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História Dear Danger - Capítulo XXVII


Escrita por: Srta_Lightwood

Notas do Autor


Olá~

Tudo bem com vocês? Eu espero que sim! ^^

🐧 Desculpem qualquer erro de formatação e whatever, espero que gostem, fiquei o dia inteiro escrevendo e estou exausta, morrida, o chão e eu somos um só.

Boa Leitura ❤︎

Capítulo 32 - Capítulo XXVII


Fanfic / Fanfiction Dear Danger - Capítulo XXVII

Capítulo XXVII

 

    Luke chutou pela milésima vez aquela pobre pedrinha solitária na calçada, vendo-a rolar até o meio fio e desaparecer entre as ervas que ali cresciam. O tempo estava bom, então decidiu fazer uma caminhada, já que teria de visitar a construção de Percy, aproveitou a oportunidade para esticar as pernas e “desentocar” do cafofo que chamava de casa.

    A residência não ficava tão longe assim, em mais ou menos 20 minutos os primeiros sinais dela começariam a despontar no horizonte.

    Esse tempo que se permitia relaxar e desanuviar a cabeça muito lhe agradava. Observava as pessoas zanzando pelas ruas, a agitação matinal visível em seus rostos o fazia pensar em como as coisas eram paralelas. As vidas eram paralelas e simultâneas ao mesmo tempo, nunca se esbarrando. Achava fascinante o mecanismo que movia a tudo e a todos: a tal realidade. Por mais cruel que ela pudesse ser, não havia um único dia em que ela estivesse ausente, regozijando os devaneios da mente e distribuindo socos para todo o lado, num bom e velho “acorde”. E era isso que movia as pessoas, como verdadeiros ventríloquos de falas próprias. Adorava o fato de que algo incomensuravelmente bom estivesse ocorrendo com alguém, e o oposto a outra. Mas não porque era um sádico sem coração, longe disso; a relatividade lhe atraía; como algo quebrado é inútil a menos que possa ser reciclado; como o sol brilha desse lado e nina o outro com seu satélite natural. Sempre quis viver no corpo de outra pessoa, por pelo menos um dia, e desvendar os mistérios da mente, analisar as peripécias da relatividade, as controvérsias de pensamentos, falas, ações etc. Podia-se claramente resumir que o mundo o fascinava, nada tão mais esplêndido como a forma em que se movia dengosamente, calculando e organizando o destino de bilhões de pessoas como algo monótono e de praxe.

    E quando os caminhos se cruzavam, o paralelismo sucumbia a uma forma ínfima, todavia, se tornava permanente no modo de pensar de cada pessoa, mesmo que esta agora tecesse sua realidade acompanhada e não mais sozinha.

    Obviamente, após seu término com Thalia, ou melhor, de ela ter terminado – preferia se referir assim, sua consciência não pesava como se a culpa fosse sua – não sabia bem o que fazer dali em diante. Todo o trajeto que percorrera do apartamento de Annabeth – onde tudo desmoronara – até sua casa fora silencioso e vazio, como se até pronunciar alguma coisa fosse terminar de desmantelar aquele órgão inútil em seu peito que não servia para nada a não ser bombear sangue para o resto do corpo e, logicamente, devastar seu psicológico.

    Quando Thalia disse aquela fatídica frase “Precisamos conversar”, seu coração falhou uma batida e seu subconsciente o alertou para que não prosseguisse, mas foi novamente influenciado por sua teimosia, deixando que as emoções o guiassem.

    Como sempre fizeram.

    E ele foi brutalmente massacrado.

    Talvez a culpa tivesse sido sua, quem sabe se tivesse sido mais atencioso e amoroso, ligado todos os dias às três da madrugada e dito com sua melhor voz de sono, mas que não mostrasse a dependência deste “Você é a causadora da minha insônia” e proferido algumas juras de amor e coisas banais do tipo, Thalia ainda estivesse ao seu lado.

    Mas ele fez.

    A sensação morna que ambas as mãos trocavam num contato mais íntimo sumiram como poeira em alto mar. Não havia nada que não fossem as lembranças que vez ou outra o atormentavam na calada da noite.

    Ele a amava.

    Ah, como amava.

    Ao ponto de chegar a ser doloroso.

    Contudo, era cruelmente obrigado a engolir todas as sensações e sufocá-las dentro da garganta, num nó quase inquebrável.

    Quase.

    O que lhe restava eram as lamúrias praguejadas e os suspiros sôfregos que impelia com força para fora.

   O fato de ter terminado com a pessoa que mais tinha afeto nesse mundo lhe irritava, corroía sua carne e lhe entristecia pelo simples motivo de que os momentos que ambos vivenciaram houvessem sido tão superficialmente expostos  e delatados por Thalia quando terminaram.

    Por que, Thalia?

    “- Por que, Thalia? Só me diz o porquê e eu resolverei tudo!

    - Luke, não é você, sou eu... me desculpe, eu não aguento mais viver uma mentira. – O olhar pesado e opaco da morena recaiu sobre si como um soco no estômago. Uma mentira? – Eu não... te amo mais. Me perdoe. ”

    Era claro que algo como aquilo podia acontecer, isso não se escolhe. Quando o amor começa e acaba é algo indefinido.

    A realidade lhe mostrava a relatividade e o paralelismo da maneira mais mórbida possível.

   Mal sabia que realmente não era ele, o problema era com ela. Ambos os lados se trincaram como frágeis vasos de cerâmica, e permaneceram despedaçados até o presente momento.

    Após todas as luzes terem sido apagadas naquela noite, no apartamento de Annabeth, a caçadora recolhera-se para seu quarto, no refúgio mais quente dentre as cobertas, para quem sabe o calor secasse as pequenas e profusas estrelas que brotavam de seus olhos, e que não cessaram até que os primeiros raios solares cantarolaram sua melodia e a banharam num sono profundo, permitindo-lhe um descanso tão carecido naquela hora.

    Balançou a cabeça, afastando aqueles pensamentos deprimentes já sentindo seu nariz arder, numa subidinha rápida até os olhos. Fungou um pouco para disfarçar que sua vontade era de chorar, e não uma possível rinite.

    - Ah, droga...

    Passou as mãos pelo cabelo, agora bem cortado e ralo, sem aquele topete de antes. Cabelo era uma coisa complicada para si, sua masculinidade se concentrava naquele ponto, e tê-lo fininho diminuía consideravelmente sua autoestima. Quem mandou cortar, né.

    Só que queria dar uma repaginada, parecer mais velho e sabido das coisas, como Quíron costumava dizer.

    A vida estava ridiculamente tediosa.

    Sua visão foi preenchida pela mansão que se erguia a frente, com ar de século XIX e tijolinhos quadriculados. Ela se estendia dos dois lados e se erguia no meio, numa perfeita miniatura de um castelo. Entretanto, o que mais gostava na aparência dela eram os portões de ferro de cinco metros de comprimento por seis de altura, ornados com flores de aço e carvalho nas extremidades, formando uma pequena pontinha ao se encontrarem, como uma tiara.

    O cara é podre de rico.

    O portão se abria para um caminho de paralelepípedos sinuosos, que contornavam uma fonte de pedra, envolto por um gramado fofo regado com flores aqui e ali.

    Ele e Annabeth fizeram um bom trabalho e, logicamente, o restante dos trabalhadores.

    Sua vontade era adentrá-la e descrever quão maravilhosa deveria ser por dentro, mas limitou-se a contemplá-la do lado de fora.

    O que um ricaço como ele veio fazer em Nova Iorque?

    Deu de ombros e cumprimentou os jardineiros que labutavam por ali. Apanhou o celular do bolso e discou o número conhecido por ele, sendo rapidamente atendido pela voz anosa e arrastada de Quíron.

    - Alô?

    - Bom dia, flor do dia! – Luke cantarolou, não se importando em parecer afeminado.

    Quíron riu nasalado e ele pôde imaginar as ruguinhas aparecendo no canto dos olhos.

    - Bom dia, Luke, como vai?

    - Bem, e você, meu idoso favorito? – Sorriu, já pressentindo a careta do mais velho. Luke tinha um carinho muito grande pelo outro, de filho para pai.

    - Aí, seu pirralho! – Resmungou. – Idoso é a sua bunda! Esses jovens de hoje em dia... – Bufou e Luke riu. – Estou bem sim. – Do outro lado da linha ele alisou o paletó por cima da barriga que gradualmente se tornava maior. – Tenho clientes para atender, diga logo, menino.

    - Estou aqui na casa do Jackson dando uma olhada. Ela já está finalizada. Acho que pedirei à Annabeth para avisá-lo. Ele já assinou a papelada?

    O cérebro de Luke deu um estalo.

    - É MESMO! – Berrou fazendo Quíron afastar o aparelho. Já se acostumara com surtos do mais novo, mas mesmo assim não deixavam de ser imprevisíveis. – ONDE ESSA MENINA TÁ? AH, QUANDO EU PEGAR ELA...

    Quíron pigarreou. Obviamente Thalia o informara dos recentes acontecimentos, deixando o louro de fora.

    - A Annabeth? Ela vem normalmente, acho que só não se esbarraram. O horário dela não começou ainda, aliás, são só 7 horas. Talvez esteja em casa. – Mentiu.

    Luke franziu o lábio e concordou com um “hum”.

    O grisalho prosseguiu.

    - E, sim, o senhor Jackson já assinou todas as papeladas.

    - Quíron, você é mais velho que ele... digo, ele é mais novo que você... – mordeu a língua e deu um tapa na testa. – Quero dizer, não precisa chamá-lo de “senhor”.

    - Quem é o velho aqui, pirralho? Deuses, esse menino...

    Embora Percy fosse mais velho que os dois juntos, Quíron limitou-se a esbravejar e dizer que se Luke o chamasse assim de novo a cobra ia fumar.

    - Ai, tá bom, tá bom. Vou dar uma passada na casa da Annie, tchau, velhote – e Luke desligou o aparelho rindo, antes que pudesse levar outro sermão.

 

_

 

    Edifício Berkeley Brow

    Luke – 7:25 a.m

 

   Acho que perdi dois quilos na caminhada da casa do Percy até o apartamento da Annabeth. Eu sei que os lugares não eram tão distantes assim um do outro, mas, convenhamos, andar não é a coisa mais legal de se fazer quando você só consegue pensar em como o sofá da sua sala está te esperando e que você podia muito bem estar jogado nele fazendo vários nadas.

    “Vários nadas”.

    Frase bonita, não?

    Para subir as escadas então, mais meio quilo perdido e paciência desperdiçada.

    Ah, Luke, mas por que você não usou o elevador, seu mané?

   Bom, ele estava com uma placa enorme de “MANUTENÇÃO” colado nele, com letras vermelhas e grandes o suficiente para um míope enxergar de longe.

    Com todo o respeito, é claro.

   Aliás, acho que foi esse o motivo de as letras serem tão excessivamente chamativas. Ou ela quis evitar que alguém apertasse o botão do térreo descontroladamente para se abrir.

    Não que eu tenha feito isso.

    Pufft... não mesmo.

    Alcancei o andar do apê da Annie e pus-me a percorrê-lo, estacando em frente à porta com uma tabuleta de número 231 bem desenhado. Cogitei tocar a campainha, mas me detive: não queria me deparar com Thalia naquele instante, não conseguiria encará-la.

    É Deus, obrigado por ter me feito covarde.

    Pesquei o celular e disquei o número da Annie.

    Caixa postal.

    Se você soubesse o quanto eu odeio a vozinha da mulher da linha telefônica...

    Tentei mais uma vez.

    “Os seus créditos estão expirando...

    - EU NÃO PEDI SUA OPINIÃO!

    ... estaremos completando sua ligação”.

    - Ah, retiro o que eu disse.

   Mesmo assim, a Annie não atendeu. Quando a encontrasse brigaria com ela por ter me feito gastar os meus preciosos últimos centavos de crédito. Ah se vou.

    Minha última alternativa era apertar a campainha. E foi o que eu fiz.

    - ANNABETH! – Pressionei o botão fervorosamente de maneira constante. Quem sabe se eu quebrasse o maldito ela sairia de lá, aí eu exigiria meus centavos de volta.

    Me desculpem, tenho sérios problemas com botões. Eles são apertáveis demais.

    HÁ.

   Parei de tocar quando ouvi passos na escadaria e alguns ruídos de vozes. Me equivoquei ao ponderar que Thalia e Annabeth apareceriam ali, pois minha visão foi coberta por três homens trajando ternos escuros de risca de giz, que ao notarem minha presença, imediatamente me encararam com semblantes curiosos e cenhos franzidos. Eram elegantes e belos colares adornavam seus pescoços brancos, escorrendo por cima do paletó negro.

    De repente eu me senti feio.

    E olha que eu era um gato.

    Modéstia parte, mamãe me fez muito bem.

   A tez esbranquiçada e livre de qualquer marca atribuía-lhes uma beleza sutil de porcelana, os cabelos tingiam-se num tom castanho claro quase louro, tão lisos e macios que o próprio bicho da seda teria inveja. O formato dos olhos, graciosamente contornados por uma camada de cílios e levemente repuxados nas extremidades, indicava a mestiçagem em seu sangue. Não chegavam a ser trigêmeos, mas facilmente se definiam com filhos do mesmo pai.

    Ou alguém pulou a cerca. Vai saber.

    Os acessórios no pescoço possuíam pingentes diferentes, tais como uma esfera, um triângulo e uma cruz.

   O da esquerda produziu um barulho com a boca e se virou para ir embora, mas o do meio, que vou chamar de José por não conhecer seu nome (e ficar usando pronomes concomitantemente assassina a gramática), agarrou a manga do rapaz, os olhos ainda cravados em mim, foi quando percebi que os fitava descaradamente. Desviei o olhar e desisti de chamar por Annabeth naquela casa. Ninguém se encontrava, então voltaria mais tarde.

    Abandonei o local e passei pelos mosqueteiros preterindo um aceno de cabeça. Eu deveria ser educado, acima de tudo.

    - O senhor conhece o morador daquele apartamento? – O José me perguntou, assustando-me, me fazendo virar e quase xingá-lo pelo “senhor”.

    Ah, agora eu te entendo, Quíron.

    Sua mão segurou meu pulso no ato, e toda aquela região reverberou num frio intenso que ele emanava. A permanência desta em meu corpo começava a queimar como se eu estivesse tocando em uma calota polar. Recuei o braço imediatamente, levando a mão livre a acariciar o local. O semblante do rapaz não se alterou, ele apenas levou as pálpebras uma de encontro com a outra numa calma surpreendente e suspirou pesadamente, como se já estivesse acostumado com aquele tipo de reação. Tratei logo de me desculpar, receoso de que ele tivesse compreendido errado minha ação e cogitado que eu era um maníaco antissocial com nojinho das pessoas.

    - Me desculpe... – cocei a nuca encabulado e me balancei sobre os calcanhares para disfarçar meu constrangimento. – Sim, eu conheço. O senhor é um dos clientes dela?

    Toma o senhor aí, José!

   O garoto da direita soltou um risinho debochado e fiquei com medo de que tivesse lido minha mente.  Vez ou outra o pegava umedecendo os lábios e me mirando.

    O José pareceu reparar e, sem mesmo se virar para o menor, sutilmente deslizou a mão para seu pulso e eu podia jurar por Deus, Buda, minha mãe, Jesus Cristo e todo o resto que aquele garoto ficou mais pálido do que era antes.

    - Dan... – O tal Dan foi liberto após aquela chamada e olhou emburrado para o José.

    - Sim, nós somos – ele sorriu amigável, ignorando totalmente o fato de ter deixado a criatura ao seu lado praticamente apática. – A propósito, meu nome é Dominic, este é o Dan e ele – gesticulou para a esquerda – é o Darius.

    Contive um riso.

    3D.

    Relevem.

    - Prazer, eu sou Luke – estendi a mão para cumprimentar Dominic/José e ele prontamente retribuiu. Repeti o processo com os outros dois, que se percebia serem o completo oposto. Darius era quieto e limitava-se apenas em menear brevemente a cabeça, já Dan se coçava para falar alguma coisa, tal qual uma criança que não consegue ficar calada.

    Quando meus olhos se encontraram com os de Darius, tive a leve impressão de que fossem violetas.

    Que estranho.

    Embora obrigasse meu corpo e cada célula dele a permanecerem estáticos, a minha vontade era dar o fora o mais rápido possível. Os três me fitavam fixamente, e eu não sentia coisas boas emanarem deles.

    Ah, que bobagem, Luke.

   Os encarei por alguns segundos – mais do que provavelmente já estava fazendo – e desci, cautelosamente para não tropeçar e cair, um degrau, me afastando.

    - Annabeth sempre me conta sobre seus clientes... – murmurei num tom inaudível até para mim mesmo.

    - Talvez ela não tenha contado sobre nós, então – Dominic sorriu largo.

    Largo demais.

    Eu estou surdo ou esse cara tem ouvido biônico?

    - Talvez... – recuei mais um passo, um sorriso falso contornando meus lábios. – Ela não está, voltarei mais tarde – me virei e saí daquele lugar sem olhar para trás.

  Desci as escadarias do edifício, acenando brevemente quando esbarrava em algum conhecido. Já nas ruas, mandei uma mensagem para Annabeth e fiquei encarando a tela, mas não houve resposta imediata, o que era estranho, considerando o fato de que a garota e o celular eram quase um.

    Decidi ir à Arts & Corps para terminar alguns projetos e confabular com o senhor velho-é-a-sua-bunda.

    Contei a ele sobre o ocorrido e sobre como a Annie era uma mal-amada que não se importava comigo. Logicamente ele só riu e deu as costumeiras batidinhas na barriga. Contudo, quando o assunto refletiu ao José e seus possíveis irmãos, Quíron pigarreou e me lançou o melhor olhar mortal de mãe que está prestes a te dar uma chinelada porque você fez alguma cagada monstruosa.

    Sério, eu já presenciei isso ao vivo.

    “- Acho melhor não voltar lá por hoje” – ele simplesmente disse. Não entendi muito bem, afinal, qual era o problema? Não mudaria nada em minha vida.

    Eu até obedeceria se eu não fosse teimoso o suficiente para discordar.

 

[...]

 

    Organização – 10:00 a.m

 

  Annabeth perpassava cada corredor de estantes da biblioteca com uma calma absoluta. O motivo de estar ali? Bom, a noite passada, após receber o mapa para sua fuga, não parava de pensar no porquê de Thalia ter lhe ajudado. Por que lhe dera de bandeja a planta da Organização? A possibilidade de sua melhor amiga saber de alguma coisa a alarmava, mais ainda quando cogitava a extensão de seu conhecimento.

   Alguns caçadores, como Thalia, Lee Shang, Mina Jun, August e outros haviam partido e não retornaram até então. Não sabia dizer para onde tinha ido, mas com certeza relacionava-se com a invasão repentina de Não-Mortos na cidade. Não voltariam cedo, segundo Thalia, e devia permanecer no quarto enquanto a morena estivesse fora. Entretanto, passara a noite em claro tentando inutilmente comunicar-se com Percy, mas nada que não fossem frustrações lhe assomavam logo de manhã. Precisava descobrir um jeito de se comunicar, por isso estava na biblioteca.

  Dimitry também partira naquela expedição, sem antes a avisar que demais dúvidas poderiam ser esclarecidas consigo ou com auxílio dos livros. Tinha de admitir que a sensação de transpor os caminhos entre uma estante e outra a fascinava, sentia-se preenchida por diversos universos, como se ela não estivesse sozinha se deparando com as diversas enciclopédias. Alguns eram novos e donos de lustrosas lombadas, outros já velhinhos e puídos, que se escondiam entre os mais jovens com vergonha de serem vistos. Mas esses eram os melhores; sábios, com ensinamento e cultura suficientes para preencher a alma de qualquer ser humano. Amantes da literatura, não só estes, mas como todos aqueles que possuem um mínimo interesse na arte das palavras, com toda a certeza estariam vidrados da mesma forma que a mulher perante a quantidade de exemplares que decoravam a sala de teto baixo e ar melancólico pela ausência de vida e iluminação direta proveniente das grandes janelas de vidro que refletiam os raios do sol. Bibliotecas resguardam em seu âmago o saber de todas as coisas, contidas em pequenos e acessíveis objetos que brilhavam aos olhos de muitos.

  Uma comoção tremenda adotava os músculos da loira quando se deparava com as capas duras e grossas, cobrindo um amontoado de folhas amareladas pelo tempo e corroídas por fenômenos externos.

  A sala não era ampla como o refeitório, mas suficientemente espaçosa para acomodar puffs e mesas. As estantes eram altas e de madeira fina, aplicando sutileza irreparável no recinto, dispostas de modo ortodoxo aos fundos, próximas a um comprido balcão claro onde papeladas e um computador descansavam. Assim como Dimitry lhe aconselhara, percorria a seção de mitos para encontrar o que procurava: um pequeno livro taquigrafado pelos Visionários anteriores. Quase uma relíquia, era o primeiro a ser notado na prateleira de número 12, achatado e com a capa reluzindo a óleo de peroba, um pouco incômodo às pontas dos dedos.

  Apanhou o objeto e foi se sentar num dos puffs laranjas em frente a uma lareira apagada. As únicas pessoas presentes ali tratavam-se da protagonista e um senhorzinho muito bem vestido, uma boina caqui na cabeça, cobrindo os fios grisalhos, uma calça de algodão engomada na cintura que lhe espremia o umbigo, afivelada por um cinto de couro marrom gasto, uma camisona azul marinho se escondia por baixo da calça, os braços molengas duma pele bronzeada e enrugadinha, a pele caída aludia a dois saquinhos que balançavam quando se movia. Os olhos castanhos lustrosos, dengosamente rebaixados nos cantos. O rosto até que fofo e cheiroso a loção que aplicara de manhãzinha, na hora de acordar. Ele lembrava muito Simon, o porteiro de seu prédio, e seu coração preencheu-se de uma saudade arrebatadora, que só cessaria quando o reencontrasse novamente.

  Suspirou pesado e deixou o corpo amassar o puff, estralando as costas e provocando um arrepio gostoso. Ah, a sensação de finalmente poder relaxar e ler um bom livro.

  Primeiro alisou a capa com o indicador, contornando as letras miúdas douradas incrustadas na pelagem camurça do mesmo, fungando para sentir o cheiro que possuía, mofado a poeira e por ter dormido muito tempo na estante.

   Abriu-o.

   Havia um sumário explanando sobre os tópicos que os 25 capítulos abordavam. Por curiosidade, percorreu os cantos do papel e encontrou os autores daquela obra.

   “Abraham Van Helsing & Grayson Spielberg”.

   “Taquigrafia e ilustrações por Rachel Elizabeth Dare”.

    Logo na primeira página, o prefácio, uma mensagem de alerta aos leitores:

    “Abraham Van Helsing e Grayson Spielberg postulam aqui as vicissitudes das barreiras que enfrentaram durante a jornada árdua que completaram até o confim de suas vidas. É por meio deste que alertam a quem ler que tudo aqui taquigrafado por garantia de Drácula*, diz respeito à verdade e somente à verdade.

    Tudo dito aqui morrerá aqui.

    Que para o leitor isso não sirva somente de aviso e entretenimento, mas uma lição para a vida que repercutirá em suas ações futuras.

   Assim como eles não estiveram preparados para as dificuldades que, porventura, não teriam expirado se braços e pernas contornassem seus caminhos e os oferecessem auxílio, atente-se a não só o que os olhos veem.

    O mundo é o caos. E quem o causa somos nós mesmos.

    Esperamos que estejas preparado.

    E nunca, por hipótese alguma, duvide de si mesmo.

 

R.

[...]

 

    Abraham Van Helsing nasceu em uma vila afastada da cidade, no sul da Romênia. Cresceu e viveu no prosaísmo, longe da opulência das crianças da cidade. Sua casa era simples, pequena e com apenas três cômodos, divididos em seu quarto, o de seus pais e a cozinha. O banheiro ficava em uma pequena cabana do lado de fora. Era uma casa de tijolinhos muito da bonitinha e arranjada, formosa e confortável que não esbanjava abastança. A família sustentava-se pela pequena horta aos fundos que produzia não só leguminosas como também verduras, macieiras e pés de amora. Todas as manhãs o garoto montava em sua bicicleta azul, colocava as verduras na cestinha de arame improvisada e partia para a cidade a fim de vende-las no comércio da barra.

    Sua rotina se resumia a isso.

    Aos 13 anos de idade, seus pais, que haviam arrecadado algum dinheiro para este propósito, matricularam-no na escola mais próxima, no caminho de terra entre o início do distrito e a saída do campo. Naquela época, estudar era sinônimo de riqueza material, então só os que a possuíam gozavam de uma vida escolar.

    Um garoto esforçado e determinado, conseguia tudo o que queria se pusesse a alma e o coração naquilo.

    Uma oportunidade em colégio maior, uma bolsa em uma faculdade, um bom emprego...

   Todos os dias um jornaleiro do distrito corria sofridamente com as botinas capengas, o saco de jornais em baixo do braço, até a vila, distribuía-os e depois percorria todo o trajeto de volta à cidade, para que no dia seguinte o percurso se repetisse.

   Havia um clima de alerta por todo o lugar naquele tempo. Súbito. Pessoas morriam de forma estranha e misteriosa, sendo seus corpos encontrados na beira de rios completamente secos e esmaecidos.

   Sem sangue algum.

   Helsing não se preocupou com estas notícias sórdidas, ele mesmo precisava desvendar o que acontecia consigo. Fenômenos que podemos denominar de visões abalaram-no, e ele foi cada vez mais envolto no enigma que estava se tornando.

   Até prever algo diferente, no fatídico dia em que era promovido no emprego.

   Seus pais seriam mortos por vultos negros.

   A princípio, não entendeu o que significava e, logicamente, resolveu deixar de lado.

   Seu primeiro e maior erro.

   Nunca duvide de si mesmo.

   Mas já era tarde.

   Assim que retomou sua casa, contente e arrebatado de felicidade para contar a boa notícia do dia, nada pareceu mais sem sentido do que a vista que nublava seus olhos enquanto a sua casa, envolta por chamas negras, definhava aos poucos.

  Seus pés correram e se movimentaram por vontade própria, já que não os controlava mais. Seus joelhos foram de encontro com a terra quando seu corpo exausto despencou. Seus pais estavam mortos bem na sua frente. Ele sabia que algo aconteceria, mas não dera ouvidos.

  Sem mais o que fazer, o garoto chorou. Gritou e praguejou aos céus com todas as suas forças, pranteando para secar toda a água do seu organismo.

  O dissabor foi substituído por um sentimento de raiva e ódio puro quando uma figura vestida dos pés à cabeça de preto abandonou casualmente o casebre e estacou ao notar o homem que tanto procurava bem em sua frente, frágil e entregue.

  Van Helsing coxeou e desferiu seu primeiro soco contra o rosto encapuzado, entretanto, o pulso mirrado esmurrou apenas o vácuo repetidamente, pois a figura não estava mais lá.

  E então mãos grandes o agarraram e o levantaram como se fosse um saco plástico. Seus olhos foram de encontro com os cobertos pelo capuz negro, deparando-se com inexpressíveis orbes escarlates quase demoníacos. Naquele instante, soube que morreria. E esperou.

  Esperou por uma morte que não veio.

  A pressão em seu pescoço diminuiu e se encontrava novamente no chão e, como numa cena de batalha, os seus dois lados foram preenchidos por várias pessoas. Lobos imensos e homens portando arcos e flechas de um, e criaturas encapuzadas de outro. Aquele que antes o segurava jazia morto no chão, uma flecha prateada cruzando-lhe o crânio.

__

 

 Van Helsing foi levado à Organização em meio ao alvoroço de uma possível guerra. Ele não entendia o motivo de tanto estardalhaço. Só queria ficar sozinho e sufocar aquela dor que sentia. Contudo, não estava nos planos dos Anciões que o rapaz se isentasse dos assuntos: ajudá-lo a compreender os dogmas do mundo era um dever a ser cumprido.

  Helsing surtou. Não havia como aquilo ser verdade. Nada que saía da boca dos caçadores fazia sentido.

  Ele teve de aprender do modo mais difícil que não se contradiz as palavras de um Ancião. O mundo mergulhava em caos, e birra de criança era intolerável.

  Viu os companheiros morrerem, Sub-Humanos se sucumbirem. Ambos os lados corriam perigo, e a culpa era toda sua.

  Tinha de fazer alguma coisa.

  Foi nesse instante que a aquilo se iniciou. A mudança em seu cérebro. A marca já havia se completado, e agora tinha o controle total sobre o espaço-tempo. Sendo assim, em uma noite de invasão, Abraham se posicionou entre os dois mundos e revelou-lhes o futuro de ambos caso os Guardiões dominassem.

  Seus olhos se tornaram brancos, tão puros quanto seriam os de um anjo, e sua consciência se expandiu por todo o salão, caindo como um manto sobre os demais. Por alguns minutos, armas penderam das mãos e o silêncio reinou. As almas concentradas no que suas mentes viam.

  E todos viram que o mundo não seria mais o mesmo se a guerra continuasse. Humanos se extinguiriam, prevalecendo a outra raça, que consequentemente definharia aos poucos sem a fonte que os alimentava.

  Os deuses ficariam tristes e até irritados. Jogariam uma peste que devastaria os imortais na terra, eliminando os impuros para que o equilíbrio do universo não fosse corrompido. Então só sobraria uma vasta extensão de terra e vegetação. O planeta daria restart, e dessa vez, equívocos não seriam poupados. Uma classe mais inteligente se formaria, e ambos os lados não estariam ali para darem as boas-vindas.

 Muitos sub-humanos concordaram com o Tratado de Tolerância, e os que se opuseram, conhecidos como Renegados, foram expulsos pela Ordem dos Não-Mortos. E são estas as presas dos caçadores.

  Não se fala muito na Ordem. Dizem que era apenas um mito. Nunca se soube ao certo, durante tantos anos, quais suas intenções e fundamentos. Todavia, parecia se assemelhar ao Conselho. Não há muitos relatos justamente por nenhum caçador ter feito parte dela.

__

 

  Não há muito o que contar sobre Grayson Spielberg. Sua época travou-se relativamente na calmaria. Aristocrata e filho de pais ingleses ricos, viveu uma infância confortável. Naquele tempo, o acesso aos colégios era mais simples e fácil e abrangia todas as camadas da população, embora houvessem exceções.

 Grayson manteve-se na Organização até a velhice como um membro competente e honorável, do mais alto escalão. Fundou a Divisão de Inteligência, sendo precursor de suas atividades. Revolucionou com a criação de um método que ajudaria na identificação de Visionários, e seus estudos repercutiram grande influência para os chefes posteriores do local. E assim a sua própria tecnologia aprimorou-se, alcançando a grandiosidade que é hoje.

 Spielberg descobriu uma sequência. Visionários só apareciam a cada cem anos, para manter o equilíbrio. Mesmo que suas habilidades não fossem utilizadas para feitos maiores – como as suas – eles estavam ali por precaução, como uma porta de saída da ruina.

  Segundo ele, os Visionários eram os verdadeiros guardiões da história.

  Abraham Van Helsing e Grayson Spielberg escreveram o início das aventuras dos Visionários em seus diários, e confiaram a mim passá-las adiante.

  Juntos mudaram o rumo dos tempos, contribuindo para o que a Organização é hoje.

 

R.

 

[...]

 

   O que Annabeth leu no livro sobre Telepatia resumia-se basicamente em seguir as ordens que Dimitry lhe impusera.

   Se ela tivesse prestado atenção nelas.

   Os passos eram simples:

   1 – Concentre-se, vá a um lugar de sua preferência;

   2 – Pense na pessoa que quer se comunicar, de preferência, coloque a mente e o coração no processo;

   3 – Diga o nome dela em silêncio quantas vezes forem necessárias, e a telepatia se concretizará.

 Annabeth fechou o livro ponderando qual era o melhor local para relaxar na Organização, longe de intervenções externas. Cuidando para que o senhorzinho não visse o que estava prestes a fazer, apanhou o papel que Thalia lhe dera e o desdobrou furtivamente por cima das folhas amareladas do livro. Seus olhos se arregalaram minimamente ao vislumbrar o tamanho da construção; muito maior do que imaginara.

 Era ampla como um castelo e possuía incontáveis cômodos, desde quartos a salões. Os quartos localizavam-se na ala leste, enquanto os salões e o Conselho do lado oeste. A sala da Punição era a única que se centralizava, bem atrás do refeitório. Atravessando o gramado desta, o esboço de um alojamento se prontificava há alguns quilômetros, embora não se lembrasse de tê-la visto na última vez que esteve lá com Thalia.

  Era para lá que ia.

  Procurando pela saída, para sua surpresa, notou que haviam três, uma delas era um túnel escondido por baixo da terra que levava direto ao Templo de Ártemis, retratado com alguns riscos naquele pedaço de papel surrado.

  As duas primeiras entradas eram vigiadas por lobos – sim, isso estava escrito ali, ela não inventou – que previsivelmente não a deixaria sair. A única escolha que lhe restava era o túnel.

   Como se o destino quisesse ser mais filho da mãe do que já estava sendo, adivinha onde estava a passagem secreta?

   Na sala do Conselho.

 

__

 

  - Vai, vai, vai! – Annabeth pressionava as têmporas cada vez mais forte com as pálpebras semicerradas num esforço para realizar com perfeição aquela maldita “receita” de Telepatia. – Isso não funciona! – Bufou, jogando os braços para cima e desferindo soquinhos no ar. – Ah, qual é, isso é impossível! Desculpa Percy, sou uma inútil, me abandone e viva feliz sem a minha pessoa – deu tchau para o além com lágrimas de crocodilo nos olhos. De repente começou a rir. -  Não, sem mim esse Cabeça de Alga não será feliz. Vamos, Annabeth, você consegue! – Sentou-se no piso gelado do que descobrira ser uma estufa, enquanto as flores a observavam questionando: mas que diabos de ser humano bipolar era aquele. Preferiram voltar a realizar fotossíntese porque assim não perdiam tempo com coisas estúpidas.

Quando saíra a procura daquele borrão do mapa no campo de treinamento, deparara-se com uma estufa.

 - Oh Buda – fez um movimento com as mãos – oh Deus – outro movimento – seres místicos! – Juntou as mãos em frente ao corpo como se estivesse completando um ritual vodu. – Me ajudem a encontrar o que está perdido, de nome Percy digo, pois estarei contigo, na jornada para o infinito -  e começou a fazer uns barulhinhos estranhos com a boca, mexendo os dedos de forma frenética numa sinfonia que não existia. – Vamos lá, estou sentindo – espalmou as mãos – está vindo de dentro, lá do fundo, eu vou ver... – O sol brilhou bem atrás dela, aplicando-lhe um ar profético. – EU VOU VER...!

  A estufa foi preenchida por um barulho gutural do seu estômago roncando.

  - AH, MAS EU NÃO ACREDITO NISSO! – Chutou o ar. – TANTO ESFORÇO PARA NADA! – Resmungou. – Dá uma ajuda aí, Deus, nunca te pedi nada – choramingou. – Quero dizer, óh deuses proféticos que habitam os céus, me ajudem ou eu vou para o beleléu – ficou em uma posição perfeita de kung fu.

  Silêncio.

  - ÓTIMO, NUNCA MAIS FAÇO UM SACRIFÍCIO POR VOCÊS!

  Um trovão retumbou no ar, mesmo estando sol.

  - Eita, eu só estava brincando! – Se jogou numa reverência desengonçada. Outro estrondo reboou ali perto, e deu-se conta de que não se tratava de trovão nenhum.

  Correu para fora da estufa, derrapando na entrada e se atrapalhando para manter-se escondida do batalhão de caçadores que se formara no campo de treinamento. Provavelmente mais de cem caçadores marchavam em lita reta, portando seus arcos e outros instrumentos mortíferos como legítimos soldados de guerra. Annabeth engoliu em seco, apoiando as mãos no chão e inclinando o troco para ver melhor.

  Para sua surpresa, à frente do batalhão estavam Thalia, Lee Shang, Mina Jung e August Hale, as mãos entrelaçadas nas costas e as botas pretas de couro fincadas na grama. Quando eles voltaram?

  - Guerreiros! – A voz potente de Thalia ressoou por todos os lados, tão forte que por um momento a morena parecia uma líder de verdade. – Os Sub-Humanos escolheram o dia para atacar, foram espertos, sabiam que estávamos despreparados para um ataque nesse horário. Nós do time Alfa ficamos encarregado de escoltá-los até o esconderijo deles. – A Grace andava de um lado para o outro, os Gemini soltavam risinhos orgulhos e Hale mantinha a expressão austera. – Éfeso precisa de nós, e nossa missão é protegê-la. Honrem a nossa morada, e acima de tudo, honrem a deusa patrona, Ártemis!

  E o gramado irrompeu em urros e gritos por todos os lados, armas erguidas e corações acelerados. Os caçadores iniciaram uma sinfonia com seus pés, metralhando o solo com pisadas sucessivas, daí o barulho alto. Estavam todos vestindo as mesmas botas e sobretudos vermelhos-sangue. O que talvez os diferenciava um dos outros era que as mulheres trajavam casacos de camurça que combinavam com suas aljavas.

 O time Alfa era o único diferente. Embora com os mesmos calçados, as roupas se resumiam em calças e regatas escuras, juntamente com bonés.

  Que maneiro.

  Thalia puxou algo da região do tórax e lançou-o para cima, o que quer que fosse aquilo parou no ar e liberou uma luz clara por cima dos caçadores. E a coisa mais surpreendente aconteceu.

   Eles desapareceram.

  O objeto caiu no chão livre do massacre que sofria há poucos minutos, e Thalia caminhou até ele. Annabeth se encolheu quando a amiga se levantou, o olhar cravado na estufa. Por algum motivo, o coração da loura estava a mil, talvez pelo que acabara de presenciar, ou pelo fato de Thalia ter olhado para si. A morena tinha lhe visto.

  Escondeu-se ao fundo, entre os vasos mais altos, pranteando para que a ninguém viesse bancar o bom jardineiro e resolvesse aparecer naquele momento para cuidar das plantinhas. Abraçou as pernas, as costas apoiadas num canteiro de camélias e os braços roçando o cimento dos vasos. Enfiou a cabeça entre as pernas e obrigou-se a pensar, mas tudo que pôde fazer foi reparar que estava com a mesma roupa do dia em que desmaiara/realizara a Metempsicose.

   Aquela roupa...

  Afobada, acabou esbarrando o cotovelo em um pequeno vaso ao mover-se a fim de alcançar o bolso do jeans. O vaso pendeu sobre um maior, e assim sucessivamente, num perfeito efeito dominó.

   - Maravilha – soltou um muxoxo, finalmente enfiando a mão no bolso e se desculpando mentalmente pelo estrago que fizera.

    Quando encontrou o que queria – o cartão que Percy escrevera – puxou-o com os dedos.

  Foi quando aquela sensação tomou conta de si. Seu cérebro foi preenchido por bolhas que estouravam sucessivamente, provocando um certo incômodo. Sua visão rodou e sua cabeça pendeu para o lado.

   Enquanto sua mente preparava-se para uma nova descoberta, o time Alfa preteria sua última conversa do dia, para depois partirem para o que os aguardava.

   Cinco minutos depois Annabeth voltou a abrir os olhos.

   Já sabia onde Percy estava. Só lhe restava salvá-lo. O resto era de menos.

 

[...]

 

    Edifício Berkeley Brow

    Luke – 20:00 p.m.

 

    Teimosia é meu nome do meio.

    Luke Teimosia Castellan.

    Não, é só Castellan mesmo.

    Pois bem, cá estou eu novamente em frente ao prédio onde minha adorada mal-amada amiga mora e onde minha ex-namorada está hospedada. Que beleza. Simon permitiu que eu entrasse, embora tenha me informado que não vira a senhorita Annabeth hoje. Agradeci e subi as escadas – sim, a maldita placa de MANUTENÇÃO ainda estava lá – pululante, preenchido por uma comoção que me pareceu infantil.

    Caraca, a Annabeth podia morar num andar mais baixo.

    Alguns minutos depois (lê-se uma eternidade) avistei a porta de número 231 e corri até ela, apertando o interfone assim que me aproximei.

    Já disse que tenho um coiso com botões?

    - ANNABETH! É O LUKE!

    Liguei em seu celular, no telefone fixo, mas apenas fiz papel de trouxa porque assim como da primeira vez, ela não me atendeu.

    Eu acho que quando as pessoas nascem o destino delas já é traçado. Quando Deus me viu ele deve ter dito “Ah, nem eu salvo esse garoto” e deu nisso. Resolvi visitar o apartamento do Percy, o 232, e ver se pelo menos ele dava valor para mim. Sim, sou uma pessoa desvalorizada.

    Por acaso os dois decidiram tirar férias juntos? Por que não encontro ninguém quando quero? Não adiantaria bater à porta dos vizinhos 233 e 234, já que estes apartamentos estavam desocupados. Peguei o celular e abri na caixa de mensagens para ver se a mensagem havia pelo menos sido visualizada.

    SENHOR, NEM A MENSAGEM!

    Furioso e sem me importar se eu machucaria meus dedos apertando com força o teclado do parelho, digitei um texto para a Annie. Essa garota está brincando com pouco fogo.

    Eu: Annabeth, me diz aonde você está AGORA. – 20:10 p.m.

    Eu: Tipo, AGORA MESMO – 20:11 p.m.

    Eu: O que você está fazendo que é mais importante que seu melhor amigo?? – 20:11 p.m.

    Eu: Ah, você está dando uma de difícil, né? Tá naqueles dias, só pode – 20:12 p.m.

    Eu: Annabeth, só quero te avisar que eu não guardo rancor, eu guardo NOMES! E O TEU EU VOU TATUAR NA MINHA TESTA! – 20:13 p.m.

    Praguejei baixinho e me encostei na parede, bloqueando a tela do celular e o enfiando de qualquer jeito no bolso. Iria aguardar mais um pouco, e então me mandaria.

    Estava de boas na minha jogando Candy Crush – quê? É para passar o tempo – quando o jogo começou a pifar. Ótimo, até isso. O aplicativo travou e não consegui mais mexer. A tela foi preenchida por um estrilado de estática e finalmente apagou. Morreu. Se foi. Perdi meu celular.

    MEU DEUS. O CELULAR NÃO.

    Apertei o botão de ligar, entretanto o energúmeno não obedecia às minhas ordens. Obviamente eu xinguei os céus e a terra por causa daquilo, mas acho que não contei que fui reprovado na aula de maus modos, então o que eu falei foi: “Seu jumento”, “imprestável”, “protótipo do Doutor Eggman”, “pedacinho de bosta” e outras coisas.

    Parei com minha seção de palavrões quando todas as luzes se apagaram. Eu juro por tudo que é mais sagrado que meu coração falhou e eu morri bem rápido e depois voltei. Não havia nenhuma luz a qual me agarrar, eu estava cercado pelo escuro e, claro, eu não tenho visão noturna, então esbarrei em alguma coisa que fez um barulho horroroso quando colidiu com o chão.

    Ah, o vaso de planta.

    Chamei por Simon, por Annabeth e por Thalia, crendo piamente que aquilo não se passava de uma brincadeira de mau gosto.

    Percebi que não era quando ouvi passos na escada.

    Me espremi no canto que me pareceu mais escuro, ok, foi um lugar aleatório, já que estava tudo escuro naquela bagaça e fiquei pianinho. Quieto mesmo. Tão silencioso como nunca estive, até minha respiração parou porque estava assustada.

   Esfreguei os braços, eu sentia frio e uma sensação ruim, como se algo péssimo fosse acontecer e eu estivesse prestes a presenciar.

    Os passos cessaram e eu ousei olhar para onde supostamente eles estavam.

    Eu só conseguia enxergar o brilho de três formas diferentes, uma esfera, um triângulo e uma cruz.


Notas Finais


Yo~

* "Por garantia de Drácula" , não expliquei no cap, mas era uma expressão que eles usavam (o povo da fic, tá gente) naquele tempo, significava algo com "que tudo era verdade e ninguém poderia discordar", era tipo jurar pelo rio Estige, tá ligado?

-> Opa, vimos aí a importância da Rachel Elizabeth Dare. Sim, o "R" é de Rachel.
-> Luke tem medo do escuro e não sabe xingar. O que será que acontecerá com ele?
-> O próximo vai ser A fuga. Com A maiúsculo.
-> Luke na vida me representa ashuashua

🐧 Vocês querem um extra sobre o passado do Nico? Se sim, ele sairá com o próximo, e provavelmente vai demorar mais.

🐧 Queria agradecer pelo carinho de todos que favoritaram, comentaram e também dos leitores fantasmas. Sério, obrigada.

Até o próximo o/


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