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História Dear Danger - Capítulo XXV


Escrita por: Srta_Lightwood

Notas do Autor


Olá~

Opa, não vou enrolá-los aqui, vou falar mais nas notas finais! ❤️


Boa Leitura! ❤️

Capítulo 30 - Capítulo XXV


Fanfic / Fanfiction Dear Danger - Capítulo XXV

Capítulo XXV

 

   - O que você quer?! -  O grito saiu de seus pulmões com veemência, num tapa bem dado na cara de seu tio. Mesmo que se regenerasse rápido, seu corpo estava dolorido e seu sangue esculpia as paredes daquele cômodo que, muito antes, costumava ser seu quarto.

   Resquícios dos colantes marinhos fluorescentes pendiam do teto já podre e corroído, e ver aquilo lhe doía.

   Tudo despencava.

   O fato de estar em sua antiga casa lhe doía profundamente, e um sentimento de tristeza e aflição tomava-lhe os músculos toda vez que buscava memórias daquele lugar que outrora fora refúgio seu e de sua mãe; a razão de sua felicidade efêmera e inocência, quando o destino ainda não lhe impelia suas peripécias, rompendo a linha tênue de juventude e fazendo-o despencar numa eternidade abrasadora, um caminho sem volta; no que ele era agora.

  Fazia de tudo para encarar aqueles olhos vinhos sempre que era lançado contra as paredes mórbidas que conheciam seu sofrimento, seguido de injúrias proferidas pelo primo. Queria transmitir indiferença, mas falhava miseravelmente. Percy não era um ser desprovido de sentimentos, sua inclusão na sociedade humana e seu convívio nesta fizeram-no um homem “transparente”, suas intenções mais visíveis em cada gesto ou olhar, palavra ou suspiro proferido, porventura, por mais que tentasse conter as emoções que o avassalavam no momento, seu semblante o traía, revelando a amargura e ódio que o remoíam. Este que não sabia de onde vinha. De seus ossos quebrados ou o coração que lamentava a causa de tudo aquilo, tão frio e fosco quanto prata polida.

  Mas o fato de sentir tudo aquilo o diferenciava dos demais Não-Mortos de um jeito bom, um jeito que o destacava e evidenciava como um ser melhor. Suas ações eram semelhantes as dos humanos, ele sabia como eles poderiam se sentir, pois se igualava nestas questões. Sabia como era ser machucado e conhecia muito bem o sentimento de perda e, recentemente, vislumbrou uma das dádivas da vida, o Amor. O Amor com “a” maiúsculo, sincero e sublime, que apenas os mais afortunados podiam vangloriar-se de sua graça, aquele que corroía sua carne e elevava seus pensamentos, afogando-o num mar de rosas invisível. Percy era mais humano que os demais.

  A expressão impassível do mais velho pesava sobre si como chumbo, uma tormenta que não conseguia deter, todavia, queria acabar com ele, principalmente com aquele olhar inexpressivo e a tez cadavérica.

  Toda vez que tentava se levantar, o poder de seu tio se sobressaía, obrigando-o a permanecer imóvel enquanto Nico fazia o que bem entendesse consigo. Quebrava ossos, cortava a carne, e as paredes apenas assistiam, num sussurro silencioso de lamúria, como telespectadores do Coliseu, vendo o indivíduo indefeso ser dilacerado pelos leões para o deleite de todos.

  A pergunta de Hades ainda soava em seu cérebro: “Tens forças suficiente para matar-me, por que não o faz?”. Perguntava-se se era capaz de fazê-lo, questionando suas habilidades que pareciam tão ínfimas perto daquele ser com poder descomunal.

   - O que quero... – Pronunciou de uma forma quase retórica, esperando encontrar alguma resposta, ou receando que o sobrinho já a conhecesse. Abandonou o fulgor de seu canto escuro e deu um passo à frente. Um monstro. Foi o que Percy pensou. A luz refletiu levemente a face lívida e rugosa dele, mostrando os enormes vincos nas bochechas, as sobrancelhas grossas e os olhos grandes e fundos. A cicatriz na testa era presente, embora formasse agora um risco fino de pele sensível. Os cabelos estavam longos, atribuindo-lhe a aparência de defunto, resultado de vários anos confinado naquele lugar. Percy ponderava como um ser que, mesmo debilitado daquela forma, pudesse exercer ainda grande força. Os olhos adotaram uma coloração soturna, mais vinhos que o normal, as córneas brancas quase não apareciam, preenchidas de um negro incomum.

   Hades fitou os dedos finos e o grande anel de rubi que parecia pesar em sua mão direita, artefato que obtinha há tempo, quando ainda morava no castelo.

   - O sobrinho querido matou seu tio desvirtuado, prendendo-o num caixão para que mais atrocidades não fossem cometidas pelo mesmo. – Levantou o olhar para o filho. – O filho reviveu-o. – Deu mais um passo, observando as feridas no corpo de Percy que começavam a cicatrizar. – Havia uma profecia: “O filho de um dos três grandes mataria aquele que se rebelaria”. – Abaixou-se, pegando o rosto de Percy com a mão fria, passando o polegar pelos traços acentuados. – O tio acreditou que o sobrinho fosse o garoto da profecia, todavia, se ele foi trazido de volta a vida, não és tu que matar-me-ia. Dessa forma, o mínimo com que contribuo para o fracasso desta é... – Como se fosse um saco plástico, Hades o ergueu pelos cabelos com facilidade. – Tirar-lhe-ei a vida e soterrar-te-ei no mármore do inferno, pondo-o sob a terra.

  Percy permitiu que seus olhos se arregalassem e, pela primeira vez, que sentisse medo. Não medo de Hades, mas de morrer e deixar para trás todas as coisas que lhe eram importantes, principalmente agora que tinha o motivo mais precioso para permanecer vivo. Apalpou as mãos do tio, tentando livrar-se. Seu couro cabeludo ardia e soltou um grunhido de frustração, provavelmente ficaria careca. Esse pensamento o perturbou bastante.

 - Sério, pode, por favor, largar meu precioso cabelo? Não quero ficar careca antes da hora, santo Drácula. – Bufou, ainda segurando as mãos do mais velho. – Para um homem quietão você até que fala bastante – soltou um muxoxo, chacoalhando os pés tentando desferir-lhe um chute. Não tinha mais as correntes no pulso, entretanto, a algema jazia nos mesmos, marcando de vermelho a pele pura e branca. – Ah, é, sinto-lhe dizer, mas não sou o único filho dos três grandes vivo...

   Hades soltou-o, visivelmente interessado no que ouvira.

  - Mané – Percy murmurou, esquecendo-se por um segundo que o tio podia ouvi-lo, enquanto massageava a cabeça. O convívio com os humanos havia acarretado na descoberta de palavras novas.

   - Quem é o outro? – Nico suspendeu-o pelo colarinho.

  - Santo Drácula, querem parar de me erguer? Inferno! – Deu um empurrão no primo, não medindo a força e o lançando longe. – Algumas pessoas são tão retardatárias... – lamentou, dando um suspiro de falsa consternação.

   Hades esboçou um sorriso cáustico.

  - Mesmo que quisesse, Nico nunca poderia opor-se a mim.

  Percy espanou as mãos na roupa, limpando-a.

  - Hades, somos dois contra um... – Fitou o primo, tentando transmitir a mensagem subliminar que a frase possuía, e pranteando para que o mesmo não tivesse ficado bravo com o súbito empurrão.

 Nico pôs-se de pé, tossindo um pouco por conta da poeira que inalou do cimento das paredes. Arqueou uma sobrancelha para Percy.

 Então Percy viu. Viu o lampejo de dúvida que avassalou os orbes negros quando a frase o atingiu, parecendo torná-lo mais consciente e, naquele instante, Percy soube que seu primo babão estava lá dentro, em algum lugar.

  As coisas não podiam ser mais simples do que aquilo. Continuou a fitá-lo, certificando-se de o que vira era verídico e não da sua imaginação. Havia uma súplica sutil em seu olhar, como se esperasse por uma afirmação e não uma resposta qualquer, sustentando aquele contato apenas para esclarecer-lhe as dúvidas e revigorar a mente. Nico, mais que ninguém, precisava de uma certeza.

  Percy viu esperança.

  Todavia, da mesma forma rápida que a incerteza veio, ela se foi.

  Nico deu um passo para trás, meneando a cabeça sutilmente, como se houvesse compreendido as palavras de Percy, mas mesmo assim tentasse contradizê-las.

 Nico realmente não controlava a si próprio. Lembrou-se das palavras de Hades, há muito tempo: “Encontrei Bianca e Nico Di Ângelo, e os controlei. A garota, infelizmente, precisou ser morta, já que tentou matar-me. ”

Talvez Bianca soubesse da profecia, ou quem sabe estivesse cansada das atitudes pecaminosas de seu pai.

A cabecinha do moreno começou a trabalhar.

Agora entendia o porquê das ações escrupulosas de seu tio perante os três jovens: ele tinha medo. Medo que seu império sombrio desmoronasse por conta da profecia, por isso pretendia eliminar os obstáculos para ter o caminho livre como bem entendesse.

Era impressionante o efeito do medo em qualquer criatura. De alguma forma, ele te faz agir até que tenha se extinguido por completo.

Mirou bem aquelas duas figuras pundonorosas a sua frente, lamentando o destino que suas almas traçaram até ali. Encarou o primo com seus olhos esmeraldinos como se enxergasse através dele. Com esforço, pôs-se de pé, sentindo suas pernas fraquejarem e as mãos tremerem de exultação. A passos lentos e sôfregos, caminhou até o outro, em nenhum segundo quebrando o contato visual. Talvez o interior do mais novo borbulhasse em conflito - e Percy bem entendia a sensação – clamando por uma ajuda que nunca veio.

Nico precisava ser salvo, não ele.

Este que presenciava a cena, por algum motivo relevante, quis permanecer no mesmo lugar, intrigado com a expressão que aquela pessoa, membro de sua família, lhe dava quanto mais perto chegava. Não fitava Percy com arrogância, pelo contrário, embora fosse indecifrável, havia uma certa ternura no olhar do outro que o hipnotizava, mantendo-o estático, tentando compreender o que se passava em sua própria mente, bem como suas emoções.

A última pessoa que o olhara assim foi sua mãe, antes de falecer.

Sua mãe.

- Eu estou aqui, Nico – A voz de Percy soou baixa e tenra, suas mãos já, calmamente, tocavam as madeixas negras do Di Angelo. – Está tudo bem, Nico.

Está tudo bem, Nico.

Sua mãe.

Então Percy fez algo que o surpreendeu. Ele o abraçou.

Estava tudo bem ser o que era, quem era e porque era. Estava tudo bem cair, porque tinha alguém para ajudá-lo a levantar. Estava tudo bem tropeçar, pois alguém seguraria seus braços, impedindo sua queda. Estava tudo bem agir daquela forma, porque alguém poderia ensiná-lo a ser melhor. E Percy lhe mostrava tudo isso.

Estava tudo bem.

Silêncio.

 

 

Como se tudo ganhasse um novo sentido, sentiu algo esquentar dentro de si, aquecendo-o. Seus lábios tremeram sutilmente, achava que estava prestes a entrar em colapso e explodir.

- Seu babão, sou eu, o Percy.

- Percy...? – Sussurrou, recebendo um aceno em troca.

De repente, foi bombardeado com recordações de sua infância, o calor de seu peito se intensificando consideravelmente.

“ – Eu te amo, mamãe.

- Também te amo, meu bebê. ”

 

“ – Ai, Nico, seu cabeção! Agora a mamãe vai saber quem bagunçou a cozinha! – Bianca tirou a colher de pau das mãozinhas gorduchas, espirrando em seguida por conta da farinha que flutuava no recinto.

- M-me d-desculp-pe, tata *, eu só quelia... hum... – começou a chorar, um grande bico de pato adornando seus lábios.

Bianca riu, bagunçando os cabelos do irmão.

- Tá’ tudo bem, bobão, a gente dá um jeito de arrumar isso. Vem que eu te ensino a fazer panquecas para a mamãe – pegou-o e o colocou em cima de um banquinho, para que ficasse da sua altura. Ele abriu um sorriso largo, engolindo o choro e batendo palminhas.

- Eba! Vamos, vamos, antes que a mamãe chegue!”.

- Nico...

“Mamãe, o papai virá para o meu aniverlálio? – Sentou-se na cama de casal, abraçando os lençóis enquanto recebia um cafuné de Maria.

A mulher sorriu, mascarando a tristeza corrente.

- É aniversário. Seu pai ainda não voltou de viagem, filho...

- Ah – soltou um muxoxo, manhoso. – Quando volta?

A mulher de longas tranças negras suspirou, fazendo carinho no menor.

- Não sei, meu bem. A mamãe realmente não sabe.

 

__

 

Feliz dia das mães! – As crianças comemoraram, abraçando a barra da saia de Maria, que soltou uma gargalhada gostosa com o gesto.

- Ora, obrigada, meus pequenos! – Depositou as sacolas que trazia consigo, abaixando para contemplar aquelas duas criaturas banguelas e com farinha por todo o corpo. Sorriu e os envolveu em um abraço demorado. – A mamãe ama vocês.

- A gente também te ama! – Os irmãos berraram, histéricos, beijando as bochechas da mais velha. ”

Naquele momento, para o mais novo, naquele cômodo só existiam ele e o primo, mais ninguém. O abraço que Percy lhe dava, de alguma forma, fê-lo estacar e ponderar o rumo das coisas. O mais velho estava o ajudando, estendendo a mão. Relutava, e relutava muito, num conflito interno tremendo. Seu âmago havia sido tocado e suplicava para ser revelado. Por que Percy estaria fazendo aquilo depois de tudo que lhe fizera? O que Percy queria? O que Percy vira em si que valia a pena ajudá-lo? Aquele era o caminho que escolhera, e ninguém mudaria aquilo. Ele, dentre todos os outros, era o último que precisava ser salvo; já havia se perdido e seu fim estava traçado. Ele não tinha motivos para oferecer-lhe um bálsamo para suas feridas, deveria ruminar sentimentos ruins por si enquanto o ignorava, eram desconhecidos, um relacionamento restrito apenas a: o assassino de sua mãe e o mocinho da história.

Olhou as costas alheia, sentindo as mãos grandes apertarem com mais força sua cintura e sussurrarem:

- Vamos, Nico, você é da família.

Da família.

O que era uma família? Já não sabia mais. Talvez fosse aquele grupo de pessoas que morava em uma mesma casa e compartilhava as mesmas coisas, às vezes ideias. Tão desconexo e superficial que não tinha necessidade de uma. Aliás, não tinha uma, então não precisaria se importar.

Percy estava ali, esperando alguma reação, as mãos já tentadas a soltarem-se e recuarem.

- Nico Di Angelo.

Ignorou o chamado do seu pai, ainda absorto. Agarrou os braços do primo e se desvencilhou, recuando alguns passos, a atenção cravada em Percy.

- Por que está fazendo isso? – Sua voz saiu com o dobro de interrogação que queria, fraca e quebrada.

- Ora, você é meu pri-

Nico o cortou, gesticulando as mãos freneticamente.

- Primo?! Primo, Perseu?! – Exclamou, levando as mãos aos cabelos. – O que você sabe sobre mim, hein? Não venha me chamar dessa forma. E família, o que você entende sobre ela?! – Quase gritou a última frase. – Você não viu sua irmã e sua mãe morrerem na sua frente! Não teve seu mundo destruído como se você não fosse importante! Família – cuspiu a palavra. – Isso não existe. Não passa de um estereótipo que tenta unir as pessoas. Uma ideia utópica.

Percy semicerrou as pálpebras com força ao escutar aquilo. Era o cúmulo. Nico estava cego demais para notar as coisas ao seu redor.

- O que você entende sobre família, Di Angelo? – Rosnou baixo, um incômodo crescente em sua gengiva alertou-o para o que estava prestes a fazer.

Hades observava a situação decidindo o que faria com os dois. Percebia as investidas do sobrinho para receber apoio do seu filho, sendo este o mais duvidoso e mentecapto dos indivíduos presentes, pois não poderia mais usá-lo a seu favor, e sujar as próprias mãos estava fora de cogitação. Uma porta se abrira para Nico, e ele relutava em transpô-la. Era essa relutância que o fazia ser analisado pelo mais velho; o quanto ele avançaria designaria sua queda, e Hades se certificaria desta. A seu ver, aqueles dois sem proeza tratavam-se de seres insignificantes, seus próprios bodes expiatórios, contribuindo inconscientemente para o sucesso de seus planos. Queria o sobrinho morto, e Nico o trouxera para si, não restando utilidades cabíveis para o mesmo.

Independentemente do que acontecesse, seu único dever era retribuir Perseu na mesma moeda, limpando seu caminho e retomando o seu lugar de praxe do Castelo, de onde nunca deveria ter saído.

Moveu a mão direita interrompendo a discussão familiar inútil. O local foi abalado por um tremor, levando as paredes a racharem e gradativamente se partirem.

Percy chamou o primo pela última vez, percebendo o que estavam prestes a presenciar.

- Você precisa enxergar, Nico, qual é o verdadeiro mal da história.

Sua fala foi bruscamente cortada quando a névoa negra cobriu sua visão, sufocando-o no escuro, e tudo que pôde ouvir foram os trincos do caixão colidindo ao seu lado.

Estava preso novamente.

Um prisioneiro e sua prisão.

- Espero que aproveites tua estadia, sobrinho, pois serás eterna. Não te preocupes, Nico te fará companhia.

Um som estrépito abalou o cubículo amadeirado, como rochas se chocando uma contra as outras, e concluiu que Hades não estaria satisfeito enquanto sua casa estivesse intacta.

Tocou o interior do caixão, afastando as mãos ao senti-las queimando em contato com a cruz.

- ME DEIXE SAIR! – Remexeu-se descontroladamente, embora não houvessem respostas. Estava sozinho naquele cárcere infernal e ninguém poderia ajudá-lo.

Socou a madeira deveras, todavia, de nada adiantava. Por que tinha de ser assim? Por que não podia viver normalmente sem que o caos o perseguisse a cada passo? Por que não era normal? Berrou mais uma vez, irritado e fraco, completamente encurralado.

Levou as mãos ao rosto, a mágoa e raiva entaladas em sua garganta, queimando como o inferno. Só conseguiu apertar as pálpebras doloridas e desatar numa súplica miserável:

- Annabeth...

E não era só dali que queria ser salvo.

 

[...]

 

No vilarejo do norte da Europa.

 

Silena vestiu o capuz e apertou Blood, a arma negra, contra sua luva de couro, a excitação percorria seu organismo e não via a hora de poder escutar o barulho da arma em ação.

Atenta a qualquer movimento esdrúxulo, tudo naquele descampado estava dentro de seu perímetro. Só esperava que os caçadores não aparecessem como da última vez, roubando toda a diversão. Não mediria esforços numa luta contra eles, se isso ocorresse. Caçadores eram muito intrometidos, principalmente quando se tratava dos mesmos objetivos. Nunca tiveram um princípio aquém ao tosco dilema de “proteger a humanidade”, defendiam uma causa simplória, e os humanos nem ao menos sabiam de sua existência. Os poucos que conheciam se vangloriavam à custa dos caçadores, nunca retribuindo seus favores e elevando-se num pedestal ridículo. Por isso nunca se arrependia de ter abandonado a Organização: lutava por uma causa maior – e, claro, pelo dinheiro. Sempre gostou de sobrepor-se a estes humanos, pondo-os em seus lugares. Perto da Organização, eles não eram nada a não ser bebês chorões que precisam ser defendidos.

O dinheiro lhe atraía, e aniquilar Não-Mortos era praticamente um hobby. Juntando as duas coisas, resultava em seu trabalho: ta dan! O melhor serviço do mundo. 

Avistou a casa que supostamente havia sido invadida para qual fora submetida. Espreitou-se pelas sombras até que pudesse definitivamente adentrar a residência. A noite era a melhor hora para sair numa caçada – as probabilidades de deparar-se com algum vampiro eram maiores. Abriu a porta vagarosamente, ouvindo o rangido irritante que a mesma produzia. O cheiro de sangue seco era notável, e com certeza os causadores daquela bagunça haviam ido embora. Ou não. Preferiu apanhar sua lanterna e vasculhar ao invés de acender as luzes, isso chamaria menos atenção dos moradores.

Não haviam corpos, apenas rastros. Vários objetos jaziam estilhaçados ou jogados. Continuou a procurar, indo até o quarto que supostamente era do casal. Diferentemente do resto da casa, este estava intacto, então o incidente acontecera apenas na sala de jantar. Queria saber com quem estava lidando para então utilizar-se de suas táticas.

Volveu à cozinha. O estrago poderia ter sido proporcionado por apenas um deles, mas não impedia que houvessem mais. Guardou a arma em seu coldre e agarrou seus óculos de visão noturna – sim, tinha um, benefício de ser milionária – e agachou-se para ter uma visão melhor do chão. Dois pares de pegadas de lama sujavam alguns lugares, como aqui e ali, o que foi uma surpresa encontrá-las, já que os bichanos eram sempre meticulosos demais e rastros eram coisas que não deixavam.

Às vezes eram só burros mesmo.

Saiu da casa tendo em mente que eram dois indivíduos até escutar uma risada rouca atrás de si.

- Ora, ora, o que temos aqui...

Sacou Blood & Rose rapidamente e virou-se, apontando-as no rosto daquele homem de olhos vermelhos, não se importando em destravá-las e pressioná-las contra o peito dele.

- Ishi, Edward, essa aqui é bem bravinha... – Joseph alteou as mãos em rendição, tentando olhar por sob o capuz de Silena e identificá-la.

- Ah, Joseph, tenha modos... – Um homem mais alto e de cabelos louros platinados apareceu a alguns metros, acima do telhado da casa. – É tão difícil esconder-se por conta de sua língua solta...

- Ah, cala boca, você que é o antissocial da história – bufou.

- Foram vocês, certo? – Perguntou baixo, pressionando mais Blood contra Joseph e apontando Rose para Edward.

- Nós o quê? – Olhou para a casa ao lado. – Ah, isso? É, foi bem sem graça acabar com eles.

Um disparo.

Joseph sumiu quando o disparo foi efetuado, levando um corte de raspão no braço.

- Ai, isso dói! – Pressionou o local com a mão. Uma fumaça azul começou a sair do ferimento.

- Isso é uma bala de Titânio – Edward explicou com a calma de sempre, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Provável que contenha verbena, já que ela evaporou, resultando nessa fumaça azul. – Colocou o dedo no machucado do outro, sem dó, ignorando que a ponta do mesmo ficasse chamuscada por queimar-se. – Tão desatento...

Silena ignorou os dois e efetuou mais disparos, seguindo com rapidez todos os movimentos que faziam, como se soubesse para onde iam e o que fariam em seguida.

- Ela não ‘tá ‘pra brincadeira, Ed, anda logo seu lerdo! – Grunhiu ainda segurando o braço, desviando dos disparos em alta velocidade.

- Uma caçadora...?

Começaram a se afastar, e Silena apertou o passo. Sabia que não podia vencê-los em velocidade, mas era mais ágil e esperta que aqueles dois. Então tratou de levá-los para a sua armadilha.

O objetivo era levá-los o mais longe possível das casas até que adentrassem a floresta que circundava o descampado, onde poderia usufruir como bem entendesse das habilidades que aprendera na Organização.

Evitava atirar agora, tentando manter-se sempre no encalço daqueles dois o mais sorrateiramente possível. Os disparos acordariam os moradores e – diga-se de passagem – isso não soaria nada bem.

Aqueles seres eram silenciosos demais, e se não fosse por seus longos anos de treinamento, já os teria perdido de vista.

Parou de correr assim que suas botas tocaram a terra úmida, adentrando a floresta. Permaneceu no lugar, os olhos vidrados na paisagem e as armas firmes em suas mãos. Quanto mais meticulosa fosse, maiores eram as chances de vitória.

Ajustou Rose no coldre preso a sua cintura e, com a mão livre, apalpou os bolsos vasculhando por um frasco de vidro que trouxera consigo. Este era pequeno e continha um líquido escuro e grosso que ondulava conforme sua mão se movia. Destampou a pequena rolha e regou o chão ao seu redor com o conteúdo, não restando mais nada no frasco. Não conseguia sentir, mas o fluído provavelmente irradiava agora o cheiro que os vampiros tanto amavam, e não tardaria para a aparência de Edward e Joseph.

Buscou por outro frasco escondido em suas vestes, abriu-o com um pop e derramou o pó verde do recipiente em suas mãos, esfregando-as em seguida. Aquilo era verbena triturada.

Não lhe agradava ter de carregar aquelas coisas consigo, principalmente o dente de alho preso atrás da orelha, tudo por precaução, mas estava fazendo aquilo pelo dinheiro, verdade que amenizava a situação.

Não os via, mas sentia o olhar pesado sobre si em algum lugar. Era como se estivessem aguardando pelo momento certo antes de finalmente dar o bote.

Um vento gélido tocou sua nuca, seus pelos se arrepiaram e virou-se imediatamente, disparando mais uma bala sem certificar-se do que se tratava, embora não precisasse, afinal, atingira Joseph no tórax, que recuou e se refugiou nos galhos altos. Independentemente do que ele tentasse a partir de agora, já se tornara um peso a menos para Silena. A verbena dentro da bala aos poucos o enfraqueceria, e ela perscrutava até o momento em que se certificaria de sua morte.

Embora o sangue os tivesse atraído, Edward era, visivelmente, o mais difícil de se lidar. Não conseguia nem cogitar onde o vampiro se escondia, e isso a irritava profundamente.

Joseph avançou mais uma vez, as presas à mostra e os olhos vibrando de ódio. Foi mais rápida, mirando Blood e desferindo um tiro no meio da testa. A bala atravessou o crânio, indo findar-se na árvore atrás de si e o corpo despencou antes mesmo que tocasse o chão.

Aproximou-se do cadáver, retirando da algibeira um isqueiro e o acendendo. Jogou-o ali, dando dois passos para trás enquanto observava o fogo engolir todo o corpo em segundos.

- Que os deuses te perdoem – chutou a terra por sobre as chamas e se virou, rumando para o término de sua jornada.

Caminhando mais fundo, notou que um par de olhos amarelados a fitavam e deslocavam-se em sua direção calmamente como os faróis de um carro ligado. Não conseguiu distinguir o que era, mas a silhueta de grande porte tinha cara de poucos amigos.

A criatura tornou-se visível ao irromper no limiar dos raios lunares que iluminavam aquela parte da vegetação.

Silena estava cara a cara com um imenso lobo cinza.

Olhou um pouco para baixo, deparando-se com o corpo de Edward suspenso entre os dentes afiados do lobo. Uma figura encapuzada portando um magnífico arco e flecha branco surgiu das sombras e parou ao lado da imensa cabeça do Sub-Humano, que naquela posição era maior que Silena. A figura acariciou as orelhas felpudas do bichano, distribuindo carícias até o dorso e percorrendo este trajeto inúmeras vezes.

- Quanto tempo, Silena – a voz doce e suave que bem conhecia penetrou seus ouvidos, fazendo-a revirar os olhos quase que instantaneamente e cruzar os braços. Mais uma vez um caçador aparecia e atrapalhava o seu divertimento.

Lançou um olhar atravessado, gesticulando com a arma para o lobo para que soltasse a presa – que antes era sua - da bocarra salivante.

Acendeu o isqueiro mais uma vez, a luz amarelada bruxuleante iluminando as feições dos estranhos enquanto se aproximava. O gloss labial dourado da caçadora e os longos cabelos encaracolados bem cuidados brilharam de deleite, descendo como espáduas pela sua fronte.

- Da próxima vez, tentem não atrapalhar o serviço alheio – abaixou-se e queimou as vestes do vampiro, vendo o fogo se espalhar rapidamente. – Hazel Levesque e Frank Zhang.

Um sorrisinho moldou os lábios de ouro de Hazel ao sentir o lobo se transfigurar sob suas mãos num rapaz alto e de aparência asiática.

- É só não se meter no nosso caminho que não voltaremos a nos esbarrar, Sisi.


Notas Finais


Yo~

* Tata: jeito carinhoso de se referir à irmã mais velha. Gente, alguém usa essa palavra? Eu tenho uma irmã mais velha e a chamo assim.

Aeh, po*a, o casal Franzel (?) apareceu!

Nossa, Silena toda equipada com as últimas tecnologias de exorcistas.
-> Sim, a casa que o Percy está sendo "torturado" é a sua última, onde sua mãe faleceu. Tadinho, ficou meio emotivo e tals.
-> Quero mostrar para vocês não só o lado vampiresco da bagaça toda, mas o lado humano que o Percy também tem, o que o faz ser racional e sensível.
-> Agora os dois ficaram presos, ba dum tss.

Vocês querem um extra sobre o passado do Nico? Acho que é necessário para compreender toda a atmosfera cabulosa que o envolve e tals. Muito semelhante as experiências dos primos, não? Tirando o fato de que Percy não tinha uma irmã e tals.

Yeah, nossa querida protagonista ficou de lado nesse cap, precisava desenvolver os acontecimentos do Percy mozão e da nossa querida mercenária.

Desculpem qualquer erro...
Obrigada por todo o apoio, dos comentários, dos favoritos, do leitores fantasmas e whatever, obrigada mesmo ❤️

O próximo sairá, provavelmente, na segunda.

Até lá ~


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