Narrador:
Os batimentos de ambos batiam acelerados, enquanto a ruiva, parada em frente á porta, tentava raciocinar algo para dizer. Os olhares não se encontraram e ela se rendeu ao choro, quando não alcançou palavras que demonstrassem o que ela estava sentindo naquele momento.
Elisa era uma garota forte. Era o que ela tentava demonstrar, na maior parte do tempo.
Talvez ela soubesse que naquelas circunstâncias, era impossível manter-se forte, como gostaria.
Sua juventude havia escapado de suas mãos desde que conheceu Bieber, o loiro tatuado que permanecia deitado sobre a cama, encarando atentamente seus olhos.
Por um instante a mente da garota fez-se um grande labirinto e ela se questionava à que altura do campeonato acreditou que tudo aquilo daria certo. Talvez foi quando ela se perdeu na infindável mente de Justin e de suas incontáveis probabilidades. Ou talvez, foi quando se deparou com a atmosfera de olhos castanhos e acreditou ser capaz de encontrar a paz ali.
De certo, nem mesmo a pobre menina assustada, sabia.
Agora estava grávida, aos dezoito anos, sem quaisquer circunstâncias de cuidar de uma criança. Seu medo pairava sobre o ar, assim como a angústia do futuro incerto e o pequeno ponto de felicidade, por estar esperando um filho do primeiro e único homem que foi capaz de amar, em toda sua vida. Seus batimentos estavam acelerados e suas pupilas dilatadas ainda estavam focadas nos olhos caramelos do loiro, á sua frente.
O nó na garganta e o desespero já haviam encontrado a pequena ruiva, mas ela se rendeu ao choro quando sentiu os braços fortes de Justin, a envolver. Ali ela encontrou o consolo e por um momento, acreditou que tudo daria certo, mesmo que no fundo, ela ainda tivesse dúvidas sobre tal.
- Justin... - Ela chamou seu nome, mas não foi capaz de concluir a frase, pois suas lágrimas a embargaram antes.
- Eu sei, é difícil... - O loiro a abraçou, apertando forte a ruiva contra seu corpo. - Mas eu vou estar aqui com você e eu prometo que tudo vai ser mais fácil. Eu vou ter um filho, Liz. Eu estou tão feliz com isso! É a melhor notícia que eu poderia receber!
A mente de Justin dava piruetas pelo ar, enquanto seus lábios tentavam á todo custo apenas passar a segurança para a jovem garota que o apertava forte, quase sugando todo seu ar.
Ele estava inseguro, ainda não assimilara a notícia por completa, mas de certa forma, seu coração se mantinha calmo, pela esperança de finalmente ter uma segunda chance.
A êxtase de pensar em um futuro, dilacerava a frequência das batidas do seu coração e fazia sua respiração oscilar, com o sentimento de ter que ser forte e corajoso por si, e mais duas vidas.
Ele podia sentir os hormônios da ocitocina e da dopamina percorrer suas veias e, aos poucos, aquecer seu coração que por anos se manteve tão rígido e indiferente. Aqueles famosos hormônios da felicidade estavam sobre ele, algo tão novo para si, mas que no mesmo instante, ele soube que gostaria de tê-los em seu corpo, pelo resto de seus dias.
Agora seria ele, Elisa e seu filho, construindo aos poucos, a imagem de família que nunca lhe apresentaram e nunca o deixaram realmente usufruir.
O destino enfim estava o abençoando, e permitindo que ele vivesse o que lhe foi tirado a muitos anos atrás.
Um filho? Que presente genial!
O garoto loiro de olhos castanhos nunca se imaginou nessa situação. Sempre brincou não conseguir cuidar de si mesmo, quem dirá de uma esposa e um filho. Mas a vontade de ser feliz e superar estava além de tudo, e ele sabia que a promessa que fizera, era verdadeira.
- Eu vou cuidar de vocês até o último dia da minha vida.
Elisa o olhou por baixo, enxugando as lágrimas cristalinas com o polegar.
Aquilo era um incentivo e ele, não deixaria passar despercebido. Justin estava recebendo uma segunda chance e ele sabia disso. Chance de ter uma primeira infância, de se aventurar, de brincar, de ser feliz. A chance de conhecer o amor, de ensinar, e principalmente, de aprender. Por mais que Justin não soubesse disso, seu filho viria muito mais para lhe ensinar, do que qualquer outra coisa.
Um curso intensivo de como amar verdadeiramente alguém, além de si mesmo.
A felicidade estava alojada em seu peito e por um momento ele pôde sentir isso. O medo estava presente, de certa forma, mas a convicção de um futuro promissor estava muito mais instalada na mente de Bieber, do que qualquer outra coisa.
A garota ruiva, aconchegada pelos braços do loiro estava com a incerteza na mente, mas pouco a pouco, Justin a ajudaria a enxergar os fatores bons de tudo aquilo e o resto, o tempo daria um jeito de organizar.
Aquele pequeno ser, era uma benção e durante os anos que passou em clínicas psiquiátricas, Justin aprendeu que as bênçãos deveriam ser apreciadas, afinal, não era todo dia que ele recebia uma dádiva como aquela.
Ambos sabiam que uma criança mudaria muito as coisas em suas vidas, talvez, não imaginavam o quanto.
Ponto de Vista Elisa:
- Eu já te disse os motivos de tudo isso, não vou entrar em nenhum complô inimigo, e revelar tudo de sombrio que você esconde. - O riso irônico de Justin ecoou em meio ao quarto vazio. - Você é meu irmão, tá legal? Sabe que pode contar comigo sempre, mas eu estou fora. Você pode levar as identidades falsas no apartamento, fico no aguardo. - Justin se manteu por alguns segundos em silêncio e logo pude ouvir a despedida breve.
Eu estava sentada sobre a cama, terminando de passar a fita adesiva na última caixa de papelão.
- E então? - Me manti curvada, guardando algumas roupas dentro de uma mala, enquanto senti o corpo de Justin afundar o colchão.
- Já era, estou fora. - Ele deu um suspiro pesado. - Eu nem acredito que o Ryan aceitou tão bem. - Senti seus lábios tocarem minhas costas em um beijo carinhoso. Eu encontrei seus olhos, sorrindo para ele.
- Acho que mais alguém ficou feliz. Oh, céus, como isso dói. - Eu sorri, fazendo uma careta em seguida.
Mesmo com tão pouco tempo de vida, eu podia presumir o quanto esse bebê seria espaçoso. Seus cinco meses de vida já eram o suficiente para dar chutes frequentes, indicando que sua pequena toca, aos poucos estava ficando mais apertada. Seus primeiros chutes começaram a pouco tempo e desde então, ele se movimenta constantemente.
Aos cinco meses de gestação, o ar já começa a me faltar em atividades simples e a fome acabou se tornando uma constante companheira.
Vivendo em uma situação como a minha, tenho sorte em ter aprendido algo sobre obstetrícia no curso de enfermagem, assim tenho autonomia de administrar as dosagens exatas de vitaminas para que o bebê tenha um desenvolvimento saudável, mas nós sabemos que as coisas não podem ser dessa forma durante muito tempo.
O coração do meu bebê bate, eu posso sentir isso, mas nunca ouvimos seus batimentos cardíacos pelo computador e nunca consegui vê-lo, mesmo que ele seja apenas um borrão, manchando o monitor. Seu sexo ainda é um mistério, mas Justin afirma ter certeza ser um menino, pelo simples formato da minha barriga. E que barriga, eu diria.
Ela têm se tornado tão grande nos últimos meses que eu me sinto três vezes maior que o meu peso, ao ter que caminhar. O cansaço está mais presente e as alterações de humor, também. Justin tem sido paciente comigo, dia após dia, mas tenho medo de isso uma hora, cessar.
As vezes o quero longe, tão longe que ele poderia ficar semanas sem aparecer no quarto e eu não sentiria sua falta. Mas as vezes eu o quero tão perto, que mesmo quando ele está tentando tomar um banho relaxante, eu tento chamar sua atenção para que ele retorne logo.
É insuportável, mas é maior do que eu.
- E essa aqui? - Justin me tirou de meus delírios, apontando para um saco preto, perto do guarda-roupa.
- Esses são todos os medicamentos. Os meus, os seus e os do bebê. Tudo está aí. - Eu sorri de forma gentil, terminando de passar a fita isolante no restante das caixas.
Depois de mais de um mês de conversa, Justin finalmente me convenceu que seria melhor nos mudarmos para um apartamento alugado, no centro da cidade. Toda essa idéia de mudança e de respirar novos ambientes me assustavam de certa forma, mas no fundo, eu sabia que era a melhor opção no momento.
Eu estava tão ocupada com toda a notícia da gestação e com tanta coisa nova que estava acontecendo, que eu havia me esquecido que esperávamos uma criança e ela não poderia ser criada como um animal, presa em um quarto de hotel.
O medo me rodiava todas as vezes que minha memória me alertava de que Justin era procurado em vários estados, e eu não podia cuidar de uma criança sozinha, caso ele fosse preso. Eu gostaria de manter as coisas exatamente como elas estavam, mas a situação me forçava a encontrar novas soluções.
Durante três vezes, Justin cogitou a idéia de retornar à Califórnia, ou pelo menos comunicar á minha família de que eu estava viva e estávamos levando uma vida normal, em outro estado. Eu cogitei, mas eu jamais teria a audácia de fazer isso.
"A sequestrada Elisa Mayer volta para casa, após um ano e meio de buscas e se encontra grávida e casada com seu sequestrador."
Não. Com certeza não.
Eu não faria a minha família passar por um constrangimento nacional, em consequência de uma escolha unicamente minha. Talvez algum dia eu tenha a valentia de voltar e tentar explicar tudo o que aconteceu, mas isso não seria agora, grávida e fragilizada como estou. Oh, não!
Minha mente estava tão equilibrada com a minha decisão, que meu peito estava em êxtase em imaginar como seria ver o rosto do meu filho pela primeira vez, me consultando com um profissional. Acompanhar cada desenvolvimento dele e cada estágio de sua vida no útero.
Sabíamos que era arriscado, tudo podia levar Justin de volta às celas, mas em algum momento, nós teríamos que arriscar algo e sem dúvidas, isso não seria a vida do nosso filho. [...]
- Ah Justin! Eu não acredito, isso não pode ser verdade! - Eu sorri, sentindo os braços de Justin me levantarem do chão, me girando delicadamente. - Oh céus, isso aqui é incrível! - Eu segurei a barriga, em um instinto.
- É lindo, não é? - Justin sorriu, apontando com as mãos o lindo apartamento de dois andares, que ele havia alugado.
- Como você vai pagar isso todo o mês? - Eu indaguei, passando a ponta dos dedos na mobília que exalava um cheiro suave de baunilha e orquídeas.
- Um assalto à banco rende muito dinheiro. - Ele gargalhou, mas pude sentir a verdade instalada em suas palavras. - Nós vamos ficar aqui até o bebê nascer e depois vamos atrás de comprar uma casa, com um quintal gigante e um campo de futebol.
- Você precisa ter paciência para ensinar futebol a uma menina, Bieber. - Eu lhe lancei um olhar desafiador, deixando no ar o meu palpite quanto ao sexo do bebê.
- Vai sonhando, Mayer. - Justin sorriu, puxando minha mão para conhecer o dúplex luxuoso.
O lugar contava com cinco cômodos, além da área gourmet, instalada ao lado da cozinha. Dois quartos amplos e com suítes faziam parte do andar de cima, além do banheiro do corredor, para as visitas que provavelmente nunca teríamos.
Na parte de baixo, uma sala de jantar, uma de estar e a cozinha, faziam o lugar ficar maravilhosamente lindo e bem aproveitado.
Era encantador e por alguns minutos eu imaginei estar vivendo um sonho de princesa, daqueles que a gente acorda no meio da noite e daria tudo para voltar a sonhar.
- É Bieber, você sabe bem como escolher um lindo apartamento. - Eu me sentei no sofá, observando Justin fazer o mesmo.
- Eu sei. - Justin sorriu, fazendo um ar divertido de convencido, mas logo ficou sério e continuou a falar. - Queria conversar sobre algo com você. - Ele me olhou e eu fiz um sinal para que ele continuasse. - Eu sinto que tudo finalmente está caminhando, eu tenho tomado todos os remédios e com o tempo eu passei a acreditar que eu realmente poderia mudar. Acontece que algo me incomoda em tudo isso ...
- E o que é? - Eu senti sua respiração pesar.
- O meu sobrenome. - Eu fiz uma expressão confusa, esperando Justin me dar alguma resposta. - Quer dizer, eu já fiz muitas coisas cruéis, você sabe disso. E desde que tudo isso começou, eu assino como Justin Bieber. Nas ameaças de morte, nas fotos das vítimas, nas entradas das clínicas psiquiátricas. Eu não quero mais me lembrar de nada disso e nem ser chamado dessa forma, meu nome do meio é Drew e confesso que eu o sinto mais puro do que todo o resto. Nunca assinei sequer um homicídio com ele e não quero assinar mais nenhum.
- Drew? - Eu pronunciei, apreciando a sonoridade do nome. - Eu gosto disso, Drew. - O loiro sorriu, acariciando minha barriga. [...]
Eu podia ouvir o som dos jornalistas discutindo entre si, enquanto o sono lentamente me embargava. As vozes que eram emitidas pela televisão de plasma aos poucos tornavam-se mais distantes, enquanto eu podia sentir minhas pálpebras ganharem o peso de toneladas. Eu estava deitada no colo de Justin, enquanto o mesmo encontrava-se escorado sobre o sofá de couro bege. A mudança havia sido cansativa e nós dormimos ali mesmo, enquanto assistiamos um pequeno pedaço do jornal da madrugada.
O relógio digital ao lado da televisão, marcava ser uma hora e trinta minutos de um novo dia.
Uma brisa de inverno entrava pela fresta da janela, fazendo eu bater meus dentes uns com os outros, pelo frio. A madrugada era congelante e á essa altura, o bebê já havia despertado dentro do útero, me fazendo gemer de dor após acertar um chute em minhas costelas.
A insônia aos poucos me rondou e eu me rendi a um chá de camomila, um calmante faria bem á essa ferinha que por dias não me permite dormir.
Caminhei lentamente até a cozinha, cantarolando baixo uma música de uma banda irlandêsa que meu pai costumava ouvir. Aquele som fez parte de toda a minha infância. Acariciando a parte alta da barriga, eu caminhei até o armário bege, procurando com os olhos a camomila que Drew comprou hoje mais cedo, durante a tarde. Era rotineiro os chutes e a insônia durante a madrugada e esse era a melhor forma de apaziguar as coisas por aqui. Depois de encontrar o sachê, depositei sobre a xícara com água enfervecente e esperei o efeito acontecer, pacientemente.
Estiquei um pouco a cabeça e pude ver Justin dormindo, ainda na mesma posição no sofá. Logo me lembrei de algo. Justin não havia saído da sala desde que nos mudamos e seu coquetel estava ali, ao lado da caixinha de chá. Isso já se faziam três dias.
Abri com cautela o envelope de comprimidos e por um instante, me arrependi amargamente de mexer ali. A cartela estava intacta, da mesma forma de quando Justin e eu a compramos na farmácia, a uma semana atrás. Aquilo estava ali a dias, e Justin não havia tomado sequer um único comprimido. Drew estava burlando os medicamentos e por um momento, meus instintos não foram os melhores.
Ele deveria continuar o tratamento, ele sabia disso.
Segurei a xícara de chá nas mãos e caminhei lentamente até o quarto, pensando na conversa que teria com Drew, no dia seguinte.
O sol mal havia erradiado no lado de fora e eu já podia ouvir o barulho que ecoava do banheiro, ao lado do quarto. Eu chamei seu nome por algumas vezes, mas acredito não ter sido ouvida, já que Justin não se pronunciou.
Já faziam dois dias que ele parecia não se importar muito com que eu falava, me ignorando na maioria das vezes.
Eu me sentei na cama, ainda encarando o teto e permitindo que minha mente se livrasse do cansaço, ocasionado pela longa noite mal dormida.
- Você vai sair? - Eu perguntei, assim que Justin entrou no quarto.
Ele vestia uma calça jeans e uma blusa de moletom, duas vezes o seu tamanho. Seus pés calçavam um tênis neutro e seu cabelo estava sarcasticamente bagunçado, como ele nunca gostava de usar.
Sua expressão estava diferente, irreconhecível, eu poderia dizer.
Eu fiquei tanto tempo com Justin sendo uma pessoa normal, que me desacostumei em vê-lo dessa forma. Estava frio, sério e sombrio. Aquele antigo Bieber de um ano atrás.
Seus olhos foram direcionados até os meus e senti seu olhar pesar. Como algo ruim. Justin estava nervoso com algo, disso eu sabia.
- Você não vai me responder? - Eu fiz força para me levantar, me apoiando no criado-mudo ao lado da cama. As dores nas costas eram as piores e o peso da barriga, só piorava tudo.
- Pra que você quer saber, hun? - Justin não olhou em meus olhos, apenas continuou guardando algumas notas dentro de uma mochila.
- Eu preciso conversar com você, Justin. - Eu disse séria, mas ouvi o riso cínico ecoar em meus ouvidos.
- Eu não tenho tempo para seus dramas, nem pra matar os desejos de uma grávida, sedenta por sexo. Tenho negócios pra resolver, me dá licença.
Justin pronunciou ríspido, me fazendo levar alguns segundos até raciocinar todas as suas palavras. Eu mal podia acreditar que elas haviam realmente saído da boca dele, o mesmo Justin que a uma semana atrás, me trouxe cinco caixas de chocolate, pelo simples fato de eu ter desejo de comer um bombom.
Não era o mesmo.
Eu fiquei inerte, esperando Justin voltar, dar um beijo em minha testa e dizer que foi tudo uma brincadeira. Mas ele não o fez. Meus neurônios só foram capazes de entender o que havia acontecido, quando meus ouvidos captaram o som da porta se fechando e logo, as trancas sendo fechadas.
Sentei na cama, ainda tentando entender tudo aquilo. Justin havia de fato mudado, eu sabia disso. Aquele era o sexto mês desde que tudo voltou ao normal, ou pelo menos era o que eu acreditava.
Justin não podia desistir do tratamento, ou regredir. Não agora, não á essa altura do campeonato, com um filho de cinco meses e uma esposa para cuidar.
Eu chorei, com as mãos na barriga, eu deixei transparecer toda a minha dor e mesmo tentando não enviar a tristeza ao meu filho, eu acredito que não tenha dado certo, já que aquela era a primeira vez que o pequeno não dava piruetas dentro do útero, durante a manhã.
Ponto de Vista Justin:
Eu podia sentir a adrenalina dominar meu corpo, enquanto injetava a terceira dose de heroína na veia. Aquilo não era bom, mas era melhor do que as sensações que tem feito parte de mim nos últimos dias.
Eu me sentia tão inerte e impotente em meio à tudo aquilo.
Era uma viagem sem volta e logo, eu adormeci, sentindo a droga fazer parte da minha corrente sanguínea. [...]
Eu sentia marteladas em minha cabeça, enquanto sentia aos poucos, meus sentidos retornarem. Eu abri lentamente os olhos, sendo capaz de localizar onde eu estava. O mesmo lugar de horas atrás. Um barraco de madeira ultilizado para o consumo de drogas, em um subúrbio de Michigan.
Enquanto observava as pessoas se drogarem, eu ouvia vozes. Vozes tão estridentes que me faziam bater a cabeça contra a parede por algumas vezes, na esperança de me ver livre delas.
Eu me sentia tão culpado e tão incompetente que a única coisa que eu queria fazer, era ficar longe de Elisa. Elas retornaram a cerca de duas semanas atrás, me fazendo revirar os olhos pela dor de cabeça que me causavam. Desde então, eu tenho tentado esconder de Elisa, não queria que ela acreditasse que sou um caso perdido e desistisse de mim.
Eu tenho tentado por tanto tempo, mas cada dia que passa, eu me sinto mais fraco.
Eu abandonei os comprimidos a cerca de uma semana atrás, depois que notei que eles já não faziam mais o efeito que deveriam fazer. A compulsão por sangue voltou e eu tenho tentado tirar esses pensamentos da minha mente, caminhando no parque durante a madrugada, quando a ruiva está dormindo.
Os remédios não estão mais me ajudando e sozinho, eu não estou sendo capaz de manter-me são. Eu sei que mudei, no fundo eu sinto isso, mas minha mente ainda se nega a aceitar. Meus demônios se negam a me abandonarem.
Eu sinto suas vozes ecoando em meu subconsciente.
Sinto cada um deles falando comigo quando seguro uma faca nas mãos, ou quando vejo a oportunidade de ferir alguém. Eu não posso fazer isso denovo, ou vou regredir instantaneamente tudo o que eu conquistei em tantos meses.
Eu preciso de ajuda, preciso de uma clínica, de alguém que possa fazer algo por mim.
Se drogar e ignorar Elisa tem sido a forma mais eficaz - embora a mais difícil - de mantê-la longe de mim, eu não posso deixar que meus demônios a machuquem, eu nunca me perdoaria por isso.
A dor de cabeça passou a se tornar mais intensa e eu deitei no papelão jogado no chão. A sensação era de que meus neurônios explodiriam, a qualquer instante. Eu ouvi vozes e um flashback passou em minha mente, eu lembrei de tanta coisa.
Tantos rostos, tantas vidas, tanto sangue e pedidos de ajuda.
A adrenalina percorreu o meu corpo e por um momento eu sentia que estava acontecendo, eu não tinha mais controle do meu corpo.
Eu estava dominado, novamente eu caí, e dessa vez, eu não sabia se seria possível me reerguer. [...]
Ponto de Vista Elisa:
O dia caminhava lentamente, enquanto eu mantinha os olhos fixos na porta, esperando Justin passar por ela.
O pôr do sol já havia sumido, apontando que a noite já havia chegado. Justin passou o dia todo fora, o que me deixava preocupada, ele nunca havia feito algo assim.
Talvez pelo nervosismo e pelo estresse, durante todo o dia os sintomas da gestação estiveram comigo e grande parte do meu dia foi passado no banheiro, ao lado do vaso sanitário.
Eu estava fraca e cansada, o dia não havia sido fácil.
Escuto a maçaneta girar e olho atentamente para a porta, esperando Justin passar por ela.
Meus olhos se arregalaram e eu senti o enjoo me percorrer quando o vi, com parte das roupas rasgadas e sujas de sangue. Havia muito sangue ali.
As veias de seu braço estavam roxas e o olhar sério, porém abatido, denunciavam que Justin não havia dormido por um longe período.
- O que aconteceu com você? - Eu me aproximei dele, mas o loiro colocou as mãos na frente, me impedindo de toca-lo.
Se morassemos próximo a uma floresta, eu diria claramente que Justin foi brutalmente atacado por animais selvagens e depois, lutou contra alguns zumbis. Seu jeito de andar demonstrava que ele podia ter sido atacado por um deles, já que andava exatamente como tal. Essa história poderia ser verídica, seria melhor crer nisso, do que confessar que Justin estava se drogando em algum lugar.
Seus braços estavam arranhandos e de alguns cortes saíam faíscas de sangue. O olhar frio de Justin me fez estremecer e lentamente ele subiu as escadas, ignorando minha presença ali.
- Você vai me contar o que aconteceu, agora! Justin, você passou o dia todo fora e chegou assim, não me deu sequer uma explicação e ainda não me permite chegar perto de você?
Justin não me respondeu, apenas subiu as escadas, sendo seguido por mim.
- Me responde, Bieber! - Eu gritei, chamando sua atenção para mim, quando ele entrou no quarto.
Justin virou-se rapidamente, me fuzilando com os olhos. Ele nunca aceitou que gritassem com ele, mas naquele momento, eu não tinha muitas opções.
- Não ouse gritar novamente comigo, você entendeu? - Justin prensou-me na parede gelada do cômodo, segurando firme meu pescoço, com as mãos. Ele estava sugando todo o meu ar, enquanto meus braços se debatiam contra ele. - Você é uma vadia que não serve nem pra gritar. Você é uma piada, Elisa. - Justin gargalhou quando eu tentei dizer algo sem sucesso, pelo ar que suas mãos estavam me tirando.
Sem muitas opções, eu chutei suas pernas, vendo seus olhos tomarem um tom avermelhado, que fez o medo percorrer cada veia do meu corpo. Justin se irritou com meu chute, jogando-me ao chão, pelos cabelos.
Seus olhos avermelhados estavam sobre mim, enquanto ele se aproximava. Ainda no chão, eu me arrastava para trás, tentando de alguma forma, me proteger.
Aquele não era ele.
- Eu devia ter matado você a muito tempo atrás. - Justin disse, quando se aproximou dos meus ouvidos, dando um soco em meus lábios.
Eu senti minha visão ficar turva, mas ainda no chão, continuei me arrastando pelo corredor, não notando que a escada do dúplex estava mais próxima do que eu realmente gostaria.
- Eu preferia ter morrido, do que ter confiado em você. Você é o próprio demônio. - Minhas mãos acariciavam meu couro cabeludo, enquanto meu corpo continuava se esquivando dele.
Eu estava blefando. Justin e seus demônios sabiam que eu faria tudo denovo, se fosse preciso. Talvez por nutrir um sentimento por ele, que eu sabia que nunca seria correspondido, como eu gostaria. Eu havia me apaixonado por um homem de múltiplas personalidades e por mais que eu soubesse que Drew estava ali dentro, ele não iria me ouvir e nem me ajudar. Bieber era quem estava ali no momento, e era com ele que eu teria que lidar. O mesmo que assinou diversos assassinatos e em breve, assinaria o meu. Como ele sempre quis, desde que pôs os olhos em mim.
Eu queria acreditar nele e em sua recuperação, mas Justin falhou miseravelmente comigo, quando se deixou levar pelas malditas recordações do passado.
Não era ele quem estava ali, á minha frente, eu sabia disso.
Seus olhos estranhamente vermelhos e seu timbre de voz, me deixava evidente. Embora eu quisesse proteger o meu Justin, eu não podia. Eu deveria por fim entender que Drew e Bieber, eram a mesma pessoa, não havia como salvar um e outro não. Eles estavam interligados e, por mais que Bieber leve meses para retornar, ele sempre volta. Não importa se vão se passar um mês ou um ano, esse demônio sempre vai voltar.
Pelo sangue espalhado em sua roupa, Bieber já havia feito mais vítimas e com certeza, sua mente perversa e seus demônios haviam retornado à seu hábitat natural, dessa vez muito mais sádicos e cruéis.
- Então não seja por isso, Rapunzel. Eu vou acabar com tudo isso, agora mesmo. - Um sorriso vil escapou dos lábios do loiro e ele puxou uma peixeira, guardada em sua cintura.
- Drew, me ajuda, por favor.
Eu supliquei, sentindo algumas pontadas na barriga. As lágrimas rolavam de forma descompensada, sobre meu rosto.
Ele já havia segurado a faca em mãos e agora, se aproximava de mim com o sorriso no rosto.
Eu me arrastei até o pé da escada, sentindo minha mão alcançar o último degrau, de cima.
Eu estava sem opções, sem alternativas.
Justin iria me matar e Drew, não estaria aqui nem por mim e nem pelo seu filho.
Apoiei os braços no corrimão da escada e lentamente me levantei, escorando no objeto de madeira. Justin gargalhava, me observando ter dificuldade para me erguer, no pé da escada. Eu poderia correr para o quarto que estava ao meu lado, mas Justin seria mais ágil e fincaria a faca nas minhas costas. Eu tinha o dever de salvar o meu filho, mas comecei a rezar quando Justin se aproximou e eu passei a perder as esperanças disso acontecer.
Justin se aproximou e eu passei a andar para trás, já na ponta da escada. Minhas mãos estavam apoiadas no corrimão, mas eu as retirei de lá, quando Justin encaminhou a faca até a minha barriga. Foi um instinto.
Sentindo meu corpo se desequilibrar, eu tentei alcançar o corrimão, mas já era muito tarde para qualquer coisa.
Foi tudo muito rápido.
Meu corpo foi ao chão e conforme a queda, eu podia sentir os degraus gelados se chocarem bruscamente contra todo meu corpo, inclusive a minha barriga. Tudo doía assustadoramente e depois de rolar cerca de vinte degraus, eu parei, no pé da escada.
Meu estômago sentia pontadas intensas, enquanto minhas pernas faziam força para tentar se levantar, sem sucesso. Justin me olhava do pé da escada, sorrindo. Ele desceu os degraus, um a um, lentamente, enquanto cantava a mesma maldita música, de meses atrás.
"Um, dois, eu vou te achar ...
"Três, quatro, suas tranças cortar... "
Eu senti uma queimação na barriga e logo, algo molhado entrou em contato com minhas calças. Eu olhei para baixo, vendo o sangue escorrer, molhando todo o chão.
Meu peito se apertou e o desespero me alcançou, quando eu vi a quantidade de sangue que molhava todo o chão. Eu estava perdendo meu filho e ninguém estaria aqui para me ajudar, nem mesmo Drew, que por tantas vezes me jurou isso.
Toda aquela merda estava desabando, bem encima da minha cabeça.
Justin descia os degraus, enquanto eu me arrastava no chão da sala, tentando chegar até a porta de saída. Um celular estava sobre o sofá e em um ato desesperado eu me arrastei até ele, desbloqueando o mesmo e discando um velho número conhecido.
Droga, estavam demorando para atender.
- Me atende, por favor. - Eu sussurrei baixo.
Minhas lágrimas rolavam, enquanto eu observava o sangue manchar todo o chão. Eu não poderia perder os dois, dessa forma. Nem Drew, nem nosso filho.
No topo da escada, seus lábios vermelhos ainda sorriam, enquanto a lâmina da faca era iluminada pela luz do luar.
O celular ainda chamava e eu pedia aos céus, para alguém me ajudar.
- Alô? - Uma voz masculina e abatida atendeu, do outro lado da linha.
- Eu preciso de ajuda. - Eu sussurei, sentindo a inconsciência me arrastar, pela perda de sangue.
- Filha? Elisa, é você? - O homem perguntou, se alterando.
Eu não respondi, meu ar estava acabando e toda a minha força também. Meu filho estava indo embora, me levando junto com ele.
- Elisa pelo amor de Deus, fala comigo!
- Pai, me ajuda.
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