Ponto de Vista Elisa:
A rua estava cercada por carros que fechavam todo o quarteirão.
Uma música absurdamente alta tocava dentro da casa, garotos embriagados discutiam entre si e bitucas de cigarro e garrafas vazias de cerveja eram jogadas no jardim por um grupinho que assistia a discussão. Em cima de alguns carros haviam meninas que dançavam descontroladamente enquanto fumavam maconha e viravam garrafas de vodka. Havia vômito espalhado pelo jardim de entrada e dois garotos desacordados ao lado.
Aquilo estava um verdadeiro cenário de horror.
Quando saímos do carro segurei a mão de Mayla.
- Puta merda! A festa não ia ser só uma social pra poucas pessoas? - eu revirei os olhos, lembrando do discurso que ouvi mais cedo.
- Se os nossos pais sonharem com isso aqui nós duas estamos muito fodidas.
- É, eu sei. - Vincent sorriu pra nós. - Mas eles não vão, relaxem.
- Não bebe muito e vê se não me faz passar vergonha. - eu encarei Mayla.
- Você sabe que eu não vou. - a filha da puta deu um sorriso de deboche.
Ok, Mayla com certeza iria dar um pt e eu estava fodida.
- Porra, até que enfim! Achei que não vinham mais. - Milan saiu de dentro da casa, nos recepcionando no meio do jardim cheio de vômito.
- A culpa é do Vin, ele que atrasou.
- O atraso é o charme. - Vincent sorriu, abraçando Milan e cumprimentando ele com um aperto estranho de mãos.
- Eu juro que lá dentro tá um pouco melhor. - Milan fez uma cara de nojo apontando para o vômito do jardim e nos cumprimentou com um beijo estalado nas bochechas.
A casa estava um verdadeiro caos.
Copos e bebidas estavam espalhados pelo chão, garotas dançavam em cima das mesas de jantar e um grupo de garotos consumia algo que era rapidamente escondido quando nos aproximavamos.
Tinha um globo de luzes que estava centralizado na sala de estar e fazia minha cabeça rodar em conjunto com a música alta.
Josh e os meninos do basquete se escoravam no corrimão da grande escada que dava acesso ao segundo andar e conversavam sobre algo aparentemente engraçado. Do outro lado da sala havia uma garota desacordada que dormia na poltrona bege que ficava embaixo de uma janela, ela estava coberta por algumas blusas de frio e parecia ter consumido todo tipo de álcool que tinha naquele lugar.
- Preciso tomar alguma coisa, senão logo vou sair correndo daqui.
- Logo você acostuma com o cheiro, tem cerveja ali na geladeira. - ouvi um garoto moreno que estava próximo à nós dizer.
- Ah, obrigada. - eu sorri gentilmente e o garoto me lançou uma piscada.
- Você só vai ficar no zero à zero hoje se você quiser, sua tonta. - Mayla me cutucou e eu fiz sinal para ela ficar quieta.
Na cozinha, Shawn se atracava com uma garota ao lado da geladeira e ao me avistar, intensificou o beijo.
- Às vezes da vontade de atrapalhar o beijo só pra perguntar qual a necessidade.
- Paga de superado mas chora agarrado no travesseiro à noite. - Mayla sussurrou de volta e nós rimos.
Peguei uma garrafa de cerveja para cada uma de nós na geladeira e voltamos para a sala de estar.
Encostado á enorme porta de entrada estava Vincent, com as mãos na cintura de uma bela morena. Ele nos avistou e logo veio em nossa direção sorrindo.
- Meninas, essa aqui é a Hellen. - ele disse com um largo sorriso nos lábios e Mayla se engasgou com a bebida que estava em sua boca.
- Oi! Todo mundo me chama de Liz e essa é a Mayla. - a garota sorriu levemente.
- É um prazer, o Vincent fala muito de vocês.
Hellen nos lançou leve sorriso e logo tratou de tirar Vincent de perto de nós. Ela com certeza percebeu a forma como Mayla o olhava.
- Eu não gostei nadinha dela. - Mayla sussurrou enquanto olhava a menina subir as escadas ao lado de Vincent.
- O nome disso é dor de cotovelo. - Eu disse rindo e ela não me respondeu.
Em resposta ao ciúmes, Mayla sentou-se em meio à enorme roda que os meninos fizeram para "o jogo da vodka" e começou a jogar.
Eu sabia exatamente como seria o fim. Com Alexis de castigo e sem poder vir à festa eu tinha a perfeita noção de que dessa vez cuidaria de Mayla completamente sozinha.
Josh veio me fazer companhia, mas alguns minutos depois subiu para o quarto com uma das meninas que dançavam sobre a mesa.
- Quer uma? - ouvi alguém falar comigo e me virei.
Shawn Mendes estava com uma garrafa de cerveja estendida, enquanto sorria.
Segurei a cerveja na ponta dos dedos e dei um gole. Shawn mantinha os olhos fixos em mim.
- Tá sozinha porque? - ele quebrou o silêncio.
- Porque como sempre a Mayla encheu a cara. - eu forcei um sorriso, como se aquilo fosse engraçado.
- Por causa do ruivo, né? - Shawn sugeriu e eu acenei positivamente com a cabeça.
- Parece que todo o universo percebe, menos ele. - eu dei de ombros.
- Às vezes as coisas estão debaixo do nosso nariz e a gente não vê. Já pensou nisso?
Eu gargalhei.
- Nem vem com esse papinho fuleiro, Mendes. - eu revirei os olhos e beberiquei a cerveja.
- Mas eu não tô brincando e você sabe que eu tenho razão. A gente se dá bem, todo mundo vê isso menos você. - ele arqueou a sobrancelha, tentando demostrar razão.
- Nós dois mais do que ninguém sabe que a gente não se dá bem. Ou você já esqueceu? - eu sussurei a última parte no ouvido dele, pois eu e Shawn sabíamos que aquele era um segredo que só pertencia à nós dois.
- Eu nunca vou esquecer daquele nosso beijo, Liz. - Shawn sussurou de volta.
- É bom não esquecer mesmo, porque aquilo nunca mais vai acontecer.
Shawn sorriu. Ele sabia que eu estava blefando.
Eu devolvi a cerveja para o moreno e sai dali, sendo invadida por lembranças ruins da última vez que Shawn e eu ficamos tão próximos assim.
A primeira e única vez que isso aconteceu foi a cerca de dois anos atrás e absolutamente ninguém - além de nós dois - sabia disso.
Nós dois nunca fomos extremamente íntimos, mas naquele dia eu senti a química surreal que formava quando nossos corpos estavam próximos.
Shawn e eu nos beijamos durante o baile de Primavera e aquele foi um dos melhores beijos da minha vida, até descobrir que aquilo era fruto de uma aposta que Shawn e alguns meninos tinham feito pra descobrir quem beijava a novata ruiva primeiro.
Aquilo acabou comigo porque no fundo eu estava realmente gostando do moreno.
Shawn nunca contou aos meninos que nós dois nos beijamos, mas ainda assim eu nunca mais consegui confiar nele denovo.
Eu sentia coisas incríveis quando estava com ele, mas aquela maldita aposta matou as borboletas do meu estômago.
Depois disso nós nunca mais conversamos sobre isso e nunca mais ficamos no mesmo lugar por muito tempo. Eu tenho medo de como meu corpo reage quando está muito próximo dele, então prefiro evitar.
Shawn seguiu tentando me conquistar depois daquele beijo, mas eu nunca mais confiei naqueles olhos castanhos denovo e talvez seja melhor assim. Não adianta ter química onde não existe confiança.
Me desvencilhei dos meus pensamentos quando dois garotos bêbados passaram dançando por mim.
A música alta e o globo de luzes faziam minha cabeça querer explodir.
Mayla já tinha passado dos limites e agora dormia na poltrona, ao lado de mais duas garotas que estavam desacordadas.
A casa estava repulsiva e uma das garotas vomitava pela terceira vez seguida. Garrafas e cigarros estavam por todo o chão e mais três garotos desacordados ocupavam o tapete da sala de estar.
Milan e todo o resto dos meninos estavam embriagados, a não ser por Josh que estava no quarto com uma garota e Vincent, que havia saído com Hellen.
As bitucas de cigarros estavam espalhadas por toda a cozinha e, perto de onde o pequeno grupo de meninos estavam havia uma grande quantidade de cápsulas estavam esparramadas pelo chão.
Era repugnante o cheiro daquele lugar.
Me sentei no último degrau das escadas que davam acesso à entrada da casa, na esperança de encontrar uma solução.
Minha amiga estava alcoolizada, Alexis não estava presente, eu não tinha dinheiro pra ir embora, tinha sido esquecida por minha carona - que a essa hora se pegava com uma garota em algum lugar - e agora, uma forte chuva caía, molhando todo meu corpo e fazendo eu me odiar por estar ali.
Já estava perto das onze horas e Vincent ainda não havia retornado, em breve Diana ficaria preocupada e ligaria para meu pai, que descobriria tudo e me deixaria o resto do mês de castigo. Mayla não tinha condições de andar e nenhum dos garotos de dirigir, eu não tinha como voltar para casa e comecei a chorar pensando em todas as conseqüências que a maldita festa havia me causado.
Entre meus pensamentos, senti o olhar de alguém sobre mim e olhei para a casa ao lado.
Era uma pequena cabana velha e parecia estar abandonada. Ela era um pouco afastada da casa de Milan e as árvores grandes e os galhos cobriam parte da fachada. Duas luzes estavam acesas e quando olhei para a janela pude ver a sombra de alguém ali parado em pé, me observando.
Senti uma onda de adrenalina aumentar meus batimentos cardíacos e uma sensação de medo dominar meu corpo, um frio na barriga se instalou e rapidamente meu olhar foi desviado para a chuva que caía no chão, dessa vez com menas intensidade.
Minha curiosidade foi maior que o pavor que senti e ao direcionar meu olhar novamente à cabana vi que suas luzes tinham se apagado.
Peguei o celular que estava dentro da saia de Mayla e disquei o número do Noah. Eu tinha certeza que ele me obrigaria a lavar a louça pelo resto do mês, mas naquele momento eu só queria sair daquele lugar.
Eu digitei o número dele e iniciei a chamada de voz.
Me atende, Noah... por favor.
Eu sussurei, como se aquilo fosse adiantar alguma coisa. Ele não atendeu e a ligação caiu na caixa postal.
Um único pontinho de sinal estava funcionando e sumiu logo depois que a mensagem avisando Diana que chegaríamos atrasadas, foi enviada.
Inferno!
A garoa havia diminuído e eu resolvi andar até onde meu celular obtivesse sinal. Por sorte - ou azar - a rua escura estava deserta e eu era a única pessoa que andava ali àquela hora.
Meu vestido estava encharcado e um vento forte soprava contra meu corpo, me fazendo ranger os dentes de frio. O sinal ainda não havia voltado e eu não fazia idéia para onde estava indo. Minha maquiagem se desfez por completa e meu rosto estava completamente manchado, o celular não funcionava e em um ato de desespero me sentei na calçada e comecei a chorar.
Alguns minutos depois uma grande caminhonete parou na minha frente. Ela vinha de um cruzamento de duas ruas e não pude ver seu condutor pelos faróis extremamente fortes que penetravam meus olhos.
Um homem saiu de dentro dela e me estendeu a mão. Me mantive imóvel por alguns segundos, até o homem se abaixar e ser possível eu ver seu rosto. Eu o reconheci imediatamente.
Era Justin Bieber, o louro gato do colégio.
Mas que diabos ele fazia aqui?
- Precisa de ajuda? Eu acho que conheço você. - Ele me lançou um sorriso simpático.
- É, eu acho que sim. - eu disse, limpando os olhos e tentando disfarçar o choro.
- O que aconteceu? - o garoto sentou- se ao meu lado.
- Uma festa que deu muito errado. - dei um riso forçado. - Andei até aqui pra achar sinal e ligar pro meu irmão. Preciso ir pra casa.
- Você andou bastante até aqui... Eu tô indo agora para casa, você pode ligar para ele de lá se você quiser. Além disso tá fazendo um puta frio aqui e acho que você pegou uma chuva forte. - Justin sorriu, tirando a jaqueta e colocando em volta dos meus ombros.
Por algum motivo Justin me passava certa segurança. Ele tinha sido o primeiro naquela noite que tinha se preocupado comigo e como eu estava.
Entrei na caminhonete do louro e seguimos caminho para sua casa.
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