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História Dear Danger - Capítulo XXIX - Parte I


Escrita por: Srta_Lightwood

Notas do Autor


OI GENTEM

TUDO BEM COM VOCÊS? EU ESPERO QUE SIM! <3

Primeiramente, deixe-me dizer uma coisa: esse capítulo foi dividido em 2 partes. 'Segundamente': Desculpem esta mera mortal pela ausência.

'Terceiramente': Preparem-se para a tensão sexual que...
'Quartamente': Posto e saio correndo.

Capítulo 35 - Capítulo XXIX - Parte I


Capítulo XXIX - Parte I

 

Annabeth correu até o moreno, mas diminuiu os passos conforme a distância era quebrada. O ar ao redor continuava gelado, como pressupôs em sua visão, embora não houvesse tanta neve assim. Alguns flocos ainda transcendiam pela flora de maneira inconstante, umedecendo o solo e a folhagem dos pinheiros. O atrito de seu tênis com o chão produziu um crack gostoso, partindo os seixos e tornando o ambiente mais ameno, diminuindo aquela comoção crescente em seu peito que parecia infantil. O ar saia de sua boca condensando-se, espiralando e chocando-se contra seu nariz, num arrepio bom. Analisava Percy meticulosamente, cada parte de seu rosto impregnado de poeira, que mesmo assim conseguia destacar-se, seus cabelos levemente desgrenhados, mas que sequer perdiam o charme habitual. A roupa prosaica que lhe caía como uma luva, amarrotada e cheia de fuligem. Queria guardar cada centímetro dele em seu consciente, ter certeza de que era real, de que toda aquela situação era.

    Depois do tempo separados, parecia surreal que agora encontravam-se defronte um ao outro, trocando olhares silenciosos, como se suas almas dependessem disso há séculos.

    E havia ali um conforto que nenhum dos dois saberia explicar. Como no seio materno, a presença de outrem confortava a ambos afetuosamente, não tinham medo ou sequer preocupações no momento, cada um concentrava-se apenas em registrar as feições alheias.

    Nico amparava-se no ombro direito do primo, lentamente se recuperando do episódio anterior, as pálpebras semicerradas eram incomodadas pela claridade repentina. Sabia que provavelmente se arrependeria de seu feito quando recobrasse completamente sua decência, não era de seu feitio ajudar quem odiava, e muito menos rebaixar-se ao ponto de oferecer-lhe seu próprio sangue como se fosse suco Kapo. Teria de se alimentar para recuperar o fluído perdido, pois sentia que sua força não era a mesma de antes. O prognóstico era enfraquecer temporariamente após tal acontecimento, tornando o Não-Morto frágil durante um certo período. Assim como um frasco é esvaziado, seu enchimento é a recuperação total do vampiro. Portanto, mesmo que boa parte dos cortes em sua derme já houvessem se regenerado, o vento frio provocava um leve tremor em seu corpo, tornando-o mais gelado do que já era.

    Embora o mais novo mantesse a cabeça abaixada, podia ouvir com muita clareza um batimento cardíaco apressado, afoito, juntamente com a sensação de estar sendo observado, e tinha certeza que não era Percy transmitindo-os.

    O mais pertinente era a vontade incomensurável que o atraía para frente, sugando-o como um ímã, praticamente desafiando-o a olhar. Uma pressão esmagadora recaia sobre seus ombros, e não discernia de onde vinha tamanho poder. Cada um de seus poros vibrava com aquela onda, e nunca se sentira tão aturdido quanto agora, porém, tratava-se de uma força boa, que o fazia sentir-se minimamente oprimido, como se o próprio bem pairasse naquele lugar.

    Percy endireitou Nico, apoiando-o mais corretamente em si. Descolou-se dos olhos cinzentos por um segundo, analisando o ente ao lado. Afagou-lhe a cintura e, mentalmente, questionou se o outro conseguia permanecer em pé por conta própria. Achava-se encabulado, receoso de proferir-lhe a palavra, não sabia bem como agradecer e principalmente como seriam as coisas dali em diante. Tinha medo de se agarrar demais às esperanças supérfluas e acabar num vácuo eterno. Não podia prantear para que o mais novo mudasse o jeito e a forma de pensar e começasse a agir como um membro próximo da família, como se ambos compartilhassem de uma intimidade todos os dias, quando na verdade a realidade era outra. Não podia desejá-la, pois não a teria.

    Nico mantinha o olhar fixo no chão úmido, receoso em mirar qualquer que fosse a direção. Aquela sensação não o abandonava, e perguntava-se se era o único a sentindo. Remexeu-se e finalmente ergueu a cabeça, os fios negros balançaram suavemente, e qual foi sua surpresa ao constatar Annabeth parada há poucos metros de distância. Franziu o cenho, interessado naquela luz que emanava ao redor do corpo da mulher, algo em seu pescoço resplandecia na cor violeta, e os olhos, ah, aquele olhar penetrava em sua carne parecendo adverti-lo por seus pecados, opressivo, cinza tal qual a pior tempestade avassaladora. Reprimiu-se, sentindo-se impotente perante a presença maciça que o condenava de forma muda.

    Desviou a atenção, engolindo em seco, e retirou o braço dos ombros alheios, afastando-se calmamente a fim de romper a proximidade desnecessária. Sabia definir o motivo de ter ajudado Percy, as suas horas soterrado nos escombros serviram-lhe de alguma coisa – mesmo que se arrependesse depois. Porém, não podia precipitar-se. Não era o bonzinho e não o seria num futuro breve, seus erros pungiam sua mente; pecados imperdoáveis. Não compreendia porque Percy mantinha a fé em um ser como ele, após as atrocidades pelas quais o fizera passar. Não entendia esse estado inalcançável de benevolência que pairava sobre o primo, então sua melhor opção seria se afastar daquilo que não conseguia entender.

    Percy era bom demais.

   O semblante do primo cravado em si, carregado de ambas preocupação e gratidão, corroía-lhe a alma. Sentia-se sujo, ímpio, diante daquela representação imperfeita de piedade e comiseração. Aquele era o lugar errado para ele, duas coisas paralelas nunca se uniriam.

    As mãos pendentes ao lado do corpo movimentaram-se afoitas, e logo mais a névoa escura escorria por entre as mangas de sua blusa, envolvendo-o numa cápsula mórbida. Foi içado para dentro da escuridão.

    O conde arregalou os olhos e pôs-se a pregar passos largos na terra fofa, esticando os braços para apanhar o outro, não queria que ele fosse embora, nem que o abandonasse novamente.

    Bem entendia que aventurar-se muito em esperanças e crenças resultava em desgraça.

  Tentou tocar o primo, mas apenas teve a mão acariciada pela fumaça escura que bruxuleou entre seus dedos e subiu, desaparecendo ao longe no horizonte.

    Mais uma vez abandonado.

    Annabeth observava a cena com atenção. O que aqueles dois tinham em comum que fazia a preocupação transparecer nos orbes esmeraldinos? Toda a comoção que sentia foi reduzida à hesitação, talvez houvesse algo a mais ali. Isso perpassou-lhe a mente, e quase não se atentou ao fato de o homem do capuz ter simplesmente evaporado em sua frente. Pretendia argumentar com Percy, mas o moreno virou e a encarou por longos minutos, pedindo em silêncio para que não dissesse nada. E de fato não disse, nem pensou, a mente tornou-se um branco total. Engoliu em seco. Um nó havia se formado na garganta. Não queria demonstrar a repentina vontade de chorar que a abalou, embora não soubesse bem o porquê.

    Era sempre assim: Percy provocava em si sensações inimagináveis mesmo sem contato físico. É como se ele soubesse agraciá-la sem palavras.

    Como se ela estivesse apaixonada por ele.

    O silêncio era confortável, ambos se admiravam com gosto. Ninguém sabia quem se mexeria primeiro, quem teria coragem de quebrar aquele ósculo.

    Num átimo de segundo, Percy apareceu há centímetros da loura, que não teve tempo nem de piscar. Chase soltou um gritinho surpreso e o mais alto sorriu de canto, pendendo a cabeça para o lado.

    - Eu senti tua falta.

  O coração de Annabeth sobressaltou-se, sentiu o rubor subir-lhe o rosto, incendiando aquela região. Desviou os olhos, comprimindo o mínimo sorriso que teimava escapar-lhe dos lábios finos.

    - Desculpe a demora – umedeceu a boca, deixando um rastro de saliva, colorindo-a ainda mais de rosa, ato que teve total atenção do moreno. As pupilas deste dilataram, a boca feminina parecia tão convidativa naquele instante que quase não se controlou.

    Quase.

    Pigarreou, juntando todas as forças para fitar outra parte que não fosse aquela.

     - Viestes salvar-me...

    - Eu só... – Levantou a cabeça afim de encará-lo. Esqueceu, pela 128372 vez, de como era inspirar, o semblante lascivo e os lábios entreabertos envergonharam-na profundamente. – E-eu n-não sei explicar muito bem, mas aparentemente... vi que corria perigo. – Esfregou as mãos, depois as usou para ajeitar os fios do cabelo que pareciam mais nervosos do que ela, já que faziam o favor de despentear a todo minuto.

   Mas Percy não parecia escutá-la, entretanto. Queria quebrar aquela distância, seu corpo pedia por isso, ele a queria, provavelmente seu coração já houvesse saído do peito – caso funcionasse.

    Annabeth possuía uma marca no pescoço, mas não conseguiu definir bem do que se tratava, pois, o rabo de cavalo pendia por cima do ombro, cobrindo metade da figura, escorrendo como uma cascata leitosa.

    Sentia-se tentado em desvendar o mistério que era Annabeth Chase.

   A mulher emanava uma energia que o impedia de se afastar, e talvez isso estivesse relacionado com a marca e a sombra da coruja.

    Annabeth devia ser aquela enviada pelos deuses.

    O início do Ciclo.

    De repente estacou. Era atraído pela energia ou pela arquiteta?

    Afastou-se dois passos.

    Chase notou a reação súbita e logo levantou o olhar, confusa. O que Jackson estava fazendo? Ambos não desejavam a mesma coisa naquele momento?

    A mente do rapaz martelava tentando entender o que significava o turbilhão de emoções que alastrava seu ser. Tratava-se de um vínculo criado pelos poderes da Visionária ou eram uma estima muito maior?

    E o problema todo resumia-se à energia que ela emanava. Bem conhecia a história por trás das “divindades” que vinham para a Terra, e quão tentadoras podiam ser – não no quesito físico, mas suas auras eram tão poderosas que Seres da Noite se viam sedentos para provar do sangue que lhe corria nas veias.

    Mas a arquiteta tentara salvá-lo.

    - Percy... O que foi? – Pronunciou-se. A voz um pouco manhosa e abafada demonstrou um certo arrependimento pela sua ação e o moreno logo se arrependeu de tê-la praticado.

    Annabeth respirou fundo e alisou o rosto com as mãos. Aquela situação toda era constrangedora e desnecessária, quiçá o outro estivesse apenas surpreso e desconfortável com sua presença. Comprimiu os olhos. Havia tantas coisas que queria compartilhar, tantas coisas para esclarecer, mas não via forma de ressaltá-las. Pareciam presas em sua garganta, e por mais que tentasse, não saiam de jeito nenhum.

    - Eu-

   - Annabeth, por que veio? – O ambiente mergulhou num silêncio descabido. Percy mantinha as sobrancelhas unidas e um semblante carregado de circunspecção até o pescoço. Estava curioso com a resposta.         

    O rubor erradicou-se até as orelhas femininas, e prontamente as palavras na ponta da língua embaralharam-se de uma forma cômica. Repuxou alguns fios de cabelo tentando controlar o nervosismo e ansiedade que se apoderavam aos poucos de si, juntou as mãos em frente a boca em formato de concha e soltou todo o ar preso, os olhos cravados nos gravetos partidos ao pé das árvores. Expirou, restituindo o ar aos pulmões, evitando o contato visual, e liberou a frase tímida que lhe custou tanto para formular.

    - Achei que já soubesse.

    O vampiro arregalou os olhos. O vento acariciou seus cabelos negros, felizes com a declaração indireta.

    Quem sabe realmente tivesse um coração.

    E ele era daqueles que demonstravam os sentimentos por meio do rosto. E assim o fez. O sorriso foi tão largo, os olhos quase em fendas, que se não fosse pelo fato de não sentir dor suas bochechas já estariam doloridas.

    Definitivamente não era a energia da Visionária.

    Abriu a boca para dizer algo, mas um barulho crescente irrompeu por seus ouvidos: botas cravando-se com força no solo, metal se chocando e artilharia sendo manuseada. O ar impregnou-se com o cheiro fraco de couro, e a reação foi imediata.

    O que os caçadores faziam ali?

    Poderiam estar há vários metros de distância, entretanto, não demoraria para que captassem sua presença.

    Annabeth notou a mudança no semblante alheio.

    - O que f-

    Nem percebeu quando ele a envolveu com os braços e a ergueu, tal qual uma princesa, e abandonou o lugar o mais depressa possível.

    A loura sobressaltou-se perante a velocidade em que corriam, e só não berrou por conta do vento lhe açoitando a face. Escondeu a mesma nas vestes do moreno e agarrou seu pescoço, semicerrando as pálpebras com força e jurando a si mesma que deixaria o Jackson careca.

    Ele a apertou mais contra seu peitoral, num ato protetor, e sussurrou:

    - Está tudo bem...

    Não sabia o quanto tinham percorrido, mas só se deu conta de que haviam parado quando sentiu um leve chacoalho.

    Como toda boa pessoa, levou um tempo para digerir tudo e aguardou que a vontade de botar os bofes para fora passasse.

    -...

    -...

    - O QUE ACABOU DE ACONTECER, PERSEU?

    - Eu te carreguei... enquanto corria...? – Coçou a nuca, considerando o óbvio.

    A mulher ficou emburrada. Só não lhe dava um sacode por conta da tontura que sentia. Pôs a mão na têmpora praguejando para que passasse.

    O conde deu um meio-sorriso e disse:

    - Eu preciso que faça um favor para mim...

    Annabeth alteou uma sobrancelha, visivelmente curiosa. O que ele queria agora? Que participasse de uma maratona? Há, vai nessa.

    Seu semblante varreu o lugar aonde haviam parado, e só agora que conciliava tudo é que vislumbrou o grande afluente de águas cristalinas que corria por ali, as margens recobertas de gramíneas e seixos úmidos trilhavam um percurso no leito do rio, levando-o sabe-se lá aonde.

    E Percy estava a poucos passos da margem. Começou a recuar para ela.

    - Eu nunca fiz isso, mas... – Seus pés afundaram completamente, molhando o jeans. Então seus olhos brilharam como faróis, bem mais verdes do que as esmeraldas em si. A água, antes calma, moveu-se ao redor do homem, o rio notava-se me conflito; mantinha o percurso ou obedecia ao seu mais novo senhor? Percy elevou os braços um de cada lado, e o rio acompanhou o movimento, sublevando-se sobre ele como um monstro prestes a engolir a presa. E o vento balançava suas vestes, a água rodopiou criando pequenos redemoinhos, segundo o modo como o pensamento de Percy ordenava.

    - O que é isso?! – A loura admirou-se com o espetáculo.

    - Eu espero que não se assustes... Eu realmente nunca tentei isso antes. -  O vampiro consternava-se ao cogitar que a humana ainda não soubesse de sua verdadeira identidade, e assustá-la não estava em seus planos.

    - Acredito que se estás aqui... tu já sabes que tipo de criatura eu sou. – Friccionou os lábios, abaixando a cabeça, visivelmente incomodado com a própria situação.

   E o rio se agitava refletindo as emoções do vampiro como se estivessem ligados. De repente todo o seu corpo era envolvido pelo escudo cristalino, buscando protegê-lo.

   Só que Percy não queria envolver a Chase demasiadamente em seus assuntos – mais do que já estava -, porém, um destino já traçado não pode ser revertido. E por isso mesmo sentia-se um pecador do pior tipo por fazê-la rumar em um futuro pedregoso e cheios de espinhos, onde ele não poderia evitar feri-la, não poderia salvá-la, porque o único causador de amarguras seria ele.

    Por que estava pensando nisso?

    E talvez a loura bem entendesse o que o outro queria dizer, ou quem sabe apenas quisesse deixar a ladainha de lado e partir para a ação. Por quê? Porque simplesmente não mudaria sua opinião sobre o outro. Não faria diferença.

    Gostaria dele mesmo que fosse humano.

   Não acreditava em destino, nem pensar. Esta palavra não existia para si. Sem sentido. Objeto abstrato que os menos lúcidos utilizam para explicar os acontecimentos inesperados da vida. Mas a graça está nisso: em ser inesperado. Porque nunca estaremos preparados para algo a menos que saibamos que aconteça. E, convenhamos, nunca sabemos, apenas cogitamos. E nem sempre o que cogitamos é o que ocorre.

    Porém, havia alguma coisa interessante ali que a fazia rever esse conceito.

    Só se deu conta de que o frio esbordoava suas mãos quando afundou as pernas nas águas frígidas na tentativa de se aproximar do outro. Soltou um grunhido queixoso e seus dentes logo corresponderam chocando-se um contra os outros. Também não havia imaginado que era fundo, imergiu até a altura das coxas. Cerrou os punhos, dando um passo de cada vez.

    O córrego descia velozmente no leito, e a Chase buscava fixar os pés entre as rochas no fundo para não se desequilibrar e ser consequentemente arrastada rio abaixo.

    - Eu definitivamente não sei como você faz isso – riu trêmula – mas é muito legal. – Arrepiou-se quando as meias encharcaram completamente dentro do tênis. Pisou em falso e já conseguia imaginar o traumatismo craniano que teria ao bater nas rochas não fossem pelas mãos fortes que a seguraram e a puxaram para cima.

    - Upa! -  O Jackson riu, envolvendo involuntariamente a cintura fina colando os dois corpos.

  O coração dela tirou justo este dia para bombear a maior quantidade de sangue e concentrá-la nas bochechas. Que legal. Um coração sádico.

  Aquela tensão toda se reinstalara sobre os dois. O maior cessou o riso, passando a abrir e fechar a boca sucessivamente, formulando algo aleatório – mas pelo menos plausível – para dizer. Mas o cabeça de alga não era lá o melhor com palavras, então apenas ordenou que o afluente os envolvessem e os tirassem o mais depressa possível dali.

    Iniciariam uma empreitada além-mar.

    Planejava utilizar o meio fluvial para alcançar o mar e atravessá-lo, assim chegando na Europa.

    E, sim, isso é possível.

    Para alguém que controla a água, claro.

    Foram envolvidos pela cápsula hídrica, e embora a água molhasse, estavam absolutamente secos.

    Começaram a se movimentar, a velocidade aumentava exponencialmente afim de obedecer ao vampiro.

    Agarrado ao Não-Morto, Annabeth “seguia o fluxo” segurando-se para não perguntar como aquilo era FISICAMENTE possível.

    Boca fechada não entra mosquito.

    Nem água.

 

[...]

 

     Clara estava atordoada. O ataque fora tão súbito que não teve tempo de conciliar os ocorridos, uma coisa tão simples para si quanto dois mais dois são vinte e dois.

       Sou de humanas.

       Brincadeira. São quatro mesmo.

 

       Deveria ter sido mais cuidadosa.

    Agatha e as outras criadas repousavam em seus aposentos, entretanto, a primeira jazia num estado preocupante desde o aparecimento de Nico: entrara em um transe profundo e não acordara de jeito nenhum.

    E olha que só faltou chamar a escola de samba para acordá-la, porque até bater panela bem no ouvido da servente fora uma tentativa falha.

    Mas a jovem esbanjava saúde na tonalidade de pele, as bochechas fartas e rosadas e os lábios salientes e avermelhados enalteciam a beleza delicada que alastrava com redundância o corpo dela, quiçá fosse o veneno do Não-Morto provocando isso.

    E isso deveras atormentava a mais velha.

    Não sabia por quanto tempo conseguiria manter a si – e as outras – a salvo. A prioridade era o castelo, porém, a partir do momento de que as moças ali eram criadas deste, faziam, também, parte do patrimônio a ser protegido.

    Clara era a mãezona. Tão velha que, diga-se de passagem, os dinossauros disseram adeus a ela antes de virarem poeira cósmica – ou restos mortais. Não sei como não encontraram vestígios históricos de uma mulher velha e enrugada nas cavernas paleolíticas.

    O que usara para manter a todas inconscientes tinha pleno efeito, todavia, como já dito, sua preocupação era com Agatha. A jovem poderia estar passando pelo transe pós-morte enquanto seu organismo lutava para sobreviver contra as reações que sofria. Nenhum dos casos que presenciara de transformação apresentara sintomas tão lentos e tardios.

    Se pelo menos tivesse sentido a presença do filho de Hades...

    Sua magia havia falhado, coisa que nunca acontecia.

    O período sem o patrão Jackson era conturbado; se fosse uma pessoa normal provavelmente cairia de exaustão. Criadas chamavam-na de um lado, serviços para serem feitos de outro etc. etc. Suas habilidades tornavam as tarefas menos árduas.

 

_

 

    O castelo situava-se na fronteira entre Transilvânia e Valáquia, na vizinhança do distrito de Brasov, e era encravado pela floresta de Cárpatos, na Romênia. Brasov – apelidada de Bran – continuava com o ritmo pacato e simples, e os cidadãos gostavam disso: tranquilidade. E por muitos anos Transilvânia resplandeceu em calmaria.

    Lá no fundo previa que Transilvânia não estava tão segura assim sem o patrão. Algo no ar cheirava podre.

    Medo.

    Sua essência espalhava-se por toda a região e Clara a captava tal qual um cão pressente o terror nos ossos do dono.

    Fazia tanto tempo que não usufruía da forma original, vivendo por anos e anos mascarada pela magia, que nem mais se lembrava da cor dos seus cabelos - que costumavam ser chamativos e flamejantes quando mais nova. Recordava-se, apenas, que as tintas de seus quadros se confundiam com a coloração de seus fios encaracolados. Séculos haviam se passado e (felizmente) vivia para presenciar mais um Ciclo.

    Quando o Visionário apareceria?

    Era nítido que o planeta passava por mudanças; o crescente ataque de vampiros em cidades europeias provava isso.

    Também questionava sobre a Organização. Seu último contato com o instituto fora quando Van Helsing ainda dava o ar de sua graça.

    A sensação nostálgica subitamente a fez sorrir. Passou os dedos enrugados e curtos pelo rosto velho e cansado. Não fosse pela alma jovem, poder-se-ia afirmar que Clara estava o pó da rabiola.

    Decidiu ir até o jardim do castelo para tomar ar fresco, o trabalho ali dentro já havia terminado.

    Enquanto atravessava o vestíbulo e abria a grande porta, sua mente vagava em pensamentos aleatórios, muitos deles volviam o dia D. Vira seu patrão adentrar o Salão naquele dia, vira Nico e Agatha, assim como também presenciara o “clone” do Di Ângelo desaparecer com Percy, e desde então não obteve mais nenhuma notícia sequer do anfitrião. Restava apenas aguardar.

    Brasov metamorfoseara-se numa figura opaca e sem brilho; há dias não fazia sol -  poucas eram as vezes que a cidade mergulhava na aurora sanguinolenta do crepúsculo - e o céu transcendia ao cinza triste e sofrido de tempestade, ora a mãe natureza decidia sacudir as árvores com seus ventos fortes, ora tranquilizava-as com as brisas amenas. Entretanto, naquele instante notava-se sombria demais, como se a vivacidade lhe houvesse sido sugada.

    Caminhou por entre os paralelepípedos de pedra, circundando a fonte e fazendo careta às gárgulas nos portões. As flores continuavam bonitas, permitindo um mínimo de paz ao local. A grama estava um pouco alta, teria de chamar o jardineiro para podar as árvores e dar uma ajeitada no manto sob seus pés. Algumas ervas cresciam na beira das estátuas e deveriam ser retiradas logo para que não infestassem todo o perímetro.

    Parou.

    Algo além dos portões, na ponte de pedra que dava passagem à estrada que levava à cidade, movia-se moderadamente, como se cada movimento fosse calculado. Um comprido manto negro esvoaçava ao redor da criatura, a tez esquálida se destacava em todo aquele preto, os cabelos compridos até o ombro atribuíam uma imagem sinistra ao ser.

    Aproximou-se mais um pouco para certificar-se de que não era coisa da sua imaginação. E realmente não era. O ser das trevas caminhava até o castelo como se estivesse familiarizado com o lugar, os dois olhos escarlates sempre à espreita findavam a alma de quem os mirasse. A figura provocava calafrios em Clara, uma vibração maquiavélica esguichava para todos os lados, partindo principalmente daquele vórtice. Seu espanto concretizou-se ao distinguir o filho do meio da família Jackson.

    Hades não estava morto?

    Sua expressão era um misto de assombro e perplexidade. Conhecia toda a história por trás do filho renegado, e mesmo que conhecesse a profecia... não achava que ele fosse voltar, tão pouco que estaria vivo, já que, bem, Perseu se certificara de sua morte.

    Automaticamente virou e retomou o percurso às grandes portas, fechando-as num estrondo pelo lado de dentro, sem coragem de desgrudar as mãos das maçanetas douradas. Os dedos tremiam e pequenas gotículas de suor começavam a escorrer da testa, tamanho o pavor.

_

 

    Há muito tempo, quando os senhores de Transilvânia – pais dos três grandes - ainda viviam, às escuras uma instituição vampiresca era mantida pela ordem real. Esta era chamada de Ordem. Constituída dos Não-Mortos mais abastados, era, juntamente com os nove vampiros mais influentes do mundo, comandada pela família real da Valáquia.

     Após a Guerra do Apocalipse, quando o Tratado de Tolerância foi firmado, a Ordem – que até pelos membros da Organização era desconhecida – tornou-se mais recôndita e rígida. Os dez membros do alto escalão que a compunham detinham a administração central da instituição e visavam o não envolvimento dos dois mundos – o Humano e dos Seres da Noite. Exerciam funções como a de organizar a sociedade Guardiã (Seres da Noite) e punir os Renegados. Todos que fossem contra os regulamentos oficiais, tanto lobisomem quanto vampiro, era punido por insubordinação.

    Os membros da Ordem eram chamados de Abraxas, graças ao brasão do deus mitológico em suas vestes negras.

    E gerações da família Jackson fizeram parte dela.

    A perda dos dois filhos para a sucessão abalou não só o castelo como o interior da Ordem, já que Cronos era um dos dez Abraxas. Psicologicamente instável, retirou-se do instituto afim de aspirar um tempo onde poderia conciliar todos os acontecimentos. E nesse meio tempo conheceu a feiticeira Rachel Elizabeth Dare.

    Falava-se muito da moça na Ordem já que representava um obstáculo a ser destruído por ajudar Van Helsing antes da Guerra.

 Porém, Cronos viu ali uma oportunidade. Talvez a moça pudesse ajudá-lo a encontrar os filhos desaparecidos, assim restabelecendo a paz que tanto careciam no castelo. E ele foi ter com ela.

    Descobriu que a moça usava a magia para manter-se jovem, e muitas vezes precisava mascarar a verdadeira identidade por trás de corpos falsos criados por ela. Clamou por ajuda, e por ter piedade no peito, Dare concedeu-lhe o pedido. Usou de seus poderes para rastrear as vibrações dos dois imortais, mas não os encontrou em lugar algum. A questão era que ambos já haviam morrido pelas mãos da mesma pessoa, esta, enfim, dirigia-se para completar o serviço.

    O mundo de Cronos desabara e se despedaçara em milhões de pedacinhos. Suas estruturas ruíram, e se pudesse chorar, teria caído em prantos na frente da feiticeira. O que pôde fazer, infelizmente, foi engolir a dor e agradecer pela ajuda.

    E então, antes de morrer pelas mãos do filho do meio, compreendeu o verdadeiro mal da história. Jurou para os quatros cantos que todo o sofrimento que aquele bastardo causasse na terra se converteria em consequências maiores quando sua consciência não aguentasse mais a própria podridão.

   Após o assassinato do conde e da condessa, a Ordem, sem bases para prosseguir, se desfez por completo. Renegados não seriam mais punidos, toda a carga recairia sobre a Organização. Da mesma forma despercebida com que havia sido criada, seu fim findara-se sem reconhecimentos.

    O que aconteceu com os outros nove membros?

   Absteram-se de suas tarefas, muitos inconformados com o assassinato inescrupuloso de um Abraxa memorável. Assim como que meia dúzia havia sido capturada pelos caçadores, sem dar depoimentos da possível existência de uma instituição desse nível.

   Talvez se a Organização soubesse da Ordem, ambas pudessem ter unidos forças.

   E Rachel Elizabeth Dare tinha um papel importante nessa história.

  No meio tempo dos acontecimentos, como se tivesse sido enviada pelos deuses, recorreu-lhe uma profecia, que se pôs a memorizá-la como se dependesse dela.

 

“Um meio-sangue,

Dos três grandes filho

Descobrirá o segredo,

Das profundezas voltar

E acabará com aquele

Que prometeu se rebelar.”

 

    Dare compreendeu a profundidade das palavras e prometeu, em memória àquele que um dia recorrera por sua ajuda, proteger o que restara da família Jackson. Não demorou muito para descobrir o paradeiro do filho de Poseidon.

    Para se aproximar, disfarçou-se de secretária na biblioteca onde o garoto estudava, assim podia ficar de olho nele, certificando-se de sua segurança.

    Mas os anos iam passando e a feiticeira assistia a todos os envolvimentos do Di Ângelo e do Jackson. Presenciara a catástrofe que o último viveu após o falecimento da mãe, e embora não pudesse ajudá-lo diretamente, o fazia de maneira sorrateira.

    Impediu, em todas as vezes que o garoto se viu num beco sem saída, que ele perdesse a coragem e a força. Era uma grande dívida que tinha por ter falhado com Cronos.

    _

 

    Anos haviam passado, e cada dia viva era um dia a mais roubado da Morte. Distanciara-se por um período e depois retornara ao castelo, com o mesmo objetivo em mente: proteger o Jackson. Porém, não o podia fazer com a mesma aparência, afinal, na juventude era apenas a “garota das fichas”, que na concepção do garoto já havia partido. Então, criou um corpo novo para si. Um nome novo.

   

    Clara respirou fundo e soltou as maçanetas, a confiança invadindo-lhe numa lufada. Seus olhos brilharam intensos na cor verde, sua pele escamou, pingando ao chão e revelando uma tez rosada e com sardas, lábios cheios, cílios longos e ruivos, assim como o cabelo que descoloria, tingindo-se do tom laranja forte e brilhante. O uniforme de empregada deu lugar a uma longa túnica arroxeada e enfeitada de joias, uma faixa com fios de ouro atravessava-lhe o corpo na transversal. A testa cobria-se com uma tiara de prata com um rubi no centro, como um terceiro olho.

    As cortinas do salão balançaram com a forte rajada de vento, a criada abriu os braços, as palmas das mãos voltadas para cima, liberando uma luz verde que iluminava todos os cantos do cômodo.

    O castelo inteiro vibrou com a energia.

    - Que daqui não passe o invasor, o ser das trevas, cujo nome recuso a citar. Procura-te o teu caminho, criatura depravada, retorna-te ao vale de onde veio. Absens heres non est. *

    Dos céus rugiram um trovejar, as nuvens se afastaram com repúdio e do alto grandes pilares desceram e fincaram-se em frente aos portões do palácio. Espasmos luminosos saíram deles e logo a visão do topo era coberta pela barreira mística que a feiticeira criara.

    Clara era o novo nome de Rachel Elizabeth Dare.


Notas Finais


Yo~
*Absens heres non est: Significa "o ausente não é herdeiro" em latim.

Eu notei que a fanfic entrou em hiatus com mais frequência, entretanto, isso é inevitável em alguns momentos. Afinal, eu também tenho uma vida e por muitas vezes a minha atenção precisa voltar-se mais à ela. Espero que entendam.

Alguém aí desconfiava da Clara? Não né huhuh
O que acharam do Cronos pai de família? u.u

CUPCAKES DA TIA LIGHTWOOD, QUE TIPO DE MÚSICA VOCÊS ATRIBUIRIAM PARA A FANFIC? TIPO, QUAL VOCÊS ACHAM QUE COMBINA COM ELA? Opinem u.u Eu particularmente acho que "So Bad" - Brandon Skeie é uma das que combinam.

Desculpem qualquer erro.
.
.
.
Sobre o outro capítulo, o que eu posso afirmar é que...


EU ESTOU SENTINDO UMA TRETA :v


Se quiserem interagir, sigam-me no Twitter: @goiaba_san.
Beijokas nos seus alvéolos pulmonares :*

Arrivederci.


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