História Dark Hut - Por um fio

Ponto de Vista Elisa: 

Já eram sete e meia da noite e os sinos acabavam de tocar indicando o início do jogo. Shawn havia buscado eu e Mayla em casa a alguns minutos atrás e o estádio estava lotado para assistir ao jogo tão importante pro campeonato.

Todos estavam eufóricos e Mayla e eu pegamos os primeiros lugares da arquibancada. Aquele era o último jogo da temporada e com certeza o mais importante.

Nos últimos minutos do jogo a disputa estava acirrada e o time dos garotos precisava de apenas mais um ponto para poder garantir a liderança. 

A arquibancada ia á loucura.

Os jogadores estavam ansiosos e impacientes e o técnico estava visivelmente irritado.

Como num passe de mágica e faltando  apenas oito segundos para o fim do jogo, Shawn fez um arremesso incrível e garantiu a vitória sobre o time adversário.

Os pequenos portões que separavam a arquibancada do ginásio foram abertos, fazendo com que eu e Mayla corressemos  para dar um abraço em Shawn e parabeniza-lo pelo lance.

Quando Shawn me viu indo ao seu encontro ele rapidamente se virou e quando fui abraça-lo ele me surpreendeu selando nossos lábios.

Foi um selinho longo e Shawn sorriu quando afastou nossos lábios.

O moreno envolveu seus braços em minha cintura e levantou meus pés do chão. Eu abracei seu pescoço e sorri para ele.

Ah, que cena incrível, meus amigos.

- Você foi incrível. - eu susurrei no ouvido de Shawn e ele sorriu, me puxando para um beijo inesperado.

Eu fiquei sem reação mas ao sentir o calor do corpo de Shawn não pude mais me conter e me entreguei aos seus encantos.

Ele tinha um beijo intenso e avassalador, que ao mesmo tempo me transmitia calma e doçura.

Shawn entrelaçou os dedos em meus longos cabelos ruivos e eu dei uma leve mordida em seus lábios, fazendo o moreno arfar. O beijo foi interrompido por uma falta de ar que nos consumiu e ao separar nossos lábios ele me olhou e sorriu vitorioso.

- Você é incrível demais. - ele disse me olhando e sorriu, levando em seguida um leve tapa no ombro direito de Josh.

- Porra Shawn!  Achei que você nunca conseguiria! Nem o último lance do jogo e nem dar um beijo na ruiva. - Josh disse se aproximando e bagunçando os cabelos castanhos do moreno. - Ótimo jogo! - ele sorriu.

- Ai meu deus, eu não tô acreditando nisso!

Mayla veio até mim eufórica.

- Para, foi só um beijo.

Ponto de Vista Justin:

O relógio marcava oito horas e meus demônios me perturbavam.

Eu só queria olhar para ela mais uma vez.

Já arrumado, peguei a caminhonete nos fundos da mata e segui caminho até o ginásio.

Chegando no ginásio pude ver uma grande movimentação, as arquibancadas estavam lotadas e hoje parecia ser realmente um jogo importante.

Ao percorrer os olhos por todo o ginásio pude ver Mayer sentada ao lado de Mayla. As garotas estavam na primeira fileira de bancos e o jogo parecia já estar no final. Me perdi por alguns instantes a olhando de longe e pude ver Shawn fazer um belo lance, no que parecia ser os últimos segundos do jogo.

Ele procurou ela com os olhos e ficou eufórico quando a encontrou.

Rapidamente os portões foram abertos e Elisa correu para um abraço com Shawn,  ela sussurrou algo pra ele e ele sorriu, virando-se e dando-lhe um beijo. No mesmo instante, pude ver que Elisa não correspondeu, mas que logo deu lugar para Shawn continuar.

Algo me incomodou absurdamente e eu não consigo descrever qual foi a sensação que eu senti. Era como se alguém tivesse revirando algo em meu estômago e ele doia de forma absurda.

 Senti também uma mistura de raiva com rancor por ver Elisa beijando outro homem na minha frente. Não consigo explicar, mas foi uma sensação completamente bizarra.

Sai rapidamente do ginásio, entrei na caminhonete que estava estacionada no outro lado da rua e na esperança de me acalmar comecei a ter alucinações com sangue. 

Eram flashes de imagem que passavam rapidamente e me mostravam Shawn Mendes completamente sujo e ensaguentado.

Era um surto. Eu podia sentir.

Meu corpo congelou, meus neurônios ferveram e um arrepio correu todo meu corpo.

Eram os meus demônios chegando.

Ao olhar para a porta de saída pude ver várias pessoas saírem do ginásio em direção a seus carros. Procurei com os olhos, mas constatei que Shawn, Elisa e o resto do time não haviam saído ainda.

Depois de alguns minutos estacionado pude ver Shawn saindo de dentro do ginásio e indo em direção à um carro que estava do outro lado da rua.

Os flashs do sangue vieram novamente à tona.

Eu iria aguardar mais alguns minutos e esperar até que mais pessoas saíssem de dentro do ginásio e fosse embora para não reconhecer a caminhonete, mas algo dentro de mim falou muito mais alto.

Vozes deturpadas ecoavam em minha mente e a única coisa que eu queria agora era passar por cima dele e vê-lo agonizar até morrer.

Engatei a caminhonete e pisei forte no acelerador,  minhas veias saltavam e meus olhos era inundados por uma fúria incontrolável.

Eu sentia a adrenalina possuir meu corpo.

Na minha cabeça vozes diziam alto o que eu tinha que fazer. Eu queria ver seus miolos voarem e todos os seus ossos se quebrarem. Pisei fundo no instante que Shawn atravessou a rua e em um ato de desespero ele tentou correr.

- Ops, tarde demais! - eu gritei alto e sorri, vendo a caminhonete  colidir contra seu corpo e passar por cima dele.

Ao ouvir seus gritos, engatei ré para passar mais uma vez sobre seu corpo que ainda estava no chão e pude ver Elisa sair de dentro do ginásio.

Inferno!

Eu gritei assim que a vi, e como um covarde com medo de Elisa me reconhecer eu fugi, deixando o garoto vivo jogado ao chão.

Meus pensamentos foram lançados longe e pensei em todas as possibilidades de não ver mais a garota ruiva caso ela tenha me reconhecido

Parei o carro no meio de uma rua deserta e gritei alto comigo mesmo.

Eu estava surtando.

Repudiei as vozes que gritavam em minha mente e bati a cabeça várias vezes contra o painel da caminhonete.

Eu gritei tão alto que minhas cordas vocais tremeram.

Depois quebrei tudo que estava ao meu alcance com os punhos e mordi fortemente os lábios. Eu ainda gritava descontroladamente e sentia as veias do meu pescoço pularem para fora. Quando abri os olhos senti apenas os olhos arderem pelos faróis altos que adentraram e fui surpreendido por um impacto forte.

Algum tempo se passou até que pude sentir minha consciência retomar.

Haviam vidros da estraçalhados sobre meu braço e ao olhar no retrovisor pude ver o sangue que agora escorria de um pequeno corte no topo da cabeça. Minha boca havia sido cortada pelas mordidas fortes e meu nariz sangrava pelas cabeçadas no painel, meu braço era coberto por vídros e sangue que misturavam-se e me lembrei do farol que invadiu meus olhos a algum tempo atrás.

Um filho da puta bateu em mim e não parou para me ajudar.

O surto havia passado e junto com a sanidade veio toda a dor do acidente.

Ponto de Vista Elisa:

- Ai meu deus, Shawn! - Eu gritei assim que ouvi um barulho estrondoso e saí para fora do ginásio, vendo o corpo de Shawn estendido no chão.

Uma caminhonete saiu em velocidade alta e na única coisa que eu podia pensar era em fazer algo para amenizar a gravidade da situação.

- Pelo amor de deus, alguém me ajuda!

Dezenas de pessoas correram até nós.

- Shawn? Ei, fica comigo! - Eu me sentei ao seu lado no chão, vendo que ele estava inconsciente.

Uma multidão de pessoas se formava em volta de nós e cada um dava um palpite diferente sobre o que deveríamos fazer.

- Eu tenho um curso de primeiros socorros, ok? Ninguém meche nele. - eu olhei para todos que estavam em pé à nossa volta e todos assentiram.

Shawn continuava inconsciente e ao checar seus pulsos constatei que ele estava tendo uma parada cardiorrespiratória.

- Eu preciso de uma tesoura agora! - Eu gritei e algumas pessoas saíram correndo.

- Você tá louca? Vai fazer o quê? - eu ouvi alguém dizer.

- Só cala a boca e trás a porra da tesoura!

Segurei a cabeça de Shawn e flexionei seu pescoço para trás,  seguindo com uma respiração boca a boca.

Um garoto voltou rapidamente com a tesoura que eu havia pedido nas mãos.

- Corta a camiseta dele e deixa o peitoral dele exposto! - O garoto me olhou surpreso e eu o dei um grito. - Garoto faz logo o que eu estou te mandando!

O garoto  começou a fazer o que eu havia pedido deixando toda a parte do abdômen e tórax de Shawn expostos. Eu coloquei as mãos unidas em cima do seu peito e iniciei uma massagem cardíaca.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis...

Eu contava as massagens enquanto torcia mentalmente pra Shawn voltar.

- Vamos lá, garoto. Volta!

Fiz trinta compressões e duas respirações com a boca, como manda o protocolo de reanimação cardiopulmonar. Ele não voltou.

- Ok, vamos denovo.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis...

- Volta pra mim...

Shawn ainda estava em parada cardíaca e minhas mãos já doiam.

- O resgate tá vindo!

Mais duas respirações boca a boca e bem sinal de pulso.

- Você não vai morrer nas minhas mãos, tá me ouvindo?

Eu sentia as lágrimas desceram meu rosto enquanto mantinha as compreensões.

Dezesseis, dezessete, dezoito...

Shawn fez um leve movimento com o abdômen e tossiu forte. Ele havia voltado.

- Ai meu deus, Shawn. Caralho que susto. - eu limpei as lágrimas e segurei sua cabeça em meu colo.

- Por favor, fica comigo.

Shawn abriu os olhos e me olhou, mas nada me respondeu.

- Eu preciso que você continue aqui comigo.

- Eles já estão perto. - Josh pôs as mãos em meu ombro.

Assim que o  olhei com as roupas cortadas pude finalmente ver o quanto ele estava machucado. Uma de suas pernas estava quebrada, as lesões estavam espalhadas por todo o corpo e um de seus braços havia sido cortado pela força do impacto da caminhonete.

Demorou poucos minutos até que uma ambulância chegasse e fizesse os procedimentos.

- Parabéns por ter notado os sinais da parada respiratória, ele não teria resistido sem a RCP. Temos certeza de que o garoto ficará orgulhoso quando se recuperar. - um paramédico me disse depois de colocar Shawn na ambulância.

Mendes foi levado e pude sentir um desespero inundar meus pensamentos. Entrei com Vincent e o resto do time no carro e segui a caminho do hospital.

Eu prometi que não o deixaria por nada, e não vou deixar.