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História Dear Danger - Capítulo XXI


Escrita por: Srta_Lightwood

Notas do Autor


Olá~

Bom dia, cupcakes! Acho que é a primeira vez que posto o capítulo tão cedo!
O próximo sairá no domingo.
Uma pergunta que queria fazer-lhes... Alguém aqui curte BTS (Bangtan Boys)?
Recomendo que o leiam escutando BTS (방탄소년단) - Run - Piano Ballad Ver. (Vou deixar o link nas notas finais).
Boa leitura.

Capítulo 26 - Capítulo XXI


Fanfic / Fanfiction Dear Danger - Capítulo XXI

Capítulo XXI    

 

  Descansou as mãos no bolso enquanto descia do avião. A chuva continuava. Mesmo que todo o tormento já houvesse passado, a sensação em seu corpo era nítida. Ainda estava afetado, e a culpa disso era sua aerodromofobia.

  Caminhava por entre o aglomerado de pessoas presentes, observando suas expressões. Algumas ainda se recompunham, abanando-se e esfregando os olhos. Seus guarda-chuvas em conjunto formavam uma tenda que os resguardava, como um casulo. Seus familiares os confortavam, aliviados de os terem por mais um tempo vivos, tão intactos quanto antes. Alguns choravam, impressionados por ainda estarem ali.

   Havia salvado vidas.

  O júbilo lhe preenchia a alma, sentia-se orgulhoso de si mesmo pelo feito, mas por que estava incompleto? Só esperava que aquela sensação não fosse momentânea, porque as coisas em sua vida costumavam ser assim: efêmeras.

  Avistou um rapaz que filmava ao redor com a câmera do celular. Como podia-se pressupor, a mídia engoliria a filmagem assim que a tivesse, então aproveitou-se da oportunidade. Esboçou um de seus melhores sorrisos, mostrando confiança, e resolveu realizar aquele gesto que vira em alguns lugares. Era usado entre casais e amigos e, se Annabeth chegasse a ver aquilo, sua missão estava mais que cumprida.

  Juntou as mãos e curvou os dedos, mantendo o polegar reto, mandando o coração na direção do rapaz.

  Relaxou os músculos e virou-se, notando a presença das aeromoças em um canto.

  Percorreu o caminho até o piloto, que entregava as malas dos passageiros.

  - Obrigado – disse quando este o entregou sua bagagem.

  O piloto sorriu encabulado, pois por trás de seu sorriso havia um acanhamento profundo que o fazia distinguir que o moreno a sua frente era o verdadeiro herói da história, e não ele. Com um certo ar afetado, inclinou a cabeça num sinal de agradecimento, e Percy retribuiu o gesto; um acordo silencioso entre espíritos afortunados, entre homens.

  Agarrou a alça da mala e a levantou à medida que passava pela grama úmida. A chuva acariciava seu cabelo, escorrendo por sob sua roupa. Não via necessidade de um guarda-chuva, não pegaria um resfriado e muito menos sentiria frio. Não fazia diferença. E isso era um pouco triste, de certa forma.

  Mirava o horizonte, embora não o contemplasse como deveria. A chuva conseguia deixar tudo quieto e beato com sua presença. Era só despontar uma nuvem cinza no céu que os humores, as expressões e a cores mudavam. Havia um vento gélido que abanava a copa das árvores e por vezes ondulava as poças d’água, fazendo com que as pessoas esfregassem os braços a fim de aquecê-los. Você gosta da chuva ou de estar molhado? Gosta do que o frio proporciona ou de sentir frio?

  Podia-se avistar o topo das torres do castelo, que se estendia longínquo nas extremidades da cidade. Para chegar lá teria que pegar um táxi, só precisava encontrar um.

   Escutou um “splash” e virou-se.

  A aeromoça de momentos antes tirava o salto e o chacoalhava a fim de tirar a água que o empossava. Assim feito, recolocou-o e caminhou em sua direção. Ela segurava um guarda-chuva.

  - Senhor – surpreendeu-se por ela falar sua língua. – Espere!

  Ela o alcançou, mas antes desequilibrou-se nos saltos, quase caindo no chão se o moreno não a tivesse segurado pelos cotovelos.

  - Obrigada – ela sussurrou, e o silêncio dele a inibiu. – Então – os saltos claramente a irritavam, já que por duas vezes trocou o peso de um pé para o outro. Retirou-os, então, tocando a lama fria. Percy alteou uma das sobrancelhas. – Obrigada por nos salvar – ela se curvou diante dele, rapidamente recompondo-se. – Por favor, aceite isso – estendeu-lhe o guarda-chuva vermelho. Ele mirou sua mão estendida questionando-se o porquê daquilo, embora relutante, aceitou-o. Assim que o homem o pegou, ela saiu correndo, os braços sobre a cabeça protegendo-se dos grossos pingos de chuva, os pés descalços preterindo marcas na grama.

  O ato não continha nada de impudico nem libido, fora a mais genuína gratidão expressa pela mulher, e isso resultou em uma profunda comoção por parte do moreno, provando-lhe ainda mais o valor da vida, que é tão pouco percebido, apenas quando é quase tirada das pessoas. É assim que as coisas funcionam, como um estalo em frente ao rosto; você sai do torpor e descobre que está vivendo a realidade.

  E Percy sabia muito bem disso.

  A aeromoça se aproximou das companheiras e lançou-lhe um olhar confiante, austero, e depois voltou-se para o outro lado. Percy não precisaria lhe apagar a memória, pois, assim como o piloto, soube que podia confiar nela. São estes poucos indivíduos que embelezam o mundo.

  Ele esboçou um sorriso de canto e voltou a caminhar.

  Estar em sua terra lhe trazia memórias ruins, e a cada passo que dava, seu interior suplicava para que voltasse. O céu estava cinza, tudo estava cinza.

  O guarda-chuva vermelho era a única cor ali.

 

[...]

  O táxi o deixou na entrada do castelo. Os portões de ferro se erguiam em sua frente, as estátuas de gárgulas pareciam fitá-lo com seus grandes olhos e seus dentes a mostra. O motorista ainda o encarava de modo estranho, e sequer aceitou o troco quando Percy o ofereceu, apenas acelerou o carro e escapuliu-se dali.

  Esperou que ele já estivesse longe o bastante e deu um salto, cruzando a entrada. Correu e alcançou a porta principal. Empurrou-a lentamente, e surpreendeu-se por não encontrar ninguém ali. Tudo estava impecável como sempre, nem sequer uma sujeirinha pecaminosa se atrevia a aparecer. Atravessou o vestíbulo e pôs-se a percorrer o local. Chamou por Agatha, Clara, mas ninguém o respondia. Depositou sua mala nos pés da escada e subiu para a ala Oeste. Parou de chofre quando algo lhe chamou a atenção.

  Ao contrário do hall, o chão estava coberto por estilhaços de vidro que reluziam com – e Percy temeu que fosse o que achava que era – um líquido carmesim.  Inspirou e cerrou os punhos, iniciando uma caminhada sobre aqueles objetos. A porta do salão encontrava-se entreaberta, e uma sombra se projetava para fora. Os vidros pareciam formar um caminho brilhante até ela, sumindo no escuro. Alguns móveis estavam virados, e as janelas quebradas. Tocou o batente da porta dupla e a empurrou, sua expressão era rígida, e sentia seu sangue borbulhar nas veias, todavia, seus músculos se retesaram apreensivos. O cheiro de sangue vindo dali era forte e impregnava suas narinas.

  Adentrou a sala e escutou um gemido vindo de dentro da garganta, e o reconheceu como sendo de Agatha.

  - Shh...

  Distinguiu aquela voz detestável e reprimiu um rosnado. As luzes se acenderam e seus olhos se arregalaram.

  As criadas jaziam amarradas e amordaçadas ao redor de uma poltrona, onde se encontrava Nico e Agatha, esta tinha o rosto sujo e os olhos lacrimosos. Sua roupa manchada de sangue e amarrotada só piorava a aparência. Ela tinha as mãos livres, assim como a boca, entretanto, não era capaz de mover um músculo, pois o primo a segurava nos braços. Seu pescoço estava a centímetros de sua boca, dois filetes escarlates escorriam-lhe por sob a gola do uniforme.

  Apertava com tanta força as mãos ao ponto de machucá-las, impedindo que o sangue fluísse por entre seus dedos.

  Aquelas pessoas eram parte de sua família.

  Ele deu um passo à frente, o ódio o consumindo.

  - Nem pense nisso – Nico acariciou o queixo de Agatha.

  Percy avançou mais dois.

  - Ah, não – Nico meneou o indicador.

  Percy detestava aquela sensação de inferioridade e submissão; ter que obedecer às ordens daquela criatura era repulsivo e preferia ser queimado em brasa.

  Nico estava de volta, e trazia junto de si as lembranças ruins. Seu corpo ficava pesado, estarrecido, e o seu interior berrava para que ele não machucasse ninguém, não causasse mais dor que já causara para Percy, pois ele não aguentaria. Seus pais, e agora aqueles que consideravam seus amigos. As criadas sempre cuidaram de si, encontravam-se ali em seus deslizes, o ajudando a correr e desviar dos espinhos. E todo esse pensamento se voltava para Clara, pois a senhora lhe tratava como um filho, e vê-la naquela situação era doloroso. As criadas adormeciam, não apresentando qualquer ferimento. 

  Fora tão estúpido. Deixara-as a mercê daquele ser hediondo, que agora se aproveitava dessa fragilidade para tirar-lhe mais do que já tinha tirado.

  Era sempre assim. Por onde passava, as coisas desmoronavam. Desintegravam. Enquanto ele assistia.

  Não conseguia reprimir o ódio que emanava, pois seu semblante o indicava, os sons externos pareciam vibrar, e aos poucos ia perdendo os sentidos, entregando-se totalmente àquela forma doentia que residia dentro de si.

  - Você não vai querer que eu lhe retire o outro braço, não é? – Rosnou, fitando a prótese metálica do primo.

  - Ah, Percy, sempre tão categórico – debochou Nico, contornando com as mãos as curvas do rosto da garota. – Não foi assim que tia Sally lhe ensinou, se lembra? Ah, não – riu-se – ela morreu antes que possa se recordar.

  Ele avançou, o mundo girava, e sua vontade era despedaçar Nico e dilacerar os pedaços que sobrariam.

  Mas o garoto não moveu um músculo, e o moreno agarrou-lhe pelo casaco, segurou Agatha com a outra mão, e lançou-o com brutalidade sobre a lareira do outro lado do cômodo.

  - Acho que já é tarde demais para isso, não é? – Nico riu, cuspindo sangue e apontando com dificuldade em sua direção. Percy respirou fundo, voltando gradativamente para a situação atual. Sua mão ainda estava no ombro de Agatha, mas não sentia sua respiração, nem sua circulação. Não queria olhar.

  Não queria olhar.

  O esforço que fez para mover os olhos pareceu dizimar suas forças, o interior clamando para que a garota estivesse bem.

  Percy recuou, atônito, o ar ficou rarefeito. Agatha debruçava-se no braço da poltrona, imóvel, os olhos abertos. Mas não estava morta, porque seu peito subia e descia vagarosamente, quase num esforço, e isso era a única coisa que minimizava a tensão do moreno. Analisando-a corretamente, notou que sua tez, antes rosada, tingia-se em uma brancura cadavérica, os olhos opacos e vítreos desfocados miravam um ponto qualquer no recinto, num sussurro profano.

  Antes da transformação completar-se, Não Mortos permanecem em estado de transe, onde seus sentidos se afloram, o corpo passa por mudanças e a respiração torna-se inútil. O sistema circulatório para, o coração para, num transe pós-morte. Era como se o indivíduo estivesse de fato morto enquanto o veneno de seu criador corria por suas veias.

  Voltou-se para Nico.

  - O que você fez?! – Berrou, caminhando a passos largos e o agarrando pelo colarinho. O garoto levantou o braço e puxou a manga, revelando dois finos orifícios escarlates.

  - Ela é minha, Percy. Minha.

  Tudo bem que o moreno não possuía sentimento algum pela garota, mas não queria que os outros passassem pelo que ele passou, e muito menos se tornassem o que ele se tornou.

  - Isso se ela sobreviver durante a transição... – Nico sorria como um psicótico, deleitando-se com o sofrimento dos dois. Percy não acreditava que pudesse existir um ser tão hediondo, impudico e baixo como ele.

  - Já chega – ele soltou o primo e pressionou as pálpebras, mordendo o lábio inferior tentando acalmar-se. – Você está indo longe demais. Até quando vai deixá-lo entrar em sua mente, Nico? Eu sinto muito, mas minha paciência está quase nula.

  Percy abriu as mãos, a névoa esvaiu-se delas e começou a rodopiar ao redor de Nico, que se afastava cautelosamente. Só queria que tudo acabasse, era tão difícil seu desejo ser realizado? Tinha sempre que machucar aqueles ao seu redor? Causar problemas? Era a pilastra do prédio, o eixo das abscissas, e tudo acontecia em função de si. Se caísse, toda a construção desmoronaria, e se agisse equivocamente, o resultado seria desastroso. Não sabia se Nico agia por vontade própria ou se Hades dominara sua mente com uma lavagem cerebral, o garoto não era assim. Nunca fora. Então por que se rebaixara tanto? Sucumbira a uma patética forma psicótica vazia. Não havia mais nada dentro dele.

  Abriu os olhos e a única coisa que conseguia expressar era um misto de ódio e benevolência perante aquela alma tão desguarnecida.

  Aproximava-se, a névoa formando um casulo ao redor do primo.

  Queria o Nico babão de volta, queria seu primo Nico Di Ângelo novamente.

  O mais novo trancafiara-se num inferno contínuo por escolha própria.

  Já envolto por aquele manto fluídico, ele soltou, no tom mais puritano:

  - Vai me matar, Percy? – E mais uma vez o moreno relutou, pois reconhecera a voz juvenil do primo. Então, como se o houvesse mergulhado em água fria, Nico acrescentou com acidez: - Não achou que eu estivesse sozinho nessa, não é?

  Percy arregalou os olhos ao sentir uma mão em sua nuca. Despencou para o fundo do abismo, onde a escuridão lhe esperava.

  Não viu mais nada.

 

 

  "Toda a minha aflição tinha nome. E ele era Perseu Jackson."

 

  Uma semana se passara sem nenhuma notícia de Percy. Seu celular não atendia, nem sequer visualizava as mensagens constantes que enviara, mesmo depois de Annabeth ameaçar deixá-lo careca se não respondesse. O ritmo pacato e beato de seu cotidiano persistira, ia quase todas as manhãs para a empresa e faltava pouco para que a mansão de Percy fosse concluída; alguns ajustes aqui e ali eram necessários. Não ria muito, e se o fazia era forçado; não saia muito, e se o realizava era para apanhar o jornal do dia em frente a portaria. Começara a se preocupar de que algo houvesse dado muito errado, e talvez o Jackson estivesse em apuros.

  Thalia e ela haviam se distanciado um pouco, talvez a morena lhe tivesse presenteado com o espaço para que refletisse sobre as situações sem que pirasse de vez. Todavia, Annabeth acreditava na amiga, e nada poderia arruinar essa certeza. Por um motivo que estava aquém dela, aquele outro mundo existia, até então recôndito e mudo.

  Juntando as peças do quebra-cabeça tudo fazia sentido. Estava explícito o tempo todo, mas cegou-se atrás de uma desculpa esfarrapada de que tudo não passava de conversa fiada. Gente maluca e desprovida de qualquer senso, isso sim.

  Embora parte tivesse sido digerida, a possibilidade de haver Não Mortos era demais, ultrapassava qualquer limite sã da Terra. Caçadores, ok. Vampiros? Hum...

  E, particularmente, de Percy ser um.

  A mulher tinha a tendência de crer apenas naquilo em que seus olhos viam.

  O que os olhos não veem, o coração não sente.

  Entretanto, não podia negar a ninguém o que sentia. Mergulhara de cabeça naquele sentimento, embebida em seu aroma e sabor. Amava Percy, e tinha certeza disso. Cada gesto, as falas, piscavam noticiando-a de que o moreno estava envolvido.

  Aconchegada no edredom da cama, relia pela décima vez o cartão do amado. O que ele queria lhe dizer? Estava bem? Onde estava? Como podia tê-la encantado e sumido assim?

  Quíron pedira que Thalia cuidasse da loura. Havia, entretanto, a certa tensão citada anteriormente, os risos não eram genuínos, rebaixados a simples exclamações de surpresa.

  O relógio do quarto indicava sete horas e, mesmo que suplicasse pelo sono, ele não vinha, e isso a frustrava.

  A campainha tocou tirando-a dos devaneios e saltou da cama. Seria Percy? Esse era um monólogo constante.

  Correu até a sala e derrapou no piso liso com as pantufas azuis, recuando alguns centímetros para que não fosse percebida.

  Thalia confabulava com duas pessoas, um homem e uma mulher asiáticos.

  A amiga era ríspida e tentava dispersá-los. Sua mão esquerda estalava os dedos atrás das costas, sinal de nervosismo.

  O casal levantou os olhos da morena e notou a presença da mulher. Ambos sorriram e se entreolharam.

  - Olá, senhorita Annabeth, gostaríamos de conversar com você – a garota, que sorria mais do que seu rosto parecia aguentar, deu um passo à frente, reverenciando a mais velha. – Não tomaremos muito de seu tempo..

  Thalia lentamente voltou-se para ela, e seus lábios formularam uma frase muda.

  Saia daqui.


Notas Finais


Yo~
Link: https://www.youtube.com/watch?v=NAqV4zPsw6I
Espero que tenham gostado, desculpem qualquer erro.

Vejo vocês no próximo.


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