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História Dear Danger - Capítulo VI - Extra: The Shadow


Escrita por: Srta_Lightwood

Notas do Autor


Olá~

Olha o extra do passado do Percy \o/
É bem cabuloso, se preparem :v

CARACA VÉI, 4026 PALAVRAS? DA ONDE EU TIREI TUDO ISSO??
HEY, O CAPÍTULO ALTERNA EM 3° E 1° PESSOA. (NARRADOR E O PERCY).

MANO, QUERIA AGRADECER PELOS COMENTÁRIOS, VOCÊS SÃO INCRÍVEIS! <3 (E SIM, EU ESCREVO COM O CAPSLOCK ON PQ É MAIS FÁCIL FAZER COM QUE VOCÊS PRESTEM ATENÇÃO AQUI.

"Por que você fez o extra maior do que os capítulos normais?" Não sei. Acho que deixei bem claro que sou um fracasso :')

Boa Leitura.

Capítulo 7 - Capítulo VI - Extra: The Shadow


Fanfic / Fanfiction Dear Danger - Capítulo VI - Extra: The Shadow

Capítulo VI – Extra

 

  Veneza, Itália, 1960.

 

  Os raios de sol adornaram os caixilhos de madeira da janela rústica, enquanto invadiam-na pelas frestas, acariciando uma pequena cabeleira negra que repousava sobre um travesseiro azul-bebê.

  Alguns pássaros chilreavam no forro do teto, sinal de que um ninho se formara ali. Haviam colantes fluorescentes em formato de peixes aqui e ali, proporcionando uma luz suave no quarto ainda escuro.

  O garotinho, de visíveis 8 anos, ronronava manso como a um gato, enquanto seu peito subia e descia em uma respiração tranquila e relaxada. As pequenas mãozinhas, que já possuíam alguns traços maduros, aninhavam junto ao peito uma toalhinha branca, o polegar descansava entre seus lábios entreabertos.

  Em silêncio, uma moça de estatura mediana e longos e ondulados cabelos castanhos, adentrou o quarto e ajoelhou-se ao lado da cama do menor.

  - Filho – sua voz era macia e terna, como a melodia preterida por um violino. Acariciou o topo da cabeça do mais novo. – Percy, está na hora de acordar – retirou gentilmente o polegar da boca dele, uma babinha acompanhando o percurso.

  O garoto remexeu-se e pressionou as pálpebras, trocando de lado.

  - Só mais cinco minutinhos, mamãe... – sussurrou pausadamente.

  A mulher riu, mas logo adotou um tom grave e autoritário.

  - Perseu Jackson, ande logo ou irei abrir as janelas!

  Percy se levantou num sobressalto, sentando-se na cama, ainda de olhos fechados.

  - Tudo bem, estou acordado – resmungou baixinho, enquanto bocejava e esfregava os olhinhos com as costas das mãos. – Por favor, não abra a janela, mamãe.

  Percy detestava a claridade logo de manhã, e a evitava ao máximo. Era como se lhe obrigassem, mesmo que resfriado, a comer o sorvete ruim com gosto de bolo de carne da sorveteria da esquina; outra coisa que também evitava.

  - Ótimo – a mãe sorriu, levantando-se e espanando as mãos nos joelhos, a fim de retirar o pó proveniente do tapete felpudo azul (Nota mental: lavar hoje o tapete). – Quero o senhorzinho pronto daqui a quinze minutos, pois hoje visitaremos seu primo Nico.

  Percy imediatamente abriu os olhos.

  - Ah, não, mamãe, o Nico não! Ele é chato e só fica chorando e me agarrando o tempo todo! – Fez um gesto com as mãos em frente aos olhos, imitando um choro.

  - Ah, tenha paciência, querido. Nico tem apenas 4 anos, é praticamente um bebê ainda. – Ela sorriu, colocando as mãos na cintura, como sempre fazia quando iria tirar uma com o filho. – Você fazia isso comigo quando tinha a idade dele!

  - Não fazia não! – Bufou, as bochechas adotando um tom avermelhado.

  Sally, sua mãe, sorriu.

  - Fazia sim!

  - Ora, mas isso é diferente! – Exclamou ele, aproximando-se do interruptor e acendendo a luz.

  - Ah, é? – Sally alteou uma sobrancelha. – E onde é diferente? Para mim os dois ainda são crianças e agem como tal. – Explanou ela, observando o menor calçar os chinelos e arrumar a cama. Percy era um garotinho esperto e independente.

  - Ah, mamãe, veja bem – começou, ergueu o lençol e o levou até a outra extremidade da cama. – Veja bem... – Frisou, tentando encontrar uma explicação plausível. Não conseguindo, fez bico e emburrou, por fim, abrindo a janela e se afastando ao máximo da mira da claridade.

  Sally sorriu de canto e aproximou-se do filho.

  - Okay, okay – bagunçou seu cabelo, ouvindo os seus protestos. – É aniversário dele, Percy. Sua tia Maria fez questão de convidá-lo, já que se dão tão bem.

  Uma ideia brotou no cérebro de Percy, um sorriso assomando-lhe a face. Será que...?

  - Mamãe, o papai vai estar lá?

  O semblante de Sally logo se fechou, o corpo rígido e as mãos trêmulas que teimavam em se estabilizar. Fitou o filho, que continha um olhar brilhante e esperançoso. Vê-lo daquele jeito, e sabendo que sua resposta o magoaria, apenas fez com que seu coração desfalecesse mais um pouco, o que não iria fazer muita diferença de seu estado atual. Desde que Poseidon – seu marido – desaparecera, Percy (e também os passarinhos do forro no telhado) eram suas únicas companhias naquela imensa casa que o marido deixara. Sabia que Poseidon não tinha culpa por ser o que era, nem por ter sofrido o que sofreu, porém, o vazio de sua presença ainda a assombrava todos os dias, mas sempre encontrava o bálsamo para suas feridas nos orbes esmeraldinos do filho pequeno.

  Para Sally, era como se a felicidade fosse um papel, e dedos longos e cruéis o tivessem picotado em milhões de pedacinhos.

  Para Percy, a esperança de encontrar o pai era como uma borboleta que repousa sobre o parapeito de uma janela nos domingos de manhã. Uma simples, mas bem bonita. Das quais não se vê muito. Talvez seus domingos tivessem algo de falho, pois nunca mais vira a tal borboleta.

  - Percy... – murmurou. O brilho dos olhos do menor imediatamente se desfez, crentes do que viria a seguir.

  Sem olhá-la, buscando palavras dentro de seu coração, verbalizou:

  - Tudo bem, mamãe. – Ficou em silêncio por um instante. – Acho que devo me arrumar para ir. – Os dedos dos pés apertaram o chinelo, os nós dos mesmos ficando brancos. – Acho que vou com a camiseta que me deu ontem. – Obrigou-se a sorrir, mesmo que seus músculos o forçassem o contrário. Dirigiu-se ao guarda-roupa branco e, pelo espelho da porta do meio, Percy notou o sorriso triste que avassalou o rosto de sua amada mamãe, e prometeu a si mesmo que nunca mais a deixaria sorrir assim de novo.

 

_

 

  - Está gostando da festinha, Percy? – Bianca, a irmã de Nico, perguntou-me.

  Aliás, os dois eram iguaizinhos, os mesmos olhos e cabelos negros cor de ébano e pele lívida como a um esqueleto, exceto que Bianca era bem mais bonita, além de ser menina.

  - Se “gostar” – fiz questão de fazer as aspas com as mãos – refere-se a ser arrastado pelo Nico por todos os cantos dessa casa, então não, não estou.

  Bianca riu.

  - Honesto como sempre, Percy. – Enrubesci. – Falando nisso, onde está Nico? – Depositou o copo de refrigerante que segurava em cima da mesa, onde encontravam-se diversos doces e um grande bolo no meio. Quem comesse aquilo ficaria diabético, certeza.

  - Não sei e não quero saber – respondi, cruzando os braços para mostrar-lhe minha masculinidade. Acho que devo ter ficado bem patético, pois ela riu e se afastou murmurando um “certo, certo”.

  Procurei pela mamãe no salão, mas não a encontrei. Fui cauteloso, pois queria evitar esbarrar com Nico. Subi as escadas que levavam ao segundo andar, e pus-me a percorrer o corredor. Todas as portas estavam fechadas, exceto a do quarto de tia Maria que estava aberta. Corri até lá, mas me detive assim que escutei meu nome sendo proferido pelos lábios da mesma.

  Aproximei-me nas pontas dos pés e pus-me a escutar o que dizia. Espiei pelo canto da porta e notei que mamãe estava lá também, pensei em chamá-la, mas algo em seu rosto me intrigou. Mamãe nunca fizera aquela expressão antes, era como se ela estivesse com... medo.

  - Sally, você precisa sair daqui – tia Maria disse, pegando a mão de mamãe entre as suas. Seu tom de voz era grave e prudente, e constantemente fitava o lugar onde estava escondido, como se uma assombração fosse sair de qualquer parte. Olhei para trás algumas vezes, receoso de que alguma coisa realmente aparecesse. – Hades, ele... ele descobriu. Não estamos mais seguras! Ah, Sally, por favor, proteja o Percy. – Não entendi muito bem, nem sequer sabia quem era esse tal de Hades. Mamãe aquiesceu, acho que ela estava no modo automático dela, porque o fez com veemência.

  O que ela queria dizer com “proteja o Percy”? Eu estou bem protegido com a mamãe, se quer saber. Ela sempre deita comigo na cama quando tenho sonhos estranhos ou quando estou com medo. E ela faz ótimos cupcakes azuis. Legal, né? São azuis mesmo. Creio que ela usa corante, mas ela alega ser um “feitiço especial que só as mães possuem”. Preciso perguntar à Bianca quais as cores dos cupcakes que tia Maria faz.

  Escutei passos apressados subindo a escada e alguém gritar um “Percy” arrastado. Ah, céus, era o Nico. Olhei ao redor, procurando por um esconderijo. Eu tinha quatro opções. 1) voltar pela escada, mas havia 100% de chance de esbarrar com o Di Ângelo; 2) correr pelo corredor, mas mamãe provavelmente me veria; 3) entrar discretamente no quarto da tia Maria e perguntar inocentemente pela mamãe e 4) pular pela janela do segundo andar.

  Já deu para notar que eu escolhi a terceira opção.

  Só que, ao invés de “entrar discretamente”, eu tropecei e caí de cara no chão, no momento em que transpus a porta. Resultado: eu chamei a atenção de todo mundo e ainda comecei a chorar.

  - Percy! – Sally exclamou, vindo em minha direção. Ajudou-me a levantar e eu senti uma pontada em meu joelho e nariz. – Ah, Percy – ela sorriu, limpando uma lágrima que escorria pela minha bochecha e beijando a ponta do meu nariz, que concluí estar ferida, já que doeu um pouco.

  Quando Nico me encontrou, ele abriu o maior sorriso que já vi, e rapidamente engoliu o choro. Digo, literalmente, com catarro e tudo, e deu uma fungada. Provavelmente ele era chato porque eu não o dera nenhuma oportunidade de provar o contrário. Me senti um pouco culpado e sorri para ele.

  - E aí, Nico – meneei a cabeça.

  - Oi, Percy – acenou de volta.

  Recordei as palavras de titia há alguns minutos e, voltando-se para a mamãe, perguntei:

  - Do que é que você tem que me proteger, mamãe?

  Ela arregalou os olhos, parecendo surpresa. Depois seu semblante se alterou em algo que não consegui descrever, talvez impassível, e trocou olhares com tia Maria.

  - De que coisas assim aconteçam, Percy – ela apontou com o queixo para o meu joelho que sangrava.

 

 

Toronto, Canadá, 1968.

 

  - Perseu Jackson – repeti pela quarta vez o meu nome para o diretor Dionísio, já que ele fazia o favor de errá-lo sempre que me chamava.

  - Pois bem, Perseu – proferiu meu nome com certo desgosto. – O que me diz sobre esse acontecimento? – Ele pigarreou e ajeitou a camisa havaiana que, convenhamos, era ridícula.

  - Olha, eu já disse! – Exclamei, irritadiço. – Não foi minha intenção lançar o apagador na cabeça da professora! – Fechei as mãos em punho. – Não tenho culpa que ela entrou na frente quando eu estava prestes a acertar o Jason... – redargui, percebendo a besteira que tinha feito.

  Dionísio ficou verde, depois roxo, até atingir o que eu chamo de “escarlate supremo”. Pense no tom mais avermelhado que você já viu. “Escarlate supremo” consegue ser mais.

  Ele levantou-se e bateu com os punhos sobre a mesa. Fitei aquele gesto com os lábios franzidos, recuando um passo para trás.

  - Inadmissível! – Ele girou o indicador e depois o apontou para mim. – Você, Peter Johnson.

  - Perseu Jackson – murmurei, mais interessado no quadro da parede direita.

  - Você – ele tocou meu uniforme com o indicador – é a sétima vez que apronta no colégio. Não aceitarei mais do que isso! Mais uma piadinha e será expulso! Agora – acrescentou, recompondo-se. – Está detido por uma semana.

  - O quê? – Indaguei, incrédulo

  - E se reclamar te expulso agora mesmo! Agora vá, saia da minha sala. Se eu voltar a vê-lo nos corredores...

 Antes mesmo que ele terminasse a fala, abandonei sua sala e dirigi-me à biblioteca, onde poderia ficar sozinho. Já estava acostumado a ser expulso, então, se fosse, não me importaria. Fui expulso três vezes. A culpa não é minha se eu sou um ímã de confusão.

  Chegando, acomodei-me em uma das mesas distribuídas pelo centro, cercadas por enormes estantes de livros. Apoiei os cotovelos sobre a mesa, segurando meu rosto com as mãos. Não havia ninguém ali, nem Rachel, a garota que cuidava das fichas.

  Fitei uma estante à esquerda, e meus olhos encontraram um livro de capa azul com letras douradas que diziam “Oceanos e Mares”. Parecia-me interessante, portanto, fiquei tentado em lê-lo, mas minha posição na cadeira estava tão confortável que apenas suspirei e desejei que o livro flutuasse magicamente para mim.

  - Que idiotice – murmurei, deitando a cabeça sobre a mesa.

  Fechei os olhos e deixei que minha mente volvesse os últimos anos de minha vida. Havia tantas coisas em aberto, como uma história inacabada. Onde estaria meu pai a essa hora? Se é que está vivo. Minha mãe salientava que Poseidon nos abandonara, porém, meu coração se negava a crer naquela premissa.

  Aquela borboleta nunca mais voltaria.

 Senti algo cutucar-me e escutei um baque surdo próximo ao meu ouvido. Ergui a cabeça tão rapidamente que, por um momento, fiquei zonzo. Mirei o objeto. O exemplar de “Oceanos e Mares” jazia sobre a mesa, bem ao meu lado. Olhei ao redor, buscando por alguém que houvesse esquecido o livro ali, mas eu era o único no recinto. Franzi o cenho e me afastei ligeiramente do livro.

  Como se ele fosse vir junto, debochei.

  O fato é que, literalmente, saltei da cadeira quando o livro acompanhou meus movimentos.

  Escutei passos do lado de fora e imediatamente apanhei o livro e o recoloquei na estante.

 

 

  Março de 1970

 

  Percy tinha apenas 18 anos quando tudo foi por água a baixo. Sally lhe contara sobre Poseidon e o que ele era, e sobre o filho ser um meio-sangue – metade vampiro, metade humano.

  Até que, em uma noite, todo o seu mundo desabou.

 

 

   - Corra, Percy, o mais rápido que puder – Sally tossiu, uma tosse seca e com sangue. Segurou, com dificuldade, as mãos do filho entre as suas, as lágrimas brotando aos montes dos pequenos e delicados olhos amendoados.

  - Mãe, eu não vou abandoná-la – Percy abraçou-a firmemente, recusando soltá-la. Tudo acontecera tão rápido. Estava dormindo quando escutou o alarme de incêndio, e agora tudo era engolido pelas chamas. – Por favor, mãe – suplicou, desesperado. Os olhos ardiam por conta da fumaça. O terror tinha formas mórbidas de tocar o desespero.

   - Percy – ela acariciou o cabelo do filho, adotando a voz grave de praxe e um olhar severo. – Fuja, para bem longe, não o deixe alcançá-lo.

   - Não, mãe – sua voz falhou. Retirava toras e mais toras que despencaram do teto e caíram sobre Sally, prendendo-a naquele cárcere infernal. O fogo crepitava ao seu redor, sua cabeça girava, o peito doía e a garganta estava seca, como se tivesse engolido espinhos.

  Não conseguiria salvá-la. E tinha consciência disso, porém, recusava-se a acreditar em que seus olhos viam. Era tudo culpa daquele homem, o tal Hades.

  - Percy, é o meu último desejo. – Ela fez o sinal da cruz na testa do jovem, beijando-a em seguida. – Fique vivo.

  O forro ameaçava cair, e Sally, com suas últimas forças, empurrou o filho, enquanto o garoto observava o carmesim escorrendo entre os entulhos que esmagaram a mulher que lhe deu a vida.

  Seus olhos marejaram, tentou engolir em seco, mas sua garganta queimava como o inferno. Percebeu que não conseguia distinguir mais nada à sua frente, a visão embaçada e turva. Sentiu um gosto salpicado em sua boca, e logo concluiu que chorava.

  Realizando o desejo de sua mãe, mesmo que a contragosto, Percy correu. Correu o mais rápido que pôde. A casa destruída era cercada por uma densa floresta, e Percy a adentrou sem olhar para trás.

  Tropeçou em uma pedra e foi ao chão, a roupa sujando-se com a terra. Trêmulo, tentou levantar-se, mas a única coisa que conseguiu fazer foi rastejar até uma árvore, fraco, as lágrimas manchando sua camiseta. Recostou-se nela e, com todas as forças, ele gritou, para que, quem sabe, toda aquela dor e confusão se exaurisse de seu peito. Sentiu seu estômago comprimir-se e algo subindo pela sua garganta, queimando-a como ácido sulfúrico. Imediatamente virou-se de lado e vomitou todo o café da noite passada.

  Resfolegou, arfando para trás. Sentou-se com a cabeça entre as pernas. Estava assustado, e sua única companhia era o silêncio.

  Perscrutou, escutou galhos se partindo e o farfalhar das copas das árvores tornou-se mais alto. Uma névoa escura e espessa deslizou entre elas, ondulando, adotando o formato de um homem de cabelos negros cor ébano e pele pálida.

  Nico, pensou.

  Percy recuou, os braços em frente ao corpo.

  - É um prazer revê-lo, primo – sua voz era áspera e severa, mas continha uma tênue linha de prazer, e seu sorriso de dois músculos confirmava isso.

  Ele incendiara sua casa, disso Percy tinha certeza, pois sentia o cheiro de cinzas que provinha do rapaz. Raiva, ódio, amargura, foi o que seu coração gritava dentro do peito, à medida que pulsava descontroladamente.

  - Você – rosnou, levantando-se com dificuldade. – Você...

  Alguma coisa dentro de si borbulhou, e um desejo absurdo de matar o avassalou. Vontade de sangue, de cravar a mão no peito daquele ser hediondo e arrancar-lhe o coração.

  Mas o quê?

  De onde tirara aquela ânsia assassina?

  - Veja só – apontou para Percy – seu rosto é tão fácil de ler, Perseu Jackson. Igual a nós, mas ao mesmo tempo tão diferente. – Percy encarava os olhos escarlates daquele ser, desnorteado. Os lábios eram avermelhados e havia caninos pontiagudos escapando-lhe da boca.

  Recuou outro passo, trôpego.

  - O que você quer?! – Gritou, exasperado e apreensivo.

  - Isso mesmo, Percy – seu rosto era uma mistura de cinismo e crueldade – continue assim, ou meu pai terá de despertá-lo. – Ele segurou a cabeça com força, soltando uma risada maligna. – Na verdade, ele irá... matá-lo. – Notou um lampejo de sanidade perpassar-lhe os orbes negros. – Eu... Percy – sua voz agora era a do garotinho babão que o perseguia para todos os lados na infância, não o Nico insano que estava em sua frente.

  - Nico, o que está acontecendo? – Chacoalhou-o desesperadamente. – Ei, Nico.

  - Se afaste! – Empurrou Percy com repúdio. – Eu... minha missão... 

  “Você é fraco, Nico. Terei de resolver isso sozinho”.

  Os olhos do mais novo reviraram-se, apenas a parte branca era visível. Sua boca se mexia, e a voz que saía de seus lábios não era a sua.

  - Finalmente te encontrei, Filho de Poseidon – a voz era grave e provocava arrepios em Percy. – Eu sou Hades, seu tio. Aquele que matou seu pai.

  - NÃO! – Percy gritou a plenos pulmões. – Ele desapareceu! Ele está vivo, eu sei disso!

  - Não tente evitar o inevitável, Perseu. Eu o matei... assim como Nico matou sua mãe – ele deu um passo à frente e inclinou-se no ouvido de Percy. – Foi bom, não foi? Vê-la sendo esmagada por aquelas toras.

  O garoto arregalou os olhos, não conseguia se mover. Seus membros estavam rígidos e pesados, e seu cérebro parecia estar sendo pressionado. Fitou Hades, os orbes transmitindo todo o seu ódio.

  - Isso mesmo! Eram esses olhos que eu queria. Escarlates. Muito bem, está na hora de finalizar o processo.

  Hades o envolveu em seu manto, e Percy mergulhou em uma escuridão sem fim.

 

 

  Eu me encontrava em uma pequena vilazinha. Não sabia exatamente onde ela se situava no mapa, mas supus que era na Romênia, pois os casebres e chalés possuíam traços das casas europeias, e a vegetação do local era típico da região. Entretanto, todas elas eram consumidas por grandes chamas negras.

  Não as via, mas podia-se escutar lamúrias e prantos de muitas pessoas por todos os lados. Uma mulher saíra correndo de dentro de um dos chalés, persignando-se e beijando assiduamente um crucifixo de prata. Ela trajava um vestido longo e acinzentado, adornado por um avental branco. Ela também gritava palavras que, a princípio, discerni como “Dracul”, “Demônio” em sua língua.

  Ela correu em minha direção, e perpassou-me como um fantasma atravessa uma parede.

  Alguém saíra do chalé, uma sombra lúgubre, grande e ondulante, que a seguia. Quando finalmente a alcançou, transfigurou-se em um homem demasiadamente alto e pálido, olhos opacos e profundos, orelhas repuxadas nos cantos e longos e pontiagudos dentes brancos que escapavam-lhe dos lábios entreabertos.

  A mulher lançou o crucifixo, acertando-lhe a testa. A criatura urrou e dobrou-se para frente, tocando o local, que estava vermelho e em carne viva, como se o houvessem queimado.

  Ele estendeu a mão, as feições duras, e agarrou-lhe o pescoço roliço.

  - Mulher insolente! – Verbalizou, apertando-o com os dedos longos e finos.

  Ela foi ficando sem ar e, quando este se fez escasso, o homem a soltou.

_

 

  Acordei angustiado. O homem de meu sonho era definitivamente Hades, mesmo que nunca o tivesse visto. A maldade de seus olhos era suficiente.

  Senti meus pulsos serem repuxados levemente. Duas algemas grossas os prendiam na madeira. Observei bem, e o lugar que estava deitado tratava-se de um caixão hediondo. Porém, não havia tampo, e eu podia ver o teto, como o de uma capela, elevar-se sobre mim. Vários quadros de anjos repousavam nas paredes cor de marfim.

  Eu estaria calmo, não fosse pela dor lancinante em meu pescoço e o sangue espalhado por minhas vestes. Era o meu sangue. Puxei as algemas, mas elas não se soltavam, e pareciam feitas de chumbo. Tentei erguer o tronco, mas este não se movia.

   A mesma névoa de mais cedo envolveu aos poucos o caixão, e a voz que se apossara de Nico retornou.

  - Deixe-me contar-lhe uma história, querido sobrinho – dois pontos me fitavam naquela escuridão, e por algum motivo, sabia que era Hades. – Há muito tempo, um casal de vampiros puro-sangue deu a luz à três jovens, os quais foram prometidos a trazer paz, amor e prosperidade para a Terra. – Eu mirava aqueles globos oculares e via um lampejo de sensatez. – Eles eram, respectivamente, Zeus, Hades e Poseidon.

  Ao ouvir o nome de meu pai, forcei as algemas mais uma vez, libertando-me. Senti minha força revigorar, e meu corpo voltar a me pertencer novamente. Pus-me a percorrer aquele castelo ao qual fui levado, à procura de uma saída. A névoa não me seguia, mas a voz retumbava pelas paredes, e em qualquer lugar era audível.

  - Zeus, o mais velho, desapareceu aos 15 anos. Hades, o do meio, volveu o caminho do mal, sendo banido do castelo e do trono que lhe era seu por direito. Poseidon, o caçula, seguiu o conselho dos pais, e durante anos governou a Transilvânia com amor e dedicação. Anos mais tarde, Hades retornou e assassinou os pais e o irmão, descobrindo que o mesmo possuía um filho.

  Testei todas as maçanetas das portas, porém, todas trancadas. O castelo era uma prisão, e eu era o prisioneiro.

  - Todavia, eis que surge uma profecia:

“Um meio-sangue,

Dos três grandes filho

Descobrirá o segredo

E acabará com aquele

Que prometeu se rebelar”

 

  - Encontrei Bianca e Nico Di Ângelo, e os controlei. A garota, infelizmente, precisou ser morta, já que tentou matar-me. – Sua risada ecoou pelo castelo. - Vê, Percy? Sobrou apenas você. A profecia diz que você iria me matar. Porém, ocorrerá o contrário. Você alia-se a mim e eu o deixarei vivo.

  Eu estaquei. O que eram todas aquelas baboseiras que dizia? Aquela era a história de meu pai? Eu era o garoto da profecia? Meu sangue borbulhou, e fui preenchido por uma força que desconhecia. Deixar-me vivo? Uma risada cínica escapou-me dos lábios, a cena de minha mãe falecendo em minha frente volvendo a minha mente. Voltei-me e caminhei até o caixão, a névoa agora era Hades em carne e osso. Notei a cicatriz em sua testa, provavelmente da mulher que lhe acertara com o crucifixo.

  Minha mãe escondera a verdade para me proteger.

  Meu pai desapareceu para me proteger.

  Nós sempre mudávamos de casa para nos escondermos.

  Todas as noites mamãe chorava, com medo de que ele nos alcançasse.

  Eu era um vampiro puro agora, pois a mordida que Hades deixara em meu pescoço provava isso. Quando um híbrido é mordido por um puro-sangue, ele torna-se um.

  Ele matou meu pai.

  Era o suficiente para eu matá-lo.

  E eu o matei.

 

 

 

  Até descobrir, anos mais tarde, que Nico o revivera, mas estava fraco e escondido em algum lugar do mundo, portanto não causaria mal algum.

  Em Transilvânia, por todos os males que causara, ele ficou conhecido como “o conde Drácula”.

 Eu tomei o castelo, e transformei Transilvânia em um lugar melhor. Aos 25 anos de idade, minha parte humana se fora, e eu me tornara, por completo, um puro-sangue.


Notas Finais


Yo~
Eu sinceramente amei escrever a parte do Percy criança, coisinha mais fofa <3
Eu espero ter deixado bem claro o passado do Percy...
Caramba, Nico... você deve sofrer :'(
Desculpem quaquer erro...

O PRÓXIMO PROVAVELMENTE SAIRÁ SEGUNDA - OU TERÇA. Porque eu não poderei postar no final de semana...
Até o próximo.


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