente a ponta dos pés e a cabeça para tentar olha-lo melhor, mas fui empurrada por alunos que vinham apressadamente atrás de mim. Ele não olhou para trás em nenhum momento.

Mudamos o percurso quando ele subiu as escadas para o terceiro andar - onde ficava a sala dele -  e Mayla e eu caminhamos para a nossa, ainda no segundo.

Entre gritos de comemoração e xingamentos estúpidos, os garotos da turma tentavam dizer algo, mas completamente sem sucesso, até que Shawn disse algo que realmente deu pra ouvir.

- Hey! Eu preciso de um minuto de silêncio aqui! - Shawn disse quase gritando para que a sala toda pudesse ouvir.

Todos se calaram, esperando o ancião da turma se pronunciar.

- Quero agradecer à todo mundo que fez isso aqui acontecer, se não fosse pelas campanhas, pelos treinos e pela torcida nós não estaríamos aqui agora. E meninos... - Shawn apontou o dedo indicador para o time. - Vocês são fodas!

Toda a sala gritou e bateu com as mãos nas mesas, estávamos felizes com a vitória.

- Acho que esse isso merece uma  festa! - alguém gritou do fundo da sala.

- Precisamos comemorar, o jogo de hoje foi épico! - um dos meninos do time concordou.

- Que tal hoje na casa do Milan? Os pais dele viajaram para Ohio, só voltam no final de semana. - Josh sugeriu e todos se entreolharam.

Uma festa escondida era arriscado.

- Não sei se isso é uma boa idéia. - Milan respondeu, ainda receioso.

- Qual é, japonês? Para de ser mole. Vai ser uma comemoração leve, são poucas pessoas. - Vincent disse, tentando o convencer e todos os garotos acenaram com a cabeça, concordando.

- Eu não sou japonês, sou coreano, Vincent.

- Ah Milan, tanto faz. É só uma festinha pra comemorar a vitória sobre os Baweers, você  sabe como investimos pesado nesse time. - Shawn disse algo que realmente fazia sentido.

Milan sabia o quanto tinha sido difícil conseguir aquele campeonato e tenho certeza que naquele momento ele se lembrou de todos os acidentes e das duas cirurgias que o campeonato trouxe não só para ele, como para os outros integrantes. Sair do campeonato com a medalha de ouro era quase impossível, mas no final eles conseguiram. 

- Tá, beleza... mas precisa ser algo organizado,  meus pais não podem nem sonhar que essa festa aconteceu.

A galera foi ao delírio e em poucos minutos a festa já estava completamente organizada.

Vincent  sentou-se na cadeira á minha  frente e virou-se para mim. Ele tinha um sorriso encantador,  usava a camisa social do uniforme semi aberta e a gravata completamente desleixada, sua camisa estava pra fora da calça e com o seu jeito, ele se tornava o mais simpático do grupo dos meninos.

- Liz, você e a Mayla precisam ir nessa festa hoje. Vocês vão, né? - ele sorriu animado e eu logo desfiz o sorriso que estava em seu rosto.

- Eu acho que não, Vin. Semana passada mentimos pro meu pai e ele acabou descobrindo, se ele souber que mentimos denovo eu corro o risco de ficar o resto do mês de castigo.

- Mas ele não  precisa saber que você vai à uma festa. - ele deu um sorriso e me lançou uma piscada. - Eu passo na casa da Mayla às sete, diga à ele que vai dormir na casa dela e eu prometo que entrego vocês duas às onze, nenhum minuto à mais.

- Vin, não sei se uma boa idéia. Se o Jessy souber que mentimos pra ele mais uma vez ele não vai mais confiar em mim. - Mayla pronunciou, sentindo-se culpada por eu ter ficado de castigo na última vez que ela resolveu  sair com um garoto e meu pai descobriu tudo.

- Vão amarelar denovo? Por favorzinho, eu levo vocês duas às onze. - Vincent sorriu, insistente.

Desistir daquela maldita festa não era uma opção.

- Ok, então vamos estar em casa às onze e nenhum minuto a mais! - Mayla disse e eu a reprovei com o olhar.

- Fechadinho! - Vincent sorriu.

No fundo eu sabia que aquela era uma péssima idéia.

Outras festas como aquela já aconteceram antes e eu sabia exatamente como acabavam. Mayla sempre bebia mais do que devia - por não aguentar ver Vincent se pegando com várias mulheres - e no fim eu e Alexis tínhamos que cuidar dela, Shawn sempre saia com um olho roxo por causa de alguma briga idiota, Vincent sempre sumia da festa porque estava se pegando com alguma  garota e os meninos do time ficavam chapados demais para nos dar uma carona até em casa. Eu e Alexis sempre dormíamos em casas aleatórias e no dia seguinte eu tinha que elaborar uma gloriosa desculpa pro meu pai não me deixar o resto do mês de castigo.

Era como um roteiro de filme com personagens principais e secundários e eu já conhecia todas as cenas e o enredo final.

Um sexto sentido não queria de forma alguma que eu fosse.

Estava feliz pela conquista dos meninos pois tinha sido um campeonato importante, mas algo dentro de mim realmente não gostaria de ir. Mas, àquela altura eu já não tinha muitas escolhas e Mayla já comentava animada com as outras garotas sobre a festa. Aparentemente eu era a única ali que tinha certeza que muita coisa estava prestes a dar errado.

[...]

Já se passavam das três da tarde. As aulas haviam acabado a algumas horas atrás e Mayla e eu passamos a tarde fazendo alguns preparativos para a tal festa que eu não gostaria de ir.

- Não vejo a hora de chegar sete horas logo. - Mayla disse ansiosa e eu apenas a olhei. 

- Ainda temos que convencer meu pai e arrumar uma desculpa para a sua mãe. 

- Eu disse pra ela que nós vamos sair com as meninas da torcida pra comemorar o jogo de hoje. Por isso vou pedir pro Vin trazer a Alexis junto com ele.

O pior de tudo é que eu sabia que a desculpa esfarrapada daria certo pois quando se trata de Mayla, sempre dá.

- A gente ainda precisa escolher as roupas. - Eu joguei uma calça nela e sorri.

A tarde se passou rapidamente e ouvi Mayla comemorar quando meu pai respondeu a mensagem liberando a minha saída. Ele confiava em Mayla cegamente. Nos arrumamos na casa dela e em questão de poucas horas estávamos devidamente prontas.

Eu optei por um curto vestido preto que deixava á mostra minhas coxas, coloquei uma camisa xadrez vermelha na cintura e o velho Vans preto. Fiz uma maquiagem leve e procurei pelo maior par de argolas que havia na penteadeira.

Mayla vestia um cropped branco, uma mini saia preta, uma jaqueta jeans de lavagem clara e um tênis preto. Sua maquiagem era parecida com a minha, mas ela ressaltava mais seu olhar.

Nós nos entreolhamos, estávamos absurdamente lindas.

- Cara, se eu fosse lésbica eu com certeza te pegaria. - Eu disse, sorrindo para Mayla. - Você tá linda.

- Eu tô sempre linda, garota. - Ela fez um ar de deboche e eu a empurrei. - Até eu me pegaria hoje.

O céu estava sem estrelas e parecia que choveria a qualquer instante.

O relógio marcava sete horas e dezesseis minutos e notamos que Vincent estava novamente atrasado. Quando terminei de ajeitar  o vestido meu celular vibrou com uma mensagem. Era Vin.

"Tô aqui na frente,  podemos ir?".

-  Ele chegou. Vamos? - Mayla assentiu e nós seguimos em direção ao carro de Vincent.

Ao entrar no carro estranhei em não ver Alexis, pois ela viria junto para a mãe de Mayla não desconfiar de nada e por sorte, ela apenas nos ouviu sair e disse um tchau alto. Ela estava na cozinha preparando algo e não pôde vir até nós.

- Espero que estejam preparadas pra hoje! - Vincent sorriu eufórico, me olhando pelo retrovisor.

- Eu só espero que não dê merda. - Eu encarei os olhos dele.

- Relaxa medrosa, não vai. - Vincent piscou pra mim e eu revirei os olhos.

Já havia ouvido aquele mesmo discurso milhares de vezes e eu sabia exatamente como as coisas acabariam.

Vincent aumentou a música e seguimos o caminho em silêncio. Minhas mãos suavam, eu estava nervosa. Algo me dizia para não ir. Eu deveria ter escutado aquele "tuim".

Quando viramos a esquina que chegava na casa de Milan me assustei com o que vi e me arrependi mentalmente por estar ali, naquele lugar.