(LEIAM AS NOTAS INICIAIS)
Capítulo XI
- ...e nós terminamos.
Thalia havia acabado de me contar com veemência tudo o que ocorreu nos 30 minutos em que esteve trancada no apartamento com Luke.
- Ah... – Eu e minhas frases perfeitas.
Para uma garota que rompeu o relacionamento de 3 anos com o namorado, a tranquilidade parecia emanar de seus poros. Thalia era uma garota durona, mas tinha uma gelatina no lugar do coração, e eu realmente nunca consigo sequer cogitar sobre o que pensa. Ela era impenetrável como o forte de batalha mais resistente.
- Por que você terminou?
Ela pareceu ponderar e, em seguida, me olhou como se a resposta fosse a mais óbvia do mundo, assim como um mais um são dois.
- Eu não o amo mais, Annie. Eu não podia simplesmente continuar com uma farsa... eu gosto dele, mas não o amo.
- Luke te amava! – Exclamei, levantando-me num impulso do sofá. Só percebei o que tinha feito quando seu olhar triste recaiu sobre mim. Ela estava certa, e eu provavelmente faria o mesmo.
Tornei a me sentar no sofá.
- Desculpe...
Thalia soltou um longo suspiro, e suas pálpebras se semicerraram.
- Está tudo bem. Tudo vai ficar bem. – Ela proferiu aquelas palavras enquanto apertava as mãos uma na outra, e pareceu-me que ela tentava tranquilizar mais a si mesma do que a mim. – Luke é um rapaz maravilhoso... ah, sim – soltou um sorriso forçado. – Ah, Annie, se eu pudesse voltar e apagar o passado, eu o faria. Eu me sinto tão mal por deixá-lo nessa situação, todavia, acredito que ele estaria pior em continuar comigo em um falso relacionamento. – Ela passou a mão direita sobre o jeans surrado e se levantou, os olhos interessados no tapete felpudo da sala. – Não vamos mais falar sobre isso. Acabou, de qualquer forma.
- OK – disse eu. Toquei-lhe o ombro, meus olhos transmitindo uma frase silenciosa: Só quero que saiba que estou sempre aqui.
Ela sorriu e anuiu com a cabeça.
- Que tal pedirmos uma pizza? – Incutiu. – É por minha conta.
_
- Ei, Annie, posso te perguntar uma coisa? – Thalia indagou, enfiando um pedaço consideravelmente grande de pizza na boca.
- Já está perguntando – abafei um riso, vendo-a fazer uma careta e suas narinas dilatarem.
- Haha, engraçadinha – exclamou com a boca cheia de pizza.
Fiz um gesto para que prosseguisse. Ela terminou de mastigar o alimento e pigarreou, limpando os cantos da boca com um guardanapo.
- Já desencalhou?
Engasguei com o refrigerante e limpei a boca com as costas das mãos.
- Desencalhei? Desencalhar em que sentido?
Thalia franziu o cenho e soltou um suspiro de frustração.
- Pela sua reação, parece que não – meneou a cabeça. – Ora, desencalhar no sentido de beijar.
OK, Thalia queria me matar engasgada.
- Nã... Não sei do que está falando – soltei o controle da televisão e me esquivei até a cozinha, para que ela não notasse minha súbita mudança de expressão, que dirá o rubor na face.
- Você hesitou! – Ela gritou.
Depositei o copo de refrigerante em cima da pia, passando a tamborilar os dedos na mesma.
- Annabeth, quem cala consente! – Tornou a gritar. – Quem foi o azarado? – Ouvi seu risinho zombeteiro.
- Argh, cala a boca, Thalia!
Fitei os azulejos da cozinha, minha mente divagando sobre o homem do apartamento ao lado.
O que foi aquela reação do Percy?
Assim que apareceu no andar, Luke e ele se encararam por alguns minutos, apesar de que parecia que Percy o perfurava com os olhos. Ele fitava a mim e a Luke, simultaneamente, com as sobrancelhas franzidas. Luke me soltou em seguida, passou por Percy e entrou no elevador.
- Vocês dois têm muita intimidade – ele riu, mas parecia estar falando sério, pois logo adotou uma expressão mais austera e rumou ao seu apartamento sem dizer mais nada.
O que ele quis dizer com aquilo? Ademais, se eu e Luke tivéssemos algo, ele não teria que ficar metendo o bedelho no meio!
Bufei e voltei para a sala pisando duro.
Passei por Thalia e fui até a porta.
- Ei, aonde vai? – Ela indagou.
- Eu vou dar uma saidinha, já volto – assegurei-lhe.
Saí resmungando o quão idiota Percy era por ter me ignorado. Tiraria satisfação com ele e, com sorte, ainda o esbofetearia.
Ergui a mão para tocar a campainha quando algo me ocorreu.
Eu estava brava com ele... porque ele não fez nenhum gracejo?
Eu definitivamente perdi o juízo.
Virei-me para o comprido corredor, mirando as outras portas, de N° 233 e N° 234, que estavam desocupados. Bem ao fim do corredor, à direita, jazia o elevador e, à esquerda, as escadas.
Recordei do dia em que o sujeito encapuzado invadira o edifício. Estremeço em cogitar a possibilidade de seu retorno.
Tammy!
Pesquei meu celular do bolso e disquei o número da policial, mas caía na caixa postal. Pobre moça! Dedicou-se ao serviço e eu me esquecera completamente dela.
Esquecendo que ainda me encontrava parada em frente ao apartamento de Percy, quase tive um colapso nervoso quando a porta se abriu, a maçaneta produzindo um ruído metálico ao ser acionada.
Ai, droga, pensei.
Não sabia mais o que fazer, então apenas aguardei de olhos fechados uma possível chalaça vinda do moreno, uma piadinha sequer, mas não houve nada. Abri vagarosamente o olho esquerdo, depois o direito e o vi acionando o botão do elevador.
Estaquei, como ele chegara tão rápido ali?
Olhei e desviei.
Comecei a me balançar sobre os calcanhares. Me sentia inquieta, com uma vontade imensa de falar com ele.
Via suas costas, sua nuca e seu cabelo.
As portas fizeram menção de fechar, entretanto, sua mão se entrepôs entre elas, que se afastaram, como se estivessem zangadas.
Ele não saiu, mas sua voz ressoou pelo corredor inteiro.
- As portas se fecharão, sabidinha. E, se quiser vir, o momento é agora.
Eu ruborizei até o último folículo capilar com o apelido. Eu não tinha motivos para utilizar o elevador, mas, antes que eu me desse conta, meus pés já percorriam o caminho como um raio, e eu só parei quando estava ao seu lado, as mãos no joelho, respirando fundo e evitando olhá-lo.
- Obrigada – disse eu.
- Disponha.
Ficamos em silêncio ensurdecedor. Notei que ele não usava um terno, já que era de seu feitio; trajava uma calça jeans escura, tênis preto com as solas brancas e uma camisa de mesma cor, as mangas puxadas e perfeitamente dobradas no cotovelo. Fitei os braços desnudos, deparando-me com uma tatuagem que não reparara antes: um tridente, na parte interna do antebraço. Aquela roupa lhe caía muito bem. Bom, todas ficariam bem nele.
Percy não precisava tentar chamar a atenção, ele já chamava.
Notei também um cordão em seu pescoço, que percorria todo o caminho até a gola da camisa, entretanto, não pude distinguir o pingente, pois este encontrava-se por baixo da camisa.
- Gostou? – Sua voz despertou-me dos devaneios. Alteei as sobrancelhas, perguntando-me o que ele queria dizer. Ele viu minha confusão e explanou: - Você esteve me fitando até agora.
- Nã... não estive não – ralhei.
- Você gaguejou.
- Acho que já te disse antes, Cabeça de Alga – pus-me em sua frente e fiz um gesto em frente aos olhos – você precisa de óculos, pois está começando a ver coisas!
Ele riu e se inclinou em minha direção, ficando da minha altura.
- A única coisa que estou vendo – ele colocou o indicador sobre minha testa, seus olhos penetrando os meus – é uma mulher que não consegue admitir que está apaixonada por mim.
As portas se abriram e ele saiu, deixando-me furiosa e envergonhada.
- Argh, Jackson, seu idiota!
❤
- Boa tarde – Luke acenou na direção de Percy, sendo retribuído por um breve meneio de cabeça. Ele parecia péssimo, olheiras profundas e o rosto pálido, os fios do cabelo cor de areia desgrenhados embaixo do capacete protetor amarelo de construção e, mesmo de longe, Percy sentiu o leve odor de álcool proveniente de suas vestes.
- Como está indo a construção? Precisam de alguma coisa? – O moreno postou-se ao seu lado, cruzando os braços.
Luke retirou um papel dobrado do bolso, desdobrou-o e o entregou a Percy.
- Está tudo aí – disse.
- Se me permite dizer, senhor Castellan... – Luke riu debochado com o “senhor” – você está deplorável.
- Obrigado – ele revirou os olhos.
- Mulheres?
- Mulheres.
- Você não está se referindo à senhorita Chase, eu suponho...? – Percy fitou-o de soslaio.
Luke arqueou a sobrancelha esquerda, também cruzando os braços.
- Aonde quer chegar, Jackson?
- Santo Drácula, vocês parecem amar meu sobrenome – murmurou. – Não é nada demais, Castellan, apenas quero ter certeza que o motivo de parecer, nesse exato momento, um dipsomaníaco, não esteja relacionado à Annabeth.
As bochechas de Luke coraram, tanto de raiva como encabulação.
- Você parece muito interessado em meter o bedelho na vida alheia, sr. Jackson. – Redarguiu. “Sr. Jackson”, pensou Percy. “Isso soa muito melhor vindo de Annabeth”.
- Eu só quero ter certeza de que... eu não terei nenhum problema em relação a você, Luke – Percy sorriu cético.
- Espere, você... – Luke franziu mais ainda as sobrancelhas, e Percy achou que elas fossem se fundir uma na outra, depois o loiro começou a rir, os olhos lacrimejando e uma leve pressão na barriga. – Espere, espere! – Ele fez um gesto com a mão, e com a outra pressionou as têmporas. – Você está afim da Annie, é isso?
Percy estreitou os olhos.
- Eu não colocaria desta forma... mas se você diz – ele deu de ombros.
- Cara, você é realmente esquisito – Luke soltou um risinho.
- Já estou acostumado com isso.
De repente a expressão de Luke se fechou, o semblante sério, mirando qualquer ponto à frente, e não parecia ser os trabalhadores.
- Não tem nada a ver com a Annie, Jackson. – Ele respirou fundo, tão fundo que Percy acreditou piamente que seus pulmões fossem explodir. – Independentemente disso, não posso entregá-la a você.
Pela primeira vez, ele tomou toda a atenção do moreno.
- O quê?
- Tenho meus motivos para não o fazer.
Percy deu um sorriso de canto e passou os dedos sobre os fios negros do cabelo, parecendo entediado.
Se o ego de Luke era grande, o de Percy era maior ainda.
- Entenda uma coisa, senhor engenheiro – fitou-o nos olhos. – Não estou pedindo sua permissão, independentemente do que ocorreu com a sua pessoa, sinto-me abrandecido em saber que Annabeth não está envolvida nisso.
- E se ela estiver? – Os olhos de Luke faiscaram, mas estava mentindo.
- Você é um péssimo mentiroso – Percy colocou as mãos no bolso da calça. – Bom, apenas vim certificar-me de que a construção estava indo bem. Os materiais necessários chegarão amanhã mesmo. Tenha uma boa tarde de trabalho, Luke Castellan.
❤
- Sinto muito, senhorita Annabeth, mas o suspeito em questão não me parece ser cidadão nova-iorquino – Tammy, a oficial ruiva, depositou a prancheta em sua mesa, o olhar aflito. – Não conseguimos encontrar nada. As provas são suficientes, mas não são especificas. Segundo a sua descrição – ela olhou de soslaio para a prancheta – ele é pálido e possui cabelos negros na altura do maxilar. – Ela rodeou a mesa e virou a tela do computador na direção da loira. – Todos os suspeitos que ponderamos estão aqui. – Ela bateu o indicador na tela. – Algum parecido?
Annabeth encarou a tela, ansiosa, mas nenhum deles parecia com o rapaz do capuz.
- Não – a decepção em sua voz era notável.
Tammy comprimiu os lábios, condoída.
- A polícia continuará investigando e, caso nos deparemos com algo importante, a avisaremos. Pois então, mantenha-nos sempre informados se alguma coisa acontecer.
- Obrigada, oficial Tammy. Os informarei se algo acontecer.
Annabeth abandonou o escritório da ruiva, perpassando o caótico recinto que era uma delegacia. Já estava anoitecendo, uma brisa gélida açoitava-lhe a face e os braços desnudos. Um leve carmesim coloria o céu acima dos prédios, e o sol aos poucos se escondia atrás das colinas, as sombras engolindo as construções com suas enormes garras.
- Ótimo dia para assistir um filme – esfregou as mãos e soprou-as, colocando-as no rosto.
Começou a se sentir desconfortável, como se estivesse com uma roupa apertada. Pelo canto dos olhos, notou que um grande carro preto andava rente à margem da calçada, na mesma velocidade de seus passos. Apertou o passo, o carro aumentou a velocidade. Correu, e o carro continuou em seu encalço. Desesperada, procurou por alguém que pudesse interagir e fazer o suspeito ir embora.
O vidro esfumado se abaixou e, quando viu de quem se tratava, soltou um suspiro de alívio.
- Eu vou matá-lo. – Soltou um muxoxo, posicionando as mãos sobre o peito. Seu lábio tremia ligeiramente e sentiu uma repentina vontade de chorar.
- É a segunda vez que suspira quando me vê. Está se tornando constante – ele sorriu, entretanto, o sorriso logo se desfez ao ver a reação da loira.
Ela não o olhava, mas passava a mão nervosamente na testa.
Percy saiu do carro e correu até ela.
- Ei, está tudo bem – não sabia muito bem onde tocá-la, então passou a acariciar o topo da cabeça. – Me desculpe – sussurrou. – Não quis assustá-la.
- Di immortales – ela suspirou. – Nunca mais faça isso.
Ela respirou fundo e se afastou. Talvez tivessem esquecido como era falar, pois emudeceram por um longo tempo.
- Aceite minha carona, em sinal de desculpas – ele pediu.
Annabeth pareceu ponderar.
Fitou Percy e desviou o olhar, enrubescendo.
O que estou pensando?
Algo dentro de si explodia, e queria gritar ao mundo que aceitaria tudo o que ele pedisse. Isso a deixou bem assustada, mas não a impediu de realizar aquele ato súbito.
Percy era rápido e ágil, entretanto, só notou o que ocorrera quando Annabeth saltara sobre ele e agarrara seu pescoço.
- Me desculpe por isso, Cabeça de Alga.
Então, ela o beijou.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.