Capítulo I
O homem em minha frente era alto, ombros largos, pele branca, possuía feições rígidas, como se houvesse sido desenhado. Seus cabelos eram negros tal qual um azeviche, e seus olhos - mais verdes do que a copa das árvores -, pareciam penetrar meu cérebro e chacoalhá-lo. Por alguma razão, senti-me desconfortável, pois parecia-me que, em algum lugar em mim, eu conhecia aqueles olhos.
- Eu te conheço? – Indaguei, franzindo a testa.
Ele ficou em silêncio por breves segundos, seus orbes analisando-me.
- Creio que não – sorriu de canto.
- Ah, mas é claro que não – abanei a mão – desculpe-me, de repente achei que o conhecesse de algum lugar.
- Talvez conheça – ele fitou-me, enigmático. – Mas, quem sabe? – Deu de ombros. - Você precisa de ajuda? – Ele me perguntou. – Parece que você está um pouco presa, se me permite dizer – ele riu, um riso gélido e rouco que percorreu todo o meu ser.
- Hum... pode-se dizer isso – anui com a cabeça. Não respondi mais nada, não precisava de sua ajuda com uma coisa tão simples, apenas puxei o tecido mais uma vez, livrando o meu braço. – Isso, consegui – comemorei.
- Ah, que pena, estava realmente ansioso em ajudá-la – ele meneou a cabeça. – Bom, até uma outra oportunidade! – Ele passou pela porta e por mim, entrando na empresa.
Observei-o caminhar. Era impressão minha ou ele estava indo à sala de Quíron? Segui-o.
A entrada era extensa e iluminada, alguns pilares de mármore sustentavam o teto aqui e ali. Mais à frente havia um balcão também de mármore onde a senhorita Afrodite fazia anotações como secretária-chefe de Quíron. À direita, um espaço aberto com poltronas e revistas, onde os clientes discutiam e decidiam suas decorações e instalações preferidas. À esquerda, um longo corredor levava aos escritórios e salas dos associados. Eu dirigi-me para lá.
Estava ao seu encalço, e pude notar que ele me olhou de soslaio, dando um sorrisinho logo em seguida.
- Está me seguindo?
- Não vejo necessidade nisso – disse, incisiva.
Chegamos à porta de Quíron. Certo, com certeza ele devia estar achando que eu era algum tipo de stalker. Acalme-se, Annabeth. Acalme-se.
- Tenho minhas dúvidas quanto a isso – ele deu-me uma piscadela.
Ignorei-o e bati.
- Quíron, é a Annabeth!
A porta se abriu e Quíron recebeu-me com seu sorriso complacente. Notou que não estava sozinha, e ficou surpreso com a presença daquele homem adventício.
- Ora, não sabia que o senhor viria tão cedo! – Certo, vou esquecer o fato de que fui ignorada. – Entre, entre!
- Obrigado, Quíron – ele entrou e se sentou na poltrona em frente à mesa. – Venha também, senhorita Annabeth – gesticulou para que eu entrasse.
Entrei e acomodei-me, observando a postura daquele rapaz misterioso. Ele cruzara as pernas e apoiara a cabeça com uma das mãos, enquanto a outra brincava com a gravata de cetim turquesa. Era uma gravata realmente estranha.
Quíron postou-se à nossa frente e pigarreou, dando umas batidinhas na barriga.
- Vamos aos negócios! Annabeth Chase, creio que recebera minha ligação, certo? – Assenti. – Pois bem, chamei-a aqui pois este cavalheiro – apontou com a mão espalmada para ele – busca por nossos serviços. O Senhor Perse... – O homem de olhos esmeraldinos interrompeu-o com um gesto, virou-se para mim e estendeu sua mão buscando a minha. Concedi à cortesia e ele depositou um beijo cálido nela. Não pude deixar de notar que sua mão era gélida e lívida, os dedos longos e finos, o toque provocou choques em minha mão quente.
- Meu nome é Perseu Jackson, mas pode me chamar de Percy.
Sorri-lhe amarelo, e anui com a cabeça. Sujeito esquisito, mas tem seu charme.
- Enfim – Quíron prosseguiu – o senhor Perseu está mudando-se para cá, e precisa de uma arquiteta para sua nova morada.
- Sejamos breves, Quíron – Percy incutiu, seus olhos fitando o mais velho com indiferença.
- Claro. Annabeth, você prestará serviços à Perseu.
Percy mirou-me de relance, eu apenas comprimi os lábios, já esperando por aquilo.
- Em que tipo de construção você esteve pensando, Perseu? – Indaguei-o.
- Percy! – Ele ergueu o indicador, corrigindo-me. – Viso uma estrutura rudimentar, complexa, inexpugnável...
- Um castelo? – Inclinei a cabeça como a um passarinho.
- Hum, castelos são de séculos passados, mas não deixa de ser uma boa ideia. – Percy colocou a mão sobre o queixo, pude sentir engrenagens girando em sua cabeça. - Costumava morar em um castelo na Transilvânia, lamentável para essa modernidade. Procuro por algo como uma mansão.
Ele era o Conde Drácula ou o quê?
- Certo. Podemos começar a planta amanhã mesmo. – Balancei a cabeça. – Se visa algo rudimentar, posso providenciar um esboço de tijolos expostos... Quíron, Luke poderá me ajudar com isso – sugeri.
- Perdão, mas quem é esse? – Percy arqueou uma sobrancelha.
- Será seu agente especial – disse, por fim. – Especificamente, seu engenheiro.
- Prefiro que meu agente seja uma mulher, se é que me entende – Percy e Quíron trocaram olhares suspeitos. Enrubesci.
- Muito bem, se é só isso, nos vemos amanhã aqui mesmo, neste mesmo horário. – Agarrei a minha bolsa. - Até logo. – E saí.
Ah, Deuses, que sujeito estranho! Não posso negar que seus olhos e suas feições eram encantadoras, mas parecia-me muito cortês e, convenhamos, ele morou em um castelo! Na Transilvânia! Aquele lugar é mais inóspito do que cada beco aqui de Nova Iorque.
Após deixar a sala de Quíron, pude sentir os olhos de Perseu sobre mim, vesti meu capuz e, assim que avistei a porta de meu ofício, destranquei-a rapidamente e entrei. Suspirei, sentando-me e ligando meu computador.
- Transilvânia? – Meu riso ecoou pela sala.
Só não sabia que Percy escutara e que agora retirava-se com um sorrisinho no rosto.
❤
Uma semana atrás
- Está tudo pronto para minha ida, Agatha? – O homem de terno escuro perguntou.
- Sim, senhor. – A serviçal curvou-se, cortês. – O carro lhe espera lá fora.
- Excelente – ele ajeitou a gravata, enquanto Agatha o observava lasciva.
- O senhor está muito bonito, senhor Jackson, se me permite dizer. – Ela insinuou-se.
- Ah, é mesmo? São seus olhos, minha querida. – Perseu sorri-lhe encantador e sedutoramente. A mulher derreteu-se em encantos.
- O que fará com o castelo, senhor?
- Pretendo deixá-lo do jeito que está. Até ter terminado tudo que tenho a fazer, não voltarei. Ou quem sabe apenas ficarei em Nova Iorque. Cuide dele, está bem?
- Está certo, senhor – Agatha anuiu com a cabeça, frenética. Percy dirigiu-se ao vestíbulo, mas a voz de Agatha o fez parar. – Se... senhor... – Ela mirava um ponto qualquer no recinto, mordia o lábio inferior, a face rubra, suas mãos apertando com força o pano da saia.
- Ah, sim, quase esqueci-me – ele sorriu, aproximando-se dela. – Terá de me perdoar, mas não há tempo para ser desperdiçado. – Tocou-lhe as madeixas carameladas, levando-as aos lábios.
Agatha era a servente mais nova do castelo, Percy acreditava que ela teria seus dezenove anos. Uma garota leal e extrovertida, embora deveras trivial. Perdera as contas de quantas vezes oferecera sua lealdade a ele.
Afastou-se taciturno, caminhando até o vestíbulo, acenou brevemente à serviçal, só então transpassou a porta.
Um carro luxuoso o esperava do lado de fora. Adentrou-o. Um homem de aparência anosa jazia no banco ao lado do motorista, uma barba grisalha e ondulada descia-lhe sobre o queixo, ornando com os cabelos também ondulados.
- Obrigado por vir, Quíron – Percy afagou-lhe o ombro.
- Não há problema. Eu que devo lhe agradecer por contratar minha empresa. – Quíron sorriu.
- Pois bem, com quem vou trabalhar?
- Como o senhor bem sabe, somos uma empresa renomada e com agentes especializados em designer e construção. Trouxe comigo uma lista com nossos trabalhadores. – Ele retirou uma pasta de dentro de sua valise e entregou à Percy, que a abriu e folheou-a.
- São especializados mesmo – comentou, satisfeito. – Puxa, temos uma mulher bem interessante aqui – ele passou o indicador sobre a foto de uma moça de longos cabelos louros. – Fluente em inglês, francês e grego. Cursou Harvard e ganhou um prêmio de melhor arquiteta da cidade. Isso sim é impressionante!
- Sim, sim. Annabeth é a nossa menina prodígio. Uma mulher esforçada e honesta, devo acrescentar. Conheço-a desde pequena. Pretende contratá-la?
- Pois, sim! Seu nome é Annabeth? – Percy alegrou-se. – Belíssimo nome. – Anuiu com a cabeça. - Aliás, como é o hotel onde me hospedarei? – Perguntou.
- Muito bom. Contudo, escolhemos um apartamento, uma vez que não sabemos quanto tempo levará até a construção estar pronta. Aprovará nossa escolha, verá.
- Está certo. Como se chama?
- Berkeley Brow.
❤
Eu abaixei a tela do notebook e arrumei minhas coisas para voltar ao apartamento.
As ruas de Nova Iorque, como sempre agitadas, traziam-me uma sensação nostálgica. Era uma cidade acolhedora, se era. Uma das mais bonitas. Os pássaros chilreavam e viam-se borboletas aqui e ali. De certa forma, senti-me sonolenta com aquela sensação pacífica.
Dez minutos depois, encontrava-me em frente à porta. Vasculhei em minha bolsa por um molho de chaves, quando achei, escolhi uma prateada, com um chaveiro de coruja, e usei-a para abri-la. Entrei. Retirei a blusa, ficando apenas com uma regata azul marinho. Prestes a jogar-me no sofá, fui interrompida pelo som da campainha.
Voltei à entrada, coxeando, amaldiçoando quem quer que fosse do outro lado da porta. Abri-a com certa brutalidade.
- Sim?
- Olá, vizinha! – O rapaz em minha frente acenou e ergueu uma garrafa de vinho com a outra mão.
- Percy?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.